terça-feira, 6 de setembro de 2011

Roteiro Santiago do Chile

Santiago do Chile



Colocarei aos poucos um roteiro, que fiz para um casal de amigos, sobre Santiago.


               Devo alertar que todas as opiniões abaixo a respeito da cidade, de seus moradores e de seus costumes são muito pessoais, portanto não se prendam a nenhuma opinião minha, que pode ser contrária às das demais pessoas. A avaliação depende dentre outras coisas, do conjunto de fatores encontrados pelo visitante à época de sua visita, tais como: clima, situação política e financeira do país, efeitos da altitude, condições da viagem aérea, etc... No meu caso, vale considerar que estava viajando sozinho e que peguei uma época muito seca. O local da hospedagem e os passeios oferecidos também contam muito. Apesar de tecer algumas críticas e comentários negativos, posso afirmar sem nenhum constrangimento, que adorei a cidade e que pretendo voltar inúmeras vezes.

               Andei muito por toda a cidade, desde muito cedo pela manhã até bem tarde da noite. Fiz muita coisa que a maioria nem sequer imagina em fazer. Como estava só e não perdi muito tempo com restaurantes sofisticados ou estabelecimentos que pudessem consumir muito do meu tempo na hora do almoço (uma falta gravíssima considerando que a cidade é famosa por sua culinária!). Assim pude aproveitar as horas de sol a pino para conhecer muitos lugares e me dedicar em admirar bem calmamente vários de seus monumentos e edifícios, desde os mais famosos até aqueles menos conhecidos. Por ser um eterno curioso e por ter nas veias o prazer de admirar a boa arquitetura, me dediquei à contemplação do patrimônio edificado da capital de maneira desproporcional se comparado aos outros atrativos locais. Desbravei cada centímetro quadrado das áreas históricas de maior interesse e me aventurei nos bairros adjacentes. Assim pude descobrir verdadeiras pérolas e encontrar personagens muito interessantes. Andei muito tanto apé como de carro nessa cidade que é bem maior do que parece. Comi muito pelas ruas e coisa e tal mas, não dispensei seus diversos e famosíssimos cafés. Posso assegurar que a cidade é muito limpa, confortavelmente segura, organizada e bastante tranqüila. Facílima para se visitar e muito simples para entender. Não é um destino caro e as ofertas de compras (as quais não me seduzem), comidas e passeios são bem maiores do que se espera. Não costumo perder muito tempo em compras ou à caça de pechinchas, portanto, não espere sugestões ou comentários específicos sobre  "outlets", shoppingcenters ou coisa parecida. 
               Devo confessar que realmente adoro a cidade (é a minha capital predileta no continente), ainda que um pouco pobre em edificações históricas (compensado pela qualidade e estado de conservação daquelas que existem por lá), sítios arqueológicos e belezas naturais (não espere vegetação luxuriante, recantos muito pitorescos e fenômenos naturais encantadores e rios de águas limpíssimas). Mesmo assim, ainda apresenta um pouco do ar de colônia espanhola, temperada com as influências europeias dos finais do século XIX , somadas ao modernismo do século XX. Contudo, não sei o quanto que o último terremoto destruiu ou danificou desse patrimônio.  Mas uma coisa é certa: tudo por lá é muito bem cuidado. Outro fator bastante interessante, e até certo ponto bom, é que parece que apagaram os anos ditatoriais de suas memórias. Pinochet é mesmo página virada: pouco se fala e nada na cidade registra a época de ferro. O único resquício que suscita o assunto é o fato do Congresso nacional ainda ter sede em Valparaíso. A propósito: em um prédio bem grande, mas um pouco feio, como a grande maioria daqueles levantados nos anos setenta.


               Logo que o avião deixa para trás a Cordilheira dos Andes e o cume do Aconcágua com a Laguna Inca bem abaixo (eu estava sentado à direita da aeronave e pude desfrutar da vista da maior montanha do hemisfério sul. Posso garantir que vale a pena. Fale com a pessoa no guichê do aeroporto para que marque seu assento com a vista para a montanha) ele inicia sua aterrissagem em direção à Santiago que fica situada em um vale de altiplano entre duas cadeias montanhosas. Essa forma de "panela" da região confere à cidade um clima muito seco que concentra uma névoa de poluição que não dissipa com facilidade. Em dias quentes e um pouco mais úmidos que o normal, tal névoa costuma apagar a visão das cordilheiras ao fundo, o que é uma pena. Infelizmente isso aconteceu comigo quando estava por lá. Cria uma densa nuvem no ar que muito se assemelha àquela que encontrei na Cidade do México. Mas se tiver sorte com o clima bom e céu aberto, será fácil conseguir ver a Cordilheiras dos Andes ao fundo, o que vai revelar a mais bela das vistas da cidade. A cordilheira é na verdade o seu único atrativo natural, mas que compensa com folga a falta de outro fenômeno geográfico de peso, porque na verdade as montanhas com suas neves eternas são de tirar o fôlego. Belíssimas, principalmente para nós brasileiros que não temos esse tipo de paisagem em nosso território. Cada um com suas belezas! Como diriam os franceses: vive la différence! A paisagem de embalagem de chocolate suíço é um convite ao mais famoso local de esqui do Chile que fica a poucas horas de sua Capital: Vale Nevado. É rápido e seguro chegar na mais notória estação de esqui da América do Sul. (que me perdoe Bariloche!)

              Um detalhe que muito me chamou a atenção e que parece muito mais comum que em outros centros urbanos latino-americanos, principalmente nas edificações mais novas, é o largo uso de grandes vãos de vidros em suas fachadas. No interior as aberturas funcionam como enormes panos de vidro sem nenhum obstáculo que possa atrapalhar a vista do exterior. Nos hotéis e em vários edifícios públicos a maioria de suas janelas muitas vezes não abre, talvez em razão da poluição que é um fator muito forte de desconforto, ou mesmo pelo próprio clima.. Toda essa poluição é proveniente de processos naturais, como a inversão térmica, a grande altitude e a própria localização da cidade, em um vale cercado por montanhas que dificulta a circulação do ar, bem como de processos humanos predatórios liderados pelo grande parque industrial somado à crescente frota automobilística que poluem o ar. (Outro fator determinante para a situação de penúria ecológica é a contaminação dos rios através da extração do minério de cobre). Essas grandes janelas vedadas com apenas um pano de vidro temperado muito resistente, filtram os raios nocivos do sol e agem eficazmente como proteção anti-ruído. Modernizam a arquitetura e emolduram a bela paisagem das altas montanhas que aparecem ao fundo, atrás da linha da cidade. É um recurso projetual muito interessante e altamente adequado à cidade que acaba ganhando belíssimas fachadas.

               Os chilenos se acham os mais evoluídos sul-americanos e vendem a idéia de que são desenvolvidos e que não existem no país os problemas que proliferam nos vizinhos. Pura balela! Como exemplo do que falo, basta lembrar que Santiago do Chile já foi considerada uma das cidades mais poluídas do mundo, mas apesar de todos esses fatores adversos, segundo eles, a situação foi revertida. Ah, então tá!

              O Turismo está cada dia mais incrementado. A cidade já tem um parque hoteleiro a altura de sua malha urbana e da quantidade de pessoas que chega para conhecer principalmente seu litoral e o Deserto do Atacama. A cidade também é ponto de partida para outras atrações chilenas como a Ilha da Páscoa, a região dos lagos e geleiras do extremo sul, os arredores do vulcão Osorno, Puerto Montt e Puerto Varas. Como o aeroporto internacional (Arturo Merino) é a principal porta de entrada do país, o destino dos turistas nacionais e estrangeiros sempre passa pela Capital Federal. Santiago fica também muito perto de algumas das mais famosas estações de esqui da região. A famosa Valle Nevado fica bem ao lado, ainda que muito acima do nível da cidade. A subida até as estações de esqui é muito segura e muito linda, se revelando um ótimo passeio até mesmo para aqueles que não praticam o esporte. Muito fácil também, e por isso mesmo muito comum, é ir até a cidade argentina de Mendoza para curtir um final de semana entre suas vinícolas.

               Em resumo: a cidade ganha muitos pontos e larga vantagem às demais, tendo em vista sua posição geográfica e sua importância política e econômica. Adquire grande potencial turístico, pois está no centro das principais atrações que são as estações de esqui, sem falar da proximidade da região dos vinhedos, e a menos de l00 km do mar. Por falar em mar: é uma droga, pelo menos o do litoral mais próximo: opinião maldosa de um brasileiro que desfruta de um dos mais belos litorais do planeta. Praias feias com águas frias e intervenções humanas de chorar! Valparaíso é de amargar de tão feia! Eles dizem que no Chile não existem favelas. Sei... No Rio de Janeiro, ao invés de mudarem o nome de favela para comunidade, deveriam mudar para Valparaíso. Pense como iria ficar bonitinho rebatizar assim: "Valparaíso da Rocinha", "Valparaíso do Pavão e Pavãozinho", "Valparaíso Cantagalo". E em Floripa então: "Valparaíso do Mocotó"!!! (risos) Bem melhor, não é? O fato de ser ou não ser favela não é o problema, o ruim é o descaso das autoridades com a forma da ocupação urbana e com a administração dos problemas decorrentes. Não temos que romanciar o estado de penúria das pessoas que vivem nessas áreas e sim melhorar suas condições de moradia, transporte e segurança. Depois é só pintar as casas de branco com janelinhas azuis que fica igual a Grécia.
               O passeio para Valparaíso e Viña Del Mar foi para mim uma piada. Se for, prepare-se. As agências de turismo de lá são como as daqui: enfiam o turista em uma "Topic", perdem mais da metade da manhã recolhendo turistas nos hotéis e depois fazem um passeio cuja metade do tempo é perdido em um restaurante qualquer! E a cidade lá fora e o tempo sendo perdido! Uma pena! Se for, prefira alugar um carro e descer pelas ótimas rodovias da região. Mas infelizmente Valparaíso é mesmo uma favela só. Muitas casas trepadas morro acima, entre ruelas e escadarias. Na parte plana junto ao mar existem duas pracinhas com edifícios bonitinhos que rendem boas fotografias. O mais interessante dos logradouros é um largo onde se concentram os edifícios públicos mais famosos com o porto logo na sua frente. Ali realmente o conjunto arquitetônico vale a pena ser visto. Pitoresca a cidade é, não se pode negar, mas os chilenos são tão exibidos que tentam mascarar a realidade. Se não fosse isso até que seria mais simpática. 


Exemplo de arquitetura eclética em Valparaíso

               Já, Viña Del Mar, melhora um pouquinho. Tem lá seus hotéis de luxo na orla, onde um deles imita os hotéis da Côte D'Azur (das décadas de quarenta e cinqüenta), muito bonitinho, e, naturalmente, caríssimo. Tem também seu relógio de flores, um museu histórico com o único Moai legítimo fora da Ilha de Páscoa no jardim da frente, além de uma praia bem grande com condomínios escalonados morro acima. Estes condomínios de apartamentos apresentam uma tipologia muito interessante de uso do solo. São construídos acompanhando a inclinação do terreno em patamares com acesso feito por elevadores em plano inclinado. Muito legal. Um ao lado do outro, edificados  no mesmo sistema, propiciam uma forma bacana de aproveitar o sol e a paisagem. Disso eu gostei bastante, apesar de achar o resultado plástico um pouco feio e por acabarem por completo com a vegetação do morro.



O Moai trazido da Ilha da Páscoa


               Primeiro erro: se realmente esta escultura em pedra é um Moai legítimo, deveria estar em seu local de origem: a Ilha de Páscoa. Uma réplica faria o mesmo efeito.

 

               Segundo erro: sendo ou não sendo legítimo, merece um tratamento melhor! Parece que foi largado no meio do caminho. Jogado em um atrapalhado canteiro, cercado por um reles gradil ao estilo francês. Hoje é refém da troca do seu lindo local de origem pelo mequetrefe jardim do museu da cidade. Anteriormente deveria estar voltado para a imensidão do Pacífico, ao lado de seus pares sentinelas, e agora têm roubado seu passado e se vê aprisionado ao caos urbano. Uma vez que trouxeram a peça da ilha para educar e conscientizar o povo de sua importância, deveriam as autoridades imprimir maior força simbólica ao fato. Este Moai teria que receber maior destaque no tecido urbano e desfrutar de uma hierarquia superior a todos os outros monumentos da cidade. Até o relógio de flores tem mais fama e mais atenção! É um absurdo. Moral: urbanismo zero! Paisagismo zero! Senso histórico zero!


Eis os edifícios escalonados.


               E quanto às praias: são grandes porém feias. Só! Nada de especial. Mas, dizem os chilenos que para o norte e para o sul elas melhoram! Dá vontade de rir, porque se houvessem praias para o leste e oeste provavelmente, na opinião deles, também seriam melhores! Um pouco mais ao sul existe o que hoje em dia é considerada a maior piscina do planeta. Vale o esforço para conhecer, mesmo que nenhuma operadora ofereça um passeio por lá. Parece que a piscina pertence a um complexo privado de edifícios residenciais. Sei lá. Mas pelas fotos ela realmente é enorme e muito bonita. Paralela ao mar, forma um conjunto, entre arquitetura e natureza, de extrema beleza.
              Bom, agora voltando para Santiago com um pouquinho de história:


A linda cadeia montanhosa que emoldura a cidade.

               Santiago de Nueva Estremadura foi o primeiro nome dado a esta cidade, por Pedro de Valdívia, conquistador espanhol, que em l54l, em honra ao apóstolo Santiago, assim a batizou. Santiago do Chile localiza-se em uma depressão, rodeada de montanhas e cortada pelo Rio Mapocho. No mesmo ano em que foi erguido o primeiro povoado por Valdívia, índios nativos da Região, comandados por Mechimalong invadiram e destruíram o povoado, reconstruindo-o logo a seguir. Ao longo de sua História, Santiago passou por sucessivas guerras internas que sempre dificultaram o seu desenvolvimento. Só a partir de l880, as salitreiras do Chile promoveram o progresso de Santiago, que tinha no Palácio de La Moneda, o edifício mais importante, juntamente com alguns prédios civis e algumas igrejas. A partir do século vinte, houve um grande deslocamento da população do campo para a cidade, provocando um crescimento, de certo modo, desorganizado, mas mesmo assim mantendo a cidade plana e com um traçado ordenado em quadras regulares. Isso explica a falta de praças e logradouros importantes nos antigos bairros de periferia, bem como edifícios de grande porte. Esses fatores também me lembraram a Cidade do México. Lá, também senti falta de pequenas pracinhas de bairros, com parquinhos e banquinhos muito comuns em São Paulo. Depois só falam mal da pobre Sampa!


Estátua eqüestre de Pedro de Valdívia na Plaza de Armas em Santiago.


               A cidade desenvolveu-se ao longo do rio Mapocho (lembrem a diferença entre o nome do rio e da tribo indígena da região que é Mapuche) que é muito feinho, coitadinho, mas que ao que tudo indica triplica de volume e velocidade das águas na época do degelo. O rio é uma decepção. Em épocas de pouca água (águas baixas) ele revela um fundo cheio de pedras e fica lá em baixo em relação às autovias que o margeiam. Mas essa característica de pouca beleza tem seus dias contados, pois a prefeitura local tem estudos para sua revitalização e embelezamento, além de transformar a parte urbana em um leito mais profundo e navegável. Isso tudo porque quando corta a cidade, momento em que ainda não tem uma largura que o torne imponente, é tratado mais como um obstáculo a ser transposto do que um foco de beleza e cartão postal de relevância. Apesar de novos parques e jardins terem, em suas margens, o local escolhido para aumentar as áreas verdes urbanas, muito ainda deverá ser feito para que ele se torne definitivamente parte integrante da paisagem. Atualmente seu leito fica bem rebaixado em relação à rua e foi construído um tipo de dique, como uma espécie de canal, em um de seus lados. Suas águas são um pouco barrentas e os muros de contenção das vias laterais não conferem nenhuma beleza. O que me deixou muito contente foi perceber que a cidade conseguirá tirar proveito desse rio (se, claro, tudo der certo e os projetos forem implementados sem alteração) e que em suas margens foram criados os tais belos parques. Ele tem inúmeras pontes, mas nenhuma de grande valor civil nem arquitetônico. Nada de pontes desenhadas pelo Calatrava como no Puerto Madero em Buenos Aires. Mas quem sabe no futuro? Até o Rio vai ganhar um museu do espanhol! O Chile não vai querer ficar por baixo. Ou será que vai?



Uma vista do rio que corta a cidade 


O rio com o edifício da telefônica ao fundo. Me falaram que o projeto tenta reproduzir um telefone portátil.


Outro ângulo do Mapocho com o mesmo edifício ao fundo.

              A cidade não é muito verde e no inverno deve piorar bastante, mas tem lá suas grandes vias arborizadas. Tem a na sua principal avenida, a belíssima Libertador Bernardo O'Higgins, também conhecida como Alameda, a sua coluna vertebral. Ela cruza praticamente toda a cidade e vai mudando de nome à medida que atravessa os diversos bairros. É, larga, ensolarada, ajardinada, linda, magnânima, austera e exibida, como deve ser toda avenida principal de uma Capital. Possui um largo canteiro central com muitas árvores, bancos, fontes, trilhas e passeios (pavimentados ou não), esculturas e monumentos. Nela estão vários edifícios importantes e suas fachadas são muito bonitas que para um arquiteto como eu se traduzem em um extraordinário registro de todas as épocas de seu desenvolvimento social. Do colonial ao contemporâneo, do classicismo ao kitsch, passando por todos os estilos arquitetônicos dos séculos XIX e XX, é uma aula de boa arquitetura, ciências sociais e de política. Um calmo passeio por suas calçadas não deve ser desprezado.
               Uma estrutura muito interessante e que logo vai pular aos olhos é a torre da TV, feita toda em concreto armado seguindo o estilo das demais torres desse gênero ao redor do mundo, que brotaram como moda nos anos 60, 70 e 80! Um pouco abrutalhada, seguindo fielmente a estética da sua época e de seu estilo, é cheia de antenas e fica linda iluminada a noite: por vezes toda azul, ou toda vermelha, dependendo da época do ano e da vontade da Entel. No canteiro central da Alameda bem em frente à esquina em que está implantada a Torre Entel existe um Moai. Não sei se este Moai é autêntico (o pessoal de Valparaíso diz que o deles é o único que veio direto da ilha), entretanto, ele representa de maneira fiel e irretocável um original da Ilha de Páscoa.  Vale ir para ver, porque no final o que importa é a foto! (mais risos).


 Acima a torre da Entel e abaixo uma vista da Plaza de Armas com a Catedral ao fundo.


Uma perspectiva da Plaza de Armas com vista para a Catedral Metropolitana. Ao lado esquerdo da foto a está a estátua de Valdívia.

Voltando para os dados históricos:

               Santiago teve início no local da grande Catedral situada em uma das quatro faces da Plaza de Armas.  A praça leva este nome porque é lá que ficava o antigo cabildo (a versão espanhola da nossa portuguesa casa de câmara-e-cadeia). Só que o primeiro assentamento foi na verdade estabelecido no Cerro Santa Lúcia que também fica na Alameda e representa a única elevação desse lado da cidade. A outra é o Cerro San Cristóbal, que fica do outro lado do rio entre os bairros de Bellavista e Recoleta (que também tem um cemitério onde está sepultado o Salvador Allende). Alcançou a modernidade a partir de l930, com a construção do Bairro Cívico e a construção do metrô. A poluição do ar, em Santiago do Chile, devido a sua localização geográfica entre montanhas, o que dificulta a circulação do ar, (é bom relembrar) tem sido um problema sério para sua administração, principalmente após sua industrialização. Na década de noventa, aconteceu o “boom econômico”, tornando-se a partir daí, um dos maiores centros financeiros da América Latina. Santiago abriga os principais organismos da administração, só não abriga o Congresso Nacional, que se localiza em Valparaíso. Santiago tem sido considerada a terceira melhor cidade em qualidade de vida na América Latina, pois seus empenhos e gastos têm revertendo os vários e sérios problemas ambientais que lhe são desfavoráveis. Vários estudos indicam que as áreas verdes ainda não são capazes de promover o saneamento do meio ambiente, para que chegue aos níveis recomendados pelas normas mundiais. A cidade como já falei é pouco verde e a vegetação nativa é paupérrima.
               Os citadinos não são dos mais simpáticos, sendo por vezes até rudes, mas são de longe muito mais educados que nós brasileiros. Enquanto os argentinos se consideram franceses os santiaguinos pensam que são ingleses! Sua fleuma é tão grande que chegam a tal ponto de tomar todos os dias o famoso chá das cinco como se fosse o mais tradicional dos costumes locais. Outra coisa curiosa é que eles também cultivam a tradição da troca da guarda no palácio presidencial que acontece todos os dias menos aos domingos. Sem falar que o hipismo sempre foi o esporte preferido na cidade. 
               A classe alta é bastante forte na cidade, visto a quantidade de carrões que passam pra lá e pra cá a todo o momento, as grandes casas dos bairros chiques, os novos empreendimentos de luxo e a gama de lojas caras espalhadas pelos corredores dos shoppings que ficam repletos todos os dias.
               A classe média é como a nossa, bastante grande e cosmopolita. Já a classe mais baixa é mais simpática e gentil, mas são um pouquinho preguiçosos e molengas: característica herdada dos índios, que no final equilibra a correria e o stress do homem moderno! Isso pode ser bom, se percebido a tempo, entretanto, por vezes dá uma raiva daquele ar molenga que pode até parecer deboche. Mas nos ambientes e locais mais movimentados a coisa muda: o povo faz tudo correndo. Daí é o oposto! Vai entender! Nas lanchonetes (não recomendo), nas sorveterias (não recomendo), nos locais mais concorridos é um tal de empurra, empurra que dá medo! 
              Outro aspecto muito desagradável sobre os locais, e esse eu falo com a maior certeza, pois me irritou profundamente durante toda a minha estada por lá, é o constante e ininterrupto assédio sobre os turistas por parte daqueles que ficam nas ruas atraindo clientes para os bares, restaurantes, boites, lojinhas de suvenires etc...  Muito insistentes principalmente no mercado público municipal. É "aporrinhante" e desconcertante! Tem que levar na esportiva!  Senão a gente pira e sai quebrando tudo! (risos) Mas não é brinquedo não: a abordagem é muito grande e muito enfática. Beira quase ao desespero! O assédio é muito forte.
             Quanto ao padrão físico não são dos mais bonitos se comparados com os caucasianos do norte europeu! Aquela mistura de índios e colonos europeus não deu muito certo. O bom é que muitos dos populares guardam o DNA dos índios. As crianças indígenas são lindas! Quando damos de cara com alguém um pouquinho mais arrumadinho e ajeitadinho com certeza fala outro idioma ou pertence a uma classe mais alta. Mas apesar dessa mistura entre raças eles possuem uma característica geral que os torna muito homogêneos, diferente de nós brasileiros que temos de tudo um pouco! A coisa melhora um pouquinho na Rua Alonso de Córdova em Vitacura (bairro chique e rico): lá só tem burguesia e a burguesia é bonita em qualquer lugar do mundo! As lojas dessa rua são proibitivas aos bolsos mais sensíveis, mas um passeio ao longo da sua bela calçada ajardinada, apesar de não ser imperdível é bem agradável. Louis Vuitton, Ralf Laurent, Dior e Hermés são algumas das marquinhas ali presentes, estampadas nas fachadas de algumas casinhas muito charmosas. Charme é o que não falta por lá. É o local ideal para entrar em uma doceria ou em uma cafeteria e passar alguns minutos desfrutando de todo esse luxo.
              Passada a primeira e talvez má impressão sobre o povo, as coisas passam a melhorar dia-a-dia.



