sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mostra - Cabana de Toras

Espaço desenvolvido para Casa Cor Santa Catarina.

Local: Lagoa da Conceição / Florianópolis.
Ambiente: Escritório da Oficina.
Arquitetos: Sérgio Bastos e Cristina Costa.


Cabana de Toras

          Ambiente elaborado para mostra de decoração a partir do tema “oficina”.
         O projeto contemplava uma área de trinta e seis metros quadrados, em um ambiente quadrado com faces de seis metros de comprimento e com pé direito que oscilava entre três (junto das paredes) e seis (no centro da cabana) metros de altura.
        Exibindo uma estrutura que alternava paredes de alvenaria de tijolos com toras de madeira, dispostas tanto na horizontal como na vertical, a cabana recebe ainda uma cobertura de quatro águas com telhas cerâmicas sobre armadura de madeira de formato piramidal. Tanto as portas como o grande janelão receberam vidros temperados translúcidos. O piso de madeira em dois tons deu o toque final aos itens civis de arquitetura.
          Quanto à decoração, o tema exigiu uma abordagem mais descontraída direcionada ao público masculino amante de esportes automobilísticos. A abordagem, portanto, recaiu sobre um personagem de meia idade cujo hobbie era o rallye de regularidade e  tudo que se refere ao mundo dos automóveis.



        Um misto entre sala de visitas para os amigos, sala de troféus, escritório e oficina, permeou a proposta que desenvolveu um ambiente para existir ao lado da garagem e assim servir como pólo de encontro entre amigos e área de relaxamento e diversão para o proprietário.
       Ao ambiente multi-funcional foi dado uma pequena cozinha, um área de estar, um canto para exibir os prêmios e um home-office. Cores cítricas contrastantes com o tom amadeirado predominante e materiais de fácil manutenção nortearam a decoração rica em texturas e acabamentos. Granito polido nos tampos e apicoado nos detalhes, fibra-de-vidro nas paredes pintadas com tinta lavável, piso liso, acrílico e laminado plástico no mobiliário e tecidos resistentes e impermeabilizados foram alguns itens optados no projeto.
        O lúdico recaiu sobre a poltrona giratória multicolorida e sobre o projeto luminotécnico de alta resolução e eficiência. Mobiliário leve e resistente com opção de fibras naturais e tecidos neutros e armários sobre rodízios conferirsam várias possibilidades ao lay-out. Um enorme sofá para os momentos de descanso em tom de cinza deu um ar mais industrial, assim como os elementos cromados distribuídos pelo recinto.


        A enorme escrivaninha que também servia de mesa de trabalho quebrava a ortogonalidade e simetria do conjunto bem como dinamizava a circulação além de organizar o espaço.



        O teto com revestimento de forro em pvc branco confere amplidão e claridade e fácil manutenção ao ambiente e acompanha a inclinação original do projeto. A iluminação foi locada principalmente apenas nas paredes restando ao teto poucos spots. 


Mobiliário leve e esportivo em metacrilato verde limão.



O lindo efeito listrado do piso.



domingo, 21 de agosto de 2011

Mount Vernon

                Mount Vernon, foi residência e sede da plantação que George Washington possuía nas margens do rio Potomac, nos arredores da cidade de Alexandria, Estado da Virgínia, ao sul da atual capital dos Estados Unidos da América. Seguindo o estilo Georgiano, todo construído com madeira, o edifício domina uma colina e desfruta de uma linda paisagem sobre o rio. As linhas neoclássicas características desse movimento arquitetônico da América do Norte são bem expressivas nessa casa. Predominantemente branca, possui pequenos detalhes em cor que não interferem no contraste entre as telhas vermelhas, paredes alvas e folhas das janelas em marinho. Muito característica da cultura local, é representante clássica das antigas casas que estabeleceram o padrão estético da classe rica tradicional, até hoje reproduzido em todo o país.

A fachada principal a partir do pátio de chegada.

               Interessante o detalhe que apresenta a parede de madeira, com corte imitando pedra. O desenho das casas e sua execução eram de responsabilidade de mestres carpinteiros que tinham como base e referência os desenhos importados da aristocracia inglesa; por isso a madeira tentando imitar a pedra.  
               A porta da esquerda dá acesso direto para a sala de jantar formal, a do centro ao hall da grande escadaria e a da direita liga a biblioteca ao exterior. Imediatamente acima da biblioteca ficava o dormitório do proprietário.
               A fachada apresenta ainda ao redor da porta principal, uma saliente marcação, muito típica do estilo. Esse expediente decorativo para marcar hierarquicamente a entrada principal de uma casa, era motivo recorrente nos imóveis da burguesia. O triangular frontão sustentado por um par de colunas, geralmente utilizado como alpendre, fazia referência aos pórticos dos templos clássicos da antiguidade e eram na maioria das vezes mais afastados da fachada com o intuito de proteção. Claramente decorativo, aparece aqui chapado ao volume e sem a menor intenção estrutural: é tímido e um pouco acanhado.


               Mount Vernon foi passada à Washington por herança paterna, que depois comprou de seu irmão a parte a ele destinada. Como único proprietário da casa e senhor absoluto das terras que a rodeavam, pôs-se a aumentar e melhorar a propriedade. Dessa forma a casa foi remodelada segundo a planta de uma Villa Palladiana. Dessa última intervenção a casa apresenta as arcadas quadrangulares da grande varanda dos fundos, a cúpula octogonal da cumeeira do telhado e o amplo frontão, triangular, ao centro da fachada principal. Em determinados pontos a casa sofreu uma maquiagem estética, para ocultar ou disfarçar algumas assimetrias originais da primeira remodelação, seguindo fielmente os ditames dos tratados ingleses de arquitetura. 
               Atualmente é um museu colonial que mostra um pouco da vida do ex-presidente. É também uma amostra de como vivia a classe dominante nos últimos tempos de colônia e nas primeiras décadas de país independente.


               A fachada da parte de trás da casa é voltada para o rio e possui um varandão com colunata que vence os dois andares da casa e apóia o telhado de quatro águas. É fácil notar no volume do telhado, cuja inclinação é repentinamente alterada, que a área avarandada é posterior à casa. Esta grande varanda auxilia a reparar os "defeitos" da antiga construção que não obedeciam à simetria palladiana. A casa era dividida em três pisos: o térreo para as salas e biblioteca, o superior para os dormitórios e o sótão para dormitórios e depósito. A cozinha, dependências para empregados e oficinas eram dispostos em dois anexos conectados, cada qual, ao corpo principal por um alpendre arcado e curvo. Os anexos locados perpendicularmente ao corpo da casa (um no lado direito e outro no esquerdo), assumem a idéia de pavilhões e ajudam a enquadrar o grande pátio de chegada.  

               Casa Gerorgiana: por volta do século dezoito o estilo mais freqüente dos Estados Unidos era o Georgiano com clara influência do Palladiano em voga no Reino Unido. Suas casas geralmente com formato retangular e planta baixa bem simplificada suportavam um telhado de quatro águas e grande inclinação. Suas aberturas, chaminés, águas furtadas e elementos decorativos tinham disposições rigorosamente simétricas.



               Apesar do estilo Georgiano ganhar seu nome por causa dos reis do Reino Unido (no período marcado entre os anos de 1720 e 1850), não são raras as referências palladianas em suas edificações. Aqui em grande destaque, dominando uma das fachadas laterais, aparece esta maravilhosa janela tripartida que ilumina a sala principal da casa. Esta janela, também conhecida por Janela Serlina ( Andrea Palladio e Sebastiano Serlio foram os responsáveis por sua popularização), apresenta um grande vão central coroado por um arco pleno, ladeado por dois outros mais estreitos e mais baixos com topo reto (lintel ou verga). Aqui ela ganha ares mais elaborados com adição de um frontão bi-partido e quatro colunas com almofadões em rebaixo. Esse estilo classicista vai ser a tônica dos novos e imponentes prédios federais da nova capital ianque. 
           Pena que os curadores do museu-fazenda, ainda não se deram conta de como o medonho (ainda que necessário) tubo de queda pluvial atrapalha e enfeia a visão da bela abertura, bem como a casinhola ao lado. Esta casinhola me parece a entrada do porão da casa, muito típica nos países frios da América, aberta diretamente ao exterior por meio de um lance coberto de escada. Existem duas delas, uma de cada lado da casa. Poderia ser uma só! Será que é original? O cano proveniente da calha certamente não é!


