sábado, 30 de julho de 2011

Devil´s Pool

               A África é mesmo um continente plural. Gigante e riquíssima em patrimônio natural, guarda em seus domínios fenômenos geológicos que nos faz perder o fôlego. É exatamente isso que acontece quado ficamos frente à frente com as Cataratas de Vitória. Nem mesmo o alto ronco de suas quedas, que aumenta a medida que se aproxima do despenhadeiro, prepara a pessoa para o magnífico panorama que se segue. É de fato um dos maiores espetáculos da Terra.  


              A fotografia anterior, colhida da rede, mostra de maneira bem clara como as cataratas se formam e precipitam na enorme fenda que corta o planalto. Bem na direta da foto aparece metade do arco da VicFalls Bridge. O espetáculo é inesquecível. Famosa pela força de suas águas e pela insuperável beleza que encontra paralelo somente nas Norte-americanas Niágara e Sul-americanas Iguaçu, virou ponto de esportes radicais como o bungee jump e o rafting. Amantes desses esportes arriscam a vida despencando da ponte metálica ou enfrentando as corredeiras  dos fundos dos vales em águas cheias de crocodilos. Já a borda das quedas serve, (em épocas de baixo volume de água) como outro ponto de atração: nativos e turistas passeiam por cima das rochas, nessa época aparentes, arriscando a vida no alto dos mais de cem metros do paredão. Mas o passeio mais interessante é a visita à Devil's Pool. 


               As fotos panorâmicas mostram as Cataratas de Vitória, localizadas na fronteira entre a Zâmbia e Zimbabwe, onde o rio Zambeze encontra um desfiladeiro chamado de "Gorge Primeiro" (que nada mais é que uma enorme fenda no planalto) e despenca em um paredão de 108 metros de altura e cerca de um quilômetro e meio de largura para depois escoar por um sinuoso vale que ziguezagueia por entre cinco outros gorges.
               Em determinadas épocas do ano, entre os meses de setembro e dezembro, época em que o nível da água está mais baixo e seu fluxo é considerado seguro, é possível ir até essa piscina natural (foto acima), chamada (não sem motivo) de Devil´s Pool, formada na borda da porção mais alta da cachoeira. Uma parede de rocha natural impede a queda e permite que a pessoa nade o mais próximo possível da catarata. É muito legal. Apesar de ser tratado como algo seguro, é amedrontador, mas vale a pena. Há ainda aqueles que caminham (como já falado) por toda a borda das quedas por cima das pedras que surgem em virtude do nível baixo das águas até chegar nessa piscina natural, mas certamente tal proeza é  somente para aqueles que desafiam a morte ou não valorizam a vida.


               Na época da seca a catarata se subdivide em várias outras menores, com variação no volume de água, tamanhos e alturas, diferentemente de quando as águas estão altas, época em que a parede de água é única e seu volume de água é tanto e tão violento que o vapor em suspensão impede sequer de ver a cascata de perto. É uma maravilha natural que sustenta o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela UNESCO. É a versão africana da "super-catarata". 


               O círculo preto marca o exato local da Devil's Pool. A piscina é alcançada com segurança a partir da ilha Livingstone (à direita da aerofotografia colhida na internet) que se constitui na maior porção de rochas e terra junto às quedas que nunca desaparece com as cheias do Zambezi. Chega-se até lá de barco, avançando pelo rio entre hipopótamos e crocodilos. A medida em que o barco se aproxima das cataratas a parede de vapor aumenta e o ruído das águas assusta. Nessa ilhota estão colocadas, uma placa e uma escultura, que homenageiam o descobridor, que batizou o maior fenômeno natural africano com o nome de sua rainha: a britânica e imperialista Vitória do Reino Unido.




               Aqui é possíver ver a Devil´s Pool de frente, a partir do Victoria Falls National Park no Zimbabwe. Fica exatamente onde a água tem menos espuma do lado direito da maior queda. A maioria das quedas estão no lado da Zâmbia mas as mais belas vistas estão no país vizinho. Em época de cheia as águas cobrem todas as rochas e um paredão branco desaba com toda a violência sobre o canion.



               Para se ter uma idéia do Gorge Primeiro: os dois paredões seguem em paralelo por cerca de um quilômetro e meio. Estou em uma das pontas da fenda nesse que é um dos destinos mais procurados do continente negro. 