A bela Avenida Alonso de Córdova

               Os habitantes de Santiago são cheios de tradições e "salamaleques", e além de muito tradicionais são bastante machistas. Cultivam muitas manias elitistas e primam pela pontualidade e protocolo. Isso pode parecer exagero se comparado ao jeitinho brasileiro.
                Outra mania na cidade, e esta é uma MA-RA-VI-LHA, é o Mojito! Bebi muitos. O único problema é a quantidade absurda de açúcar que eles colocam no copo! Não estranhem as folhinhas de hortelã maceradas com carinha de velhas boiando entre os cubos de gelo! É só a cara. Eles botam muitas delas picadinhas dentro do drinque: é a única coisa ruim a gente ter que coar os pedacinhos com os dentes. É um drinque a base de rum e suco de limão com muita hortelã, gelo picado, gelo em cubos e uma quantidade descomunal de açúcar refinado. Uma bomba calórica e alcoólica. Servido em copos altos com canudinho é muito refrescante e vira mania mesmo. Dizem que foi inventado em Cuba, entretanto outros países reclamam sua autoria. O que importa? É a caipirinha deles! Mas não aceite quando rolar açúcar mascavo. Ainda que mais original, assume uma coloração que mais parece as águas do rio Mapocho. Fica muito feio e perde totalmente o encanto.


Mojito

               Mas a bebida típica do Chile é o Pisco Sour!  Um drinque a base de Pisco que é uma aguardente destilada de uvas moscatel com elevado teor de açúcar, cultivadas nos vales irrigados do norte do Chile e também no Peru. Os chilenos afirmam que o Pisco foi invenção deles. O mesmo afirmam os peruanos. A controvérsia sobre a verdadeira origem do destilado vale uma baita briga com os locais, porque o fato é que no Chile esse drinque feito à base de pisco - o Pisco Sour - é mania nacional e eles levam a coisa muito a sério. Assim como existe mais de uma "verdade" sobre sua procedência (chilena ou peruana - não entre na briga) também há diferentes receitas do drinque que de tantos sabores e tantas variações fica difícil eleger o mais gostoso. Além de forte e saboroso é muito bonito de se ver. Tomem pelo menos dois para ver como podem ser tão iguais e diferentes ao mesmo tempo. Existe bares especializados nessa bebida, basta procurar que logo se acha um. Mas se dirigir não beba e se beber não dirija! Isso também vale por lá! Os chás e o café também são bastante difundidos, mas quanto a esse último, eles não se importam de apreciar um bom colombiano ou um bom brasileiro. Cafeterias são uma constante na região central da cidade, mas nos bairros mais afastados são raras e muito mais caras.

               Quanto ao clima da cidade, características geográficas como a altitude, a presença da cadeia montanhosa litorânea e a capa vegetal quase desértica são responsáveis pelo baixo índice pluviométrico. Adorei! Para viajar nada melhor do que um climinha seco: a roupa seca rápido, o corpo não sua tanto: é tudo de bom! Basta, contudo, manter-se sempre bem hidratado e nunca dispensar um creme para a pele e outro para os lábios. Protetores solares são em certos dias indispensáveis e sempre bem vindos. Logo, por ser a cidade muito seca, não há como não carregar uma garrafinha de água durante todos os dias, ainda mais se as caminhadas forem longas. Mesmo nos calçadões do centro histórico que são bem ventilados, sombreados e com calçamento bem confortável o clima seco prevalece. Por conta deste clima a cidade é pobre em flores e as árvores são todas de reflorestamento. Vai ser fácil ver a pouca tradição paisagística se limitando ao plantio ordenado e regular de árvores ao longo de algumas vias ou na forma inglesa de reproduzir ao máximo uma atmosfera de uma paisagem original, como ocorre no parque municipal chamado de Parque Florestal implantado ao longo de uma das margens do rio. O reflorestamento e o plantio de árvores estrangeiras atinge seu ápice no Parque Metropolitano que abrange todo o Cerro San Cristóbal, no Parque O'Higgins e nas poucas praças existentes. Toda a vegetação dos dois morros que ficam no centro foi plantada pelo homem. Nada aqui é original. Mas mesmo assim são áreas muito bonitas.

               As ruas não são muito arborizadas ficando apenas as grandes vias com esta característica o que parece ser compensado pela variedade de esculturas bem conservadas por todos os lados. Nenhuma escultura local tem a magnitude das existentes em outras capitais sul-americanas, mas ainda assim são muito interessantes e originais. É raro ver uma obra escultórica dilapidada, pichada ou em restauro, todas parecem novinhas em folha. Isso me deixou muito impressionado. A cidade também não conta com muitas fontes o que seria bom para aumentar a umidade do ar; acho que deve ser por conta dos rigorosos invernos, mas mesmo assim tem uma que chama muita atenção: é a Fonte do Bicentenário na seqüência do Parque Florestal que fica permanentemente ligada (dia e noite) e iluminada durante toda a noite com vários jogos de luz e jatos de água. Com linhas muito modernas difere das demais sempre muito clássicas, tem uma composição mais atual, o que a torna única na cidade. É linda e bem procurada pela população e pelos turistas tanto de dia como a noite. Vocês vão vê-la a todo o momento, pois fica bem localizada e no caminho de quem fica hospedado na Providência. Fica na Plaza de La Aviación um pouco acima do ponto onde a Alameda passa a se chamar Avenida Providência. Possui duas linhas paralelas de jatos d'água como se fossem canhões. Bacanérrima!

               Ainda falando em paisagismo, não espere encontrar calçadas desenhadas como as nossas (aquelas feitas de pedra portuguesa nas cores branco e preto) nem mesmo praças com pisos elaborados (não vi nenhuma Rosa dos Ventos! (risos)), postes originais, árvores com flores coloridas, cercas vivas ou topiaras extravagantes ou coisas deste tipo. São muito poucos os lugares trabalhados paisagisticamente. Isso realmente faz muita falta, pois a cidade é muito pobre nesse sentido. Para se ter uma idéia do que se fala, um bom exemplo é o trabalho feito na fachada secundária do Palácio de La Moneda (o palácio do governo) a que é voltada para a Plaza de La Constitucion.  Copiando uma moda dos anos noventa, foi feito no piso, imediatamente à frente da parede do edifício, sua reprodução. Tenta rebater o desenho no chão, marcar o ritmo da fachada, marcar seu volume, suas janelas e a entrada principal. É na verdade uma tentativa frustrada porque ninguém percebe este detalhe. Muito interessante e louvável a tentativa, mas de certo, inútil quanto ao efeito proposto. Mas está lá! É uma pena que o resultado desejado de reproduzir no chão o desenho da bela fachada só seja percebido nos cartões postais ou do alto dos edifícios que a cercam. Seria amadorismo dos paisagistas? 

               Pobre também é a cidade em murais. Não há um sequer que conte de maneira expressiva um pouco da história local. Interessante, pois outros povos da América Latina são riquíssimos em obras de arte desta categoria, basta lembrar os maravilhosos painéis de Rivera no México ou até mesmo os nossos de Portinari, Burle Marx, Werneck e Athos Bulcão. Sei que são ingratas certas comparações e que não tem nada a ver, já que devemos entender e aceitar cada lugar como sendo um local distinto e único. Mas, para criticar temos que traçar alguns parâmetros.

               Toda Santiago é de muito fácil locomoção e não dá pra se perder mesmo que queira! Suas duas principais vias são: a Alameda (como já falei) que corta a cidade de norte a sul e a Via Costaneira Norte ao longo do rio e paralela ao Parque Municipal. Os taxis são sempre constantes e o sistema de metrô é muito bom.

               O centro histórico, financeiro e cultural bem como os calçadões e principais edifícios de interesse turístico ficam entre estas duas avenidonas. O traçado da maioria dos bairros é tipicamente espanhol ao modelo de tabuleiro de xadrez com grandes quadras uniformes e ruas largas e bem iluminadas. A cidade é quase toda plana sem muitos desníveis ou mudanças de cotas. As placas de sinalização e informação são muito melhores que as nossas, ainda que bem aquém do ideal. Os passeios públicos são largos na sua maioria e bem planos, o que torna a caminhada segura, sem perigo de cair em algum buraco ou tropeçar em alguma pedra ou ladrilho levantado. Uma coisa que é igual ao nosso Brasil é falta de paciência e o abuso dos pedestres que desrespeitam os sinais luminosos e atravessam as ruas a qualquer momento e em qualquer lugar a despeito do intenso fluxo de automóveis. Existem alguns enclaves que fogem ao padrão ordenado desse traçado: os pequeninos bairros de Concha e Toro e Pequena Paris são encantadoramente os opostos disso. Resumidos em duas ou três ruas tortas com uma pracinha no meio atraem os locais e servem de redutos de bares e restaurantes antenados.

               O bairro de interesse mais próximo da região central chama-se Providência. Nesse bairro da Providência, logo acima, no sentido norte da Alameda, o traçado urbano ganha ares mais modernos e avança rumo a outros assentamentos da cidade. A região é bem simpática e eqüidistante dos centros de atração, levando em conta que Santiago se espalhou muito, avançando rumo aos novos e ricos bairros do norte onde há uma variedade imensa de clubes, hotéis modernos e um orgulhoso campo de golfe com dezoito buracos. Mas o que é mais importante é que a Providência ainda é bem servida de comércio em geral. Suas farmácias, quitandas e um ou outro supermercado são ideais para comprar umas frutinhas e água para levar ao hotel. O problema é que os estabelecimentos comerciais não ficam abertos até altas horas, portanto fique ligado para na volta do passeio não encontrar tudo fechado. Existem também alguns magazines e lojas como aquelas européias divididas em andares temáticos, só que sem tanta variedade de produtos e com uma qualidade inferior àquelas encontradas, por exemplo, na Alemanha. Vi bastante coisa interessante para comprar nesse tipo de loja, desde roupas de inverno até coisas para a casa, mas como fui deixando para depois acabei não comprando nada! Domingo fecha tudo! Exceto uma ou outra loja de departamento no centrão (muito popular) ou um shopping aqui e outro ali. É bom se informar caso fique domingo por lá.

               Los Leones, ainda na Providência, parece ser uma das estações de metrô mais movimentadas da capital. É bem localizada e possui um mini shopping em seu subterrâneo além de muitas outras lojas e estabelecimentos comerciais nos seus arredores. Vai ser muito fácil achá-la. Ela tem em um dos lados de sua entrada principal uma calçada coberta por uma estrutura metálica bem alta como se fossem pórticos sobrepostos que sustentam uma cobertura de vidro. Interessante e moderna possui uma linguagem típica da arquitetura dominante no final dos anos 90 o que indica uma reforma e ampliação, justo na época em que os arredores eram o point das baladas. É interessante a proposta, pois colabora com a modernização e saneamento da quadra e dos arredores. Ainda bem conservada esta estrutura cobre uma pequena rua transformada em calçadão comercial. Eu vi uma muito parecida em Toronto de autoria do espanhol Santiago Calatrava, mas era bem mais bonita e significativamente maior. Para esta área de Santiago esta está de bom tamanho.
               Los Leones fica entre duas avenidas muito movimentadas e repletas de bares e restaurantes, assim como agências de banco e lojas de diversos artigos. Foi a cerca de uma década o bairro mais famoso da cidade com o melhor comércio e a mais badalada vida noturna. Infelizmente não é mais assim. A Rua Suécia é cheia de botecos e bares temáticos que foram o hit nos anos 90, mas não são mais. Não é mais a melhor opção para uma saída noturna de qualidade. Ao lado dela tem um pequeno calçadão com outros bares e boates, mas muitos deles já estão velhos e outros até fechados e deteriorados. É arapuca! Essa região ainda resiste e é, apesar da decadência, muito segura. Muito turística, tem até homens oferecendo panfletos de bares de Streep e coisas desse tipo (se é que me entendem)!  São estes homens, que geralmente ficam nas esquinas em grupos de três (muito incisivos como os tais “hostes” dos demais restaurantes que oferecem suas mesas e seus cardápios) e que “pulam” sobre o turista oferecendo incisivamente seus serviços. Lembram do que eu falei anteriormente? Repito: vale não perder a esportiva!

   Perto desta estação de metrô, que fica, repito, no bairro da Providência, existem algumas galerias comerciais muito peculiares. Estas galerias, muito famosas, já foram as mais bacanas, com seus interiores redondos e uma rampa em espiral. São várias. Mas hoje em dia são escuras e com lojas de comércio alternativo, lanternas cafonas e uma fonte geralmente desligada no centro. Não percam tempo nelas. Possivelmente vocês passarão por uma ou duas já que conectam e servem de atalho entre várias ruas.
            Perto também dos “Leones” e perto da Rua Suécia fica o famoso restaurante panorâmico e giratório. Está localizado no topo de um alto edifício de linhas modernas. Apesar de o restaurante girar não fique esperando um espigão redondo, pois o prédio é na verdade um quadradão forrado de vidros. Este restaurante ainda detém a fama de ter a mais bela vista noturna da cidade. Não fui nesse, porque já estive em um similar também no Canadá e não vi nada de especial em um piso que gira como carrossel e funciona como restaurante. Gira lenta e irritantemente o tempo todo num único sentido e vence os 360 graus em cerca de uma hora. Foi inaugurado lá pelos anos de 80, portanto é velhinho, só que ainda muito famoso na cidade. Parece até que andou sofrendo umas reforminhas. E isso é bom. Fica na Avenida 11 de Septiembre (paralela à Avenida Providência) na esquina da Rua Magdalena defronte à curva da Rua Las Bellotas (onde existem vários restaurantes).  Se for do interesse jantar por lá, lembrem que em alguns dias da semana a procura é bem grande e eles exigem uma reserva de mesa. Isso vale para os demais restaurantes de padrão. Em alguns casos é bom reservar uma mesa com até três dias de antecedência. Mas isso é claro só para aqueles mais estrelados ou em local notoriamente muito concorrido. Isso pode ser feito pela manhã pelo recepcionista do hotel, basta pedir.


               Acima detalhe de Los Leones: o par de felinos em bronze que dão nome ao bairro. Colocados em duas bases distintas, em um canteiro central que separa a Avenida 11 de Septiembre da Avenida Vitacura, assumem uma força urbana que ultrapassa suas dimensões modestas. Logo atrás, a Catedral Castrense de Santiago e ao fundo uma intervenção moderna em vidro e pedra polida.

               Los Leones na verdade é um pequeno par de esculturas de dois leões deitados, feitos em bronze que fica exatamente no ponto onde a Alameda (a essa altura com o nome de Avenida Vitacura) se encontra com Avenida 11 de Septiembre e novamente se separam em duas grandes avenidas em direção à Vitacura. Andando de carro quase não dá pra notar que eles estão ali no meio daquele nó viário super movimentado, mas caminhando é fácil achar.  Bem defronte a este canteiro com as estátuas, cada uma em seu pilar (ficam separados com um passeio no meio), tem uma igrejinha muito simpática que lembra aquelas californianas ao estilo Neocolonial espanhol. Com escala mais modesta e pintadinha de bege é conhecida como a Catedral Castrense de Santiago do Chile. É uma boa dar uma olhadinha já que serve como ponto de descanso durante a caminhada pela redondeza. Mas não fique muito tempo por lá não, pois é mais simpático sentar numa das mesas postas nas calçadas pelos diversos bares e lanchonetes e curtir o vai e vem contínuo dos pedestres.  Essa igrejinha tem esquadrias e detalhes internos de madeira que lembram as casas de Frank Lloyd Wright (só que bem mais pobrezinha é claro! / Que maldade!). As estátuas gêmeas dos felinos de bronze são bem bonitinhas e valem uma foto.

Bem, depois dessa geral vamos passo a passo:

            A primeira coisa que se vai ver na cidade será a grande Avenida Libertador Bernardo O'Higgins, ou mais popularmente conhecida como Alameda! Comparada com a Avenida 9 de Julio de Buenos Aires, até que é modesta, mas mesmo assim é enorme. E não tem aquele duvidoso obelisco no meio. Na chegada o turista que fica na Providência, ou arredores, obrigatoriamente cruza toda a avenida vindo do aeroporto internacional, pelo menos no trecho em que leva o nome do herói nacional. Portanto vamos começar por ela!

 ALAMEDA OU AVENIDA LIBERTADOR BERNARDO O'HIGGINS:

               É o orgulho da população e ponto de encontro de todos. Pronuncia-se orriguins.  Dela saem as principais ruas da cidade e dela chega-se a todo lugar. Além dos edifícios e estruturas já mencionadas estão em suas calçadas belos edifícios residenciais e alguns comerciais de grande destaque (mas só apreciando demoradamente para descobrir detalhes especiais). A Embaixada do Brasil fica no Palácio Errázuriz, que é um casarão imponente numa esquina bem no meio da avenida. Quem para em sua frente sabe exatamente que está a meio caminho entre o início e o final da via. É um imóvel de destaque e de grande valor. Como sempre nossos diplomatas nos imóveis mais caros. Com dois pavimentos é um casarão que ainda guarda um belo quintal ajardinado com piscina e horta: um verdadeiro luxo para a região. Na verdade é, sim, um supremo luxo para os brasileiros que pagam a conta!


               A fachada da Embaixada Brasileira, que ocupa o Palácio Errázuriz, voltada para a Alameda. A atual residência do embaixador brasileiro, na Capital Chilena, pertenceu ao empresário local, Sr. Maximiano Errázuriz Valdivieso que mandou construí-la em 1872, encarregando o arquiteto italiano Eusébio Chelli da responsabilidade de comandar os seus projetos. Adquirida pelos brasileiros em 1941.
               Com dois baixos apêndices laterais, projetados em direção à rua e salientes em relação ao corpo principal (de dois pisos), o edifício apresenta uma composição bastante comum nos prédios neoclássicos. Esse recurso provoca um recuo do maciço central, em relação ao passeio público e à faixa da balaustrada, criando um pátio elevado sobre a Avenida. Voltadas para esse espaço privado, aberto para a rua, abrem-se as sete grandes portas em arco pleno, separadas por colunas de ordens coríntia e jônica, com seções tanto redondas como quadradas, diferenciadas apenas pelo jogo de hierarquias. Austero e bem equilibrado é um belo exemplo da arquitetura da classe dominante no final do século dezenove. Interessantes as três janelas paladianas estilizadas do segundo andar.

Desenho da fachada neoclássica do Palácio Errázuriz onde predomina a horizontalidade.