          Além da influência do estilo de Palladio, reinterpretado pelos britânicos e absorvido pelos jovens Norte-Americanos, este estilo arquitetônico guarda clara influência do Barroco, do Romântico e do Neoclássico.
          


               Ir até Mount Vernon é muito fácil e rápido. Para quem está na Capital Federal com tempo é um passeio quase que obrigatório. A pouco menos de uma hora de distância, percorrendo uma estrada agradável e tendo sempre o rio Potomac ("rio da nação") como companheiro, perde-se apenas uma manhã. Tido como um dos sítios históricos mais importantes do país, é uma página aberta ao passado muito bem editada e bastante didática. A casa além de ser uma aula de arquitetura, levanta muitas questões históricas: restaurada, muito bem conservada e mantida intocada em suas características, reproduz exatamente como era a vida senhorial do primeiro presidente (do país recém formado) e sua família nos domínios de sua propriedade rural. Há uma mini fazenda, pier, estábulos, oficinas e jardins. 






     Lá também está enterrado Washington, que repousa junto ao seu filho e esposa, em um pequeno mausoléu de simplicidade rara de ser vista nas terras do "Tio Sam".


O mausoléu.

               O museu é provido com uma estrutura enorme de apoio contendo vastos estacionamentos, restaurante, praça de alimentação, lojas, auditório, galeria de retratos e muitos locais para descanso e entretenimento ao ar livre.






Na fotografia anterior uma vista da mansão a partir do meio do leito do rio Potomac.

               Caso queira gastar mais tempo e visitar Alexandria, não é má idéia. Alexandria é uma cidade que guarda um bairro inteiro do período em que foi fundada no ano de 1749. Suas construções históricas são lindinhas e suas ruas inserem uma atmosfera cordial e pacata. Vale muito a pena descobrir os encantos desse endereço. A cidade é como se fosse o bairro de Georgetown em D.C. aumentado à décima potência. Muito legal. Aqui é também o local onde ergueram o George Washington Masonic National Memorial que também vale uma visitinha.



               Templo maçônico em Alexandria. O desenho lembra muito uma das versões atribuídas ao lendário farol da homônima cidade egípcia.


Escultura de George Washington no interior da grande nave do templo maçônico em Alexandria.

domingo, 14 de agosto de 2011

Casa Dançante - Ginger & Fred

               A Casa Dançante ou Ginger and Fred, como é mais conhecido o prédio sede da Nationale Nederlanden de Praga, é uma obra do arquiteto croata Vlado Milunic em cooperação com arquiteto canadense Frank Gehry. Levantado em um terreno de esquina na margem do  Moldava (Vltava) no centro da capital da República Tcheca, veio preencher em 1996 o espaço de um outro edifício arrasado no bombardeio de Praga em 1945. Seu audacioso e marcante projeto é datado de 1992.


               O grande mérito arquitetônico desse edifício está na singularidade de seu desenho. Único e inconfundível, transformou-se em mais um símbolo de Praga. Dentre todos os prédios dessa cidade, levantados no final do século passado, este é o mais emblemático e o que melhor representa os avanços e ousadias da época: mescla alta tecnologia, vários sistemas construtivos, competente cálculo estrutural e sofisticados materiais de acabamento em um projeto ousado e no mínimo corajoso.
               No plano urbanístico, seu mérito está na potente linguagem iconográfica, capaz de demarcar a área e arredores sob sua influência no contexto da cidade. No tocante ao bairro, confere modernidade e renovação, oxigenando e revitalizando a unidade de vizinhança. Já quanto à própria quadra, organiza o espaço, marca e ao mesmo tempo protege a esquina e sobretudo cria um fantástico ponto focal . É quase como um farol no inconsciente coletivo, que projeta ao longe seu foco de luz: avisa logo ao navegante que chega, que há um porto seguro cheio de história e tradição ao mesmo tempo que oferece à quem dá guarida, a perspectiva de descobrir algo novo ao fim do facho luminoso. Dessa forma assegura seu status de edifício símbolo em uma cidade cheia de ícones e marcadores urbanos.
               Quem o avista do meio do rio ou de sua outra margem, imediatamente faz conexão com o paralelo do farol. A forma fortemente cilíndrica no corpo que marca a esquina, encimada pela cúpula aramada e a alongada fachada texturizada com ondas, não nos deixam dúvidas. Interessante interpretação, de cunho meramente filosófico, visto que a República Tcheca é um país da Europa Central sem saída para o mar, portanto, sem tradição alguma na arquitetura de faróis. (risos). 


               Para mim o prédio é medonho. Muito feio mesmo. Mas não posso negar que o alcance geográfico dessa imagem é universal. Gosto é uma questão de repertório e formação, portanto, muito pessoal. Embora me agrade muito a idéia e o conceito por trás de todo o projeto, me perturba a finalização estética. A cúpula "descabelada" é na minha opinião o golpe mortal! O prédio tem um desenho grosseiro que destoa de toda cidade, salvo o leve "vestido de vidro". Deveria ser mais a cara de Praga que é quase perfeita. A cidade é um mostruário do que há de melhor, mais fino e sofisticado em todos os estilos que marcaram época. Nesse caso há uma ruptura na paisagem onde a sutileza cede lugar ao pretensioso Fred e à exibicionista Ginger.
                Em relação com seu entorno, responde muito bem volumetricamente, mas seu diálogo com o patrimônio histórico e artístico não é dos melhores. É posto que respeita as alturas dos imóveis ao lado (talvez uma imposição legal do plano diretor), mas para por aí. Desconsidera solenemente as linhas ecléticas do prédio rosado com o qual faz estrema. Dessa forma volta-se para o rio e dá as costas para o patrimônio mais antigo.


               O fato que comprova já ser um ícone de Praga é o número de pessoas que tiram seus retratos esmurrando o ar, como se estivessem golpeando a "cintura" da parede de vidro. Assim como muitos empurram ou escoram a torre de Pisa ou tentam segurar a Torre Eiffel pela pontinha, aqui a brincadeira gira em torno da silhueta da Ginger.


A bem humorada brincadeira da fotografia com o murro.


               É inegável que os arquitetos souberam transpor sinais do feminino e do masculino para a volumetria. Enquanto um corpo se expande e flui para baixo, o outro levemente se alarga para o alto. É o famoso positivo e negativo. O Fred suportado por um único e grosso pilar central assume contornos fálicos. Em contrapartida Ginger, que de forma muito feminina escorrega seus pilares ao limite do passeio público, é laçada e protegida pelo áspero e rígido volume protuberante.
               Inegável também é que captaram o momento exato de um passo de dança: o corpo de vidro parece reclinar-se sobre o ereto corpo cilíndrico num imaginário rodopio. "Rodopiar em uma esquina": nada mais poderoso que esta interpretação para um tecido urbano onde a rua vira pista de dança e os carros fazem a curva de forma sutil e compassada. A própria curvatura da rua que beira o rio acentua a idéia do giro.
               Por todos esses motivos o prédio é super interessante e deve mesmo fazer parte das obras a serem sempre estudadas, fotografadas e muito comentadas.
             A propósito: o apelido se refere ao famoso par de atores e dançarinos de Hollywood, Giger Rogers e Fred Astaire.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Barroco Alemão

 Um pouco do estilo Barroco encontrado na Alemanha


               Em linhas gerais entende-se por Barroco o estilo dominante entre os séculos XVI e XVIII, nascido na Itália pós Renascença e amplamente difundido no velho e novo mundo. Mas a exata cronologia entre seus surgimento, ascensão, declínio e fim é bastante dificultada em razão de serem reconhecidos vários de seus traços no Renascimento que o precedeu, além de ter seu fim adiado pelo Rococó, que guarda duas interpretações de críticos de arte, onde uma entende ser um estilo distinto enquanto outra o certifica como uma das formas de expressão do próprio Barroco.
                 Na Alemanha seu surgimento é tardio em virtude da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) que marca o fim da era medieval em solo germânico, mas nem por isso menos importante ou virtuoso. Com muita influência de seus vizinhos latinos o Barroco surge mais pesado e carregado no norte e mais leve e colorido no sul. Enquanto o clero tem por base as edificações religiosas e os preceitos da cúria romana os monarcas vão buscar inspiração nos palácios da França de Luís XIV. 
           Assim, o Barroco coincide com a retomada do crescimento econômico e cultural, pautado no florescimento de uma nova sociedade que recupera e desenvolve laços comerciais internos e externos, testemunhando um aumento demográfico significativo que oxigena antigos centros urbanos e faz nascer novos pontos de interesse comercial ou religioso.       