               O mais alto bungee jump do mundo é feito aqui no meio da Victoria Falls Bridge, na fronteira entre Zâmbia e Zimbabwe. Feita totalmente em aço, adota um desenho de arco parabólico que vence um vão único com mais de 150 metros e sustenta um tabuleiro de 198 m de comprimento, a uma altura final de 128 m. Essa linda obra da engenharia civil cruza o Gorge Segundo, bem próximo às quedas e é a única ligação ferroviária entre os dois países africanos. A "Vicfalls Bridge" como é conhecida, foi inaugurada em 1905 depois de apenas 14 meses de obras e também serve para a passagem de automóveis e pedestres.

               É na realidade uma obra magnífica, mas poderia ser ainda mais bela ao ter seu desenho valorizado com uma pintura mais contrastante com o seu entorno. Com a atual cor ela se mistura na paisagem e se confunde com a cor do fundo rochoso dos gorges (desfiladeiros). Imagino uma cor bem vibrante e moderna cujo reflexo poderia inclusive amenizar os efeitos da intensa luz solar sobre sua estrutura metálica.




Eu sobre a linha de trem no meio da VicFalls Bridge. Bem que a ponte toda poderia ser pintada com o bonito azul dos guarda-corpos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Pittsburgh

Andando pelas ruas do centro de Pittsburgh encontrei este painel:


               Seguindo a tendência mundial dos jardins verticais este painel enfeita um largo bastante árido no centro financeiro de "Pitt". Fixado sobre uma parede lisa, de um cinza quase estéril, humaniza a  área e personaliza o prédio. Comporta-se como uma grande tapeçaria tirando partido dos diferentes tons e texturas da vegetação escolhida. Seu bonito desenho e os tons de verde nos remete à estética dos anos setenta e faz lembrar a Pop Art; tira partido dos atuais recursos tecnológicos na área de jardins e de quebra faz propaganda da empresa patrocinadora. Apesar da fragilidade natural das folhagens, que certamente não resistem ao frio intenso do inverno, a obra pode ser repetida por vários anos, ou se não, outros painéis com diferentes temas e autores podem se alternar. Não há como não gostar disso! 


               Este é o PPC Place, sede da antiga companhia de vidro  Pittsburg Glass Company Plate. Ainda o mais famoso conjunto de edifícios de Pittsburgh.
               Projetado pelo arquiteto John Burgee em parceria com Philip Johnson, o "Papa da arquitetura moderna", com referências ao estilo neo gótico, muito presente nas construções de época da cidade, é composto por uma torre principal de 40 andares, uma mais baixa com 14 andares e mais quatro outras estruturas com seis andares cada. Todo o complexo se distribui ao redor de uma praça (antes seca) e suas paredes são completamente revestidas de vidro. O lobby do edifício central tem 15 metros de altura e é todo forrado com placas de vidro vermelho, bem ao gosto do estilo pós moderno em voga na época de sua construção em meados dos anos oitenta.



               Os edifícios completamente forrados com reflexivo vidro azul, num total de um milhão de metros quadrados, possuem um resultado plástico bastante agradável e suas paredes cheias de dobras que simulam mais de 230 pequenas torres, dão ao conjunto um movimento e uma profundidade incomuns nas torres de aço e vidro.



               Muito legal o ar neo-gótico criado pelo desenho dessas fachadas. O dia ensolarado torna as paredes externas multifacetadas em algo admirável. É um prazer enorme ficar nesse largo observando em detalhes os efeitos criados pela variação da luz solar e movimento das nuvens. As fachadas são um show. 
               Esta praça, cercada pelas paredes espelhadas, possui uma fonte com 140 jatos de água que brotam do chão e que fazem a festa da criançada nos dias quentes de verão. Ao centro dessa fonte foi colocado na virada do século um grande obelisco de granito rosa, que durante o natal é coberto por uma árvore gigante e rodeada por um rinque de patinação, que com orgulho dizem, ser maior que o do Rockefeller Center de New York.
               Essa nova intervenção paisagística não é obra do escritório de Philip Cortelyou Johnson, mas ficou bastante bom e deu mais dinamismo e vida ao conjunto. Mais parece um adro de uma catedral medieval, ainda que futurista, do que o coração do centro de uma cidade rica. Não foi a toa que Johnson se tornou um dos principais arquitetos do século vinte e o primeiro a ganhar o principal prêmio de arquitetura mundial: o Prêmio Pritzker.
               Só para lembrar que nosso país tem dois arquitetos laureados com o Pritzker. São eles: Oscar Niemeyer, no ano de 1988  e Paulo Mendes da Rocha, no ano de 2006.