               A Bernardo O'Higgins possui um canteiro central ajardinado em toda a sua porção principal. Largo o bastante para suprir de sombras e recantos agradáveis, boa parte da região central da cidade, com árvores de grande porte. Nele estão vários monumentos que homenageiam personalidades da história do país. Interessante notar que divide o lado mais antigo onde a cidade foi fundada do lado onde foram desenvolvidos nos séculos passados os bairros residenciais das elites de então, hoje povoados de estudantes já que universidades compraram muitos imóveis da área redefinindo sua ocupação. A Calle Exército é mais representativa desse fenômeno: preste atenção ao edifício da faculdade de medicina.
               Essa avenida é larga o suficiente para permitir um banho intenso de sol em todas as fachadas de ambos os seus lados, ainda que no canteiro central as altas copas das árvores prevaleçam.
               Para entender melhor a seqüência das atrações dessa avenida vamos descer (sentido Providência-centro) a Alameda começando pela Praça Itália e logo depois pelo medonho Edifício Diego Portales!
               Mais acima, (em relação à embaixada brasileira e em sentido contrário) no que se pode considerar o início da Alameda, encontra-se a Praça Baquedano ou Itália, bem junto ao rio. É uma grande praça redonda, cercada por avenidas que pode ser confundida com o Parque Florestal.  Partindo dessa famosa praça e indo em direção ao centro histórico na calçada da direita e um pouco antes do Cerro Santa Lúcia, na verdade imediatamente ao seu lado encontramos o Conjunto Diego Portales. Feito lá pelas décadas de setenta e oitenta, é bem marcado e não será nada difícil notá-lo. Este conjunto conta com dois volumes abrutalhados: um alto na porção de trás, quadradão, todo feito de concreto, aço e vidro, coroado por uma larga e horrenda faixa alaranjada que serve como platibanda somada a uma fachada com estrutura metálica aparente. Em sua frente, um mais baixo com cara de inacabado que mais parece uma rodoviária completa o esquema arquitetônico. Foi a sede do governo durante os anos ditatoriais. Feio, opressivo e sem a menor graça é o que há de mais feio e destoante na Alameda. Serve de curiosidade somente pelo fato de espelhar o regime de mãos de ferro vivido pelo Chile anos atrás. Atualmente faria a glória de qualquer Hugo Chaves!  É um peso para a cidade ter que viver cotidianamente com estes telhados de aço e telhões de amianto que lembram o ditador. Ao lado do volume mais baixo existia outro módulo que foi totalmente destruído por um incêndio que felizmente não vitimou ninguém. Pena que os outros dois não arderam na mesma época. Este edifício não merece mais do que uma olhada por fora. 
               Um pouco mais abaixo e do outro lado da Rua tem a universidade católica do Chile, a famosa PUC. Sediada em um palácio muito lindo em estilo neoclássico com paredes acinzentadas exibe uma escultura de um cristo no alto de sua platibanda bem no meio da longa e trabalhada fachada. Um prédio que merece uma foto. É nesses prédios com fachadas trabalhadas e bem preservadas que vemos como os nossos vizinhos dão a devida importância às suas instituições de ensino.
              Voltando para a calçada do Portales temos em seguida o Cerro Santa Lúcia (todo mundo tem que subir), seguido dos prédios da biblioteca e do arquivo nacionais. Do outro lado a Igreja e claustro de São Francisco (adorei e atrás dela tem umas ruas lindas do bairro Paris Londres). Depois da biblioteca em sua mesma calçada está a principal entrada para os calçadões de comércio que é o Passeo Ahumada e depois o mais bonito Passeo Nova Yorque. Na esquina deste Passeo NY, está o Club Union: um belíssimo edifício sede de um clube de cavalheiros chilenos! Privatíssimo, só se entra mediante convite expresso de algum sócio! Isso se não for barrado por outro! Muito chique e muito britânica a coisa! Mania de grandeza! A fachada reflete isso! As indescritíveis grades com detalhes dourados e a decoração externa são sublimes! Adorei!  Um primor! Queria entrar, mas nem em sonho! (risos). Seguindo pela NY, que também é deslumbrante, apesar de ser a menor rua da região, com algumas esculturas no meio do passeio (acho que eram fontes ou bebedouros, não me lembro mais a função dos bronzes com figuras de mulheres – investiguem, pois parecem aquelas de Paris) e belas vistas dos altos edifícios de época, seguindo para a esquerda (no meio da rua, pois ela faz um "y" com a Rua da Bolsa) dá-se numa esquina dominada pelo Edifício da Bolsa de Comércio. Com a esquina arredondada este edifício lembra muito, um outro, numa esquina da Florida em Buenos Aires (aquele com a porta mais bonita da Argentina, onde todos tiram fotos). Lindo, é muito famoso e dá para entrar. Vale à pena! (entrei e fucei tudo).  Por aqui o melhor mesmo é andar a esmo, mesmo que fique andando em círculos por alguns minutos! (mais risos). Não é hora de economizar sola de sapato nem pernas! Tirem a máquina fotográfica do case e atirem para todos os lados! Vai valer à pena. Milagres das maquininhas digitais! Levem baterias carregadas.
               Seguindo a diante, agora de volta ao passeio da Ahumada, chega-se à Plaza de Armas! Para a direita vai-se para o Teatro Municipal e Cerro Santa Lúcia. Já para a esquerda para o antigo Congresso, Palácio dos Tribunales, Plaza de La Constituicion etc. Atenção à fachada de um antigo edifício ao lado do Palácio do Congresso (na esquina do outro lado da rua) que foi destruído por um terremoto e só manteve salva, a fachada que ainda resiste bravamente em pé. Os responsáveis pela conservação do patrimônio público ainda não chegaram a um acordo de como deve ser dada a restauração daquela fachada. Assim ela permanece abandonada e escorada por ferros e madeiras cravadas no chão. Eles também travam guerras burocráticas!
               Dessa avenida também é fácil chegar ao bairro Brasil, Concha y Toro (talvez o lugar mais encantador de toda a cidade), Calle 18, e assim por diante.
               Outro ponto de muito interesse na avenida fica perto da Embaixada do Brasil, só que um pouco mais abaixo: é a confeitaria mais antiga da cidade. A mais de cem anos no mesmo endereço a Confiteria Torres fica no térreo do Edifício Iñiguez. O prédio é maravilhoso e alto com paredes rosadas e trabalhos em pedra e gradis trazidos diretamente da França. É do tipo de prédio que qualquer pessoa gostaria que estivesse em sua cidade. A confeitaria, do térreo, na verdade já dá sinais de sua idade (mas pense em todos os anos de tradição) e poderia certamente ser mais bem conservada. Não chega a ser um Café Tortoni nem uma Confeitaria Colombo, mas dá pro gasto.

CERRO SANTA LÚCIA:

               O parque é famoso pela gigantesca formação rochosa que se eleva a 70m de altura, de onde se tem, uma bela vista de toda a capital chilena. Várias estátuas que homenageiam personagens históricos foram colocadas no local. (Passeio mais que obrigatório!!!!!!!!!)
               Chamado de Huelen pelo povo Mapuche é na verdade o ponto exato do primeiro assentamento local. No cume deste pequeno morro que domina a cidade e ajuda a orientar o turista, está uma construção chamada de forte. É meio "tosquinho", mas de onde se tem uma bela vista de todo o centro, dos bairros mais distantes, rio e cordilheiras. Como não é muito alto é fácil de subir a pé e as ruas ficam bem próximas o que facilita a visão a olho nu. Tem um cara, que todos os dias, pontualmente ao meio dia, dispara um tiro de canhão! Que coisa mais inglesa! Pelo menos é o que reza a lenda, eu não ouvi nada! Mas parece que é verdade mesmo.
              Este morro tem duas entradas sendo uma junto à Alameda (Avenida Bernardo O'Higgins) e outra na Avenida José Miguel de La Barra onde se encontra a Fonte dos Enamorados. Muito bonitinha apesar de bem pequena. Fica ao centro de um cruzamento viário  e é composta por uma lâmina de água, delimitada por um alto canteiro triangular, onde repousam duas imagens mitológicas: uma feminina representando a deusas dos mares calmos Anfítrite e outra masculina representando o deus dos mares Netuno, deitadas lado a lado com um jato de chafariz no meio. Uma boa sugestão é ir até ao espelho d'água, mas vale esperar para o momento de descer do Cerro e vale também prestar atenção e tomar muito cuidado com o trânsito de automóveis que é bastante intenso ao seu redor. Desta fonte parte a avenida que vai dar na frente do Museu de Belas Artes e ponte rumo ao bairro Bellavista. Por ali tem vários bares e sorveterias que servem para um "pit-stop" bem oportuno. Tudo agora diante do Parque Florestal. É perto desta estátua que fica a estação de metrô Bellas Artes.


               A Fonte dos Enamorados na entrada da face norte do Cerro Santa Lúcia (observar a escadaria ao fundo). Este par de esculturas foi doado à cidade por um membro da tradicional família Cousiño e colocado no coração do Bairro de Bellas Artes.


               A fonte de Netuno e Anfitrite guarda uma pequena curiosidade: pares românticos da mitologia, por isso o nome de Fonte dos Enamorados, fazem aqui uma pequena confusão cultural. Tudo porque Netuno é um deus romano, enquanto que Anfitrite é uma deusa grega! Pequeno erro que dá mais sabor e atiça a curiosidade. Fatos dessa natureza não devem ser considerados (ainda que seja uma tremenda gafe) graves, e sim pitorescos. Dessa forma os Chilenos homenageiam tanto os Gregos como os Romanos... É a integração entre as nações... (risos)  


Acima outra imagem do par romântico.
 Para os gregos são Anfitrite e Poseidon.
  Para os romanos são Salácia e Neptuno.
Para os Chilenos: Anfitrite e Neptuno.

            Melhor subir pela entrada principal e mais suntuosa que fica voltada para a Alameda, exatamente ao lado dos Edifícios da Biblioteca e Arquivo Municipais, pois sua subida, dividida em patamares, é mais confortável. Esta entrada alcança mais rapidamente o cume e passa através da Praça Netuno. Existe também um elevador ao lado do morro virado na direção do teatro municipal, mas pelo o que pude notar ele vive fechado e desligado.

A vista da Praça do Netuno a partir do nível da Avenida Libertador Bernardo O'Higgens.


A bela estátua de Netuno ao centro do conjunto e no topo da fonte.

            Bem, a Praça Netuno é uma das praças mais fotografadas e famosas da cidade. Por foto ela é muito confusa e assume um ar carregado e bem cafona, mas ao vivo é bem bonita. Cheia de escadarias e balaustradas por todos os lados vencendo vários patamares que ora formam terraços maiores, tem uma composição bastante européia com arcadas, paredes imitando pedras e vegetação exuberante. Quase que a profusão de adornos e rococós a transforma numa cópia barata das similares européias! Ainda bem que o arroubo teatral dos Chilenos parou a tempo de formar um conjunto agradável aos sentidos. Com paredes e muros amarelos formando o fundo para os desenhos e relevos em branco, ostenta a mais eloqüente estátua da cidade: Netuno! Um gigante em bronze sentado sob um enorme arco ao estilo ítalo-francês, ou seja, eclético, com água jorrando por todos os lados! Parece uma esquina européia! É tão confeitada que até dá fome! Botando a maldade de lado eu adorei! Foi o lugar em que tirei o maior número de fotos! Escadas, palmeiras, cascata, mega-estátua, piso de ladrilhos hidráulicos tudo junto no meio da cidade barulhenta não parecem tentadores para uma série fotográfica? Pois então prepare a sua! Estive por lá duas vezes. Na primeira subi pelo lado do deus romano e desci pelo bosque. Já na segunda, resolvi alternar, portanto garanto que é melhor subir pelo lado da Praça Netuno. É que o conjunto alegórico da fonte do Netuno é mais belo, visto à medida que o observador vai subindo e vencendo os planos, ao descer perde todo o encanto. É possível também cortar caminho e subir pelo elevador público instalado ao lado do parque; mas nesse caso perde-se um pouco do passeio, ainda que seja a forma mais confortável. Para quem tem pouco tempo o ideal é subir pelo elevador e descer pelas escadarias barrocas da belíssima Praça Netuno. 


Uma visão de quem sobe, a partir do grande patamar debruçado sobre a Bernardo O'Higgins.


Esta fonte é um dos cartões postais mais famosos da capital chilena.


A praça, sobre a avenida, construída na primeira etapa da subida do Cerro.


Acima uma vista da parte de trás da Fonte do Netuno e abaixo um dos acessos laterais.


            Depois de deixados para trás os vários degraus das escadarias do Netuno, já no meio do morro a coisa fica um pouco mais complicadinha. As calçadas antes largas e bem pavimentadas somem sumariamente dando lugar ao caminho original de cascalho por entre as pedras dos tempos indígenas. As escadarias barrocas cedem lugar para escadinhas encarapitadas no meio das rochas (todo cuidado com a cabeça e com os tendões é pouco) e assim chega-se ao topo. Na volta mais cuidado ao descer rumo à outra entrada que tem descida leve por entre um jardim cheio de gente sentada namorando ou descansando nas sombras. Nesse morro além da antiga fortificação tem um tal de Castillo que não sei bem pra que serve. É um prédio pequeno, sem nenhum detalhe importante além de feio e atrapalhado.


Acima uma das vistas, desde o topo, do alto do Castillo.

            Lá pelas tantas no meio do passeio que é bem divertido a gente dá de cara com o elevador público todo em ferro, aço e vidro que vai de uma das ruas laterais só até o meio do morro, mas a essa altura já é muito tarde. Se houver tempo e vontade de rodar por todo o parque é bom esquecer o elevador! O bom mesmo é subir todas as escadas, passar pelas pessoas sentadas pelos cantos ou repousando pelos gramados, ver todas as vistas do centro da cidade com a cadeia montanhosa ao fundo e se der sorte e estiver ao meio-dia por lá, testemunhar o pontualíssimo e mais que tradicional tiro de canhão disparado forte diariamente e a décadas do pequeno forte no topo do cerro.


               Acima a estrutura do elevador público de acesso ao meio do Cerro. Não é muito comum achar pelas cidades esse tipo de equipamento urbano e quando aparece um é impossível não fazer uso dele. Esse em especial é de uma estrutura metálica que combina maravilhosamente com o entorno: leve e muito vazado não contrasta nem pesa na paisagem.

            Em algum lugar no meio dessa "coisarada" toda está o antigo escudo espanhol que era original da Casa da La Moneda. Procurei feito um condenado e não encontrei nem pista! Espero que quem o procure também tenha mais sorte que eu. Em outro lugar está enterrado o fundador, que também não achei, mas acabei topando com a famosa estátua de índio colocada sobre uma pedra. A estátua, como todas as outras da cidade é bem bonita. Não espere muito dos jardins e afins. O comércio de alimentos é fraco não tendo muita oferta de quiosques nem carrinhos de lanches e os que existem não oferecem grande coisa.
            Esse morro, que era dominado pela fortaleza Hidalgo, também foi o local escolhido para o primeiro observatório astronômico de toda a região.


Escultura no alto do Cerro.

            O passeio exige muito tempo e boa forma física. Guarde a metade de uma manhã ou o início de uma tarde para poder subir e descer com calma, desfrutando de todos os detalhes e das vistas da cidade.


BIBLIOTECA NACIONAL:


A Biblioteca Pública Municipal fica bem ao lado do Cerro Santa Lúcia.

               Não precisa entrar. É um prédio muito lindo por fora, mas sem a menor graça por dentro a não ser pelos belos tetos e por uma intervenção moderna de gosto duvidoso. Alguém resolveu atualizar e informatizar a coisa e acabou implantando um “óvni” moderno no meio do Hall principal. Trata-se de uma caixa de vidro elevada e acarpetada, com uma rampinha chinfrim e vidros estampados com palavras como se fosse vidro jateado. Essa instalação serve como sala multimídia e é bem concorrida e cheia de computadores. Medonho monstrengo moderno e quadrado colocado no meio de uma sala redonda e clássica! Há quem deva gostar! Mas na verdade não ficou bem proporcionada. É o clássico problema de uma idéia genial transformada em uma execução bestial. Parece proposta de aluno da terceira fase de arquitetura. Ficaria muito legal em outro local, mas nessa sala não rolou! Ao andar contornando essa caixa suspensa do chão nada de interessante acontece. O ambiente ao seu redor ficou morto e surgiram espaços residuais. "Passos perdidos" como costumam definir os castelhanos. As paredes antigas são pintadas com um triste bege e despidas de qualquer decoração de peso. De acervo somente duas ânforas de Sevres doadas por uma “bacana local” “das antigas” colocadas em dois cantos do salão! Eu como arquiteto, achei muito infeliz e pretensiosa a intervenção moderna, entretanto, em viagem as opiniões são diferentes de pessoa para pessoa. Tomara que seja momentâneo e seja logo removida dali.
               Mas a biblioteca não para por aí. Sua sala de leitura é limítrofe com a rua de trás e tem uma parede com grandes janelas em arcos entremeadas por colunas. Um rebatimento da fachada. Seu piso é de mármore branco e preto com desenho de tabuleiro e sua mobília não apresenta nenhum detalhe especial. Vitrais amarelos e brancos no teto complementam a ambientação com iluminação zenital. É na verdade uma cópia (muito pobre) da sala de leitura da Biblioteca Pública de Nova Iorque. Para quem já esteve na original eu aconselho que nem no mais remoto ímpeto de curiosidade deva cogitar em entrar nessa "cover" sul-americana, mas para aqueles que nunca viram sequer uma foto do soberbo salão de leitura da NYC Library a entrada serve como um aperitivo: vai ser no mínimo interessante. Mas, se o parâmetro forem as bibliotecas brasileiras, aí a coisa muda de figura e o visitante vai ficar boquiaberto! (risos)
               A lateral esquerda da biblioteca é tapada pelo prédio do Arquivo Nacional que fica de frente para o Cerro de Santa Lúcia. Este edifício público segue o estilo e a cor da biblioteca e tem a mais longa colunata de toda a Santiago (linda!) com cerca de 10 colunas divididas em três grupos de 4, 2 e 4 colunas, sem contar aquelas meias colunas encostadas nos grandes pilares. Muito bonito mesmo, mas tem que ser admirado do outro lado da Alameda. Essa proximidade do edifício ao morro e a rua pouco larga, limitam bastante a perspectiva e forçam ao pedestre um trabalhinho a mais: procurar um ponto focal mais distante. Vale sim o empenho e todo o trabalho só para desfrutar de uma fachada maravilhosa.
               Para aqueles menos atentos os dois edifícios podem parecer o mesmo. Mas não são! A biblioteca tem volumes de destaque em suas esquinas e uma entrada bem demarcada por portal francês e escadaria, enquanto o outro é mais retangular. Acho o arquivo mais bonito, mais austero e mais bem projetado a despeito das grades que atrapalham bastante a percepção do prédio: uma pena! 
               A Biblioteca Nacional do Chile é uma das Instituições mais antigas da América Latina. No dia 19 de agosto de 1813 foi publicado no periódico oficial da época, El monitor Araucano, pela junta dos membros do governo a proclamação da fundação da Biblioteca Nacional. A partir dessa proclamação, começaram a receber grande números de obras, que constituiu seu quadro do universo intelectual e cultural. Dentre as obras existentes na Biblioteca, destacam-se obras históricas, científicas e religiosas. Em 1818, foi nomeado por Bernardo O'Higgins (o libertador, lembra?) Manuel de Salas seu primeiro diretor, colocando em sua responsabilidade a organização, manutenção e o aumento dos fundos bibliográficos, ou seja a curadoria da biblioteca. Após alguns anos ,mas precisamente no dia 27 de abril de 1822, foi nomeado o segundo diretor Fray Camilo Henríquez, que foi o fundador do primeiro periódico nacional Aurora de Chile. O primeiro catálogo impresso da Biblioteca Nacional foi criado em 1854 e em 1861 foi criado a seção de manuscritos. No mesmo ano, 1861, houve um aumento de seu patrimônio bibliográfico, após adquirir a biblioteca do historiador Benjamín Vicunã Mackenna. Esse nome Vicuña Mackenna a gente ouve o tempo todo. O conjunto entre o edifício desta biblioteca e o Arquivo Nacional ocupa toda uma quadra. Os dois formam um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da Alameda e de toda a cidade.
               Defronte ao arquivo e ao lado da quadra há uma pracinha que se une ao Cerro Santa Lúcia. 
               Perto da biblioteca, mas no lado de trás está o Tetro da Nação. Se há tempo de sobra antes de ir tudo bem, do contrário, basta apreciar por fora que o ganho é de 70%!

TEATRO NACIONAL:

               Considerado o centro cultural mais antigo do Chile, responde pelas sedes da ópera, comédia e drama, bem como pelo balé e teatro. É também sede da orquestra filarmônica e do coral local e foi projetado por um arquiteto francês seguindo o estilo neoclássico predominante na época, tendo sua inauguração no dia 17 de setembro de 1857 com a ópera "Ernani" de Verdi.


               Esse teatro fica na Rua Augustina n 794, bem próximo ao Cerro Santa Lúcia e tem capacidade para cerca de mil e quinhentas pessoas. Fica muito bem localizado na área mais histórica do centro de Santiago.
               Não é muito grande, parecendo pouca coisa menor que o Solis de Montevidéu. Todo branquinho fica defronte a uma pracinha muito bem cuidada com direito a fonte e tudo. É uma joiazinha da cidade. A fonte também é pequena e possui uma alegoria com três crianças brincalhonas. Por fora é bonitinho e nada mais, considerando que é sede do mais importante teatro da Nação. Mas por dentro melhora bastante.


               Possui, na fachada principal, que é a mais elaborada que as demais, duas faixas bem demarcadas que indicam a área de entrada e a área do grande foyer. Uma galeria arcada junto ao passeio público com sete vãos, marca bem a área de acesso ao edifício e serve de embasamento formal para a grande galeria superior que sustenta. Essa galeria ostenta uma colunata muito alta, que delimita a varanda da porção social do teatro com vista para a rua, ao exemplo das melhores casas de ópera e teatros da Europa. A rua lateral é bem acanhada e o teatro é cercado por uma grade que seria totalmente dispensável. Ficou feio mesmo. Por dentro, ainda que não encontremos muita riqueza de detalhes, assume um ar nostálgico de pura sofisticação. Todo branco ganha magnitude com os revestimentos em veludo e tapeçarias de um potente vermelho sangue, arrematado por poucos, mas muito bem colocados, detalhes dourados. Declina do fausto e da pujança, mas tira total proveito da sobriedade e do requinte. No hall de entrada o destaque fica por conta de um piso de mármore em tabuleiro de xadrez em branco e preto assentado em ângulo de quarenta e cinco graus.    




               Podia ser mais rico, com um volume mais imponente e fachadas mais trabalhadas e ter mais destaque na paisagem da cidade, uma vez que, como já falei, é o teatro oficial do país. Perde de jardas para seu arquiinimigo teatro Collón!  Pontos para os argentinos!  Mas mesmo assim o local tem um ar chique. O entorno é indiscutivelmente amigável, convidativo e tranqüilizador e o conjunto arquitetônico agrada mais aos sentidos que o outro portenho. O problema é que exatamente em sua frente existem dois prédios geminados, que mais parecem um, em estilo francês e que roubam a cena do pobre teatro municipal. Um deles é conhecido pelo nome de Palácio Subercaseaux e é sede do Clube de Oficiais da Força Aérea Chilena. As fachadas são bem altas e bastante alvas e suas aberturas possuem bastante personalidade. Com um porão alto os edifícios ganham magnitude e pompa.


               Acima visão dos edifícios geminados, situados do outro lado do largo e com a baixa estrutura que hospeda a cafeteria em sua frente. Belíssimos e austeros, possuem um telhado em mansarda francesa com sua íngreme e longa inclinação, repleto de janelas do tipo trapeira. lindo o contraste entre os escuros e claros da edificação. As portas de entrada escondem, da rua, altas escadarias que vencem a diferença de cotas no desnível provocado pelo porão alto. As três marcações, dos volumes do telhados com duplas vertentes, causam uma confusão e fazem o mais distraído observador, acreditar se tratar de apenas um prédio. Na verdade sutis diferenças provam que são dois. Algumas linhas da decoração, em especial aquelas que enfeitam os balcões, fazem referência ao estilo Art Nouveau.
              Meio bizarro é o fato de terem construído uma cafeteria atrapalhada imediatamente na frente dos prédios franceses. Ficou estranho. Como eu passei por ali no domingo tudo estava fechado. Acredito que durante a semana com a dita cafeteria aberta a coisa fique melhor. Diria para passar por lá para saborear pelo menos um suco. Pareceu-me bem sofisticada a pequena cafeteria: toda francesinha e bem na frente do teatro. Com linhas que fazem lembrar os ares mediterrâneos das prais do sul da França acompanha o ar imaculado das grandes paredes brancas do conjunto arquitetônico ao seu redor. Pode ser legal! Tem cara de high society! O bom é depois de visitar o teatro voltar para a Alameda.