                 A seguir alguns lugares que visitei, apresentados de forma livre, sem nenhuma ordem lógica ou cronológica, onde pude ver pessoalmente o estilo Barroco na Alemanha. Iniciando pelo meu edifício predileto em solo alemão.          


1- Schloss Linderhof

               Comprado pelo rei Maximiliano II da Baviera em 1850, era inicialmente uma cabana de caça localizada em um afastado e agreste distrito no sopé das montanhas, ao sul da atual Alemanha, bem próximo à fronteira com a Áustria. Depois de herdada por seu filho, o rei Ludovico II em 1874, a original Königshäuschen (casa de campo real) foi transformada nesse pequenino, mas encantador palácio rococó.
               Entre montanhas abruptas do vale de Graswang, ocupa cerca de oitenta hectares divididos em diversos jardins ao estilo renascentista, parterres barrocos e um amplo parque ao estilo cotage inglês. Os mais próximos ao palácio seguem a versão mais rebuscada e formal e a medida em que vai-se afastando do pavilhão principal os jardins ficam menos formais. Esta transição entre estilos é bem sutil e bastante eficaz, pois cria um efeito "degrade" que começa com um desenho bastante elaborado e artístico e acaba na mata nativa. Legal. 


               Um aprazível jardim com fontes, estátuas douradas, vasos em bronze ou maiólica e canteiros inspirados nos modelos franceses, rodeia o palácio, separado por cercas vivas do restante do parque. Praticamente isolado no meio da natureza reúne outras construções reais como a Gruta de Vênus, o Quiosque Mourisco e o Pavilhão Marroquino. 


               A fachada principal do "Chalé Real" com a típica profusão de ornamentos do rococó, encimada pela escultura de Atlas carregando o mundo nas costas. Na  Alemanha, principalmente no sul católico, este estilo teve enorme aceitação no momento em que deixa de ser exclusivo dos edifícios sacros e é adotado em palácios e edifícios públicos laicos. Sem a necessidade de retratar passagens religiosas e não mais refém da estética católica, se liberta e amplia seu leque simbólico influenciado pelas linhas importadas do aristocrático e frívolo "rocaille" francês.
               Então, o Rococó é um movimento artístico surgido na França no momento histórico que precede o Neoclássico (também conhecido como setecentismo ou arcadismo). É interpretado como sendo a variação profana e ainda mais rebuscada do próprio Barroco, mesmo que os tons de rosa, azul e verde claros, arrematados com muito dourado em fundo branco, possam nos remeter a ambientes mais leves e iluminados. As talhas, relevos, desenhos e pinturas, espelhos, tapeçaria, mobiliário, estatuária e demais detalhes decorativos chegam às raias do exagero.               


               Sua fachada principal, sobre o maior patamar, tem à sua frente escada dupla de acesso ao jardim inferior. Por todos os lados as montanhas criam uma moldura extraordinária para o palacete branquíssimo. É uma verdadeira explosão de luz e cores coroadas com o luxuoso detalhe dourado das grades e esculturas nas fontes.



               Detalhes da fachada ricamente ornamentada com os elementos que caracterizam o Rococó: as linhas curvas, delicadas e fluídas assumindo um caráter lúdico.




               Outro ângulo da fachada barroca. Detalhe para as cariátides que seguram o balcão e para marcação externa que diferencia os dois pavimentos. O andar superior de uso exclusivo do rei ganha uma decoração faustosa enquanto que o andar de serviços tem um tratamento mais austero e limpo.


               O Parterre Ocidental é o jardim localizado à esquerda do palacete. Delimitado por cercas de treliça que por vezes se transformam em pequenos caramanchões clássicos, possui ricos canteiros de flores com buxinhos piramidais e almofadões gramados. Ao centro no quadrifólio do lago, uma imponente Fama, de zinco revestido com ouro, abre as asas e sopra um filete d'água. Todas as outras estátuas representam as quatro estações do ano.
                                        

               O Parterre Oriental: agora do lado direito da edificação, é dominado pelo grupo escultórico em pedra, representando Vênus e Adonis, simetricamente colocado ao centro do jardim e cercado por altas paredes de faias. A pequenina escultura dourada no centro da fonte circular é um encantador cupido que atira sua seta de água ao ar. Essa escultura é como o palácio: pequenina, mas com uma beleza imensa.  


Detalhes do Parterre Oriental com as janelas da sala de jantar ladeando o nicho com a escultura.


Acima, um ângulo mais fechado do projetado volume da sala de jantar.

               Em seguida uma visão bem aberta do jardim inferior com o grande lago em primeiro plano e as escadas em patamares que levam ao Templo de Vênus ao fundo. Ao centro desse espelho d'água está a fonte da deusa Flora, da qual jorra um único jato que alcança trinta metros de altura.


               A visão deste jardim desde o platô principal do palácio, mostra a essência do estilo barroco na arquitetura e no paisagismo. O conjunto das estruturas edificadas (templo, escadarias e terraços) somado ao desenho dos jardins tiram imenso proveito dos efeitos teatrais que seus volumes adquirem. A busca da dramaticidade a partir das sobreposições de planos, dos cheios e vazios e da rica valorização proporcionada pelos efeitos das luz e sombras é plenamente conseguida. As paredes lisas dos muros de contenção das escadas, evidenciam as proporções, a perspectiva e a geometria tão importantes neste estilo. 


O redondo templo classicista que protege a estátua da deusa Vênus situado no topo da grande escadaria.


                Acima a íngreme vertente norte com a cascata da parte de trás do palácio. ( situada no lado oposto da escultura de Vênus). Ao topo dela, um dos vários gazebos de treliça de madeira verde espalhados pelos jardins.  Esta escadaria de água com trinta degraus de mármore é vista das janelas do dormitório do rei.


                Abaixo a planta do piso principal destinado aos aposentos do rei. Totalmente simétrica a exemplo das plantas ritmadas de Borromini, é composta por quatro principais ambientes (distribuídos nos eixos de uma cruz imaginária) tendo o vestíbulo com a escadaria ao centro e complementados por seis outros ambientes de menores proporções. Os ambientes de destaque são o dormitório do rei, o salão dos espelhos, a sala de audiências e a sala de jantar.
               O salão dos espelhos mais a escadaria, bem como os jardins, são inspirados no Versailles. A admiração de Ludovico pelo "Rei Sol" era tamanha que além desse pequeno refúgio, mandou edificar outro maior ao estilo do palácio francês de Luís XIV.  


               Os ambientes da planta principal em sentido horário :

  1. Vestibül = Vestíbulo.
  2. Westliches Gobelinzimmer = Sala Ocidental das Tapeçarias. (Oeste)
  3. Gelbes Kabinett = Gabinete Amarelo.
  4. Audienzzimmer = Sala de Audiências.
  5. Lila Kabinett = Gabinete Roxo.
  6. Schlafzimmer = Dormitório.
  7. Rosa Kabinett = Gabinete Rosa.
  8. Speisezimmer = Sala de Jantar.
  9. Blaues Kabinett = Gabinete Azul.
  10. Östliches Gobelinzimmer = Sala Oriental das Tapeçarias. (Leste)
  11. Spiegelsaal = Salão dos Espelhos.




                   O salão dos espelhos é aberto para a grande fonte com a escultura dourada ao centro do grande espelho de àgua tendo as escadarias e otemplo de Vênua ao fundo, enquanto que o dormitório tem vista para a cascata da vertente norte.


               O quarto do rei, o maior aposento do palácio, situado no eixo central e voltado para o norte é iluminado pelo gigantesco lustre de cristal com 108 velas. Decorado com o "azul real" como fundo para o exagerado trabalho em talha dourada, tem um teto pintado com figuras mitológicas da antiguidade. Acima do leito aparece uma pintura do amanhecer representado pelo carro solar de Apolo.


               A sala de jantar de formato oval, assim como a sala de audiências, tem sua extravagante decoração baseada no vermelho. Nesta sala encontra-se o que pode ser o detalhe mais curioso de toda a construção. Trata-se da mesa de jantar do rei. Esta mesa é escamoteável, ou seja, ela abaixa até a cozinha no piso inferior. A mesa era posta no andar de baixo e depois içada até o nível da sala, permitindo ao rei, total privacidade.