               Aqui uma vista  que se tem da torre mais alta, de quem está na margem esquerda do rio Monongahela. De longe o prédio com seus quatro pináculos principais lembra mesmo uma torre gótica e faz referências a outro edifício famoso da cidade, que é a torre neo-gótica conhecida como Catedral da Cultura, sede da administração da Universidade de Pittsburgh. Para o clima da região essa torre de vidro funciona muito bem, pois seus vidros laminados de alta tecnologia garantem um equilíbrio na troca de calor com o exterior, tendo a capacidade de manter o ambiente interno na temperatura adequada. Seus vidros tendem ainda a refletir os efeitos indesejáveis dos raios solares por meio de componentes infra-vermelhos. Show!


               A torre principal com seus 40 andares ainda domina a região de downtown, apesar de já não ser a mais alta. Inaugurada em abril de 1984 já completou 27 anos e mantém-se como nova, graças ao uso de materiais de alta duração como alumínio e aço e a escolha de painéis de vidro não muito grandes, capazes de absorver violentas rajadas de vento.



               A Smithfield Bridge, sobre o Monongahela, é uma das mais de 450 pontes da cidade e sem dúvidas a mais bonita. Tida como a mais antiga ponte em aço dos E.U.A. é um marco da engenharia no país. Possui um comprimento total de 361 metros e seus dois vãos vencem 110 metros cada. Seus dois portais  também com referências góticas são lindos.
               No centro, local em que os rios Monongahela e Allegheny se encontram e formam o Rio Ohio, dando ao terreno um formato triandular, existem cerca de outras 10 belíssimas pontes, todas executadas em aço e pintadas predominantemente de amarelo.
               Pittsburgh foi durante anos o maior pólo siderúrgico e o maior produtor de aço do planeta, sendo uma cidade com índices altíssimos de poluição. Atualmente, a cidade possui um dos conjuntos de leis antipoluição mais rigorosos do país e um dos mais baixos índices de criminalidade, o que faz dela, uma das melhores cidades para se viver. Pena o frio!


Paris

Ópera Garnier


               Muitos detalhes, superfícies folheadas a ouro e o lustre central em bronze e cristal (que pesa mais de seis toneladas) em conjunto com o soberbo teto pintado em 1964 por Marc Chagall, fazem do salão principal da Ópera de Paris um dos mais belos ambientes em que já estive.


                     Só para ter uma base de comparação, esta pintura de composição e estética clássicas, dividida em quatro partes que preenchem os lados de uma clarabóia quadrada, ao centro de um teto tipicamente francês que coroa o enorme vão das escadarias do edifício, é uma representante da época em que o prédio foi terminado. 

                          Completamente diferentes, enfeitam os dois mais importantes tetos da Ópera. A de Chagal, no entanto, por ser totalmente inesperada (aos olhos dos críticos mais radicais e puristas um tanto inadequada ao ambiente) acaba por assumir uma característica de audácia e provocação que muito me agrada. Esta surpresa ao espectador, que encontra no teto uma obra de vanguarda em vez de mais uma obra acadêmica, torna a sala de espetáculos ainda mais exuberante. Sem entrar no mérito das avaliações estéticas e formais, o que importa nesse caso é o efeito dramático produzido pelas cores e formas do surrealismo dese russo radicado na frança. 


               De um interior clássico para um moderno: abaixo a ousadia no interior da loja da Citroën na Champs Elysée.

               De volta ao antigo e tradicional endereço da marca em Paris a Citroëm reinaugurou seu showroom, no número 42 da avenida mais famosa da capital francesa, em grande estilo. Depois de aberto um concurso para escolher o melhor projeto arquitetônico a nova loja, batizada de C42, devolve ao público uma vitrine arrojada e fadada ao sucesso. Oferece cafeteria, show room, simulador de pilotagem, recursos de multimídia variados e boutique de souvenires. A loja é linda!