CASA CENTRAL DA UNIVERSIDADE DO CHILE OU CASA MATRIZ:

              Situada também na O’Higgens bem defronte a entrada de uma das duas ruas de comércio mais famosas que é o Passeo Nova Yorque é sem sombra de dúvidas um prédio de destaque, mas a visita é bobagem. Sede da universidade com maior prestígio no país, esse prédio ocupa uma área nobre da avenida e fica sobre a estação de metrô mais divertida da cidade: seus murais são muito loucos! Se tiver tempo ou usar a estação vai ver que é verdade. Acima, o prédio em si é uma caixa amarela com duas fileiras de janelas, esquinas marcadas com frontões e entrada central bem definida, repetindo a idéia do frontão com brasão da instituição e duas figuras humanas que lembram as figuras femininas das portas do Mercado Municipal. O destaque então é esta entrada monumental precedida por uma bela escultura na calçada. Dá perfeitamente para tirar uma foto à distância. A cor amarela confere ao edifício uma aparência mais alegre e de bastante personalidade se comparada ao s prédios dos arredores. Gosto do fato de dar mais cor para a avenida, que é em minha opinião, o seu maior mérito.

 IGREJA E CONVENTO DE SAN FRANCISCO:


               Ainda na O'Higgins, mas agora na esquina com a Calle San Francisco de Asís. Muito legal com uma torre isolada com pináculo e relógio. Fica no bairro conhecido como Paris-Londres, que nada mais é do que um conjunto de quatro quadras divididas pelas Ruas Paris e Londres que se cruzam formando um encantador recanto da cidade. A Rua Londres é bem sinuosa criando uma espécie de barriga e fechando a perspectiva. Este efeito cria um clima mais acolhedor tal qual o Bario Concha y Toro. Os metrôs que servem para chegar até a igreja e arredores podem ser o Santa Lúcia ou o Universidad do Chile.  Adorei o conjunto religioso, mas é bom para quem curte igreja e dados históricos. É considerado o edifício mais antigo de Santiago e o único representante da arquitetura do século XVI ainda conservado em pé. Tem como data de fundação o ano de 1554 quando vieram os primeiros padres que passaram pelo Peru. No altar principal fica a "Virgem Del Socorro" que foi trazida pelo Pedro de Valdívia e justo por isso é dada como a primeira imagem católica que aportou no Chile vinda do estrangeiro. No primeiro pavimento do convento está sediado o Museu de Arte Colonial, que tem muitas pinturas de valor e várias peças de retratam, é lógico, São Francisco de Assis.


               O acervo de "cuzquenhos" (aqueles quadros de santos com caras de índios, pintados sob as regras da escola de pintura fundada pelos padres na cidade de Cuzco, no Peru) é considerado o melhor do mundo! Sua fachada alterna paredes muito lisas, pintadas com um tom de tijolo bastante forte, com elementos de bastante destaque. Sua torre com relógio e sinos é mais atual que o restante da edificação e mistura vários estilos. Sua entrada é mais rústica e guarda intacta a porta original circundada por uma parede de pedras. Seu claustro é bem colonial: possui dois andares com galerias voltadas para o centro descoberto. O primeiro andar é composto por uma arcada de alvenaria sustentada por robustos pilares e pintada de branco que se abre diretamente para o pátio arborizado. O andar superior é mais leve e mostra um trabalho simples em grade e madeira com a estrutura do telhado a mostra. O que mais me chamou a atenção foi o requinte do trabalho do teto no interior da nave da igreja: gostei especialmente do contraste com as paredes de pedras irregulares e aparentes.
               entrada do Museu Colonial fica ao lado da porta principal da igreja no local em que a calçada se alarga e forma uma pracinha seca com chafariz de pedra no centro. Este museu ocupa o que antes era o convento. O edifício do antigo convento é lindo porque é autêntico e faz lembrar que esta cidade foi colônia espanhola. É um dos mais simbólicos registros históricos da capital, mesmo que seja um prédio simples e pequeno.
               Quanto às duas ruas, é inegável que diferem das demais, tão retas e tão longas. Numa cidade com calles que parecem intermináveis, estas duas pequenas e sinuosas ruas com calçamento em pedra, postes antigos e prédios que não ultrapassam os cinco andares, oferecem um cenário diferente e inesquecível. Pena que o local é muito pequeno e praticamente se resume a estas duas vias.

CALÇADÃO:

               Domina o centro antigo da cidade. Prédios altos do início do século XX se alternam com outros das décadas de 70, 80 interrompidos ora aqui ora ali, por outro mais antigo e histórico. Algumas poucas igrejas, só que bem bonitas, surgem pelas esquinas. Muito sombreado pela altura das paredes é protegido do sol inclemente do verão. Bastante limpo seu calçamento em rosa e branco é bem lisinho e muito conservado o que torna a caminhada bastante confortável. Cheio de gente, malabaristas argentinos, bancas de jornal (adoro, pois só assim podemos ver quem são os artistas e as celebridades locais), executivos engravatados e artistas de rua, vive em frenético movimento. O bom é que é cheio de bancos de madeira ripada, limpos e confortáveis! Não será muito complicado achar um vago, mesmo que pareça impossível, dada a quantidade de gente que circula nos calçadões, uma vez que existem em grande número.


               Não chega a ser muito bem provido de lojas de qualidade (provavelmente tenha sido assim no passado), mas quebra um bom galho. Tem de tudo, só que com o mesmo padrão popular como acontece em outras cidades grandes do planeta. Mas se as lojas já não são mais tão elegantes e atraentes, seus edifícios são belíssimos. Não dê espaço para a timidez, nem perca a oportunidade de olhar para cima! Muito legal é o encabeçamento de vários prédios, que podem acabar em ponteiras, cúpulas, arcos ligando dois vizinhos (Passeo Phillips) ou mesmo em passarelas ou passadiços nas alturas. Por falar em passadiço, procure o do Banco Santander, todo em vidro azul (ou verde dependendo da luz solar), que é muito interessante apesar de ter uma estética pouco convincente. Não faltam aqueles edifícios imponentes seguindo os estilos clássicos e beux-art, com suas fachadas austeras impondo respeito a todos que por eles passam, como a Casa Matriz do Banco de Chile (no passeio da Ahumada). As lojas são, como falei, mais populares e não vai ser difícil achar aquelas de magazines. Sorvete é a melhor pedida para abrandar o calor e o clima seco, mas preparem-se para cotoveladas! Vi poucos pedintes e mendigos nas vias e esquinas, mas gente com cara de índio tem a dar com o pau! Floriculturas também são poucas (vi, a uma certa altura, umas duas carrocinhas branquinhas com flores), mas creio que não fazem a menor falta para o turista! Como a produção de flores deve ser bem cara e problemática, só sobram as importadas. São mais comuns nos bairros mais chiques. Pena, pois embelezam a cidade e dão aquele charme parisiense que tanto nos agrada. Mas estamos no Chile e não na França! Lembre disso o tempo todo!



Inspiração francesa: bela fonte no meio do calçadão, defronte ao prédio da Bolsa,
 no centro financeiro da cidade.

               As ruas calçadas, destinadas exclusivamente para os pedestres são poucas e por vezes cortadas por outras onde passam carros. O calçamento praticamente não muda e os carros respeitam bastante o movimento de pessoas, mas mesmo assim tem sinal luminoso e temporizador para ordenar ambos os fluxos. Gostei bastante de passear por ali, mas não gastem mais que uma manhã ou uma tarde nesse passeio. Durante a noite só uma passadinha de taxi defronte a Catedral com paradinha para as fotos e nada mais.  Ainda que segura a cidade, nunca é bom abusar! Ao final do passeio nesse calçadão vindo da Libertador encontra-se a Plaza de Armas. Prepare tempo para esta praça, pois é a mais interessante da cidade: grande e cheia de coisas de interesse e importância cultural. É o coração de cidade, e bate muito forte!


               O edifício da Bolsa de Comércio que data do início do século vinte, domina uma esquina da região central de Santiago. Sua fina arquitetura responde pelo fato de ter sido tombado pelo patrimônio histórico e artístico transformando-o em monumento nacional na década de 1980. Possui uma linguagem renascentista em suas fachadas principais, mas é em sua esquina, que marca o vértice da quadra triangular, com suas colunas dobradas, cúpula e relógio com forte influência da Beux Arts, que tem sua mais famosa imagem.


               Uma imagem da arquitetura moderna da zona central: o moderno passadiço de cristal azul e aço segue um desenho que se assemelha a uma estrutura do tipo espacial. Interessante o contraste com a ponteira em estilo pitoresco que aparece ao fundo.  A arquitetura moderna dessas torres de cristal peca quando desconsidera o seu entorno. Nessa mesma foto vê-se um projeto mais engajado (pequena parte de uma fachada, junto à margem lateral esquerda da foto) : parte de uma fachada modernista, provavelmente dos finais dos anos sessenta, que apesar de propor uma elevação contemporânea, fechada com uma grelha uniforme e bastante ritmada, é executada buscando as cores e texturas dos edifícios mais antigos. O uso da cor apropriada faz com que a obra se encaixe perfeitamente no contexto do bairro, sem abrir mão do registro histórico da época em que foi construída. Pertinente a comparação entre os edifícios.


PLAZA DE ARMAS:



               Leva este nome porque no passado era o local onde eram guardadas as armas da colônia. É o sítio urbano mais movimentado de todo o país, repleto de gente, tanto de locais como de turistas. Não possui um desenho muito organizado o que demonstra um certo antagonismo com o restante da cidade tão bem pensado e desenhado. Vale lembrar que as cidades coloniais espanholas eram implantadas de forma bem diferente das coloniais portuguesas. Enquanto as lusitanas eram implantadas de forma mais solta e espontânea as hispânicas sempre respeitavam o tal desenho tipo tabuleiro de xadrez.
              Nesta praça está o marco zero do país. É uma medalha de latão incrustada no chão de onde partem todas as medidas de distância do Chile. Nela encontramos a Catedral Metropolitana.
              Legal mesmo é uma enorme cobertura redonda como se fosse um coreto onde os homens jogam cartas e dominós durante todo o dia. Deve servir para outras coisas também.
              Aqui existem outras atrações artísticas. Umas mais bonitas outras nem tanto. Existe uma escultura em pedra de uma cabeça de índio que é medonha! É um amontoado de pedras com uma cabeça de um índio mal encarado em balanço. Odiei. Por favor, não tirem fotos dela! Outras menores, espalhadas ao longo do grande espaço aberto quadrado, entremeadas por palmeiras, bancos arredondados, canteiros e floreiras não serão difíceis de achar. Fiquei encantado foi com o Edifício Edwards que fica na esquina da Calle Merced com o Passeo Estado. Trata-se de um edifício de três andares com toda a estrutura metálica aparente e pintada em dois tons de verde. Datado de 1808 é um verdadeiro encanto. Pena que tem uma loja no térreo que acaba com a fachada! Procure que vale a pena e tem em seus arredores outros prédios bastante importantes e curiosos.



CATEDRAL:



               Não é a maior, nem a mais interessante, nem a mais rica, nem a mais bonita das catedrais da América. Bem pelo contrário. É meio sem graça. Sua fachada é relativamente pobre e seu interior não chega a empolgar. O que a traz como igreja de destaque são suas proporções: é gigante! Até sua localização é meio ingrata, pois fica deslocada do eixo da praça e tem sua fachada colada a outro edifício: o palácio do Arzobispado. Implantada ao rés do chão e numa esquina é pano de fundo para todo o tipo de manifestação popular. Sua fachada muito larga e relativamente pouco decorada assume diferentes matizes durante o dia em virtude da posição solar, funcionando como um refletor natural dos raios solares. Isso faz com que assuma diferentes cores ao passar das horas. Se o turista passar pela manhã, ao meio dia, pela tarde e a noite, terá a oportunidade de ver quatro diferentes catedrais. Muito bacana esse efeito de luz. O interessante é que as pessoas, os sons e tudo o mais que cerca a praça parece mudar também, assim a praça ganha muita vida e várias matizes. Gostei disso!



               Foi levantada pelo governo de Ortiz de Rosas entre os anos de 1748 e 1775 exatamente no mesmo local em que o Pedro de Valdívia teria fundado a cidade espanhola. Sofreu vários aumentos e modificações e adquiriu na sua quarta reforma os seus traços atuais. Declarada patrimônio de importância artística e cultural quando elevada à condição de Monumento Nacional em 1951. Em seu interior é bom procurar pelo Museu de Arte Sagrada e pelo altar de prata, achei espantosos! No mais tudo muito padrão para uma catedral, como estátuas em mármore branco e bronze a exemplo da estátua do Santíssimo Sacramento.



               Sei que não é o caso, mas se parecer interessante subir em alguma de suas duas torres, é bom mudar de idéia! São mantidas permanentemente fechadas para a visitação pública, com raríssimas exceções. Tive azar e cheguei tarde ao único dia em que elas estavam liberadas para a subida! Na foto anterior o contraste entre a arquitetura de época com as modernas linhas das torres de vidro.



               O belíssimo altar de prata. Esse sim é uma coisa rara de se ver! Perca tempo deliciando-se com seus detalhes. Para quem gosta de arte sacra é um deleite e para quem vê nesse tipo de manifestação artística  somente mais uma coisa curiosa, vai ter muito para contar aos amigos.


               Acima e abaixo dois detalhes do trabalhado teto da nave da Catedral Metropolitana. Internamente as grandes e grossas colunas que sustentam os arcos plenos, repetem o padrão estabelecido na fachada.



MUSEU DA CIDADE E EDIFÍCIO DO CORREIO CENTRAL:

               Na Plaza de Armas estão os três principais edifícios coloniais da cidade: a Catedral (reformada inúmeras vezes e com aspecto barroco), a Casa dos Governantes do Chile conhecido atualmente como Correio Central e Museu Histórico Nacional.
               O Museu Histórico também é conhecido como Palácio da Real Audiência e foi construído entre 1804 e 1807, sob os cuidados de Juan José de Goycolea que optou pelo neoclassicismo com toques italianos. Inaugurado em 1808 passou a ser durante os tempos de colônia a sede dos tribunais, cedendo lugar pouco tempo depois para a Primeira Junta de Governo que acabou por proclamar a independência do Chile. Depois em 1911 foi convertido em museu para abrigar a coleção de mais de doze mil peças, que ficam espalhadas por suas dezesseis salas de exposição e que contam os períodos da história e desenvolvimento do Chile. Foi declarado Monumento Nacional em 1969.
               É muito fácil encontrá-lo, basta ao sair do interior da catedral por um dos seus três enormes arcos, seguir em frente mantendo-se sempre na sua esquerda e por cerca de quarenta metros. Voila! Aí está o museu da cidade com fachada amarela e provavelmente com um big banner pendurado na porta.
               Muito bonitinho por fora, exibe uma bem estudada fachada rebatida. Seu destacado torreão central exibe um relógio sobre uma entrada de grandes proporções: uma abertura com altíssimo vão coroada por um belo frontão, ajuda a enriquecer ainda mais este lado da grande praça.  Pena que o padrão arquitetônico muda radicalmente em seu interior. Depois de passar pela grande abertura que marca a entrada o que se vê é desapontadoramente inferior ao que se espera.
               Já o Edifício do Correio Central não tem mais nada de colonial. Faz mais o estilo "bolo de noiva". É bonito e tem um telhado "afrancesado" em ardósia azul e fachada eclética ricamente adornada. Gostei em particular da entrada alta (parece mania por aqui) entre duas colunas que seguram o friso com o nome do prédio. Vai ser fácil achar! O legal é que ele fica numa esquina e é branco. Ele pula à vista!
            Na outra esquina desta mesma face da praça está o edifício da Municipalidad. Mais simples com linhas mais austeras seguindo um padrão neoclássico, ajuda a compor com os outros dois este lado da praça que é o mais importante. Dessa forma, localizado ao norte da praça, ocupa o mesmo lugar onde na época da colônia funcionava o Governo do Chile. O primeiro prédio foi erguido em 1670 que mais tarde deu lugar a outro, erguido em 1790 que ardeu em um incêndio cem anos depois. Restaurado em 1895 ganhou características da ordem artística e estética da época.
               Por favor, desconsidere o espigão oitavado com fachadas de vidro ao lado da Catedral! Que infeliz idéia! Eles o adoram e dizem que espelha as maravilhas da catedral.

PLACAS DE LATÃO NO CHÃO DA PRAÇA DA CATEDRAL:

            Isso é bem legal. Na frente da Catedral e do Museu da Cidade estão perfiladas no piso da praça três placas de latão em altos e baixos relevos mostrando a evolução da cidade em diversos tempos históricos. Muito legal. Bem fáceis de serem achadas. É só caminhar em frente a partir da igreja. A praça onde se encontra a Catedral é a famosa Plaza de Armas: local da fundação da cidade. Justo por este motivo é que tais placas estão por ali: mostram a data da fundação da cidade sobre as terras dos índios Mapuche.
               Um pouco mais a diante, bem em frente, está a estátua eqüestre em bronze do famoso Pedro de Valdívia. Linda, como deve ser uma estátua que homenageia um herói nacional, eleva-se sobre um pedestal relativamente baixo e totalmente revestido de granito! É um bom lugar para sentar! O cavalo faz uma ótima sombrinha. Este assento é disputadíssimo.
               As placas no chão, além de peculiares, ajudam a marcar a área da praça onde estão localizadas, como sendo a porção mais importante de todo o quadrilátero. Ajudam também, a orientar o observador entre o edifício sacro e a estátua do conquistador do Chile. São equipamentos e recursos urbanos muito ricos e bastante eficientes na organização espacial do ambiente aberto.

CASA COLORADA:

            Achei o máximo! Fica na Calle Compañia de Jesus próxima à esquina da Calle Passeo Estado, próxima da Plaza de Armas, no sentido oposto da Catedral. A entrada compensa e não se perde muito tempo na visitação. Essa casa com fachada avermelhada e pedra rústica é linda. É a casa colonial mais bem conservada em toda a cidade. Muito famosa é carinhosamente apelidada de "casona". Não é a troco de nada que leva este apelido, já que é mesmo uma autêntica casona. O superlativo é muito apropriado a esta estrutura quadrada, que ocupa todo o terreno e tem no centro um pátio descoberto. Levou mais de uma década para ser construída e foi a primeira casa a ter dois pisos e uma fachada que mesclava ladrilhos com uma base coberta de pedras. Virou Monumento nacional em 1978. Abriga atualmente o museu de Santiago, que conta de maneira um tanto fraca a história da cidade. O que vale mesmo é ver a casa. Se optar por não entrar pelo menos tire uma foto na fachada. Mas, sinceramente: entre!


               As paredes pesadonas da fachada e o trabalho na pedra, tanto nos detalhes do vão de entrada como nas bases das sacadas é soberbo para a época. O beiral com acabamento em cimalha branca e os delgados cachorros (peças de madeira que sustentam a projeção da cobertura) criam um conjunto muito refinado para uma arquitetura com poucos recursos. A meu ver é um dos pontos altos do passeio ao centro da capital.  Eu chamo a atenção para um prédio vizinho: atenção ao edifício da esquina bem ao lado da casona com sua estrutura metálica aparente pintada de verde. Lembrou-me os edifícios do Soho em Nova Yorque! Esses dois marcos da Capital me encantaram. Fiquei muito tempo saboreando seus detalhes e tentando decorar todos os seus pormenores.
               Duas esquinas mais a frente a caminho do Cerro Santa Lúcia fica e Iglesia de La Merced e seu claustro com museu. Foi edificada, entre 1736 e 1760, e realizada pelo arquiteto Joaquín Tosca, no final do século XVIII. No interior da Basílica, destacam-se belas obras de arte, como o “Púlpito” e a imagem da “Virgen de La Merced”. Conta com um museu formado por três salas, com valiosas peças de imagens sacras e vários objetos religiosos, assim como uma das coleções mais completas da Ilha de Páscoa. Está localizado na rua “Enrique Mac Iver”, 341. Também com fachadas pintadas de vermelho é uma igreja muito bonita que deve ser vista por fora e visitada somente como plano "B", ou seja, se estiver chovendo, se os pés estiverem pedindo arrego ou se sobrar muito tempo. Caso contrário, arriba e avante! Eu fui.

MUSEU DE ARTE PRÉ-COLOMBIANA:

               Tudo de bom! Fica na Calle Bandera esquina com a Calle Compañia de Jesús ao lado do Palácio de Los Tribunales (Suprema Corte). Imperdível para quem gosta de museus repletos de cacos e artefatos pré-colombianos. Fica no sentido oposto da casona.


               O museu é na verdade o único imperdível de toda a cidade, tanto pela qualidade de seu acervo permanente quanto pela curadoria sempre dinâmica e atuante no cenário cultural e político do país. As exposições paralelas são sempre de altíssimo nível e de suma importância cultural. Não é muito grande, tem um tamanho ideal e as peças são muito bem apresentadas e bem catalogadas. O museu fica bem próximo à catedral metropolitana em um edifício colonial muito simpático e convidativo. O prédio é na verdade lindo. Todo branco com suntuosas janelas e grossas grades pintadas com cor escura para contrastar, fica um pouco projetado sobre a rua. Muito fácil de ser encontrado a despeito da pouca sinalização e da tímida placa. E olha que o nome do museu é grande. O acervo é considerado o melhor da América do Sul, mesmo que não tenha as memoráveis máscaras e artefatos de ouro que o visinho Peru possui. Vai ser fácil achar dentre os 1.500 artefatos feitos na América antes dos espanhóis pilharem quase tudo, peças mapuches (o rio é Mapocho, mas o índio é Mapuche), diaguitas, incas, astecas, marajoaras e maias além de máscaras, múmias, esculturas, tecidos, chapéus, vasos, vestimentas, um pouco de ouro, prata e bronze, e muito mais. O melhor de toda a exposição é de longe o conjunto de múmias dos povos Chinchorro que ao que consta, são dois mil anos mais antigas que as encontradas no Egito. As cerâmicas com mais de três mil anos de idade (3000 a.C.) também são itens de muito interesse.
            Fica bem próximo da Plaza de Armas (a da Catedral). Ele é um museu que possui uns horários diferenciados para cada dia da semana. Ele não abre em todos os dias, então é bom prestar atenção nos horários e nos dias que eventualmente possa estar fechado. Sua visitação é quase que obrigatória.
            Foi construído ainda na época colonial, mais exatamente no ano de 1805, para sediar o Palácio de La Real Aduana e hoje concentra peças oriundas da Amazônia, México, Caribe, Peru, Bolívia e Argentina. É uma das poucas estruturas que sobraram da época colonial. 