               A sala dos espelhos: basta olhar para perceber o fausto dos ambientes internos. A ilusão das paredes revestidas com espelhos faz com que quase desapareçam, repetindo com eficácia a mesma temática utilizada na famosa galeria do Palácio de Versalhes. Aqui também são repetidas as proporções áureas dominantes nos palácios da realeza francesa.


2- Dresden
              
                Importante cidade às margens do Elba, Dresden tem sua história ligada há séculos e mais séculos de cultura, arte e tradição e mais recentemente a um fato de pura barbárie. Considerada uma das mais belas cidades da Alemanha, sofreu o maior de todos os golpes estratégicos da segunda guerra mundial. No ano de 1945, a capital do Estado da Saxônia foi totalmente arrasada por um cruel bombardeio aéreo que pulverizou um patrimônio inestimável de extrema beleza e requinte. A realidade é que esse devastador ataque poderia ter sido evitado, uma vez que a Alemanha já tinha perdido a guerra sem, contudo, oficializar sua rendição. Teve apenas um efeito moral sobre os nazistas. Foi o golpe fatal no Terceiro Reich.              


               Na foto acima estou sentado em um parque público, tendo ao fundo o Rio Elba e a região central de Dresden. Esta parte do sítio histórico é a porção mais rica e interessante de toda a cidade, onde estão concentrados seus melhores museus, mais importantes igrejas e os principais edifícios públicos. Dominando a cena à direita do pintor está a Katholische Hofkirche que é a maior igreja da Saxônia, inaugurada em 1751, em estilo barroco. Do lado esquerdo e sendo pintada pelo artista está a cúpula, da também barroca Frauenkirhe (Igreja da Nossa Senhora) Luterana.


Katholische Hofkirche


               A Igreja Católica da Corte Real da Saxônia é um exemplo extraordinário do estilo Barroco. Localizada no coração da cidade e elevada à condição de catedral em 1964, ainda é apontada como o mais importante templo cristão da Diocese Católica Romana de Dresden-Meissen. Suas obras de restauração pós segunda guerra, acabaram em 1980.
               Seu desenho muito original é também muito elegante: possui uma nave retangular com dois corpos sobrepostos e uma única torre que encima sua entrada principal. Sua fachada lateral tem grande influência do Barroco Italiano comprovada por suas paredes musculosas enriquecidas pela repetição ordenada das fortes pilastras de Ordem Colossal. Essas colunas enfatizam a verticalidade da obra arquitetônica amenizando e equilibrando suas formas (a princípio muito horizontais), imprimindo um ritmo unificador.
               Diferentemente da Igreja de Nossa Senhora, não possui cúpula e seu campanário decrescente, dividido em quatro seções que afinam à medida que sobem, coroado por uma agulha é seu ponto focal mais alto. Este campanário tem sua altura final aproximada ao comprimento do corpo da igreja, o que fortalece o equilíbrio do desenho.
               Já, o volume superior de sua nave tem um recuo muito marcante, que de certa forma, particulariza e dá a personalidade ao edifício; é em suma, sua característica mais marcante. Nesse corpo está o que em minha opinião é o detalhe mais belo da fachada, que consiste no conjunto das janelas tripartidas abaixo dos os óculos superiores. As janelas com o vão central em arco e os dois laterais retilíneos, posteriormente serão denominadas de Janelas Palladianas, mas possuem sua origem nos palácios de Veneza.
               Outros elementos muito característicos do Barroco ajudam na composição, como por exemplo: frontões de bases interrompidas sobre as janelas do corpo inferior, balaustrada coroando as paredes externas com função de platibanda, pilares com faces sobrepostas sugerindo o movimento de concavidade e finalmente o jogo de colunas soltas nos diversos andares do campanário. Mas dentre todos os detalhes externos o mais marcante é a enorme quantidade de estátuas de santos erigida sobre as baixas pilastras da balaustrada. A sensação que se tem, é que todos (as) os (as) santos (as) estão olhando as pessoas do alto da igreja. Um tanto opressor! (risos)


               Uma maravilhosa vista noturna da Katholische Hofkirche refletida em um dos espelhos d'água defronte o Zwinger. O contraste entre as diferentes tonalidades das luzes que iluminam a igreja e o restante dos edifícios históricos é um recurso exemplar de como a cidade pode ser vista e reinterpretada ao cair da noite. As superfícies bastante trabalhadas podem assumir diferentes aspectos em função das intensidades, tons e posições dos focos luminosos,  incorporando aspectos simbólicos muito potentes. A dramaticidade dessa paisagem é dada pelo destaque do prédio visto em primeiro plano, por meio da cor mais clara, acesa à frente de um conjunto arquitetônico palidamente amarelo, sobre o campo negro do céu.
  
Frauenkirche

               Abaixo a igreja de Frauenkirche que foi destruída pelos bombardeios aliados de fevereiro de 1945 e reconstruída, na primeira década do século XXI, de forma a sacramentar os tempos de paz. Resistiu durante dois dias, entre 13 e 15 daquele mês, quando ruiu completamente, vitimada pelo ataque aéreo da esquadra anglo-americana. Tudo o que sobrou dos escombros e pôde ser aproveitado foi numerado, catalogado e recolocado nos lugares de origem em um meticuloso trabalho de restauração promovido por arquitetos e historiadores que durou treze anos. Concluída em 2005, resultante de um esforço admirável do governo alemão, em resposta aos apelos da população, voltou a ser um dos marcos mais conhecidos de Dresden. 
               Construída entre 1726 e 1743 em estilo Barroco, diferenciava-se pela volumetria compacta dominada pela cúpula nada convencional para aqueles anos. Essa cúpula logo ganhou a denominação de "Sino de Pedra" e atingia inimagináveis noventa e cinco metros de altura e pesava incríveis 12.000 toneladas.


               As pedras escuras salpicadas por todo o corpo da estrutura são originais da própria igreja e antes de serem reutilizadas ficaram empilhadas no centro da cidade por quase quarenta e cinco anos. Carbonizadas em conseqüência dos ataques aliados, jamais perderam a cor esfumaçada e foram reaproveitadas dessa forma para promover a lembrança dos tempos de guerra.  O efeito que isso causa é impactante. Na foto em primeiro plano uma escultura em bronze de Martinho Lutero que sobreviveu à guerra.


               Os trabalhos de restauração da Igreja de Nossa Senhora tiveram início em 1993 tomando por base as plantas e desenhos originais de Georg Bähr, seu arquiteto, com auxílio de fotografias, arquivos, pinturas e demais documentos que registravam de uma maneira ou de outra as características e medidas da edificação. Sua pedra fundamental foi colocada em 1994 e os trabalhos se estenderam até o ano 2005 um ano antes de a cidade comemorar seus 800 anos de história.
                Assim como a Frauenkirche, os demais edifícios que rodeiam a praça principal de Dresden estão sendo recuperados ou reconstruídos com os benefícios da tecnologia e conforto ambiental modernos. Muito interessante o edifício curvo visto ao lado da Frauenkirche. Este bloco de prédios modernos acompanha a nova visão na maneira de reconstruir a cidade.
               Logo após o término da guerra e durante todo o período de administração russa imposto à cidade, os edifícios erguidos adotavam uma linguagem modernista e insípida característica da cortina de ferro. Pobres de sentimento e vazios de conteúdo eram retos, limpos, frios, austeros e desconexos com a cultura local, quase retóricos na tentativa de persuadir, doutrinar e propagar a publicidade feita com caráter político. Entretanto, após a reunificação do país, queda do muro, enriquecimento social e redemocratização de todos os setores da sociedade civil, a arquitetura volta a ser mais humana e regional.
               Assim sendo, por meio desse novo jeito de entender a urbes e sua arquitetura, podemos ver que a coisa mudou mesmo: tanto os prédios curvos vizinhos à grande catedral como os demais em seus arredores, reinterpretam as fachadas antigas que rodeavam a praça e a partir de fotografias e registros documentais voltam a compor a paisagem em uma roupagem moderna e atual, mantendo as mesmas linhas, proporções, ritmos, projeções, cores e gabaritos. São edifícios com o mesmo DNA. Fantástico! Percebe-se logo que são prédios que alinhavam o presente e o passado: boa base para o futuro.


               Acima, o altar que sustenta o órgão da Frauenkirche. Seu arquiteto Bähr interpretou o espírito protestante e inovou ao unir e colocar o altar, o púlpito e a fonte batismal bem ao centro da igreja, proporcionando uma ampla visão de toda a congregação.
               Seu interior é muito alto e fartamente iluminado pelas amplas janelas de vidro branco; sua decoração é bastante contida para o estilo que adota visto que é muito pobre em relevos e quase desprovida de estatuária; suas cores retraem-se numa palheta de tons pastéis e o efeito marmorizado domina as paredes compensando o discreto uso de dourados; seus vários balcões se sobrepõem e vencem a altura num jogo volumétrico agradável e sutil. 