               Depois do primeiro impacto, ao entrar no nível da rua, é só admiração! Ela é totalmente branca e vermelha, com predomínio da cor clara. Muito moderna abusa da iluminação natural (um luxo só, para um edifício em Paris) e da verticalidade. Em seus oito andares é rica em detalhes e tecnologia, como a coluna da foto que é composta por sete plataformas redondas e giratórias. Nelas são expostos os mais diversos modelos da montadora, que trocados periodicamente podem ser os últimos lançamentos dos salões mundiais, como os carros conceito ou ainda os antigos do acervo da empresa. No subsolo, esse sim totalmente vermelho (paredes, teto e chão!) fica um superesportivo carro de corridas ou rallye.



               Esse teto plissado e polido espelha os modelos e cria um efeito de caleidoscópio: detalhe bastante perigoso, mas, que aqui deu certo. O carpete vermelho (outra prova de coragem) também cria um detalhe legal e alerta para a escadaria bem branca com guarda-corpo de vidro temperado.

Aspecto futurista bem ao gosto francês.


IMA- Instituto do Mundo Árabe

            Essa fachada é uma das que considero mais legais em Paris. Obra do craque Jean Nouvel, alia de forma inconteste a estética árabe à uma tecnologia de ponta.
               O IMA é um centro de cultura árabe localizado às margens do Sena bem no coração de Paris próximo da Île de La Cité. De seu bar e restaurante na cobertura tem-se uma bela vista da Notre Dame. Nele estão juntos um museu, uma biblioteca, um centro de documentação, auditório e oficinas de artes e ofícios.
                Nouvel venceu a concorrência, promovida pela administração do então presidente François Mitterrand, que exigia um edifício com linhas contemporâneas com o emprego de padrões típicos da arquitetura e cultura árabes.      
              Obteve assim um edifício único. Sua volumetria acompanha o desenho do terreno que devido à curvatura do rio tem um formato de leque. Dessa forma foram desenvolvidas duas fachadas bem diferentes. A principal, voltada para o Sena, é arredondada e toda revestida de vidro. Entretanto, a que mais encanta é a fachada sul retangular. Voltada para uma praça interna, apesar de sua volumetria simples, alcança um resultado de beleza ímpar.


               Como esta fachada é voltada para o interior do conjunto, com a pior orientação solar e sem a bela vista do rio, o arquiteto criou uma parede inteira com um jogo de brise soleil que reproduz em linhas modernas um desenho islâmico, que tanto pode nos remeter aos seus mosaicos como a um de seus belos tapetes. Coisa de gênio!


               Esses brises sofisticadíssimos são uma releitura dos treliçados de madeira (muxarabies) muito comuns na arquitetura árabe cuja função é de filtrar a luz. Esta trama é composta por vários diafrágmas metálicos, semelhantes aos das máquinas fotográficas, que por meio de computadores e com o auxílio de células foto-sensíveis abrem e fecham automaticamente, acompanhando os movimentos da luz solar e variações de claridade do exterior, regulando dessa forma a luminosidade ideal no ambiente interno e permitindo uma visão da rua sem perder a privacidade.






Abaixo a Saint Chapelle.

               Maravilha gótica, não é a maior nem mesmo a mais famosa das igrejas de Paris, entretanto, é nela que encontramos um dos cinco mais espetaculares interiores da arquitetura sacra medieval na França.
               Situada na Île de la Cité, onde a cidade foi fundada pelos romanos sob o nome de Lutetia, bem próxima ao marco zero, foi construída muito rapidamente, entre os anos de 1241 e 1246, e consagrada em abril de 1248. É a única estrutura restante do conjunto palaciano original, substituido atualmente pelo Palácio da Justiça.           
              Exemplo de arquitetura do alto gótico, adota um partido simplificado com planta baixa restrita a uma única nave retangular  cuja a extremidade do altar e coro possui um remate redondo. Seu exterior desprovido de arco-botantes, apesar de sua altura e elaborada estatuária, reflete a mesma austeridade formal encontrada em seu interior.
               Idealizada por Luís IX para receber as reliquias da crucificação e para servir de templo para o antigo palácio real, foi dotada de duas capelas sobrepostas. A capela inferior foi destinada aos funcionários da corte, plebeus e moradores do palácio enquanto que a superior ficou reservada ao uso particular do rei e sua família bem. Sua fachada reflete claramente a presença dessas duas capelas com uma marcação bastante forte dos dois grandes arcos quebrados. Interessante o balcão superior no alpendre da capela real com entrada por cima longe do nível do solo o que indica que a entrada se dava diretamente dos aposentos do antigo palácio. A Rosácea flamejante logo acima do arco superior domina a fachada e é encimada por um frontão triangular contendo um lóbulo centralizado.