PRÉDIO DO CONGRESSO:

               Fica bem atrás da catedral Metropolitana. Dele é possível ver a cúpula da catedral com maior destaque. Lembra um pouco o prédio da Faculdade do Paraná, só que tem a figura do Condor por todos os lados. É o gigante branco da cidade. Apesar de o congresso ter tido sua sede transferida para o litoral na época do ditador (hoje ocupa um moderno prédio em Valparaíso), nesse local ainda funciona parte do governo. Seu belo jardim é fechado para o público que desfruta apenas das vistas por entre suas grades. Além do Condor é fácil decifrar as várias figuras dos seus frontões que simbolizam a pátria do Lápis Lázuli.


            Se conseguir entrar não perca! Vi as fotos da sala da antiga câmara de deputados e é linda: com paredes brancas e detalhes clássicos em gesso coberto de dourado ostenta um mural pintado com uma cena do parlamento antigo. Já a antiga sala da câmara de senadores, tem um mural de madeira com relógio encimado por uma pintura de dois galeões rumo ao novo mundo. Outras pinturas em pequenos murais ao estilo Art Nouveau completam a decoração interna destes ambientes.
            Este edifício com belos jardins ocupa toda a quadra e é possível apreciar todas as suas quatro fachadas. Fica entre as avenidas da Catedral, Compañia de Jesus, Bandera e Morandé.


              O estilo neo-clássico predomina nesse prédio, que tem em sua colunata de seis colunas de Ordem Coríntia, encimada por um frontão com a bandeira da Nação hasteada no encontro de suas empenas, sua mais marcante vista. Luxuoso prédio de ricas fachadas, belos jardins e marcante presença no conjunto arquitetônico da região central. Não confunda a bandeira do Chile com a bandeira do Texas: "O Estado da Estrela Solitária"! Apesar de muito parecidas, com as mesmas cores e uma estrela no canto superior esquerdo, diferem no desenho de seus campos coloridos. Essa semelhança entre as duas "flags", faz com que todos os souvenires do Chile pareçam vir dos "states". Quem será que copiou quem? Resposta: a bandeira chilena data de 18 de outubro de 1817 e a do Texas é de 29 de dezembro de 1845! Faça a conta! (risos)

            Em sua frente na outra calçada da Rua Compañia de Jesus fica o prédio dos Tribunais. Muito austero é em minha opinião um dos mais bonitos edifícios públicos da cidade. Gostei da sua entrada e das suas galerias com tetos de vidro. Lindo de morrer! Vale à pena entrar! É um dos poucos lugares em que encontrei vitrais multicoloridos com imagens e cenas diversas.
            Defronte a outra fachada, na Rua Catedral está o pequeno, mas encantador edifício da Academia Diplomática do Chile na esquina das Calles Morandé e Catedral. Todo branco com fachada exageradamente decorada possui um soberbo friso sobre as suas janelas do segundo andar. Na outra esquina tem o Hotel Espanha. Só para constar! Achei legal o tratamento que deram para a esquina, além do contraste de sua fachada bastante lisa e torreão redondo com o vizinho quadrado e excessivamente decorado.

CASA DE LA ALHAMBRA:

            Desenhado pelo arquiteto chileno Manuel Aldunate que viajou para a Espanha, especialmente para estudar a arquitetura e decoração mouriscas e lógico, vasculhar e sugar todos os detalhes do célebre Palácio de Alhambra em Granada. É atualmente a sede da Sociedade nacional de Belas Artes e sustenta o título de monumento nacional.


            É uma construção aberta à visitação pública que se inspira no famoso palácio dos mouros erguido no alto de uma colina da cidade de Granada (nome espanhol da fruta conhecida aqui como Romã) na Espanha.  Por fora não dá para dizer que o imita! Isso porque a casa fica em um lote padrão no meio da cidade, o que torna a volumetria bem diferente do prédio que toma como inspiração. Edificada utilizando os 100% do terreno não possui afastamento da rua principal nem recuos laterais, o que a torna muito bruta e maciça: parece o peru no pires"! Mas eu gostei mesmo assim. A sorte é que tira proveito dos jardins internos, tal qual os mouros em seus palácios. Taí uma bela desculpa arquitetônica para o uso de todo o potencial do lote.


             Situa-se na Calle Compañia de Jesus 1340 um pouco depois da velha e ancorada fachada do prédio que caiu com o terremoto. Fácil de ser achado possui o estilo mourisco desde a fachada ricamente ornamentada até os ambientes internos que tentam reproduzir tudo do original! Tem até o pátio com a fonte dos leões! A porta da entrada principal tem desenho de arco em ferradura, fechada com uma pesada porta de madeira que se abre para um pequeno corredor de entrada que desemboca em um pátio com paredes brancas, duas escadas com guarda-corpos em gradis e treliças de madeira.
            Desenhado e construído (repito) por Manuel Aldunate entre os anos de 1860 e 1862, fica no meio da quadra e tem sua fachada colada ao passeio de pedestres (bom frisar). Serviu de residência até ser declarado patrimônio municipal e monumento nacional no ano de 1973.  Faz parte também da lista dos imóveis catalogados pela Sociedade Nacional de Finas Artes além de sediar eventos e mostras por ela programados.


            É lindo!  Vale muito perder umas duas horinhas e dar uma passadinha por lá. Verdade que é um pastiche da palaciana fortificação européia, mas é sem sombra de dúvidas um testemunho de como o velho continente ditava a moda no final do século XIX entre os endinheirados locais. Pode-se dizer que é um arroubo da decoração excessiva em estilo mourisco. "Um bolinho de noiva das arábias!" O que pesa contra, são os muitos turistas que se acotovelam nos pequenos espaços abertos e nos ainda menores ambientes internos, além dos terríveis (parece cenário de filme do Almodóvar!) e inúmeros vasinhos com samambaiais e outras folhagens domésticas plantadas por todos os cantinhos dos pátios internos. Essa profusão desordenada de vasos e até mesmo latas de conservas com flores e folhagens mal arranjadas, nada mais é, que a manifestação cultural da porção brega da classe média que assume as rédeas da (histórica e antes classuda) casa burguesa. Certamente esses objetos não são originais e ofuscam a antiga ambientação que durante muitos anos imprimiu aquele ar colonial espanhol. 

PALÁCIO DE LA MONEDA:

            De volta à alameda encontramos aquele que é o mais fotografado e famoso edifício do Chile. Nosso velho conhecido de jornais e revistas.


            Muito bonito e bastante austero, trata-se do último grande edifício construído na era colonial. Gosto dessa característica séria e pouco rebuscada do prédio sede da presidência. Faz com que o governo assuma uma característica mais condizente com suas funções. O que chama a atenção é sua forma mais espalhada e longilínea.



              Sua pouca altura não o torna menos imponente, ainda mais com aquele número enorme de tremulantes bandeiras ao seu redor. Sua planta baixa é basicamente quadrada, com dois pátios internos maiores e dois outros menores (fossos de luz).               
                Está localizado no centro da cidade entre as ruas Moneda (ao norte), Teatinos (a oeste), Morandé (a leste) e a     Avenida  Libertador Bernardo O'Higgins (ao sul). O palácio é ladeado por duas praças: sendo ao sul, pela praça da Cidadania e, ao norte, pela Praça da Constituição. Logo, pode-se dizer que divide uma grande praça em duas totalmente diferentes entre si.       
             A praça que fica na Avenida O’Higgins (também conhecida como Alameda) é mais seca e aberta, provavelmente utilizada na cena pública em festejos e datas especiais para o país. Conhecida como Plaza de La Ciudadania possui dois espelhos d’água separados por uma passarela que acaba na porta principal do prédio. Esses espelhos ficam sobre a nova área subterrânea criada para ter museu, galeria, cafeteria, centro de convenções e lojas de cunho cultural: é o Centro Cultural Casa de La Moneda.

            Estando na frente do Palácio na Praça da Ciudadania podemos ver do outro lado da avenida o monumento ao Bernardo O'Higgins no largo que é o centro cívico. Este monumento também homenageia a batalha de Maipú e vive com guarda permanente. Como os ingleses! De novo! A partir desse monumento podemos ir ao Passeo Bulnes que é uma bela rua arborizada transformada em calçadão com o piso desenhado. Esse conjunto urbano cria uma bela perspectiva e ao final desse passeio existe uma praça. É bastante longe e não requer uma caminhada, a menos que tenha dez dias para explorar a cidade.

               A outra Praça do Palácio de La Moneda é mais arborizada e com formato quadrado. É chamada de Plaza de La Constitucion. Esta tem um piso com formato de triângulo somado a um círculo em sua ponta. Essa área que é uniformemente pavimentada fica em desnível em relação ao grande gramado que complementa os espaços e preenche o já dito espaço quadrado. Cercada por mastros com pequenas bandeiras chilenas a praça é muito bonita e ostenta também em seu perímetro várias estátuas de dirigentes locais. Salvador Allende tem a sua na direção da esquina das ruas Moneda e Morandé, sendo a primeira em sentido anti-horário, ou ainda a primeira à direita caso o observador esteja de costas para o Palácio. O cara até que era bem apessoado! Vale uma bela foto! Do outro lado dessa mesma esquina está o prédio da Intendência de Santiago. Bem legal faz uma marcação bem trabalhada da esquina. Prestem atenção a este edifício. Passear ao redor da praça é muito agradável, pois existem vários bancos de madeira ripada sob as sombras das inúmeras árvores. Fiquei deitado por lá um tempão, fazendo um gostoso lanche e lendo sobre a cidade.

            Como já comentei anteriormente a calçada se alarga na frente do Palácio e duas fontes gêmeas de pedra ficam nessa área, mais para as laterais e eqüidistantes da entrada principal.


               Na linha periférica da Praça de La Constitución foram erguidas, diversas estátuas de personalidades que governaram o país. Todas alinhadas, lado a lado e voltadas para o centro da praça, com as ruas  em suas costas. Sem muita "pirotecnia", formam um conjunto harmônico e bastante bonito, erguidas em lisas bases de pedra clara, onde estão fixadas placas contendo o nome próprio do homenajeado sobre uma frase de efeito com caráter político e relevância social.
               Na fotografia ao lado o mais famoso deles: Salvador Allende Cossens. Sua estátua assume ares bem modernistas que ajudam a estabelecer os parâmetros das datas e acontecimentos políticos em que esteve envolvido.
               A estátua de Allende é a mais fácil de ser encontrada: fica próxima da esquina da Calle Moneda com a Calle Morandé em frente ao Edifício do Ministério da Justiça.

               No meio desse edifício tem um pátio onde outra fonte vive ligada (Pátio dos Naranjos), mas só consegui ver pelo enorme portão do arco, já que a entrada ao interior do prédio estava vetada aos turistas. Na data em que eu estive por lá estava acontecendo um encontro de vários presidentes (dentre eles o Lula é claro!) e o palácio manteve-se fechado para a visitação. Não pude entrar em nenhum dos dois pátios internos: o Pátio dos Canhões e o Pátio dos Naranjos (este nome provém dos pés de laranjeiras plantados em vasos).


O lindo portal arcado no Pátio dos Canhões. Esse pátio é bem menor que o seguinte.


O belo Pátio dos Naranjos com as árvores frutíferas que emprestam o nome e a bela fonte no centro do grande espaço descoberto.


A fonte do Pátio dos Naranjos que possui o dobro do tamanho do Pátio dos Canhões.

               Quanto ao subterrâneo, novinho em folha, bem abaixo do grande espelho molhado, sob a praça voltada para a Alameda, eu garanto que vale a pena descer. O acesso é dado por rampas com paredes de cascatas. A descida para visitar o Centro Cultural De La Moneda é um passeio imperdível. Muito amplo, arejado e claro possui duas entradas com elevadores, uma em cada ponta do prédio, sendo a da esquerda a mais importante contendo letreiros, poesia na parede e estátua moderna. Apesar de ter elevadores eles vivem desligados, mas o legal mesmo é caminhar pelas rampas.
              A loja de artesanato é bem grande e bem completa: mesmo que não se queira comprar nada ela mostra um panorama da cultura local. O centro de todo o grande espaço é dominado por um piso rebaixado em três andares onde só se entra com ingresso. Nele são feitas mostras e exposições que trocam conforme a agenda cultural. Do teto alto geralmente caem instalações coma aquelas das Bienais de Sampa e que podem ser apreciadas de diferentes pontos e alturas em virtude das rampas que falei. O interior é bem claro e revestido com mármore.
               Agora um pouco de história que é bem importante saber: O La Moneda foi projetado originalmente para abrigar a Casa da Moeda! Que novidade! Que coisa incrível! Ninguém podia imaginar!
Sem gozação! Bem, mas devido à falta de recursos (ironia) do governo da colônia, a Casa real Espanhola decidiu dar o projeto para um particular que bancou toda a obra. Tudo pago pelo I Marquês de Casa Real foi levantado, entre os anos de 1786 e 1812, sob a batuta de um arquiteto italiano chamado Joaquim Tosca. Suas paredes foram construídas com enormes pedras com mais de um metro de largura para dar à construção a resistência necessária aos freqüentes abalos sísmicos que acontecem desde aquela época. Por essa razão é uma das poucas obras coloniais que ainda resistem em pé. Foi nele que foram cunhadas as primeiras moedas do Chile independente e manteve a função de casa da moeda até 1929.


                                                          
             Em 1932, uma reforma acrescentou o terceiro pavimento à fachada sul do prédio e virou a residência oficial dos presidentes da nação.
               Durante o golpe de Estado de 11 de setembro de 1973 (olha a data!) quando Salvador Allende foi deposto e morto, o edifício foi bombardeado e pegou fogo, destruindo boa parte do prédio, do seu acervo e de muitos documentos. Tesouros inestimáveis como a Ata da Independência do Chile de 1818 viraram pó. Depois disso uma demorada e minuciosa restauração recuperou o palácio, demolindo aumentos e retornando ao estado original. Inaugurado por Pinochet foi sede de seu governo totalitário. Após o fim da era Pinochet e a com a redemocratização do Chile o palácio voltou a ser branco.
                     
PARQUE FLORESTAL:

            Quase centenário este parque que tem um nome que em minha opinião é superlativo (o que pode causar uma confusão e gerar uma expectativa que não seja correspondida) é o favorito de todos. Ele vai da antiga estação de trem Mapocho, de onde partiam os trens para a Argentina e Atacama, e vai até a Praça Itália e Baquedano. Na verdade a praça leva o nome de Baquedano, entretanto existe uma escultura doada pelo governo italiano em um canteiro no meio das avenidas que acabou emprestando o nome para toda aquela área. É onde os Chilenos se reúnem para comemoras as vitórias de futebol e coisas desse gênero. Bem localizada a Praça Itália é muito aberta e bastante movimentada e fica no extremo oriental do eixo de monumentos que formam o conjunto do Parque Florestal. Perto da desta praça tem o edifício bem moderno da Telefónica que tenta sem muito sucesso imitar o formato de um telefone celular. Vai ser fácil perceber a diferença entre sua fachada moderna com grelha de concreto aparente, paredes de vidro azul e aço alocobond. É o único na cidade com uma antena pivotante colocada em uma de suas arestas, para em vão imitar um aparelho celular.
A Praça Baquedano forma uma rotatória viária e é cercada por belos prédios de um lado e com vista para o rio e Cerro San Cristóbal ao fundo. Os jardins seguem ainda que o parque acabe aqui.
Muito bela é a escultura também doada pela Alemanha. O Parque teve sua finalização oficial no final dos anos vinte, mas de lá pra cá a cidade vem emendando uma série de jardins que sobem o rio no sentido dos bairros mais novos e nobres sempre margeando o Mapocho.
Ao longo deste parque a cidade foi crescendo e floresceram bairros residenciais que enfraqueceram os bairros Brasil, Dieciocho e Rua Exército. Galerias, lojas de arte, livrarias, cafés e restaurantes circulam a estação de metro Belas Artes. Ali ao redor dos museus se formou um centro de atividades culturais.

PRAÇA ITÁLIA ou PRAÇA BAQUEDANO:

            É uma praça com bastante destaque na cidade, não é a toa que possui em seu subterrâneo sua maior e mais movimentada estação de metrô. De fato não passa de uma rotatória de grande movimento com uma estátua eqüestre em seu centro. Divide o nome entre a homenagem ao tal Baquedano, e à cidade amiga.


Acima uma visão da Praça Baquedano com o Edifício da Telefônica dominando o paisagem.

            Fica a meio passo de tudo: na margem do rio, no meio do Parque Florestal, na altura da entrada da Rua Pio Nono e Faculdade de Direito, ao lado do Parque Bustamante e seu teatro. É o local preferido pelos santiaguinos para grandes concentrações populares do tipo algazarra em final de liga de futebol, comícios políticos, comemorações patrióticas ou culto religiosos.
            Cercada por altos edifícios modernos, como o famoso e envidraçado Edifício da Telefônica, que tenta sem sucesso imitar um celular e por outros mais antigos e bem mais bonitos é bastante aberta e bem banhada pelo sol durante o dia. Já durante a noite podia ser mais iluminada e mais alegrinha. Tinha tudo para ser uma Times Square andina. Vai ser muito fácil achá-la, pois tudo passa também por ela.

MUSEU DE BELAS ARTES:

               Este belíssimo edifício fica em uma das esquinas mais bonitas da capital, dominando a área para a qual empresta o nome: Bario de Bellas Artes. Localizado um pouco abaixo da Praça Itália a meio caminho do Mercado Público Municipal na margem do Rio Mapocho ao longo da faixa ajardinada do Parque Florestal. É, portanto, muito fácil de achá-lo. Devido ao estilo e porte é um prédio de destaque no tecido urbano. Fica paralelo ao rio citado, em um cruzamento muito movimentado que dá acesso à uma das diversas pontes que o cruzam. Esta ponte leva o fluxo de veículos em direção ao bairro de Bellavista. Possui uma belíssima fachada que vale uma foto além de ter várias esculturas ao seu redor. A porta principal parece ser o elemento mais importante do projeto. É muito linda, tanto de dia como de noite. 


               No seu acervo consta mais de cinco mil obras de arte diz o folder do hotel. Diz ainda que é dono da mais vasta coleção de pinturas chilenas que abrange desde a época da colonização até a atualidade. Parece que tem até Rugendas! Eu não vi nada! Vai ver não entrei na porta certa!


            Acima o conjunto escultórico de preenche o grande espaço arcado, ao centro do frontão e acima da porta principal  da bela fachada da Avenida Eduardo de La Barra, próxima à Avenida Costanera.


No meio do Parque Municipal (Parque Florestal) é referência para toda a cidade e domina a região.




O interior iluminado pela luz do dia.

Sua belíssima cobertura vista de dentro do grande salão.

               O prédio é muito interessante e data também do ano de 1910. Representante local do estilo Belle Epoque com alguns elementos do Art Nouveau é mais bonito por fora do que por dentro. Aliás, a grande maioria dos edifícios em Santiago são mais bonitos por fora do que por dentro! Sua fachada é extraordinária e sua porta lembra imediatamente o Petit Palais de Paris. A porta é quase uma cópia do original europeu, mas o bonito mesmo é o quadro em bronze no frontão junto ao telhado abobadado. Lindas também todas ES esculturas que o cercam e que ficam espalhadas por todos os lados do Parque.    
          
               Mas seu interior guarda uma surpresa que deve ser contemplada. O teto é ao estilo palácio de cristal e lembra em muito o prédio francês com seu enorme salão de teto altíssimo. A idéia é mesmo essa: um grande espaço para exposições de esculturas. Dessa forma ele acolhe vez por outra uma mostra itinerante.  A visita já vale somente pelo prédio a despeito do seu acervo. Atentem para a estrutura metálica de sustentação tanto da passarela superior como do telhado. Brilhante! Magnífica! Gostei por ser muito elaborada e causar um belo conjunto em contraposição ao restante mais limpo do interior. Toda a parte metálica foi importada da Bélgica.
 Muito claro por dentro ele desaponta pela falta de cor. Mas Isso é proposital já que o objetivo é mostrar e dar destaque às esculturas.  Suas superfícies são muito pobres de detalhes e suas escadas muito tímidas e escondidas, mas repito, o contraste entre as altas paredes claras e as peças metálicas escuras é o grande barato. A luz é abundante no interior e as perspectivas muito abertas. Não perca.

             A acústica que poderia ser um problema é ótima e o som não reverbera, apesar das grandes dimensões e das superfícies lisas e metálicas.
                        

A escultura de Ícaro Caído colocada na calçada bem em frente à entrada principal do museu.

ACADEMIA DE ARTES OU MAC- MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA:


                 Outro prédio bem bonito em estilo eclético e paredes em cantaria imitando pedra. É também mais interessante por fora do que por dentro. Entrei, vi e não gostei. Por fora tem uma escadaria bem trabalhada e uma fachada imponente; já por dentro é um tanto decepcionante, ficando entre o simples e o trivial com um aspecto de instituição abandonada pelas autoridades competentes. 


               Fica exatamente atrás do Palácio de Belas Artes, ao qual é interligado. Essa característica arquitetônica pode confundir os mais desatentos, que podem pensar se tratar do mesmo edifício! Mas não é. Como existem muitas árvores ao seu redor, além de uma galeria que o conecta diretamente com o vizinho mais nobre o observador se confunde um pouquinho mesmo. Sua orientação é voltada para o sul, em direção ao Mercado Público Municipal e para a Estação Mapocho, tendo a última parte do Parque Florestal como massa verde a separá-los. O rio, portanto, fica à sua direita.


