sexta-feira, 29 de julho de 2011

Paris

Ópera Garnier


               Muitos detalhes, superfícies folheadas a ouro e o lustre central em bronze e cristal (que pesa mais de seis toneladas) em conjunto com o soberbo teto pintado em 1964 por Marc Chagall, fazem do salão principal da Ópera de Paris um dos mais belos ambientes em que já estive.


                     Só para ter uma base de comparação, esta pintura de composição e estética clássicas, dividida em quatro partes que preenchem os lados de uma clarabóia quadrada, ao centro de um teto tipicamente francês que coroa o enorme vão das escadarias do edifício, é uma representante da época em que o prédio foi terminado. 

                          Completamente diferentes, enfeitam os dois mais importantes tetos da Ópera. A de Chagal, no entanto, por ser totalmente inesperada (aos olhos dos críticos mais radicais e puristas um tanto inadequada ao ambiente) acaba por assumir uma característica de audácia e provocação que muito me agrada. Esta surpresa ao espectador, que encontra no teto uma obra de vanguarda em vez de mais uma obra acadêmica, torna a sala de espetáculos ainda mais exuberante. Sem entrar no mérito das avaliações estéticas e formais, o que importa nesse caso é o efeito dramático produzido pelas cores e formas do surrealismo dese russo radicado na frança. 


               De um interior clássico para um moderno: abaixo a ousadia no interior da loja da Citroën na Champs Elysée.

               De volta ao antigo e tradicional endereço da marca em Paris a Citroëm reinaugurou seu showroom, no número 42 da avenida mais famosa da capital francesa, em grande estilo. Depois de aberto um concurso para escolher o melhor projeto arquitetônico a nova loja, batizada de C42, devolve ao público uma vitrine arrojada e fadada ao sucesso. Oferece cafeteria, show room, simulador de pilotagem, recursos de multimídia variados e boutique de souvenires. A loja é linda!



               Depois do primeiro impacto, ao entrar no nível da rua, é só admiração! Ela é totalmente branca e vermelha, com predomínio da cor clara. Muito moderna abusa da iluminação natural (um luxo só, para um edifício em Paris) e da verticalidade. Em seus oito andares é rica em detalhes e tecnologia, como a coluna da foto que é composta por sete plataformas redondas e giratórias. Nelas são expostos os mais diversos modelos da montadora, que trocados periodicamente podem ser os últimos lançamentos dos salões mundiais, como os carros conceito ou ainda os antigos do acervo da empresa. No subsolo, esse sim totalmente vermelho (paredes, teto e chão!) fica um superesportivo carro de corridas ou rallye.



               Esse teto plissado e polido espelha os modelos e cria um efeito de caleidoscópio: detalhe bastante perigoso, mas, que aqui deu certo. O carpete vermelho (outra prova de coragem) também cria um detalhe legal e alerta para a escadaria bem branca com guarda-corpo de vidro temperado.

Aspecto futurista bem ao gosto francês.


IMA- Instituto do Mundo Árabe

            Essa fachada é uma das que considero mais legais em Paris. Obra do craque Jean Nouvel, alia de forma inconteste a estética árabe à uma tecnologia de ponta.
               O IMA é um centro de cultura árabe localizado às margens do Sena bem no coração de Paris próximo da Île de La Cité. De seu bar e restaurante na cobertura tem-se uma bela vista da Notre Dame. Nele estão juntos um museu, uma biblioteca, um centro de documentação, auditório e oficinas de artes e ofícios.
                Nouvel venceu a concorrência, promovida pela administração do então presidente François Mitterrand, que exigia um edifício com linhas contemporâneas com o emprego de padrões típicos da arquitetura e cultura árabes.      
              Obteve assim um edifício único. Sua volumetria acompanha o desenho do terreno que devido à curvatura do rio tem um formato de leque. Dessa forma foram desenvolvidas duas fachadas bem diferentes. A principal, voltada para o Sena, é arredondada e toda revestida de vidro. Entretanto, a que mais encanta é a fachada sul retangular. Voltada para uma praça interna, apesar de sua volumetria simples, alcança um resultado de beleza ímpar.


               Como esta fachada é voltada para o interior do conjunto, com a pior orientação solar e sem a bela vista do rio, o arquiteto criou uma parede inteira com um jogo de brise soleil que reproduz em linhas modernas um desenho islâmico, que tanto pode nos remeter aos seus mosaicos como a um de seus belos tapetes. Coisa de gênio!