               Etérea, mágica, hipnótica, são alguns dos adgetivos atribuídos à Saint Chapelle, considerada por alguns como uma das maiores obras arquitetônicas do mundo ocidental e o máximo do góico francês. Isso na verdade pouco importa porque a despeito de qualquer classificação ela é belíssima e possui um valor inestimável.



               Sua grande rosácea do século XV, orientada para o sol poente, ensina a passagem bíblica do Apocalipse, recriada em seus 86 painéis de vidro colorido. Esse vitral que explora as cores fortes e o dourado do pôr do sol, para dar mais ênfase ao tema religioso, foi presente de Carlos VIII no ano de 1485.
               As paredes internas da capela superior parecem não ter divisões dada a altura das janelas.
 

               Os vitrais da capela superior são como uma bíblia pictórica que retrata cenas dos velho e novo testamentos e o efeito que proporcionam é de tamanha beleza que na era medieval os devotos se referiam á capela como sendo a passagem terrena para o paraíso, ou ainda, como a porta do céu. Estes vidros foram retirados e armazenados em local seguro durante a segunda guerra mundial, antes da invasão alemã e meticulosamente recolocados  nos lugares originais. Atualmente vivem um processo de restauro e proteção em razão dos  agentes poluidores existentes no ar da grande metrópole.



               Ao entrar na nave o observador é tomado pelo espanto e pela admiração, fruto da explosão de cores criada pelos magníficos vitrais. Dois terços das janelas são originais do século XII e retratam mais de 1.000 cenas religiosas. É uma festa para os olhos com predomínio do azul e do vermelho em uma palheta de cores onde ainda estão presentes o verde, o dourado e o lilás.
               Este extraordinário exemplo de escultura em madeira  da era medieval, muito bem conservado, representa um dos doze apóstolos que adornam a capela superior. Ainda que os vitrais sejam os responsáveis pela fama e notoriedade da capela, seus relêvos policromados são dos mais belos e estão quase que em perfeito estado. Infelizmente os assentos do coro e o painel do altar principal, não tiveram a mesma sorte e foram destruídos durante a revolta popular de 1789, ocasião em que várias das relíquias aqui guardadas desapareceram.
               Outra imagem de um dos doze apóstolos que ficam apoiados nos pilares da capela real. O requinte e o fino acabamento das paredes revela a preocupação com a nave superior destinada a guardar as relíquias religiosas adquiridas por Luís a um custo três vezes maior que o da própria capela.
               O teto abobadado da capela inferior, dedicada à Virgem Maria, é pintado com douradas flores de Liz, símbolo da França, sobre campo azul, com o intuito de representar um céu estrelado. Uma característica muito bonita do estilo gótico é o efeito e o ritmo criados pela estrutura de pedra aparente. Aqui o destaque para a pedra de fecho na união dos pilares em arcos. Cada vão das janelas inferiores apresenta o que se denomina de arcos trilobados aos pares com um hexalóbulo, no centro ao alto do arco quebrado, sobre dois arcos  trilobados em ogiva. Esse efeito de iluminação é moderno, bem diferente da época, quando o propósito era manter o interior na escuridão ou penumbra, reservando aos vitrôs com ensinamentos litúrgicos, a única fonte de luz, ou seja, a arquitetura traduzindo os interesses da igreja em doutrinar seus fiéis como seres viventes na escuridão em busca da luz divina. Diferentemente, a capela superior, reservada ao representante terreno de Deus era banhada de luz.