               Na frente deste prédio tem um grande espaço que funciona como uma praça seca, que lógico, faz parte da seqüencia dos jardins municipais. Nesse largo, aberto e ensolarado, onde frequentemente acontecem manifestações públicas, colocaram uma escultura doada pelo Botero (no Parque Florestal). É um cavalo feito em bronze, com aquelas linhas arredondadas, características de suas figuras gordas. Sou fã desse artista pintor e escultor, e tenho certeza que a escultura certamente rende uma bela foto. Do outro lado da rua em sentido contrário ao rio tem em um pequenino canteiro a escultura do bombeiro voluntário. Pode ser uma das menores esculturas da cidade, mas é muito original e bem legal. Vale muito à pena conferir se estiverem por perto, pois possui uma força tremenda. Só por curiosidade: no Chile não há corpo de bombeiros pago pelo governo: todos são voluntários. Também não existem grandes edifícios para sediar esta atividade. Os bombeiros ficam disseminados em pequenas garagens por toda a cidade e geralmente ao lado de uma vitrine com um carro de bombeiros antigo, exibindo suas partes em bronze muito polidas e brilhantes. Bem legal.


El Caballo. Obra do escultor e pintor colombiano Fernando Botero.


 Esta escultura foi doada à cidade pelo próprio escultor no ano de 1992.

MERCADO PÚBLICO CENTRAL:

Data de construção do mercado 1868


               É sem sombra de dúvida o mais interessante passeio da cidade. Eu sou fã de mercados, logo, isso pode soar um tanto suspeito e tendencioso. Mas é gostoso demais passear no mercado. É uma festa para os olhos e para todos os outros sentidos.


               Não possui grandes dimensões e é um pouco feinho por fora, mas por dentro ele se revela! (ao contrário dos outros edifícios públicos) Com as paredes externas pintadas com um amarelinho meio desmaiado e com fachadas neoclássicas compostas por tímidos arcos cruelmente tapados por safados toldos (que são recolhidos durante a noite), tem a planta baixa desenvolvida em dois eixos formando uma cruz latina que liga as quatro entradas. As entradas principais, em arcos maiores, no meio de cada uma das fachadas originais, possuem uma moldura trabalhada com figuras humanas femininas languidamente recostadas no arco separadas por uma cabeça de leão que simboliza não sei o quê! Estes arcos ostentam uma bandeira em grade forjada como filigrana. As mulheres devem simbolizara a pecuária e a agricultura já que uma se apóia numa cabeça de boi e a outra segura uma cornija.


               No chão, ao centro do prédio, onde as duas linhas imaginárias se cruzam está colocada uma estátua de uma mulher em bronze sobre uma fonte: pequena, porém encantadora. Em geral, a coisa em Santiago tem uma escala mais contida do que em outras cidades do mesmo porte, mas que no final adquirem um efeito muito grande. Isso parece revelar que apesar de arrogantes e presunçosos os chilenos não são afeitos à grandes e descomunais gastos públicos. É sempre bom lembrar ao fazer qualquer tipo de comparação que se trata de uma capital.



               Toda a estrutura do prédio com exceção das paredes externas em alvenaria de tijolos foi fabricada em ferro pré-moldado inglês pintado de escuro. Hoje, um cinza chumbo muito forte com um pouco de verde, mas que no passado muito provavelmente tenha sido verde musgo.



               Vale à pena apreciar as grandes luminárias de bolas que brotam por todos os lados dos pilares trabalhados. Lindo o friso decorado com estrelas (estas estrelas são referência a um dos símbolos do país e que aparece em sua bandeira). O interessante é que a manufatura inglesa fez um friso com estrelas que poderia ser vendido para qualquer país latino-americano! Imagine se fosse no Brasil! Seria perfeito! Também temos estrelas em nossas Armas! (risos) Mas os Chilenos acreditam piamente que tais estrelas foram especialmente criadas e desenvolvidas para sua nação. Vamos brigar? Claro que não! Se eles dizem...


               O que intriga é que em nenhum momento a decoração interna faz referência aos produtos vendidos ali, nem mesmo às coisas produzidas no país. Não são vistos murais, frisos ou qualquer coisa que homenageie a pesca, o plantio ou a pecuária. Mas deixando isso de lado o bom mesmo é sentar em um dos restaurantes e ficar olhando para cima por muitos minutos, devorando cada detalhe desta soberba obra prima da revolução industrial. Digo sentar, porque se não, os muitos garçons e metres vão ficar enchendo o saco o tempo todo até vencerem pelo cansaço e conseguirem fisgar mais um turista para comer as delícias do mar que estão ali para serem consumidas. E eles são implacáveis! Perturbam o tempo todo! Dá vontade de mandar todo mundo passear em Valparaíso, se é que me entendem? (mais risos) Lembrem da esportiva, hein!
               O curioso é que as barracas mais interessantes ficam na parte mais feia do mercadão. São na verdade as que vendem produtos do mar e que ficam uma ao lado das outras em um corredor fino e atrapalhado ao redor do corpo principal do edifício. Parece que é um aumento, mas não sei ao certo. O que importa é ver a variedade de produtos a mostra: tem de tudo que se possa imaginar vindo do longo litoral do Pacífico. Segundo o chefe de cozinha brasileiro Alex Atala a região de Putañeras é rica em Centollas (uma espécie de caranguejo gigante que pode atingir a medida de até setenta centímetros) e as barracas deste mercado vivem repletas de peixes especiais como Locos, Picorocos e Machas. 
               Pelo lado de fora o prédio fica bem retirado em relação à avenida o que confere uma bela área livre ideal para fotografias. O mais gostoso de tudo é que têm no meio da grande calçada da frente, no mesmo lado da avenida, três chafarizes que brotam do chão e fazem a alegria da criançada que passa correndo pelos jatos frios. Para uma análise mais arquitetônica do conjunto, com um pouquinho de distância, é possível ver o choque existente entre a fachada com platibanda reta e portas ritmadas com a cobertura metálica rica em jogos de telhado e coroada por uma torre central de respiro: parece até que o telhado foi tirado de outro prédio e reaproveitado aqui! É claro que não, mas um não tem nada a ver uma com o outro!  Mas, para a maciça porção dos não arquitetos isso não faz a menor diferença! E devo concordar que pouco importa mesmo!
             Se não for forçar muito a barra o mercado deles lembra um pouquinho o de Florianópolis! Principalmente nos cantos chanfradinhos e na cor amarelinha!  E olha que ele já foi azulzinho. Já deve ter sido de todas as cores possíveis e imagináveis. (hehehehehehehe) Amarelo ou azul, ainda gosto mais do deles!
                 Outra coisa bem legal a ser notada do lado de fora do mercado na margem do rio é uma escultura em estilo Art Decô no canteiro central da Avenida Costaneira. Sua composição é bem bonita: uma estrutura alta com seção quadrada e encabeçamento redondo com quatro figuras humanas em seus quatro cantos, como se fosse um farol. Na base escadaria nas quatro faces e uma alegoria sobre um portal quadrado e um conjunto em outro pedestal na face principal. Lindo exemplo de monumento em homenagem aos heróis de Iquique.



               Se for opção ir do mercado público municipal para a Plaza de Armas, a rua de acesso é bem lindinha e logo vira calçadão. Essa rua tem uma bela fonte com formato de bacias invertidas (a mais comum que existe) em uma de suas esquinas bem ao lado da belíssima Iglesia de Nuestra Señora Del Rosário. Essa enorme igreja foi levantada no ano de 1808 e segue o estilo espanhol, mesclando barroco com colonial.

ESTAÇÃO DE TREM MAPOCHO:

               A antiga estação ferroviária Mapocho virou o maior centro cultural do país e é considerado patrimônio chileno, tendo sido declarado Monumento Cultural em 1970. É muito linda tanto por fora como por dentro. Este prédio foi construído entre os anos de 1905 e 1910 e funcionou de 1913 até 1987. Ficou abandonada até o ano de 1994, data em que começaram as reformas para adaptar o grande prédio às suas novas funções. Tem seu desenho atribuído ao arquiteto chileno Sr. Emile Jacquier que recebeu a encomenda do projeto para as comemorações do centenário da independência do Chile.  Este arquiteto que teve sua formação na França é também o autor do projeto da sede da Bolsa de Comércio. É certo que a adaptação feita para a mudança de função poderia ter sido melhor, mas mesmo assim a conservação da estrutura e a preservação do prédio valem à pena mesmo que a coisa fique um pouquinho atrapalhada.


               É uma construção de grande porte e com três fachadas muito interessantes. É um local que merece uma visita, até mesmo porque fica muito perto do mercado público municipal. Uma foto em frente à sua fachada principal com a cumeeira muito alta e o paredão de vidro é bem bonita principalmente pelo fato de não existir nenhum outro edifício que possa atrapalhar o fundo.


               Atenção ao belo trabalho feito nos três arcos principais que sustentam a marquise de vidro e ao grande salão que quando vazio parece mais uma garagem para zepelins! O interessante é notar o contraste entre a primeira seção da planta baixa, antes destinada à compra de bilhetes e espera dos horários de trem, com a "gare" propriamente dita, peculiar a todas as estações de trem da época, todavia mais facilmente vista aqui, dada a sua nova função.
               O antigo nó de trilhos que iam para Valparaíso, Mendoza e Norte do país deu lugar ao atual estacionamento.
               A Estação Mapocho fica junto da ponte Padre Alberto Furtado com a esquina da Avenida Presidente Balmaceda no número 1215. Na margem do rio começa a Costanera Norte.


               Se o dia estiver claro e ensolarado a região fica lindíssima e o conjunto arquitetônico formado pela antiga estação e pelo mercado às margens do rio é responsável por um dos mais belos sítios da cidade. Atenção ao monumento alto como se fosse um obelisco com alegorias em bronze do lado contrário à estação: belo exemplar de monumento cívico Decô.
               Do outro lado do rio Mapocho, em direçãodo Hipódromo (que fica muito longe), fica a Igreja da Paróquia das Carmelitas. Seguindo pela ponte que passa defronte à estação e passando em seguida pelo edifício da "Jefatura Nacional de Extranjeria", logo se vê a estrutura neo-gótica que domina a esquina. Essa igreja cultua o Menino Jesus de Praga. É também conhecida como "Iglesia Niño Dios de Praga".
               Duas ruas ao lado têm a Avenida Recoleta que vai do rio até ao Cemitério da Recoleta, onde na sua primeira quadra junto ao rio tem outra igreja muito famosa. Essa igreja tem um nome muito fácil de guardar: Iglesia Recoleta Franciscana. Parece que o nome recoleta significa local calmo, tranqüilo, separado das pessoas. Logo, recoleta= cemitério! A necrópole é bastante famosa, mas nem se compara à outra homônima argentina.

                       Agora sem muita cronologia vou falar daquilo que me vem à cabeça e que achei pitoresco e interessante:


PARQUE DAS ESCULTURAS:

            Bem perto de Providência é um parque na margem do rio Mapocho. Este parque fica do outro lado do rio em relação ao bairro da Providência e possui um acervo de esculturas modernas expostas todas ao ar livre. É um belo passeio e a vista mais bonita é a que se tem a partir da ponte Pedro de Valdívia. Do carro é fácil ver as esculturas e vale à pena caminhar por lá se não tiverem mais nada de interessante a fazer na cidade. Esses jardins situados na margem do rio são responsáveis pelo trecho mais bonito do rio. Bastante grande tem os gramados mais bem conservados de toda a cidade que fazem fundo para as belas esculturas. É muito difícil encontrar um conjunto escultórico moderno onde todas as esculturas são de bom gosto: este é o caso deste parque. Outro ponto de interesse é a cobertura de vidro da estrada rebaixada. Nunca vi isso em outra cidade. Muito, muito legal mesmo. Essas coberturas possuem um apelo plástico e moderno ímpares! Arcadas ficam na altura do piso gramado e servem de cobertura para os túneis da Costanera Norte.  Como interesse turístico vale informar.

CERRO SAN CRISTÓBAL E TELEFÉRICO:

            Subi de carro por uma estradinha pouco atrativa com vista para o feio bairro da Recoleta. O guia me explicou a origem do nome Recoleta que significa lugar de descanso, por isso o nome do cemitério argentino. Neste aqui também existe um grande cemitério repleto de mausoléus imponentes e tendo como principais atrativos sua entrada com praça redonda e o túmulo de Salvador Allende. O legal é que ao rodar pelo morro dá pra ver a diferença entre o centro bem verticalizado e os outros bairros totalmente planos. Esta estradinha passa pelo zoo, pelo jardim oriental e por uma piscina pública muito sem graça e em meio a uma vegetação ressecada e agreste.
            O Cerro é bem mais alto que o Cerro Santa Lúcia e tem seu cume a medida máxima de 880m. Nesse ponto, a exemplo do nosso redentor, foi colocada uma imagem da Virgem de La Imaculada Conception. Esta imagem tem 22,5m de altura e é todinha branca. Fica sobre uma base redonda com uma porta que vive trancada. Deve ser alguma gruta ou coisa assim. A partir dela foi criada uma escadaria que serve de arquibancada voltada para o centro da capital.
            Mais abaixo foi feito um anfiteatro ao ar livre muito bem bolado e muito bem conservado. Existe no conjunto uma igrejinha de pedras, uma lojinha de produtos religiosos e uma lanchonete. O acesso pode ser feito por ônibus ou taxi, mas a melhor pedida é pegar o teleférico que proporciona uma bela vista da cidade. Legal mesmo é subir pelo teleférico e descer do outro lado pelo funicular que passa ao lado do zoológico e termina no sopé do Cerro junto à Rua pio Nono no bairro de Bellavista. Saindo pelos portões depois de passar por uns quatro quiosques que vendem absolutamente nada de interessante e indo para a esquerda chega-se à famosa casa do Neruda.
            Neste Cerro também está o jardim botânico e uma enoteca com o Museu do Vinho. Besteiras!!!!
            Insisto que o melhor é optar pelo procurado teleférico de Santiago, que certamente guarda um bom passeio até o topo do morro. É bem moderninho e bastante seguro.

ZOOLÓGICO:

            Fica no primeiro estágio do Morro San Cristobal do lado de Bellavista. É pequeno e bobinho, assim como o jardim japonês, um pouco mais distante virado para o lado de Vitacura. Se nunca foi a um zoológico antes, vale a visita. Se já foi e não é mais criança, esqueça, pois tem coisa bem melhor a ser feita!

 BAIRRO BELLAVISTA:

            Localizado entre o rio Mapocho e o Cerro San Cristóbal, nasceu nos anos 20 como bairro residencial. Hoje se destaca como bairro famoso pela boemia e por ainda ser refúgio e reduto de intelectuais e artistas. Suas ruas não são propriamente bonitas, mas sim pitorescas. A propaganda de que por ali se encontram boas joalherias, galerias de arte, bons restaurantes, lojas de artefatos feitos com a bela Lapis Lázuli (que só são achadas no Chile e no Afeganistão) e teatros de categoria é um tanto enganosa. Existem sim, mas não são tantas atrações assim nem mesmo de tão boa qualidade. O turista fica esperando algo como a Vila Madalena de São Paulo ou Palermo Soho de Buenos Aires e acaba se decepcionando. Os bares é que dominam todas as ruas e vivem sempre cheios. O público freqüentador é muito eclético além de bastante descolado para os mais tradicionais. É um verdadeiro festival de tatuagens, piercings e cabelos do tipo rastafári. As boates que se espalham pela região são muito feias e as mais bonitinhas são para o público gls. Tem até um bar (pra ver o nível) com tema de masmorra, todo preto com luz rocha, decoração cheia de caveiras e um encardido boneco de zumbi com foice nas mãos parado na porta da frente. A sujeira é tanta que mete mais medo do que as estranhas figuras prostradas atrás do balcão. Outros tantos bares com o mesmo ar sujinho, sempre com dois ou três gatos pingados são encontrados espalhados por todo o bairro. Nas ruas mais afastadas do burburinho a coisa fica mais alternativa. Fuja!
            Este bairro com casinhas na sua maioria geminadas e coladas ao passeio assume uma característica suburbana. Não há nenhuma grande estrutura no seu interior e nem mesmo nenhuma casa de destaque. As casas por serem atualmente comerciais são coloridas e cheias de letreiros. Não chega a ser um bairro com poluição visual, mas as cores são berrantes e as fachadas muito mal conservadas. Com poucas árvores nas ruas e pobre em praças o bairro tem a seu favor apenas o traçado ordenado em xadrez sobre uma área extremamente plana. O sol inunda todas as ruas em virtude das baixas edificações que raramente excedem os dois pavimentos.
            Relembrando o mais importante: é deste bairro que no sopé do Cerro Sem Cristóbal no final da Rua Pio Nono está a entrada para o Parque Metropolitano via funicular, (que é uma linha de bonde que corta o parque até chegar atrás do anfiteatro aos pés da santa). O parque fica aberto de 10h as 20h. É o maior e mais interessante parque de Santiago. 

RUA PIO NONO E PÁTIO BELLAVISTA:

            A Rua Pio Nono é a mais importante rua do bairro de Bella Vista e liga o rio à entrada do parque no sopé do morro. É uma rua repleta de bares, restaurantes e casas noturnas abertas durante todo o dia e a noite inteira. No período noturno, principalmente depois das nove a rua fica cheia de gente jovem que ocupa todas as muitas mesas colocadas nas calçadas. Os bares são na sua maioria assustadores! Medonhos e com um aspecto de sujeira pouco visto em outros lugares. Se não tivesse a fama de lugar turístico eu diria que é bem pior que a boca do lixo de São Paulo. É tão bagaceiro o lugar que só falta na verdade um porto ali por perto. Apesar do visual underground, é muito seguro e muito calmo, permanentemente monitorado pela polícia e muito iluminado nas vias principais. Pio Nono concentra a maioria dos botecos, mas as ruas adjacentes também estão repletas de bares e boates (como já falei acima). Os melhores restaurantes se encontram numa paralela chamada Calle Constiticion. De dia o bairro é mais bonitinho, mas é a noite que o agito realmente começa. Lembre que é um local com fama de gueto de artistas, intelectuais, moderninhos, gays, jornalistas e todo o tipo de gente antenada. Não foi a toa que Neruda escolheu as imediações para viver. O ponto alto é o novo Pátio Bellavista: linda intervenção da prefeitura em conjunto com a iniciativa privada. Bem no início da Rua Pio Nono (vai ser muito fácil achar, basta pedir para o taxista que ele para na frente) em sua calçada da direita. É um conjunto de antigas casinhas que foram reunidas em um grande conjunto, todo pintado de branco por fora e com um enorme pátio interno. A metade do projeto já está concluída, bombando a pleno vapor e a outra parece que já está na fase de acabamento. Assim que entrar, procure uma redoma de vidro com a maquete do empreendimento, que fica exposta permanentemente no pátio aberto, para entender mais facilmente como ficará depois de concluído. Ali você encontrará pelo menos seis bons restaurantes, um bar de sushi, um quiosque de crepe, uma sorveteria, um hotel, várias lojinhas (bem turísticas) de artesanato em cobre e lembrancinhas (não gostei de nada!): recuerdos de Chile!!!!!! Muito legal com pequena fonte, desníveis vencidos por rampa e escadinhas, iluminação moderninha e muita gente, tanto turistas como locais. Mas cuidado com a armadilha de voltar várias vezes ali. É tentador optar por voltar em momentos de dúvida na hora de escolher um bom restaurante! Eu mesmo acabei por ali três noites por preguiça de pensar onde comer e aonde ir. E, claro, também por estar sozinho. Tente ir a outros lugares ainda que sejam por perto.

LA CHASCONA - CASA DO NERUDA:


            Uma piada! Vale ir até lá só para não ficar achando que perdeu grande coisa. Neruda é na verdade uma instituição nacional, portanto, tudo o que for relativo ao poeta assume uma proporção apaixonada, desmedida, exagerada... e... exagerada é a importância dada para esta casa.


            A casa batizada de La Chascona fica no interior do bairro de Bellavista e deve sua fama e destaque porque foi a moradia de Pablo Neruda na capital depois que se casou com Matilde Urritia. É hoje a sede da Fundação que leva o nome do seu último morador.


            Foi declarada Monumento Nacional, assim como as outras duas casas do poeta em outras cidades do país. (Tem uma em Vinha Del Mar que é ainda mais pobrezinha que esta!) Com uma implantação espontânea no terreno, possui vários níveis vencidos por escadinhas ao meio de árvores e vegetação ornamental e conta com quadros pintados por Siqueiros e Rivera, amigos da família. Nela são feitas muitas apresentações, exposições e encontros. É possível apreciar alguns manuscritos do autor.


               A casa, entretanto, não podia ser mais sem graça. A prefeitura arrumou a rua em frente e transformou-a num beco com anfiteatro, púlpito e espaço para artes e batizou-a de "Plaza Del Poeta". Ficou muito legal, mas já está meio detonadinha a coisa. Se extramuros o local é interessante intramuros perde todo o atrativo.  No bom português a casa é uma maloca empoleirada no morro pintadinha de azul e mantida como nos tempos do laureado Pablo Neruda. Tudo bem para uma casa simples de poeta, num bairro boêmio povoado por artistas e gays (Bella Vista), mas daí a transformá-la em ponto turístico! Nem com mil Nobéis! É pior que o portenho Caminito! Mas se você gostou de La Boca, vai gostar da Chascona. Ali também tem aquela chatice da visita guiada. De meia em meia hora também! Tem uma visita que é em francês (chique a coisa), porém, é mais cara! Tudo bem esperar meia hora nos jardins do Palácio Cousiño para depois desfrutar da mansão, mas aqui, sei lá, eu fui embora! Nada lá é bom: a lojinha é péssima, não tem nada que se aproveite sem falar que é quente pra burro e muito apertada. A cafeteria só tem uma energúmena criatura que faz tudo atrapalhado e demora quase a meia hora de espera para preparar um mísero misto quente. Em dias muito movimentados as pessoas se acumulam na cafeteria, em sua escada e na loja de souvenires a espera da sua vez para percorrer o imóvel e seu jardim. Isso tudo sem falar que os funcionários são mega bossais! Deu pra ver que eu odiei, né? Fui, vi e não entrei. Mas sugiro que entrem e depois me contem! Ah, os quadros dos pintores famosos eu vi em cartões postais e também odiei...
            A casa fica na Avenida Fernando Márquez de La Plata no número 192.