               A face interior da cúpula de "Sino" vista do centro da igreja: pinturas simples em tons claros com predomínio dos rosas com cenas e imagens religiosas. A volúpia ornamental e os maneirismos barrocos são ceifados pelo caráter mais austero da religião luterana e o vigor da igreja fica a cargo de sua corajosa estrutura em escala heróica.

O Zwinger

               O edifício mais famoso da cidade de Dresden é possivelmente o mais belo de toda a Alemanha sob o signo do Barroco. Encomendado pelo príncipe eleitor Augusto, "O Forte", levou de 1709 a 1732 para ficar ponto.     
              Localizado muito próximo à margem do Rio Elba, tem como vizinhos dois outros "baluartes" históricos, que juntos, emolduram a Theaterplatz.  De um lado fica o prédio da ópera e do outro a Katholische Hofkirche.



                Vista aérea do complexo do Zwinger cujo nome significa interespaço. O nome tem origem em sua antiga condição de edifício locado entre as fortificações da cidade antiga. Atualmente o nome faz referência à praça central uma vez que os limites fortificados desapareceram. Com essa foto aérea é possível ver como o complexo se relaciona com o traçado da cidade e como é bonita sua forma.
              Originalmente o Zwinger possuía três lados e era orientado para a praça aberta ao rio (Theaterplatz) que alinhada com a praça interna formava um grande espaço público. Após a conclusão da Ópera Semper, o pátio foi fechado com a construção da grande galeria em estilo renascentista. Em virtude disso a fachada principal passou a ser aquela que é voltada para o canal artificial, no sentido contrário ao rio, sobre o qual foi construída uma ponte que transpassa o portão da coroa e acessa diretamente o ensolarado e amplo espaço interno.
               A nova ala ganhou o nome de Semperbau e o início de suas obras data de 1847. Ali foram instaladas a Pinacoteca (Van Dyck, Ticiano, Rafael, Vermeer, Rubens e muitos outros) e o museu histórico de armas e armaduras que cobre do século XV ao XVIII. 
               Os edifícios foram quase que totalmente destruídos pelos aliados em fevereiro de 1945. Sorte que a incalculável coleção de arte havia sido evacuada antes. Após vários anos, depois de terminada a guerra, um referendo selou sua restauração.


               Vista do pátio central com o Wallpavillon ao fundo. Este amplo espaço a céu aberto cercado em seus quatro lados pelos edifícios do conjunto do Zwinger já foi palco dos mais importantes acontecimentos políticos e sociais da capital da Saxônia. Serviu como praça para festivais, torneios e espetáculos pirotécnicos.


               O Wallpavillon. Há aqui uma mescla maravilhosa entre arte, escultura e arquitetura. É uma obra prima do Barroco que também ostenta a figura de Hércules no ponto mais alto do frontão.  A estrutura,  adotada para este pavilhão, com o domínio da forma arredondada ao centro de duas alas mais baixas será, doravante, uma solução típica do rococó alemão.


               É possível contornar 3/4 de todo o complexo por cima, ao longo dos terraços criados sobre suas galerias. Desses corredores descobertos é mais fácil admirar a implantação e o conjunto arquitetônico assim como alguns detalhes da rica fachada. Em determinados momentos da caminhada pode-se ter uma vista bem interessante de alguns pontos da cidade.



               Esse é o Glockenspielpavillon (é o pavilhão do carrilhão), que ganha esse nome porque tem, pendurado nas duas laterais da arcada janela central do pavimento superior, um conjunto de sinos de porcelana da fábrica Meisen. É também conhecido como pavilhão municipal. As esculturas que incrustam e decoram todas as fachadas do Zwinger são vitais para dar o tom de suntuosidade e coerência e unir todo o complexo em uma idéia global.



Um dos muitos vasos de flores esculpidos e colocados sobre a balaustrada superior.


               Certamente a característica mais marcante do Zwinger é mesmo o Kronentor com sua imponente volumetria. Do lado sudeste é encimado pela escura coroa com arabescos dourados e decorado com esculturas que simbolizam a primavera, o outono, o verão e o inverno.  


O Kronentor (Portão da Coroa) é magnífico.


Os famosos anjinhos de Dresden, pintados por Rafael na obra da Madona Sistina.


               Madona Sistina ou Madona di San Sisto: pintura feita por Rafael a pedido do Papa Júlio II para compor o retábulo da igreja de Sam Sisto em Piacenza. Pertence atualmente ao conjunto de telas da Gemäldegalerie Alte Meister (Galeria dos Velhos Mestres) de Dresden, que ocupa um dos pavilhões do complexo do Zwinger. Este museu guarda entre suas paredes um dos melhores acervos de arte da Europa.


               Comprada por Augusto III, filho de Augusto II, em 1754 para compor a coleção que posteriormente seria transferida para o Zwinger.
               Depois da segunda guerra mundial foi levada para Moscou onde permaneceu por uma década, sendo devolvida aos alemães pelo povo russo em 1955.
               Quando estive nesse museu, presenciei uma cena cômica:  sem conseguir achar a imagem dos moleques, mesmo que tenham passado pelo menos quatro vezes (que eu vi) pela frente do quadro, duas agitadas garotas (brasileiras!) corriam de um lado para o outro da galeria a procura dos famosos querubins. Já cansadas e receosas em não obterem sucesso na empreitada que, parecia àquela altura, impossível de ser realizada, resolveram parar e perguntar ao primeiro fiscal, onde estavam os anjinhos. Com a resposta veio a decepção! Não era possível que aquele par de moleques tão famosos, indiscriminadamente retratados em toda sorte de objetos mundo afora, eram meros coadjuvantes em um quadro! Como podia? Tão pequenos! A frustração era inversamente proporcional ao tamanho das lânguidas figurinhas. Pobres garotas, ainda muito jovens para entender a força e a importância das figuras aladas na composição e história do quadro.



3- Kloster Ettal

               Principal monumento da pequenina aldeia de Ettal na Bavária, próxima à Oberammergau, o mosteiro fundado em 1330 é um exemplar de primeira linha do estilo Barroco. Enorme, é composto por: uma abadia, várias casas de hóspedes, escola e internato. Deve seu nome à uma imagem italiana procedente da cidade toscana de Pisa chamada de Madona Ettaler.



               A igreja com sua grande cúpula. O desenho bem simétrico da fachada, difere somente em um pequeno detalhe: as cúpulas do par de torres são bem diferentes quanto ao formato, ainda que idênticas no material. Não possuo dados concretos que justifique tal diferença, mas percebo que a cobertura da direita possui elementos que dialogam com a grande cúpula e sua torre que sustenta o cruzeiro.
              

O interior da cúpula com sua pintura multicolorida.


               O grande lustre pendurado bem no centro do vão fica abaixo da linha das janelas, evitando dessa maneira a perda excessiva de luz artificial para o exterior. O tom amarelo domina o interior. As igrejas barrocas Bávaras, sempre escolhem um tom predominante, optando na maioria das vezes por cores suaves como o amarelo claro, o rosa claro, o verde água ou o azul céu.


               As delgadas janelas intercaladas por paredes com a mesma largura, criam ritmo, unidade e equilíbrio. O jogo de abertos e fechados confere ao interior adequada iluminação natural durante o dia (janelas) e reflete  luz interna suficiente durante a noite (paredes).






4- Asamkirche - Munich

              Tem esse nome por causa de seus construtores, os irmãos Asam. Ricos e proeminentes cidadãos de Munique, Egid Quirin Asan e Damian Asan Cosmas resolveram levantar uma igreja ao lado da casa de Egid, para uso privado, consagrada à São João Nepomuceno. Entre os anos de 1733 e 1746 não mediram esforços nem custos para construir uma das mais belas igrejas da região. O resultado foi sublime e gerou um enorme protesto por parte dos habitantes da cidade que exigiram a abertura das portas dessa igreja para a comunidade. Face, a esse acontecimento, a família Asan decidiu ceder o edifício ao uso público.