Fontaine des Quatre Partes du Monde

               A Fonte das Quatro Partes do Mundo, ou simplesmente  Fonte do Observatório é a que mais gosto em Paris. Tudo começou quando vi sua maquete feita em gesso por Gabriel Davioud, atualmente exposta no museu D'Orsay: fiquei impressionado com sua beleza e detalhes e por isso fui em busca do local onde foi erguida em bronze. 
               Terminada em 1874, faz alusão ao tema astrológico, apropriado para a região dominada pelo antigo planetário da cidade. localiza-se em uma das extremidades do Jardim Marco Polo. Este jardim é um largo canteiro central que divide a Avenue de l'Observatoire em duas e liga o Palácio de Luxemburgo e seus jardins aos edifícios do Observatório Francês da Cidade de Paris. Por isso a fonte pode ser conhecida também como a Fonte de Luxemburgo ou ainda a Fonte Carpeaux.
                              Sem ser muito grande é particularmente encantadora e sua composição é extraordinária, ainda que não apresente muita originalidade. Tira partido de um conjunto alegórico recorrente em todos os países do continente europeu: o das figuras femininas representando a Europa, a Ásia, a África e a América.  Isso posto, a falta de originalidade cessa aqui. A fonte surpreende pela capacidade de tornar um tema mais que óbvio, em uma obra de arte das mais belas da Cidade Luz, que convenhamos, não é tarefa das mais fáceis.
               As quatro mulheres (a branca, a oriental, a negra e a nativa americana) seguram em seus ombros um globo aramado com uma cinta na diagonal onde estão representados todos os signos zodiacais. As poses das figuras humanas sugerem mais uma dança que um  fardo pesado, tirando a sensação negativa que poderia advir do simbolismo de "carregar o universo nas costas," sugerindo ao raciocínio,  a fantasia da dança dos astros em suspensão no cosmos. Essa é a parte que liga a estátua ao tema celeste. Na base do conjunto escultórico foram fundidos oito cavalos marinhos, que repousam recostados no pedestal em um dos dois espelhos d'água (no superior), imediatamente abaixo das mulheres. Temos então, simbolizando os rios, as pequenas tartarugas de bronze no lago inferior, arrematando e completando o desenho.  
               A fonte simboliza muito bem os quatro elementos: tem o ar representado pela forma aramada do globo, a terra incorporada pelas quatro "mães" da natureza e a água do mar e dos rios pelos cavalos e tartarugas. Faltaria o fogo, mas está implícito no globo aramado que permite a passagem dos raios solares em dias ensolarados: perfeito! Assim sendo, temos reunidos os signos que sintetizam o universo do conhecimento humano.


               Importante perceber na sutileza maior da fonte: a água somente jorra na parte destinada aos mares e rios, permanecendo seca a parte alta da escultura principal, onde a terra emerge rumo ao céu na figura das quatro mulheres e o ar flui por entre os aros do geóide que simboliza o universo. Por fim a cultural inversão de valores da época, responsável por colocar a terra (em suspensão) no centro do universo: a Soberba humana, justificada pela liberdade poética.

O Portão Dourado do Petit Palais!!!!
 Simplesmente lindo: não há peça de ferro fundido mais bonita em Paris.

O charmoso e encantadora muro do amor no Jardin de Abbesses em Montmartre.


Mais de 600 peças esmaltadas, com um magnífico tom de azul cobalto, cobrindo cerca de quarenta metros quadrados exibem a frase eu te amo em diversos idiomas.


Obra de dois artistas mais que inspirados:
Frederic Baron
e
Claire Kito


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cidade do Panamá




               O Revolution Tower é um bom exemplo da arquitetura, feita hoje, na Cidade do Panamá. Interessante proposta de edificação com a primeira parte do prédio em planta de seção quadrada e os dois terços superiores com a planta sofrendo uma leve rotação, de andar para andar, sobre o mesmo eixo. Simples proposta com uma complexa execução e um efeito de gosto duvidoso. Mas inegavelmente original. Como fechamento optou-se pela óbvia pele de vidro cuja escolha estética, nada adequada para o clima do país, recai no mesmo dilema dos prédios totalmente envidraçados em outras áreas tropicais do planeta: como adequar o esteriótipo do edifício moderno ao conforto ambiental interno sem recorrer ao uso indiscriminado da climatização artificial. 



               Este é o esqueleto do que será em breve o Museu da Biodiversidade. Projetado pelo arquiteto canadense Frank O. Ghery.