PRÉDIO DA FACULDADE DE DIREITO:

            É um edifício abrutalhado em tom amarelo pálido com uma indefectível colunata com um tom avermelhado. Muito bem localizado fica na entrada do bairro boêmio de Bellavista nas esquinas das ruas Pio Nono com Avenida Santa Maria e com Avenida Bellavista. Tem linhas que denotam seu estilo com referências ao Art Deco, mas com linhas aerodinâmicas e modernistas características principalmente dos anos 30 e das décadas seguintes de 40 e 50. Para os arquitetos é uma festa e um deleite contemplar sua fachada, mas para os outros acredito que tenha pouca coisa de interessante. Vale dar nota às proporções do prédio, seu recuo e sua função como ordenador do espaço urbano. É também um importante ponto de referência, como deve mesmo ser uma universidade.  Suas colunas delgadas acompanhando a leve e elegante curvatura da fachada são únicas em toda a cidade e o pátio quadriculado com a leve escadaria é lindo. Este prédio me lembra muito a escola alemã Bauhaus e seu relógio na torre voltada para a ponte é bárbaro! A propósito a vista que se tem da ponte em arco metálico em direção à universidade é muito boa.


               Duas imagens do edifício sede da Universidade de Direito na cidade de Santiago. Em ambas é possível notar a leve curva da fachada aberta para uma larga calçada pavimentada com bicolor desenho esquadrejado. Nessa fachada o edifício conta com uma colunata na beirada de um lance de escada que é, sem a menor dúvida, seu elemento compositivo mais forte.
               O edifício muito típico dos anos cinqüenta, com suas linhas funcionalistas, é um exemplo da versão chilena do Art Déco. Não é das melhores construções desse estilo em terras latinas, mas adquire importância devido ao seu tamanho e à sua função. De fato, são raros os exemplares de importância, com função pública, que ilustram esse período pela cidade.   


Nesse ângulo a capa vegetal (reflorestada) do Cerro San Cristóbal faz belo fundo para o prédio.



RUA EXÉRCITO OU CALLE EJÉRCITO:

            É uma rua muito movimenta e cheia de jovens. Antigamente era a rua de moradia mais famosa e chique da cidade, repleta de casarões dos barões do sal e do cobre. Atualmente as poucas casas que sobraram foram adquiridas pelas mais diversas faculdades. A mais bela pertence à Faculdade de Medicina e fica mais próxima do início da rua na calçada da direita. A rua tem mão única e o trânsito é normalmente lento. Justo por isso a rua é povoada por estudantes. É sempre uma farra.
            Vale uma passada de carro ou com um passeio guiado por ali. A rua não possui mais nada de atrativo além das fachadas das casas e os nomes das tradicionais famílias antigas proprietárias entram por um ouvido e saem por outro. Impossível lembrar-se dos nomes das grandes figuras chilenas! Dá um tempo! Tem coisa melhor para memorizar. Nome de um bom vinho, por exemplo! Parece que no Chile o melhor é Cabernet Sauvignon.

BARRIO CONCHA Y TORO:


            Lindo, lindo e lindo! E o que é melhor: pequeno! Parece que estamos andando por ruas parisienses do Marais! Ou ainda nas esquininhas tortas de Praga! Não mais que duas ou três quadras com uma micro pracinha (ao estilo de um largo no encontro de duas ruelas) com uma fonte no meio (daquelas que só escorre um fio d’água). É o local da antiga vinícola e da casa da família Concha e Toro. No local há um museu que conta parte da história dessa família. As fachadas dos prédios estão quase todas restauradas. Na verdade o local não é tão belo como é charmoso. Adorei! Parece um oásis de calmaria no meio da cidade. E fica mesmo no meio! Não é muito fácil achar, contudo, qualquer pessoa com boa vontade pode informar onde fica.
            Próximo à Avenida Brasil é muito fácil de achar, basta perguntar pelo Palácio Concha y Toro que fica na Rua Erasmo Escala esquina com a Rua Concha y Toro. Este ponto serve como entrada ao pequeno bairro que foge ao traçado ortogonal. Na verdade são duas ou três ruazinhas que convergem numa pracinha central.  Parece que tudo por ali leva o nome da família proprietária da vinícola.

BARRIO BRASIL:

            Esse bairro é composto por vários antigos casarões senhoriais do século XIX que sobreviveram e foram transformados em centros culturais, galerias de arte e coisas afins. Foi local de moradia de famílias abastadas e aristocráticas, intelectuais e profissionais de destaque na sociedade. Fica por ali o "Pueblito de Los Dominicos" (não fui!) que é o centro do comércio do artesanato local! Não fui, mas uma conhecida minha na viagem foi e adorou. Falou que tinha pelo menos uma centena de bibocas de "artesanias" feitas a mão. Só por isso já fiquei com enjôo. Tô fora! Mas para quem curte coisinhas feitas de alpaca marteladinha e pedrinhas mal cortadas penduradas em garrinhas de prata é um baita programa. Parece que há por lá um jardim botânico. O nome do local é Centro de Artesanía Chilena Graneros Del Alba e fica na Avenida Apoquindo, 9085.

PRAÇA BRASIL:

            É uma praça muito famosa para os locais, mas não guarda nenhuma surpresa aos brasileiros. Funciona como uma praça de bairro com parquinho multicolorido e grandes árvores. Por ela passa a Avenida Brasil que começa um pouco tímida, mas quando chega às seis quadras próximas à Alameda fica bem mais larga e passa a ostentar duas fileiras muito bonitas de palmeiras. É justamente no ponto em que a avenida muda de cara que está a Praça Brasil. Ao lado da praça (no sentido oposto ao da avenida) que possui parquinho com brinquedinhos multicoloridos com formato amebóide, existe uma igreja bem bonita. Chama-se Capilla Preciosa Sangre. Talvez em referência ao nome, suas paredes são pintadas com um tom de salmão bem escuro com apliques pintados de branco. Suas duas torres oitavadas são vistas de longe.
Nessa redondeza existem vários restaurantes de frutos do mar com apelo bem turístico. Foi a maneira mais educada de dizer que são bregas.
            A cidade de Santiago do Chile homenageia todos os países das Américas batizando algumas praças ou ruas com os vários nomes das diversas pátrias do continente, exceto a Bolívia. Nada, nada, nada mesmo leva o nome desse país que é desprezado e praticamente odiado pelos chilenos em razão da guerra que travaram por territórios do norte e nunca mais se deram bem. A Bolívia queria chegar ao mar e invadiu o Chile na mesma época em que a Argentina (se aproveitando de que as tropas estavam todas lutando no norte) invadiu e tomou parte da Terra do Fogo!  No final os bolivianos foram derrotados e os argentinos se sagraram vitoriosos. Daqueles os chilenos guardam o maior rancor, mas desses portenhos eles não tem raiva! Parece um contra-senso!  Vai entender essas cabeças colonizadas por Pizarro!

EMBAIXADA DO BRASIL:

A embaixada do Brasil tem como sede um palacete na Avenida Libertador Bernardo O'Higgins (Alameda) conhecido como Palácio Errázuriz Urmeneta, ou somente Palácio Errázuriz, como já foi faladfo anteriormente, mas ainda assim vale relembrar.
Muito bonito elaborado em estilo neoclássico na entrada do bairro de classe alta Dieciocho (18), reduto da mais fina sociedade chilena do século XIX.
Encomendado por um influente cidadão a outro famoso arquiteto italiano nos finais de 1800, a mansão teve logo o destaque pretendido, aclamada como a melhor residência da cidade em sua época, devido ao luxo que superava o já famoso Palácio Cousiño. Infelizmente não possui hoje o famoso interior que deslumbrou a sociedade. Mas por fora ainda revela o fausto que o tornou famoso.
Tem um aspecto imponente como de costume aos imóveis sedes do Itamaraty ao redor do mundo. Aqui a influência italiana é o destaque da construção de três volumes, baixos nas laterais emoldurando os dois pisos do maior e mais alto volume central. Clássico no último! Chique no último!
Na fachada principal com frente para a Alameda um balcão superior encimado por uma arcada coroa uma galeria aberta sobre outras aberturas arcadas do pavimento inferior. Parece a casa o Grande Gatsby!
Parece que o terreno, antes muito grande, foi paulatinamente dando lugar aos alargamentos das avenidas em sucessivas reformas no traçado viário e a casa passou por várias famílias abastadas até ser comprado pelo governo tupiniquim em 1941.

SHOPPINGS:

            Santiago é uma cidade bem servida de centros comerciais. Existem diversos espalhados por ela. Os mais novos e melhores ficam mais afastados um pouquinho do centro histórico, cívico e comercial, acompanhando o desenvolvimento dos bairros da classe alta. O maior e mais famoso é chamado de Parque Arauco e o mais chique é o Alto Las Condes. O parque Arauco é muito bonito e é sobretudo um shopping Center muito grande e bastante concorrido. O mais interessante é que ele possui belos espaços abertos com bares, lojas, escadas rolantes, palco para shows, chafarizes e vários restaurantes ao ar livre. Metade dele é externo e metade interno.  Isso é possível graças ao baixo índice pluviométrico da capital chilena. Os preços são razoáveis, mas o atendimento é muito impessoal do tipo se quer é assim se não quer tem quem queira! Nas lojas mais chiques o atendimento melhora um pouquinho se o atendente for mais maduro caso contrário é um verdadeiro terror! Já o Alto Las Condes é mais distante e mais elitizado. O que mais me agradou neste shopping foi o último andar em que a praça de alimentação se abre para um terraço enorme cheio de bares e restaurantes voltados para uma alameda a céu aberto e com jardins e fontes suspensas. Achei o máximo. Lá faz frio, mas pelo jeito não chove!
            As coisas por mais caras que possam parecer ainda são mais baratas que aqui, sem falar que os produtos de inverno são bem superiores. O bom é que o Chileno é mais ligado na moda que os outros vizinhos de língua espanhola, fato este que faz a festa dos brasileiros consumistas. Porque vamos combinar que os argentinos são bem cafonas! Mas aquilo que tem marca é caro em qualquer canto do mundo e aqui não é exceção. O detalhe é que para os "brazucas" a compra ainda é favorável visto que os nossos impostos são imbatíveis e tudo em terras tupiniquins fica pelo menos 30% mais caro que no Chile (exceto nos free shoppings dos aeroportos daqui). Quanto mais caro é o produto mais vantagem se leva na compra. Lembre que agora houve uma mudança nas regras da Receita Federal quanto ao que pode ser trazido do exterior! Aproveite!

MUSEO DE LA MODA:

                Este museu foi fundado em 1999 por um membro da rica e influente família Bascuñán, tradicional no ramo têxtil do Chile e da Bolívia. Não sem motivo, a casa que antes pertencia ao clã foi transformada em sede, deste que é tido como um dos mais importantes e ativos museus dessa categoria em todo o mundo. No coração do bairro burguês de Vitacura, ocupa um casarão modernista da década de sessenta com clara influência das casas de pradaria que tornaram o arquiteto norte-americano Frank Lloyd Wright tão famoso e copiado. Atualmente com ares mais minimalistas, bem de acordo com a temática museológica, a casa está dividida entre espaços conservados com sua mobília de época e espaços destinados às mostras permanentes, mostras sazonais e exposições temporárias e internacionais. Em seu jardim pude ver alguns carros parcialmente enterrados no gramado, imitando descaradamente aqueles Cadillac's do deserto, perto de Amarillo no Texas. Tudo bem, é a vingança pelo fato do Texas ter copiado sua bandeira! (risos).
              Seu acervo é bastante amplo e contempla várias épocas e estilos, mostrando de forma bastante eficaz uma linha cronológica do tempo cuja temática é a evolução da moda e costumes. Com exemplos de grande qualidade o acervo é digno de nota, tanto nas peças de vestuário como nos mais diversos complementos de moda e objetos de época. Nele encontramos trajes que pertenceram à pessoas célebres, pop-stars, atrizes do cinema, cantores e etc... Marilyn Monroe, Princesa Diana, The Beatles, Michael Jackson são alguns nomes encontrados pelas vitrines de expositores. Eles garantem que seu acervo de Monroe é o mais completo que existe atualmente e tratam o vestido da primeira aparição pública de Diana ao lado do Príncipe de Gales como a jóia da coroa. Mas outras peças menos famosas acabam sendo mais interessantes: o que é bom. A coleção é enriquecida ainda com áreas temáticas como: futebol, tenis, crianças, II Guerra Mundial etc...
               É um museu de fácil visitação, ainda que nada obrigatório. Fica muito perto dos grandes shoppings da região, o que facilita muito para uma ida sem muito tempo a perder. Dista cerca de dois quilômetros do Parque Arauto Mall e cinco do Alto las Condes. Dependendo do trânsito não se gasta mais que cinco minutos de carro ao shopping mais próximo e dez ao mais distante. Em vez de perder muito tempo comendo nas praças de alimentação a ida ao museu pode parecer uma ótima alternativa sem sair muito do tema!
              Alerto que é um museu muito específico e pode não agradar a todos. Se for amante da moda, tiver algum interesse por arquitetura dos anos 60 ou quiser ver uma mostra itinerante imperdível, é uma boa opção. Se tiver sorte pode ver de perto o vestido de casamento da Princesa Diana, ou a luva de strass do Michael ou ainda uma mostra de algum ícone da cultura americana como o Elvis. 
               
BAIRRO DIECIOCHO:

            Este bairro já teve seus momentos de glória e já foi o mais elegante da cidade em torno de 1860. Hoje ainda conserva suas ruas largas e ensolaradas com algumas grandes casas de famílias abastadas como as Ochagávia e Irarrázabal, dentre outras. Se caminhar por lá, o que na verdade é um pouco cansativo dado à distância entre os pontos de interesse, tente olhar por entre as muitas, trabalhadas e altas grades. Neste bairro está a Igreja de Santo Inácio, o Palácio Astoreca, o Clube Hípico e a ex-casa da poderosa família chilena de origem espanhola – ainda donos da Vinícola Cousiño-Macul e, na época, também de minas de prata e carvão e frota de navios - o Palácio Cousiño. Doado para a cidade serve atualmente como museu e como local para festas suntuosas e privadas, para a atual elite empresarial, política e cultural. Recepções e encontros governamentais também são feitos neste imóvel.

PALÁCIO COUSIÑO:


               De cair o queixo! "Punto e basta"! Fica no final da Rua Dieciocho bem próxima a uma estação de metrô. Essa mansão, construída em 1870 e com absolutamente tudo importado da Itália, Inglaterra e da França, ainda preserva intactos os mármores, as paredes com detalhes folhados a ouro, o lustre de 500 kgs e 13 mil cristais da boêmia, as cerâmicas pintadas à mão tanto nas paredes como no piso, as cortinas bordadas por monjas francesas e quadros pintados a óleo pertencentes ao acervo do casal de antigos donos, o que lhe cabe a fama de ser o Palácio de Versalhes chileno.


O imenso lustre de cristal

            Surpreende a cada aposento que se abre aos olhos. O fausto é tanto, que no final a casa  parece pequena, de tanta coisa que tem em seu interior. O dinheiro do proprietário comprou o que havia de melhor em toda a Terra para forrar suas paredes, tetos e pisos. O mobiliário é de um requinte de detalhes que causa espanto e a casa se orgulha de possuir o primeiro elevador do Chile. Muito original esse elevador fica em um cantinho da circulação e mais parece um confessionário.


            Depois de passear pelo belo jardim que circunda a casa e dissecar cada detalhe da austera fachada a visita explode em cores e materiais. É como se fosse um catálogo do que existia de mais caro na época.


            A casa é uma das únicas (se não for a única) antigas mansões dos proprietários de minas, vinícolas e otras cositas más totalmente preservadas. Ela guarda o retrato fiel da classe abastada do final do século XIX e início do século passado. É certamente páreo para as casas dos Astor, Vanderbilts e Rockfellers. Acredito que no Brasil não temos mais algo assim. Quem sabe o palácio Laranjeiras ou o Catete no Rio ou a casa dos Penteado em Sampa. Mas aqui é realmente pesada a coisa, a família proprietária está para a história da cidade como os Matarazzo estão para São Paulo. Muito, muito, muito influentes e importantes.


            Uma sucessão de grandes ambientes com telas gigantescas, ainda que de pintores sem relevância internacional (seu único ponto fraco), mobiliário excêntrico, esculturas de mármore, bronzes, tapetões caríssimos e tapeçarias caras alternados com circulações de parquete caleidoscópico e marchetaria multicolorida de mármore.


            Não deixem o imenso e quase profano lustre de cristal da sala de visitas nublar os detalhes das outras coisas da casa. As pessoas tendem a não tirar os olhos daquela interminável cascata cintilante. É inacreditável, mas ele existe mesmo e está lá pendurado resistindo a todos os terremotos que por vezes assolam a cidade. Testemunha de grandes festas da época fica pendurado no centro do salão principal com largo vão e pé direito alto para onde se volta a galeria dos dormitórios do piso superior.
            Logo abaixo, uma fotografia da pinacoteca, ainda que pobre em mobília e acervo, apresenta um assoalho magnífico e belas paredes com madeira e tecido adamascado em tom carmim. O edifício apresenta maravilhosos pisos de parquete, com desenhos e padrões variados, executados com madeiras nobres como mogno, nogueira e carvalho americano.



Na foto acima outro belo padrão do assoalho.

            Sugiro especial atenção ao mobiliário da sala de jantar. Os móveis altos de apoio possuem uma talha maravilhosa com figuras humanas, como guerreiros medievais e bustos de bispos e coisas desse tipo.  As cristaleiras com figuras de guerreiros em armaduras (se não me engano) e linhas neo-góticas esculpidas em madeira de Lei estão entre as peças de mobiliário que mais me encantaram. A gigante mesa para mais de vinte comensais toda montada com toalhão de banquete em linho e bordados e coberta com a mais bela porcelana, prataria e cristais também chama a atenção daqueles com gostos mais burgueses. Como diriam os mais apaixonados: "lindo de morrer"!



            Sua escada principal deixaria muito teatro municipal por aí com inveja, seu arranque me lembrou o da escadaria do Municipal do Rio de Janeiro com uma espantosa talha em mármore rosa. Os degraus, cada um com um tipo diferente de mármore pode parecer cafona, mas era o máximo na época, ainda mais com aquelas interessantes floreiras em patamares ao lado da escada. A burguesia, principalmente a de clima frio, sempre teve o fetiche de cultivar plantas ornamentais tropicais em seus interiores, e como os chilenos se acham ingleses, nada mais Vitoriano!


            Depois de passarem por aposentos como o salão dourado, a sala de música com seu piano de cauda, o salão de chá e salão de jogos, todos com suas altas paredes ricamente ornamentadas e com janelas cobertas por trabalhadas cortinas subam para os dormitórios. Na maioria dos aposentos íntimos a visita é vedada e temos que olhar das portas. Isso é muito ruim porque o visitante perde muito dos detalhes e do clima! Mas... Bem, depois disso tudo não se espante em ficar levemente decepcionado com o jardim de inverno: invernadero. Muito vazio. Como atualmente é local de festas a antiga vegetação que deveria combinar com a da escadaria não existe mais. Assim fica complicado gostar desse ambiente a despeito do muito bonito e original lustre. Vá lá, tem uma estátua numa ponta, ladrilhos coloridos e decorados por todos os lados, mas que falta coisa isso falta. Mas se por dentro os vidros incolores e a falta de mobília desaponta, por fora a escura e trabalhada estrutura metálica enriquece o conjunto arquitetônico e confere leveza ao volume mais encorpado.


            O mais chato, e bota chato nisso, é que as visitas são guiadas e partem a cada meia hora; logo, cada visita pela casa, leva nada mais e nada menos que meia hora. Como o passeio é em grupo as pessoas ficam se acotovelando e perturbando o tempo todo. Imagine andar com um bando de gralhas argentinas duvidando da autenticidade de tudo e se espantando com a superioridade da classe alta Chilena?! Eu passei por isso e foi uma droga! Faço votos que em sua visita isso não ocorra! Mas a casa é bárbara assim mesmo. Outro detalhe importante e também chatinho é que exigem que os visitantes coloquem sobre os sapatos aquelas irritantes pantufas de flanelinha, assim como no Museu Imperial de Petrópolis. Mas tenho certeza que para pessoas viajadas e acostumadas com os pró-pés dos mais variados museus isso é fichinha. Caso contrário, sempre há uma primeira vez.


               O grande terreno da propriedade fica numa das pontas da quadra e possui frente para três ruas: Calle 18, Calle Santa Isabel e Calle Santo Inácio de Loyola. O acesso é dado somente pela Calle 18. Do outro lado da Calle Santo Inácio de Loyola fica o Parque Diego Almagro com vista para a parte posterior da bela Iglesia de San Diego ou comumente chamada de Basílica de Sacramentinos. É uma igreja muito bonita que possui uma fachada bastante alta e uma cúpula no estilo românico. Fui porque tinha tempo sobrando, mas por dentro é muito pobre e aparenta moderninha: tem um ar meio falso. Mas, igreja é sempre igreja.


A Igreja do Santíssimo Sacramento ou dos Sacramentinos.

               Cuidado com os horários das visitas. Acaba bem cedo e me parece que a última volta do guia é em torno das 13h30minh. Eu tive que voltar no outro dia, pois cheguei à casa depois das duas da tarde! Me ferrei! Isso é muito ruim quando acontece, pois se perde um tempão para ir até o museu. No primeiro dia em que tentei visitar a casa acabei indo passear no parque já que nada mais acontece ao seu redor. Lembre que é um casarão em um bairro eminentemente residencial longe dos atrativos turísticos e da badalação comercial. Então muita atenção aos horários.

PARQUE O'HIGGINS:

               Trata-se de uma diversificada área de lazer, localizada a cerca de dez quarteirões ao sul da Alameda. O lugar dispõe de um pequeno lago, playground, quadras de tênis, piscinas, arena coberta, parque de diversões (Fantasilândia), palco para espetáculos de música e dança, pista de patinação no gelo (somente no inverno), clube hípico, restaurantes e lojas, além de um aquário com diversas espécies de peixes e outros animais marinhos e um museu de insetos e conchas.  É o maior parque da cidade e uma das mais importantes porções verdes da área conurbada da capital. Possui inúmeros prédios de destaque sedes de interessantes museus e uma universidade (Universidade Bernardo O'Higgins). O horário de funcionamento é das 8h até as 19h em todos os dias da semana. A estação mais próxima leva o seu nome.