               Com sua particular fachada, fina, porém alta, dominada pelos dois arcos barrocos que se sobrepõem emoldurando o enorme pano de vidro (levemente arcado), esta maravilhosa igreja quase nos engana. Não fosse pelo grupo escultórico que atrai a visão para o alto e chama a atenção para o tema religioso, o pedestre passaria acreditando se tratar de uma propriedade privada de um rico fidalgo.
               Salvo da armadilha pela gigante e igualmente bela porta de entrada (sim porque por trás de tão belo portal algo de muito sublime deve acontecer!) o pedestre entra e não quer mais sair. Essa porta cujo vitral redondo completa o arco pleno e se estende na forma de um tímpano, acentua ainda mais sua verticalidade, efeito que mesmo presente na parte de dentro é mais sentido por fora, já que os exageros decorativos da nave confundem bastante o senso de planos e profundidades do observador.
              Em tons solares como o amarelo, vermelho e terracota, surpreende com a inversão cromática e luminosa que se encontra no lado de dentro. Se por fora seus mármores e dourados refletem as luzes do dia por dentro sua penumbra exala um ar de mistério e devoção.
               Por fim, coroada com um óculo no centro do frontão que repete as linhas do arco superior trilobado, sustentado pelas duas altíssimas colunas de linhas retas, dá poucas pistas do que reserva em seu interior.
             Essa obra rara da arquitetura sacra é mesmo assim: um pouco mentirosa! Mesmo tendo uma magnífica frontaria, com uma elegante composição, nada se compara ao seu interior.

              

               A fachada, rica em mármores e com sua porta em arco sustentando a imagem do santo padroeiro da igreja. Nepomuceno foi um monge da Boêmia que morreu afogado no rio Danúbio e teve sua canonização à época do término das obras. Essa porta-janela, que une as duas aberturas em uma só, ganhando muita esbeltez e evidenciando a altura é um passo além do Barroco rumo ao Rococó. Com um óculo superior (terceiro elemento de vidro) dando acabamento à composição da fachada, a luz entra pela única face de contato ao exterior da maior maneira possível. 



               Ao lado a casa de Egid Asan com sua fachada também decorada com elementos do rococó, ainda que em uma estrutura que foge ao estilo rebuscado da vizinha igreja. Mas, a saliente decoração de estuque, pintado de branco com notas de amarelo, confere ao corpo maciço do prédio, características típicas do barroco no sul da Alemanha: leveza, alegria e fluidez.
               O estuque  é um material de lenta solidificação e muita plasticidade o que permite ao artesão a modelagem quase perfeita de suas visões artísticas. Usado principalmente para ornamentação e acabamentos de interiores pode por vezes ser adicionado aos exteriores.
               Novamente a pouca largura da igreja chama a atenção e o alto vitrô é a única fonte relevante de luz natural de que o interior é dotado.


A belíssima porta que ocupa quase toda a frente da igreja.

 

               Por ter um interior muito escuro a janela com vidros amarelos sobre o altar da Asamkirche atrai imediatamente os olhares de quem entra. Logo depois vem o deleite de descobrir aos poucos todos os detalhes em ouro, prata, madeira talhada, mármores e ricas pinturas que se sobrepõem a todo o momento.
               Igreja de uma nave única leva a cabo todas as possibilidades técnicas e construtivas da época e esgota o repertório artístico do final do período barroco. Se não tratasse de um edifício de caráter religioso, diria que sua decoração é quase profana na maneira que busca e, por certo, atinge o ápice do ideal barroco.


               Uma característica muito particular desta igreja, reside no fato dela não ter sido feita por encomenda e sim exclusivamente pela vontade de seus proprietários, que em um espaço de 22m de comprimento por apenas 8 de largura obtiveram uma rara unidade de estilo. Sua rica ornamentação compensa a simplicidade de sua planta e dinamiza o espaço que apesar de pouco ventilado é bastante alto. Por meio de um corredor é unida com a casa ao lado, de onde, através de uma das janelas do dormitório principal, é possível avistar o altar.







5- Palácio e Parque de Sans Souci

               Localizado na cidade de Potsdam, o gigantesco parque de Sans Souci, ocupa uma área de trezentos hectares e abriga o palácio do Rei Frederico II do qual toma emprestado seu nome. Amigo de Voltaire e influenciado por suas idéias, o Rei, ansioso por deixar a corte em Berlim para residir em uma pequena quinta afastada da vida política, resolveu encomendar o que seria o primeiro de vários palácios.


               Frederico II constrói então o famoso palácio de Sans Souci no patamar de topo de uma antiga vinha. O nome que no idioma francês significa "sem preocupação", deriva também de Knobelsdorff cujo significado é despreocupado. Os parque, famoso pela quantidade de templos e pavilhões, é lindo e compete de igual para igual com qualquer outro da Europa.


               O terraço debruçado sobre os patamares em degraus da antiga vinha é a característica mais marcante de todas e confere à paisagem um tom maior. De todos os ângulos de que é vista, a composição paisagística é no mínimo teatral.



               O palácio não é muito grande, dividido em somente duas alas separadas por um bloco central encimado por uma cúpula em destaque. Com apenas um único andar, lançado diretamente ao rés do chão e com todas as aberturas iguais, teria tudo para ser desinteressante e monótono. Mas não é! Suas muitas cariátides e atlantes, aos pares entre as portas, ornamentam a amarela fachada caracterizada pela marcante horizontalidade. Mas o palácio não seria o mesmo, sem os vários patamares simétricos vencidos pela enorme escadaria.



               Contendo apenas dez salas principais e poucos aposentos de apoio, foi construído seguindo os desenhos de próprio punho do monarca. O nome gravado em bronze aparece no friso sobre a porta central. Mesmo que tenha desenho do Rei esse pavilhão lembra o Templo do Sol no Castelo Novo do Hermitage de Bayreuth. Será que ele desenhou os dois? Ou este é o primeiro e a fonte inspiradora do outro? Isso é para historiadores! (risos). 



Vista do jardim a partir de um dos terraços das antigas vinhas.


               A pequena mas exuberante Casa Chinesa, a meio caminho dos dois principais palácios, foi desenhada por Johnn Büring na segunda metade do século XVIII. É um dos vários pavilhões espalhados pelo parque e responde pela fantasia da corte européia em relação à China. Estes pavilhões, muito na moda, eram usados freqüentemente para guardar parte das vastas coleções de porcelanas e artefatos orientais acumulados pelos monarcas.
               Surge aqui mais um  pavilhão no estilo Chinoiserie, de cair o queixo! Esse  termo francês refere-se a toda decoração fatasiosa, cujo tema e abordagem sejam exclusivamente chinesas, ou seja, nada mais é, que a adição de  elementos estereotipados da cultura Oriental no Rococó ou outro estilo qualquer. Chinoiseries ganham em nosso idioma a nomenclatura de "Chinesices". 
              

Acima detalhe do Pavilhão de Chá  Chinês (1754-1757).  Abaixo o Palácio Novo.




               Frederico II ordenou a construção desse imenso prédio ao qual deu o nome de Palácio Novo nos limites do extremo oeste do Parque Real. Sua intenção era edificar uma suntuosa residência, para servir como instrumento político indispensável para firmar-se como importante estadista. Foi utilizado como símbolo da retomada do crescimento econômico, reaquecendo o setor da construção civil, abalado pela guerra da Silésia, absorvendo a mão-de-obra ociosa e qualificada disponível na ocasião. Esse prédio conta com 300 cômodos e suas paredes externas com tijolinhos aparentes assumem um tom rosado que dá fundo à decoração típica do estilo barroco. Suas obras duraram de 1763 a 1769.


              Considerado o último grande palácio barroco prussiano exibe toda a sua exuberância sem a menor cerimônia. É verdadeiramente impactante, como queria seu rei. Feito para impressionar e causar inveja, cumpriu com larga folga ambos os objetivos reais. Raramente utilizado como residência, foi palco de extravagantes festas e importantes cerimônias diplomáticas.







6- Kloster Rottenbuch


               A Abadia de Rottenbuch foi fundada para ser um mosteiro dos agostinianos no ano de 1073 nas terras do duque de Welf I da Baviera. Primeiramente erguida no estilo românico foi modificada no século dezoito quando adotou permanentemente o estilo barroco.


               Tenho a opinião de que o interior dessa igreja é o mais belo da "Rota Romântica", que inicia na cidade de Würzburg e termina na encantadora Füssen. A rota deve ser feita no sentido norte sul, para que o viajante tenha (o maior tempo possível) parte dos Alpes sempre à sua frente. É muito bonito descer a região e entrar nas mais diversas cidadezinhas, notando a cadeia montanhosa se aproximar lentamente. Vendo esse teto totalmente "confeitado" é fácil entender o porquê do nome da rota.