               Esses brises sofisticadíssimos são uma releitura dos treliçados de madeira (muxarabies) muito comuns na arquitetura árabe cuja função é de filtrar a luz. Esta trama é composta por vários diafrágmas metálicos, semelhantes aos das máquinas fotográficas, que por meio de computadores e com o auxílio de células foto-sensíveis abrem e fecham automaticamente, acompanhando os movimentos da luz solar e variações de claridade do exterior, regulando dessa forma a luminosidade ideal no ambiente interno e permitindo uma visão da rua sem perder a privacidade.






Abaixo a Saint Chapelle.

               Maravilha gótica, não é a maior nem mesmo a mais famosa das igrejas de Paris, entretanto, é nela que encontramos um dos cinco mais espetaculares interiores da arquitetura sacra medieval na França.
               Situada na Île de la Cité, onde a cidade foi fundada pelos romanos sob o nome de Lutetia, bem próxima ao marco zero, foi construída muito rapidamente, entre os anos de 1241 e 1246, e consagrada em abril de 1248. É a única estrutura restante do conjunto palaciano original, substituido atualmente pelo Palácio da Justiça.           
              Exemplo de arquitetura do alto gótico, adota um partido simplificado com planta baixa restrita a uma única nave retangular  cuja a extremidade do altar e coro possui um remate redondo. Seu exterior desprovido de arco-botantes, apesar de sua altura e elaborada estatuária, reflete a mesma austeridade formal encontrada em seu interior.
               Idealizada por Luís IX para receber as reliquias da crucificação e para servir de templo para o antigo palácio real, foi dotada de duas capelas sobrepostas. A capela inferior foi destinada aos funcionários da corte, plebeus e moradores do palácio enquanto que a superior ficou reservada ao uso particular do rei e sua família bem. Sua fachada reflete claramente a presença dessas duas capelas com uma marcação bastante forte dos dois grandes arcos quebrados. Interessante o balcão superior no alpendre da capela real com entrada por cima longe do nível do solo o que indica que a entrada se dava diretamente dos aposentos do antigo palácio. A Rosácea flamejante logo acima do arco superior domina a fachada e é encimada por um frontão triangular contendo um lóbulo centralizado.



               Etérea, mágica, hipnótica, são alguns dos adgetivos atribuídos à Saint Chapelle, considerada por alguns como uma das maiores obras arquitetônicas do mundo ocidental e o máximo do góico francês. Isso na verdade pouco importa porque a despeito de qualquer classificação ela é belíssima e possui um valor inestimável.



               Sua grande rosácea do século XV, orientada para o sol poente, ensina a passagem bíblica do Apocalipse, recriada em seus 86 painéis de vidro colorido. Esse vitral que explora as cores fortes e o dourado do pôr do sol, para dar mais ênfase ao tema religioso, foi presente de Carlos VIII no ano de 1485.
               As paredes internas da capela superior parecem não ter divisões dada a altura das janelas.
 

               Os vitrais da capela superior são como uma bíblia pictórica que retrata cenas dos velho e novo testamentos e o efeito que proporcionam é de tamanha beleza que na era medieval os devotos se referiam á capela como sendo a passagem terrena para o paraíso, ou ainda, como a porta do céu. Estes vidros foram retirados e armazenados em local seguro durante a segunda guerra mundial, antes da invasão alemã e meticulosamente recolocados  nos lugares originais. Atualmente vivem um processo de restauro e proteção em razão dos  agentes poluidores existentes no ar da grande metrópole.



               Ao entrar na nave o observador é tomado pelo espanto e pela admiração, fruto da explosão de cores criada pelos magníficos vitrais. Dois terços das janelas são originais do século XII e retratam mais de 1.000 cenas religiosas. É uma festa para os olhos com predomínio do azul e do vermelho em uma palheta de cores onde ainda estão presentes o verde, o dourado e o lilás.
               Este extraordinário exemplo de escultura em madeira  da era medieval, muito bem conservado, representa um dos doze apóstolos que adornam a capela superior. Ainda que os vitrais sejam os responsáveis pela fama e notoriedade da capela, seus relêvos policromados são dos mais belos e estão quase que em perfeito estado. Infelizmente os assentos do coro e o painel do altar principal, não tiveram a mesma sorte e foram destruídos durante a revolta popular de 1789, ocasião em que várias das relíquias aqui guardadas desapareceram.
               Outra imagem de um dos doze apóstolos que ficam apoiados nos pilares da capela real. O requinte e o fino acabamento das paredes revela a preocupação com a nave superior destinada a guardar as relíquias religiosas adquiridas por Luís a um custo três vezes maior que o da própria capela.
               O teto abobadado da capela inferior, dedicada à Virgem Maria, é pintado com douradas flores de Liz, símbolo da França, sobre campo azul, com o intuito de representar um céu estrelado. Uma característica muito bonita do estilo gótico é o efeito e o ritmo criados pela estrutura de pedra aparente. Aqui o destaque para a pedra de fecho na união dos pilares em arcos. Cada vão das janelas inferiores apresenta o que se denomina de arcos trilobados aos pares com um hexalóbulo, no centro ao alto do arco quebrado, sobre dois arcos  trilobados em ogiva. Esse efeito de iluminação é moderno, bem diferente da época, quando o propósito era manter o interior na escuridão ou penumbra, reservando aos vitrôs com ensinamentos litúrgicos, a única fonte de luz, ou seja, a arquitetura traduzindo os interesses da igreja em doutrinar seus fiéis como seres viventes na escuridão em busca da luz divina. Diferentemente, a capela superior, reservada ao representante terreno de Deus era banhada de luz.