PRÉDIO DA ESCOLA DE INGENIERIA:

             A clássica e imponente edificação sede da Faculdade Chilena de Engenharia é muito grande e muito bonita. Tal prédio tem sua fama garantida pela escrita errada da palavra engenharia no seu frontão. Fruto do equívoco do mestre escultor a palavra foi grafada com “J” no lugar do “G”, portanto lê-se "Escuela de Injenieria", mas seria leviandade dizer que o prédio só apresenta este fato de interessante. Ao contrário. O tamanho do edifício mostra a cultura e a importância desta faculdade para os Chilenos e a quadra inteira é composta pelo conjunto de prédios desta universidade tecnológica. Fica no meio de um bairro muito aprazível ao lado do parque O'Higgins e na frente da entrada do Club Hípico. O prédio é a estrutura mais importante desta área e tira grande proveito deste parque que é enorme, ainda que não tenha muitos atrativos além daqueles inerentes às grandes áreas abertas e arborizadas da cidade. Este passeio tem que ser feito de carro.

PARQUE DA QUINTA NORMAL:

            Um pouco deslocado do centro da cidade é a atração turística localizada mais a oeste do quarteirão turístico. Mas a distância não é um problema uma vez que o parque é servido por uma estação de metrô batizada com o mesmo nome. Esta estação é muito original e sua entrada é composta por dois módulos metálicos dispostos frente a frente criando uma espécie de portal para o parque. Esta estação fica na Avenida Matucana.
            Nele estão reunidos o Museu de História Natural do Chile, o Museu de Ciência e Tecnologia, um museu ferroviário (com locomotivas expostas ao ar livre), várias quadras de esporte e um lago artificial relativamente grande.
            Muito legal é o Museu Artequin. Este museu não fica exatamente dentro do parque, mas sim do outro lado da Avenida Portales. O mais curioso é o prédio em si: lindíssimo, foi o pavilhão do país na exposição universal de Paris em 1889. Todo em estrutura metálica pré-fabricada e multicolorida em seus mínimos detalhes decorativos foi remontado aqui e sedia um museu de arte.
            Este museu tenta estimular os pequenos a tomarem gosto pelas artes. Em seus três andares, há reproduções das mais famosas esculturas e pinturas da história - de da Vinci a Roy Lichtenstein -, além de módulos didáticos que ensinam de maneira lúdica conceitos de artes plásticas e jogos de computadores touche screen sobre a trajetórias dos movimentos artísticos. Só nos fins de semana está aberto ao público individual (durante a semana é só para escolas).
            Para os mais católicos, ao lado de cima do parque e ao norte da Avenida Santo Domingo está localizado o conjunto de Basílica, pátio aberto com bancos (como se fosse uma igreja a céu aberto) voltados para uma gruta e um muro de agradecimentos à Virgem de Lourdes. Importante para os chilenos mais crentes não chega a ser algo muito bonito nem mesmo imperdível.

MUSEU FERROVIÁRIO:

Todo o romantismo e elegância dos trens e estações ferroviárias antigos são reproduzidos nesse simpático museu ao ar livre. Por entre jardins e recantos tranqüilos do parque estão espalhados 16 trens a vapor muito preservados, desde uma locomotiva Rogers de 1893 até um vagão que pertenceu ao patrimônio presidencial com data do início do século vinte. O ponto forte de todo o conjunto de máquinas é a lendária Locomotora Transandina, que atravessava a Cordilheira dos Andes e ligou o Chile e a Argentina, pela rota de Mendoza, entre os anos 1911 e 1971. É possível embarcar em dois trens e assistir vídeos ali dentro (detesto este tipo de programinha), além de visitar uma réplica de estação ferroviária antiga, com fotos e exposições. Programinha ideal para crianças e velhinhos! Como não sou, nem um, nem outro, acabei achando perda de tempo. As fotos nas locomotivas rendem um postal bem romântico, mas a ida até lá só se justifica se tiver tempo de sobra. Mas de sobra mesmo!

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL:

Tendo como sede um edifício projetado e construído em torno do ano de 1875, pelo arquiteto francês Paul Latoud, para sediar a Exposição Internacional de Santiago, este imponente museu domina toda a área com suas linhas clássicas e seus jardins repletos de palmeiras. O alto e compridão hall de entrada é impactante: expõe um imenso esqueleto de baleia azul no centro, uma atração inesquecível, ainda que inferior, e pouco original para quem já esteve em museus desse tipo em cidades da Europa ou América do Norte. Mas aqui, igualmente ao que acontece no mesmo museu de Londres, este hall rouba toda a atenção, deixando o resto do prédio sem a menor graça. Neste museu estão guardadas notáveis coleções de pedras e meteoritos, borboletas e outros insetos, fósseis e animais marinhos. As salas mais novas (abertas em 2006) abordam o tema do impacto humano sobre o Arquipélago de Juan Fernandez (onde está a Ilha de Robinson Crusoé) e mostram aspectos de culturas indígenas nativas de todos os pontos do Chile.

METRÔ:

            Limpo, rápido, pontual, seguro, arejado, barato e eficiente. Tudo o que um bom metrô deve ser. Adorei e usei pra burro! Seu mapa é bastante fácil de entender e possui estações em todos os lugares de interesse. Provavelmente vocês irão usar muito as estações de Baquedano e Belas Artes. Muito curioso é o fato de terem sido instalados por todos os lados ventiladores com jatinhos de água. Bem feinhos, esteticamente parecem coisa de cadeia ou hospital, mas faz um bem danado contra o ar seco das estações. Outra característica positiva das estações é que não são muito grandes nem muito profundas, evitando aqueles corredores longos e confusos e aquelas enormes e vertiginosas escadas rolantes. Justo por isso entrar e sair é muito rápido.

VIDA NOTURNA:

            Estava só, mas fui a diversos restaurantes. A comida é bem boa e o preço é justo. Acabei perdendo a oportunidade de jantar em algum lugar mais sofisticado por conta de nunca fazer a reserva com antecedência. Nas boates a música predominante é a local. Os chilenos adoram seus conjuntos musicais e dançam a noite toda embalados na sua maioria pelos hits chilenos, mas também tocam músicas dos argentinos, mexicanos e espanhóis. Legal, pois todos cantam animadamente músicas de grupos e cantores latinos. Nos restaurantes a carta de vinhos é magnífica e barata. Por lá também está na moda recuperar antigos conjuntos arquitetônicos e transformar em centros de entretenimento noturno. Vai ser fácil achar um desses "Pátios" pela cidade. Bem bacanas concentram restaurantes e lojinhas ao redor de uma pracinha descoberta com fontes e iluminação cenográfica. Há ainda aquelas ruas de restaurantes, mas prefira sempre as casas mais conceituadas que, a despeito da distância e da dificuldade de acesso, são mais interessantes e servem coisas mais elaboradas, sem falar na boa carta de vinhos! Porque isso é uma boa na viagem ao Chile: vinhos!

DOIS TIPOS DE TAXIS:

            Existem dois tipos de taxis na cidade: o tradicional que é idêntico ao medonho argentino (bicolor, pretinho com capota amarela!) e que roda, a todo o momento pelas principais ruas e avenidas e outro mais discreto, geralmente azul metálico ou branco, com placas diferentes dos carros particulares (se não me engano são alaranjadas). É muito usual estes taxis azuis ou brancos ficarem nas portas dos hotéis e nos shoppings. Esse tipo mais "executivo" não tem aquele letreiro luminoso indicador no teto, mas pela placa dá para saber. Na hora de pagar o preço é geralmente o mesmo, a única diferença, é que o tradicional possui taxímetro e outro não. No caso do mais bacaninha (porque os azuis são na sua maioria carros novos com banco de couro e tudo) o mais importante é perguntar para o motorista o valor da corrida. Geralmente a corrida tem valor pré-fixado. Mas se não perguntarem no início qual será o valor final da corrida, não se preocupem, porque certamente ele vai cobrar o valor real. Isso é bastante seguro. Mas, canja de galinha e prudência, não faz mal a ninguém! Pergunte antes!
            Os taxistas são geralmente muito calmos e não correm como os nossos e dominam bem os nomes das ruas e avenidas. É mumu! A honestidade dos taxistas não se repete com os agentes de turismo locais. Se puderem eles vão empurrar um pacote de programa de índio, um restaurante meia boca, uma lojinha brega e cara: aquelas coisas! Muito comum também é venderem gato por lebre, trocar datas e depois falar que não pode isso, não pode aquilo e que se quiser vai ter que pagar um pouco mais, etc... São uns sacanas! Bata pé e não recue um centímetro na hora da barganha ou de exigir seu direito. Brigue mesmo, porque é proposital a coisa! Afinal somos brasileiros! Tomara que tudo dê certo com você durante toda a estadia ,mas 11 entre 10 pessoas (inclusive eu) que conheço, foi enrolado por lá! Mas nada que possa estragar a bela viagem.

EDIFÍCIOS MODERNOS E A ESTRUTURA DO MAIS ALTO DA AMÉRICA DO SUL:


            O Chile, assim como vários outros países está construindo novos e modernos espigões. Os edifícios modernos que surgem a todo o momento pela cidade não fogem ao padrão universal dominante. Idênticos a tudo o mais que se constrói com muito, muito, muito, muito dinheiro tanto em Dubai como em Nova Yorque passa a transformar e modificar de maneira drástica o sky-line da cidade. O que eu falei sobre a escala humana até então respeitada na cidade por suas edificações começa a cair por terra nesse século. Infelizmente estão construindo um monstrengo todo de vidro que vai se orgulhar de ser o mais alto edifício da América Latina! (a essa altura já deve estar pronto e vai ser fácil avistá-lo principalmente de cima dos Cerros da cidade). Nele vai ter de tudo! Shopping, cinemas, hotel, escritórios e toda a sorte de amenidades para o conforto e tecnologia modernos! Vai ser uma cidade dentro da cidade. Besteira! Mas vai  fazer o quê, né? No quesito arquitetura vai certamente tirar 10 e virar cartão postal, mas no quesito ambiente vai atravessar o samba! Uma pena. Eu particularmente sou um pouco cético a essa mania de querer bater recordes de altura. Mas os ricos e poderosos gostam e o Chile, lembrem, se acha o mais rico, culto, desenvolvido e o mais poderoso dos países do Novo Mundo! Até pode ser, mas ainda falta muito! Grandes empreendimentos caminham em direção à Vitacura. A sorte é que a cidade possui grandes avenidas e seu trânsito é ainda bem fluído. A cidade é cheia de bons hotéis e a maioria está em belos e modernos prédios. O Hyatt é maravilhoso e certamente o taxista vai chamar a atenção para ele, pois o povo o adora!!!!! É lindo mesmo! Aliás, o parque hoteleiro só perde para o de São Paulo quanto ao número de hotéis porque quanto à qualidade e modernidade dá um banho. O clima seco e o inverno rigoroso da região são particularmente apropriados para a arquitetura de vidro que desponta, mas o verão é ainda muito quente para este estilo arquitetônico. Assim compreendo que o país ainda não descobriu a receita ideal para suas edificações modernas. Senti muita falta de elementos construtivos como pérgulas, brise-soleil, grandes marquises e aquelas lindíssimas arcadas herdadas da colônia espanhola. A arquitetura moderna do Chile é ainda muito fraca.






LOJAS CHIQUES E CARAS NA ALONSO DE CORDOBA:

            Essa rua é famosa em toda a América Latina. Famosa porque reúne as mais caras lojas do nosso continente. Dá um verdadeiro banho nas suas concorrentes: a brasileira Oscar Freire e a argentina Avenida Alvear. Muito ampla (larga e comprida) tem uma de suas calçadas alargada e ajardinada, onde um enorme canteiro arborizado faz sombra para agradáveis banquinhos de madeira e para as muitas vagas de estacionamento dispostas a quarenta e cinco graus. Esta é a calçada perfeita para um passeio sem intenção de compras, enquanto que a outra mais estreita é ideal para entrar de loja em loja e procurar por roupas de grife, peças de decoração para a casa, perfumaria e papelaria sofisticadas. Numa das esquinas dessa avenida tem uma pequena e muito charmosa pracinha ao lado de uma também charmosa igrejinha, que é a favorita das socialites do momento. Se forem à missa, podem envergar sem o menor problema uma simples camiseta pólo e uma rasteirinha básica, mas, por favor, não se esqueçam do par de óculos Prada, do Rolex nem da bolsinha Dior! (risos). O bom mesmo é sentar em um dos poucos bares da rua (na outra esquina da igrejinha) para apreciar o movimento dos esnobes e a quantidade de carrões! A propósito: só tem carrão nessa cidade! A frota está renovada e os orientais dominam com boa margem de vantagem. Os antigos mercedões sumiram do pedaço e agora se vê muito Toyota, Hyundai e Honda. Essa rua é a principal rua do bairro de Vitacura e tudo, a seu redor, tem preços mais elevados que no restante da cidade. Ali perto tem um shopping bem legal, um enorme campo de golfe (Los Leones Golf Club) com dezoito buracos, o hotel Hyatt - orgulho da hotelaria moderna da cidade (com seus lindíssimos lobby e átrio da altura do edifício com elevadores panorâmicos, etc...) - além de muitas ruas repletas de grandes mansões com muros altíssimos e grades intransponíveis.
Aqui é pertinente uma reclamação minha: é quase impossível entender onde é o limite entre Vitacura e Las Condes! A linha divisória entre os bairros vizinhos parece viva, parece que se move o tempo todo! Tive a impressão de que ninguém sabe ao certo o local em que termina um bairro e começa o outro! Besteira perguntar aos taxistas, pois para perguntas deste tipo eles fazem "ouvidos de mercador". Bater papo com taxistas em espanhol é também uma roubada.

CENTRO DE ARTESANATOS LOS DOMINICOS:


            É um local eminentemente turístico. Para quem gosta de artesanatos é um prato cheio. Eu particularmente, se soubesse antes do que se tratava, não teria perdido tempo em visitar. Chatinho e sem muitos atrativos fora as lojinhas, se resume num apanhado de casinhas coloniais (pelo menos é o que parece, não procurei saber se eram originais ou falsas) com telhadinhos, arquinhos, uma pontezinha aqui, outra mais a diante, cerquinhas mal feitas e um mundo de quadros, gravuras, tecelagens, instrumentos andinos, artefatos indígenas e as mais variadas porcarias feitas à mão penduradas nas portas e nas bancas. Pouco além de uma feira hippie. O que salva é o artesanato em prata e pedra, mas mesmo assim pouco atraente, ainda que vendidos em lojas mais arrumadinhas. As coisinhas são do tipo que podem empolgar o comprador por impulso, mas certamente quando chegar ao quarto do hotel vai se perguntar: por que comprei esse treco? E o pior: como vou levar? A propósito: encontrei peças lindas de pedra em Viña Del Mar e Valparíso. Lá em uma loja sofisticada, bem próxima ao museu, comprei uma caixa de alpaca com tampa em quadros de Lázuli entremeados por Malaquita. As peças mais bonitas são encontradas geralmente em joalherias ou lojas mais reservadas. As jóias são também muito bem feitas nas lojas "privê"; o oposto das lojas destinadas ao turismo de massa.


            O pueblo foi criado ao redor da muito bonitinha igreja chamada de Iglesia de Sam Vicente Ferrer Los Dominicos (toda branquinha com duas torres sineiras) e seu claustro, no bairro de Las Condes, numa saída da cidade em direção às montanhas do Vale Nevado. Ao fundo do pueblito tem o Cerro Apoquindo de onde, ao subir (de carro), se tem uma bela vista da cidade. Não subi, mas me ofereceram um milhão de vezes esse passeio. Deve ser legal. Sei lá. Mas como já estava saturado com tanta quinquilharia de cobre e miudezas feitas com lascas e resto de Lapis Lázuli, acabei nem querendo saber de esticar o passeio. Afinal já tinha visto a cidade do alto de dois outros morros! Geralmente a gente sobe um em cada cidade que vai, aqui já tinha subido em dois! (risos)



            É fácil chegar até esse pueblo. Todos sabem onde fica e o metrô chega até lá (Estação Los Dominicos – óbvio!). O parque onde o conjunto arquitetônico está levantado também leva o mesmo nome de Los Dominicos.

CAFÉ COM PERNAS:

O santiaguino tem como última moda um tal de "Café com Pernas", que a meu ver é um tanto embaraçoso para o público feminino, mas faz a alegria dos marmanjos, pois são cafeterias com jovens e bonitas mulheres trabalhando com um micro uniforme e sapatos de saltos bem altos em um balcão com forma orgânica (pelo menos naquele em que eu fui era dessa maneira). Parece que são muitos pela cidade, espalhados principalmente pela área central e nas áreas onde existem muitos executivos. Não vai ser complicado topar com um desses ao longo de alguma via importante. Inconfundíveis, tanto pelo balcão recortado, como pelas dúzias de machos se acotovelando nos balcões a espera de seu cafezinho tirado por uma quase pelada "gostosona". (é bom lembrar que as gostosas deles podem não ser tão gostosas assim para as normas da ABNT) Mas que o café é gostoso, isso ele é! E é uma farra!

PROCURAR POR:
* Mercado Central - marisqueria Donde Augusto
* Museo Chileno de Arte pré-colombiano
* Museo de la Moda
* Palácio de Bellas Artes - Museo de Arte Contemporâneo
* Palácio de la Real Audiência/Museo Histórico Nacional
* Palácio de La Moneda, palco, em 1973, do golpe de Pinochet
* Plaza de Armas
* Museu de Belas Artes
* Museu de Arte Pré Colombiana
* Catedral
* Mall Parque Arauco (shoppingcenter)
* Paseo Ahumada (calçadão)
* Biblioteca de Santiago
* Palácio Cousiño
* Teatro Municipal
* Cerro Santa Lucia
* Cerro San Cristóbal

Monumentos Históricos declarados por decreto municipal:
Casa de los Diez,
Cerro Santa Lucia
Casa Rivas ou Casa Montero
Iglesia San Agustin
Mercado Central
Correo Central
Capilla del Sagrario
Palácio de La Moneda (sede da Presidência da República)
Catedral de Santiago e Capilla del Sagrario
Basilica del Savador
Palacio de los Tribunales de Justicia
Meuo de Santiago (casa colorada)
Palacio Bruna
Museo de Historia Natural
Edicio Comercial Edwards
Casas PlazuelaTeatro Municipal
Basílica de Los Sacramentinos
Iglesia del Santíssimo Sacramento
Edifício da Bolsa do Comério
Iglesia de San Pedro
Iglesia de San Lazaro
Palacio Matte
Palacio Pereira
Teatro Carrera
Basílica del Corazón de María
Edifício do ex Hotel Mundial
Escuela de Suboficiales del Ejército
COMPRAS: 

* Pelos bairros de Las Condes, Providencia, e Vitacura.
* Shopping Parque Arauco.
* Avenida Alonso de Cordova entre as avenidas Nueva Costanera e Vitacura - boutiques e lojas de grife.

COMIDINHAS:

            Bem, vamos lá dar umas dicas do que comer de diferente em Santiago.

            Começamos pelo sorvete ou suco de LÚCUMA. A Lúcuma é uma frutinha andina que tem um gosto de caramelo. O sorvete é bem mais agradável e leve que o suco.
            Aos que gostam de coisa crua, o CEVICHE é uma boa pedida; existem vários tipos e vários condimentos para este prato importado do Peru. São basicamente frutos do mar picadinhos e condimentados servido em porções maiores do que o necessário depois de cozidos em suco de limão. Eu gosto.
Para quem prefere coisas mais assadas o bom mesmo é provar os famosos PASTÉIS DE CHOCLO, que nada mais são, que uma enorme torta salgada muito gostosa.
 Umas dicas especiais para os corajosos:   1)   é o CAPULO: sopa de testículos!   2)   Eles adoram a carne seca de CAVALO! Muito comum por lá.   3)   A PICHANGA que é um escabeche de picles, servido tanto quente como frio. A versão quente leva presunto defumado comido com cerveja ou com uma boa taça de vinho. O vinho de tão barato deve ser consumido como uma espécie de patrola! Se a coisa estiver difícil de ser engolida manda ver um bom gole de vinho para "levar" tudo e lavar até a alma!
            No mercado Público Municipal o bom mesmo é sentar em um dos bares e restaurantes e pedir qualquer coisa. No interior do prédio estão os mais famosos, caros e turísticos, mas ao redor do prédio, em um corredor que mais parece um aumento colado ao corpo original do mercadão estão dispostas as bancas de pescados com alguns restaurantes em frente. Ótima pedida. Lá podem ser servidas lagostas, lulas gigantes, tubarão, Congro Rosa, Congro Branco, Congro Dourado, carne de abalone, Longueirão (é um molusco bem comprido como se fosse um berbigão esticado), Choros (aí sim os tradicionais mexilhões), Choros gigantes, muito camarão além de peixes variados e muito mais que eu nem vi! Mas a "piece de la resistance" é a PIMA: é uma craca gigante e medonha; parece uma pedra avermelhada cheia de moluscos unidos como se fosse uma colônia com gosto de ouriço do mar. Tentem achar! Eu acredito que o nome seja esse mesmo. É bem grane eu só vi numa barraquinha de esquina.
            Eu detestei o Mote com Huesillos: um suco de pêssegos com uma ou duas frutas dentro, servido com um monte de grãos de trigo flutuando no líquido e depositados no fundo do copo. De aparência nojenta e gosto duvidoso.
            Para quem gosta de doces tem a PANQUECA DE MANJAR (ou bem um ou bem outro, né?). É que para eles manjar significa doce de leite, bem como banana é Plátano! Estranho porque aquelas árvores que encontramos plantadas em muitas das ruas da cidade com tronco claro e folha parecida com a da parreira também leva o nome de Plátano e não é bananeira. Voltando para o quitute nada mais é do que uma panqueca de doce de leite. Simples!

                      Observação mais que importante: não falem dulce de leche, que é como falam os "inimigos"! (risos) É manjar!

            Ainda nos salgados tente pedir os bons e quentinhos sanduíches chamados de Barros Luco. É um pão de forma recheado com filetes de carne e queijo derretido. (é ótimo e bastante familiar – mata a fome na hora!)
            E tem o famoso e abominável abacate! Chamado de PALTA é servido em quase tudo! Tudo que é comida tem sua versão com a coisa da Palta. Odiei, não me canso em dizer! Tem por todos os lados esse medonho patê verde.
            Vale lembrar que tratoria italiana, é sempre tratoria italiana em qualquer lugar do mundo! (risos). Portanto na dúvida mande ver uma bela macarronada!


Um comentário:

  1. Excelente blog, até agora o roteiro mais completo sobre Santiago que eu achei.
    Como arquiteto, adorei o texto. Parabéns

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