               Majestosa decoração do interior da Abadia com seus esplêndidos afrescos de autoria de Matthäus Günther arrematado por trabalhosos relevos de estuque de J. Schmuzer. Os tons de branco e rosa claro dominam a ambientação rica em dourados.


Decoração típica do Alto Barroco do sul alemão.


               O edifício base mantém as proporções medievais conservando sua nave e o transépto da era românica. A igreja passou incólume pelo período gótico mas, teve seu interior totalmente refeito sob os ditames do estilo rococó.


               O púlpito, bem como as demais figuras de anjos, o altar principal e seus quatro altares laterais são de autoria de Franz Xaver Schmädl.


Todo o conjunto ganha mais imponência com o órgão decorado por Schmädl e datado de 1760.


7- Bamberg

               Bamberg é a cidade alemã que mais gosto. É uma delícia se embrenhar por suas estreitas ruas da era medieval e andar por entre séculos de história, contadas pelos mais diversos estilos de suas construções. Com muitos atrativos é um lugar que demanda tempo e calma. Nada de ir com pressa, nem de visitar seus monumentos de forma atabalhoada e superficial. Ela exige cumplicidade e paixão.
               Muito bem preservada e célebre por sua excepcional riqueza artística é patrimônio da humanidade desde 1993.



               Conhecida como "Prefeitura Antiga", "Prefeitura da Ilha" ou "Prefeitura da Ponte", esse conjunto arquitetônico, claramente dividido em três diferentes partes, é responsável pelo mais interessante e dinâmico sítio urbano de toda a Bamberg. Sua localização no meio do rio, sobre uma ilha artificial, com duas pontes iguais ligando as margens por baixo de seu arco, cria um ambiente de magia. Existem dados de que está nesse lugar desde 1386.  
               A Rottmeisterhaus (estrutura com o madeirame aparente de 1688) fica bem próxima ao nível do rio Regnitz sobre uma estrutura de pedra que se afunila e cria o bico que corta as águas. A construção se equilibra com graça e coragem. Já a soberba torre barroca, demonstra maior segurança e altivez dando passagem e unindo as duas margens pelas Untere Brücke (ponte inferior) e Obere Brück (ponte superior).


               Detalhe do belíssimo balcão barroco sobre o arco que une os dois pontilhões. Este incomum lugar para erigir uma prefeitura é sustentado por uma lenda: frente à negativa dos bispos regentes em ceder um terreno para que os citadinos pudessem erguer a prefeitura, escolheram o leito do rio que separava a cidade alta da baixa e criaram uma ilha artificial. Originalmente em estilo medieval essa sede foi modificada entre 1729 e 1756.
               Entre as quatro aberturas sobre o arco destaca-se o brasão e escudo da cidade com São Jorge, o santo protetor da cidade.



Vista do balcão trabalhado em estilo barroco, do brasão da cidade e do relógio no frontão.


A passagem pelo arco da torre barroca da Altes Rathaus.



               Um mimo do artista: a figura do anjinho pintado na parede (sobre a fresa de pedra) tem uma de suas perninhas projetadas para fora. Este recurso de decoração que mescla pintura com escultura é raro em exteriores, embora comum em interiores. As paredes lisas ganharam uma pintura barroca em tons terrosos que as diferencia da torre, monocromática, executada com muitos relevos e detalhes.


Belo ângulo! O prédio, ainda que um pouco fora de esquadro, busca a simetria.



8- Würzburg Residenz

               O Residenz é um enorme palácio localizado na área central da cidade de Würzburg, situada na região administrativa da Baixa Franconia, Estado da Baviera. Foi mandado construir pelo Príncipe-bispo de Würzburg e por seu irmão entre os anos de 1720 e 1744.
               Rodeado por belos e elegantes jardins ocupa uma área com cerca de 16.200 m2 em uma implantação que adota um formato aproximado de um grande "C". Possui quatro pátios internos e um pátio externo aberto para a rua, chamado de "Cour d'honneur", anteriormente delimitado por uma alta e trabalhada cerca de ferro, não mais existente. Assim sendo, desde a remoção das peças metálicas, esse pátio faz parte do grande espaço voltado para o centro histórico da cidade velha em direção ao rio Main.




               Acima a fachada principal do Residenz com o Cour d'honneur. Este pátio aberto é totalmente seco e possui apenas uma fonte, chamada de Fonte Franconia, centralizada com a entrada principal do edifício. Por esse prédio passaram vários artistas e os mais expressivos arquitetos barrocos da Alemanha, Áustria e França.
               Severamente destruído na segunda guerra mundial, teve direito a uma meticulosa e importante restauração iniciada logo após o término dos conflitos.


               Abaixo a grande e famosíssima escadaria barroca, célebre tanto pelo seu tamanho como pela pintura que ostenta. Sua função extrapolou a de simples espaço de circulação e converteu-se em salão formal de recepção, muito por seu tamanho e mais ainda por sua riqueza de detalhes. Vencendo uma altura total de vinte e três metros é larga o bastante para servir de ambiente de audiência ou de festas. O responsável pelo belo desenho e grande vão foi o então arquiteto da corte Balthasar Neumann. Apesar de a pintura ser considerada uma jóia do Barroco Alemão, a escadaria já é uma representante do estilo seguinte: o Neoclássico.
               Dividida em três lances com patamares ao centro, proporciona uma subida confortável, contrariando a lógica imposta por seu tamanho. Além de confortável é segura, visto que não há quem a suba, desde a base até ao topo, sem tirar os olhos das cores do teto que contrastam com o branco dominante do restante.
               Seu arranque parte de uma arcada que a separa do hall inferior e sua chegada abre-se em um enorme ambiente retangular, circunscrito em si, rodeado por uma galeria repleta de portas e debruçada sobre uma balaustrada com vista para os tantos degraus de mármore. Dessa forma, a escada permanece isolada e adquire status e personalidade suficientes para competir de igual para igual com os soberbos salões do palácio.



No centro da pintura, bem no alto da chegada da grande escadaria, está divinamente retratada a Europa.
Essa escada supera todas as expectativas! É surpreendentemente mais bela que nos livros!
O branco das paredes prepara o olhar para a famosa pintura do teto.

               Enorme, a abóboda cobre uma área de 18 metros de largura por 30 metros de comprimento ininterruptos, sem nenhum elemento de sustentação, o que lhe rendeu na época fama e admiração pelo engenho da estrutura. Como se isso já não fosse o suficiente, foi encomendado ao pintor veneziano Giovanni Batista Tiepolo a pintura do soberbo afresco que cobre e decora todo o teto abobadado do recinto. Nele, o italiano retratou imagens dos quatro continentes conhecidos: Europa, Ásia, África e América. Cada região é representada por animais e por paisagens típicas, reinterpretadas nos padrões, sentimentos e crenças do artista. Dominando cada um desses quadros da enorme pintura, aparece uma altiva figura feminina ao centro. A América ostenta um óbvio cocar de penas coloridas e monta um enorme crocodilo; já a África aparece em um camelo e a Ásia monta um elefante. As alegorias são muito belas!
                Milagrosamente a pintura passou intacta pelos bombardeios que queimaram quase a totalidade do palácio. Depois de cessada a chuva de bombas, o que restou do Residenz foi somente o núcleo central, mas com algumas avarias. Os telhados caíram e deixaram vários tetos expostos ao tempo e às águas das chuvas, o que acarretou problemas estruturais sérios.
               Pouco antes dos ataques, houve uma retirada de grande parte dos ricos painéis decorativos que revestiam as paredes internas, junto com o mobiliário, tapeçarias e toda a parafernália decorativa dos vários salões que se espalhavam pelas três grandes alas da construção. Muito foi salvo, mas o que era fixo ficou  e foi destruído pelo impacto seguido de fogo. As perdas foram enormes, entretanto, a resistente abóboda da escadaria ficou intacta e provou ser forte o bastante, contrariando as opiniões dos mais céticos que punham em dúvida os desenhos de Neumann.


 A Europa por Giovanni Batista Tiepolo.
  