Fontaine des Quatre Partes du Monde

               A Fonte das Quatro Partes do Mundo, ou simplesmente  Fonte do Observatório é a que mais gosto em Paris. Tudo começou quando vi sua maquete feita em gesso por Gabriel Davioud, atualmente exposta no museu D'Orsay: fiquei impressionado com sua beleza e detalhes e por isso fui em busca do local onde foi erguida em bronze. 
               Terminada em 1874, faz alusão ao tema astrológico, apropriado para a região dominada pelo antigo planetário da cidade. localiza-se em uma das extremidades do Jardim Marco Polo. Este jardim é um largo canteiro central que divide a Avenue de l'Observatoire em duas e liga o Palácio de Luxemburgo e seus jardins aos edifícios do Observatório Francês da Cidade de Paris. Por isso a fonte pode ser conhecida também como a Fonte de Luxemburgo ou ainda a Fonte Carpeaux.
                              Sem ser muito grande é particularmente encantadora e sua composição é extraordinária, ainda que não apresente muita originalidade. Tira partido de um conjunto alegórico recorrente em todos os países do continente europeu: o das figuras femininas representando a Europa, a Ásia, a África e a América.  Isso posto, a falta de originalidade cessa aqui. A fonte surpreende pela capacidade de tornar um tema mais que óbvio, em uma obra de arte das mais belas da Cidade Luz, que convenhamos, não é tarefa das mais fáceis.
               As quatro mulheres (a branca, a oriental, a negra e a nativa americana) seguram em seus ombros um globo aramado com uma cinta na diagonal onde estão representados todos os signos zodiacais. As poses das figuras humanas sugerem mais uma dança que um  fardo pesado, tirando a sensação negativa que poderia advir do simbolismo de "carregar o universo nas costas," sugerindo ao raciocínio,  a fantasia da dança dos astros em suspensão no cosmos. Essa é a parte que liga a estátua ao tema celeste. Na base do conjunto escultórico foram fundidos oito cavalos marinhos, que repousam recostados no pedestal em um dos dois espelhos d'água (no superior), imediatamente abaixo das mulheres. Temos então, simbolizando os rios, as pequenas tartarugas de bronze no lago inferior, arrematando e completando o desenho.  
               A fonte simboliza muito bem os quatro elementos: tem o ar representado pela forma aramada do globo, a terra incorporada pelas quatro "mães" da natureza e a água do mar e dos rios pelos cavalos e tartarugas. Faltaria o fogo, mas está implícito no globo aramado que permite a passagem dos raios solares em dias ensolarados: perfeito! Assim sendo, temos reunidos os signos que sintetizam o universo do conhecimento humano.


               Importante perceber na sutileza maior da fonte: a água somente jorra na parte destinada aos mares e rios, permanecendo seca a parte alta da escultura principal, onde a terra emerge rumo ao céu na figura das quatro mulheres e o ar flui por entre os aros do geóide que simboliza o universo. Por fim a cultural inversão de valores da época, responsável por colocar a terra (em suspensão) no centro do universo: a Soberba humana, justificada pela liberdade poética.

O Portão Dourado do Petit Palais!!!!
 Simplesmente lindo: não há peça de ferro fundido mais bonita em Paris.

O charmoso e encantadora muro do amor no Jardin de Abbesses em Montmartre.


Mais de 600 peças esmaltadas, com um magnífico tom de azul cobalto, cobrindo cerca de quarenta metros quadrados exibem a frase eu te amo em diversos idiomas.


Obra de dois artistas mais que inspirados:
Frederic Baron
e
Claire Kito


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