               Mais dois exemplos dos investimentos feitos no setor da construção civil na Cidade do Panamá que está mudando radicalmente seu skyline.
              O edifício no primeiro plano não tem nada de inovador obtendo destaque na paisagem apenas pela altura e pelo uso de materiais nobres. Já o prédio ao fundo tem um formato que certamente faz a diferença, além de exibir um detalhe bastante peculiar do projeto arquitetônico, que enriquece em muito o conjunto: sua escada de incêndio. É a  escada externa que aparece na ponta de cada andar. Essa escada aberta acompanha a linha arredondada e cria uma espécie de grega. É um detalhe muito bonito mesmo. As duas asas do Trump Ocean Club International Hotel & Tower e a silhueta giratória do Revolution, marcam uma mudança radical na maneira de entender a arquitetura por parte dos panamenhos e prometem estabelecer as novas bases do desenho na cidade e região. É a arquitetura aflorando junto com o dinheiro do canal.


               Esse edifício possui dois volumes bem distintos - recurso muito utilizado na arquitetura atual de arranha-céus - um bem denso para a base e outro mais delgado para a torre. Nesse caso é muito legal o jogo de arredondados estabelecido entre a base e o corpo principal. A parte inferior tem a forma arredondada no sentido horizontal (em planta baixa) e as duas folhas da torre em sentido vertical. Enquanto os primeiros pisos acompanham o formato do terreno, aproveitando dessa forma quase que 100% da área disponível, a torre fica solta e dá a identidade visual desejada. Os pavimentos superiores tem planta baixa em "Y" e na foto acima é possível observar o ângulo interno criado pelo partido adotado. Este prédio é  obra do magnata Donald Trump e figura como o mais alto edifício da América Latina alcançando 284 (duzentos e oitenta e quatro) metros de altura em seus 70 (setenta) andares.


               Há cerca de dez anos o edifício mais alto da cidade não ultrapassava os dez andares. Atualmente a marca dos sessenta andares já foi ultrapassada e uma torre mais alta que a outra é construída em ritmo acelerado. A foto acima ilustra bem este fato. É fácil fazer a comparação entre as três novas torres e o edifício mais baixo dos anos 90. Interessante jogo de volumetria do prédio obtido com as sacadas irregulares em ângulos alternados.




               Isso é o que sobrou do Panamá Viejo, primeira Cidade do Panamá. Erro da ocupação espanhola que não fez uso do caráter bélico-defensivo das cidades muradas ou protegidas por fortificações na era dos descobrimentos. Destruída por piratas foi reconstruída em um novo sítio um pouco mais ao sul.




               Aqui vemos a Catedral panamenha com sua fachada colonial espanhola. Situada no novo assentamento da cidade, hoje conhecido com Casco Antiguo, domina o bairro com traçado colonial e arquitetura de época. Sua construção iniciou em 1688 e sua consagração deu-se em 1796. Sua fachada central em pedra lavrada é emoldurada pelas duas torres caiadas onde estão os sinos trazidos da antiga igreja saqueada e destruída em 1601 pelo pirata Morgan.       


               Atualmente investimentos maciços estão sendo feitos na área, com o objetivo de preservar e recuperar todo o patrimônio histórico e artístico do local, bastante negligenciado pelas autoridades públicas e muito deteriorado pelo tempo.

               Abaixo algumas fotos das eclusas de Miraflores bem ao lado da capital panamenha, na margem do Oceano Pacífico. Estas, fazem parte de um, dos três conjuntos de eclusas do canal (duas próximas ao Pacífico e uma terceira no lado do Atlântico). 


               Considerado atualmente como uma das sete maravilhas da engenharia civil moderna, está sendo aumentado pelo governo local, para suportar os futuros navios de grande calado que irão ultrapassar as medidas estabelecidas pelos atuais. O projeto prevê novas eclusas e novos acessos em uma rota paralela à que já existe. 





               As portas das eclusas são de aço maciço e pesam cerca de setecentas toneladas cada. A máquina que aparece sobre a linha de trilhos é uma do par que puxa os navios por entre os canais das eclusas.



               Em segundo plano aparece o lago de Miraflores com a novíssima ponte do Centenário, bem ao fundo, inaugurada em 2005.