Acima as alegorias da Ásia, da África e da América pintadas por Tiepolo


               Acima o salão conhecido como Hall Imperial (Kaisersaal). Aqui os frescos das abóbadas também são de autoria de Giambattista Tiepolo. Não faltam nesse ambiente, materiais luxuosos e ornamentação suficientes, para exemplificar o fausto da época e a ostentação da Corte. Mas, os tempos de residência arquiepiscopal passaram e atualmente toda essa suntuosidade faz parte de um belo museu aberto a todos. A sala foi erguida entre 1737 e 1742 e sua decoração foi executada entre 1749 e 1753.
               O Fresco é uma técnica de pintura mural que consiste em trabalhar as tintas diretamente sobre uma área de reboco ainda húmida, ainda fresca, daí a razão do seu nome. Na medida em que o reboco vai secando, a tinta seca junto e vira parte integrante da parede, aumentando sua durabilidade e longevidade.

               Abaixo a capela do palácio (Hofkirche). No Rococó são raros os ambientes "mortos" ou com cantos deliberadamente desprezados ou sequer negligenciados. Não somente a decoração equilibra essa hierarquia, como as próprias, planta baixa e elevações que arredondam e articulam seus tetos, paredes, balcões e tantas outras circunstâncias arquitetônicas para permitir uma visão completa e uma relação plena entre indivíduo e espaço. A luz é tratada da mesma forma, beneficiada pelas grandes janelas e amplos espaços reflexivos. A sombra é sempre propositada, nunca por conseqüência da impossibilidade ou deficiência do partido arquitetônico adotado.






               Würzburg é uma cidade encantadora e o portão de entrada para a Rota Romântica. Cheia de atrativos guarda um patrimônio artístico de grande qualidade e beleza.  É cortada pelo rio Main que é vencido por várias pontes antigas das quais se sobressai a Alte Mainbrücke, que muito se assemelha à Ponte Carlos de Praga. 
                 Com origem nos tempos dos Celtas é uma cidade cujo primeiro registro de ocupação data de mil anos antes de Cristo. Sua universidade tem como data de fundação o ano de 1402 e seu mais famoso prédio (Residenz) é de 1720. Foi uma cidade que cresceu e enriqueceu aos poucos junto com sua consolidação política, força econômica e importância cultural. Tudo isso destruído em 16 de março de 1945, quando mais de 80% da cidade, incluindo igrejas, catedrais, palacetes, pontes, fortificações e todo o centro medieval da cidade velha ardeu em chamas matando mais de cinco mil moradores.
               Atualmente representa um grande destino turístico da região central da Alemanha, com boa rede de transportes, bons museus, boa rede hoteleira e atrações de primeira. Seu patrimônio artístico e arquitetônico é sublime e reserva boas surpresas ao visitante, principalmente em suas construções barrocas.


               A encantadora Alte Mainbrücke, com seus belos arcos e esculturas e a enorme Fortaleza Marienberg no topo do morro. Bem ao fundo no meio da encosta, está outra jóia barroca da cidade: a Käppele.
               A Ponte Velha de Würzburg foi levantada em 1473 para substituir a original da era românica que existia no mesmo local desde 1133. Essa ponte é adornada com estátuas de santos e de personalidades da história local.


Würzburg vista do alto de Marienberg. A Alemanha soube como preservar suas cidades!


               Vista da cidade velha com o rio Main em primeiro plano e o Residenz ao fundo. A St. Kilian Cathedral aparece no canto superior esquerdo da fotografia. A arquitetura muito harmônica do conjunto urbano deixa que os prédios de maior importância ganhem destaque vistos de longe. A escala adotada e o formato das coberturas com pouca variação de tom também são responsáveis pela bela visão panorâmica.


               A cidade velha com algumas de suas igrejas em destaque e o rio com a ponte velha e seus arcos de pedra. Mesmo os edifícios novos mantêm o padrão de altura e a mesma tipologia das coberturas de quatro águas em telha cerâmica. Não é de se espantar pelo pouco verde entre as casas, pois as cidades de origem medieval não tinham como preocupação a inclusão de muitas árvores no meio da cidade. Suas ruas muito estreitas não davam lugar para o plantio e o paisagismo era algo ainda muito restrito à elite. As próprias árvores plantadas ao longo das margens do rio são de porte mediano. Tais cidades mantinham em seus arredores grandes campos e muitos bosques que compensavam a falta de verde na área conurbada. Ainda hoje a grande maioria das cidades alemãs possuem um anel verde que as separa e isola. Principalmente as cidadelas. É comum também achar cidades cujo anel verde separa a parte histórica das partes mais modernas. Os maciços verdes surgem com força total justo na era barroca e na maioria das vezes emoldurando os edifícios da classe abastada ou da igreja, tal qual os jardins do Residenz.


               Panorâmica da cidade com o palácio Residenz na esquerda ao fundo e a Neubaukirche dominando a margem direita da foto. O grande aglomerado de árvores que aparece ao redor do barroco edifício do Palácio dos Bispos Eleitores de Würzburg faz parte dos grandes jardins que o rodeiam. O Residenz não é célebre somente pela bela arquitetura que ostenta, como também pelo patrimônio artístico que guarda. Seus ambientes internos são de uma riqueza difícil de superar e seu museu exibe peças extraordinárias de escultura, pintura, ourivesaria, prataria, porcelana, carpintaria e vestuário dentre tantos outros objetos de surpreendente originalidade e beleza.



9- Landsberg am Lech

               Uma das tantas cidadezinhas da rota romântica alemã, essa pitoresca e agradável pequena capital bávara guarda alguns segredos barrocos que são, infelizmente, ofuscados por sua recente história ligada ao nazismo. Aqui Hitler foi encarcerado durante os anos vinte e depois nesse mesmo local foram executados cerca de 150 nazistas criminosos de guerra. Na cidade foi instalado um famoso campo de concentração nazi que em 1945 foi convertido num campo de refugiados judeus.
                 Dividida entre as duas margens do rio Lech, a cidade ainda preserva uma grande muralha intacta de grandes proporções que circula boa parte de seu centro histórico, além de uma infinidade de riquíssimas fachadas e um número considerável de belas torres.

 Mas o que me agradou mesmo foi visitar duas excepcionais igrejas barrocas. Uma muito grande e austera e outra pequenina e despretensiosa. 


Atrás de mim em segundo plano a torre com o portal da cidade que dá acesso direto à sua principal praça em formato triangular e plano inclinado. 


Eu no centro da praça encostado na base de sua fonte barroca.

              Abaixo o interior barroco de sua catedral jesuíta, a que me refiro como a maior e mais rica: a igreja de Santa Cruz.


             Localizada na parte alta da cidade, em uma colina com vista para o centro histórico e para o rio, essa
construção barroca é digna de nota e desponta como uma das principais igrejas da região e uma das primeiras da ordem na Alemanha.
      Novamente mais um caso de uma estrutura com um exterior austero e simples cuja fachada monocromática e pouco decorada esconde um riquíssimo interior rococó. 
            Seu Altar Mor e seus retábulos seguem o estilo Barroco autêntico, exibindo uma intrincada talha coberta por um denso dourado envelhecido. Suas pinturas mais pesadas e bastante escuras provocam o celebrado contraste entre o claro e o escuro. Ainda que os super-entalhados pontos focais gerem áreas de maior importância e propositadamente pesem na composição, o restante do trabalho interno de decoração recai sobre o mais leve e claro Rococó.


             Nesse magnífico teto onde há uma explosão de cores em um desenho que exibe um enorme movimento e várias sobreposições, alimentando a ideia de altura e profundidade, a arte sacra alemã se exibe no melhor e mais extasiado rocaille
                   Suas molduras, criadas pelos espaços não preenchidos por imagens ou volutas, restando à mostra a alvenaria pintada de branco, exibem um estilo rebuscado e persuasivo, mais leve e fluente, clareando a palheta e vinculando ao estilo Rococó. Essa riqueza na policromia ganha leveza por causa dos tons pastéis predominantes além do tom dourado mais aberto. 

                 A pequenina é a Igreja de São João (St. John em Vorderanger) que fica na parte baixa da cidade com o rio em suas costas, um pouco depois da praça principal e quase em frente à sua vizinha de maiores proporções e importância, stadtpfarrkirche (igreja paroquial da assunção) cujo altar barroco também é extraordinário. 

                Com uma fachada muito simples de altíssimas paredes lisas, pintadas com um tom pastel muito desbotado, franqueada por detalhes de colunas brancas e vazada por apenas três janelões e uma porta, mantém a altura e testada em sintonia com suas casas vizinhas. Essa fachada pouco decorada a torna muito discreta e quase imperceptível em meio à esse casario de origem e proporções medievais.

                 Mas é internamente que ela se revela. Com um volume quadrado em um lote de esquina, ela por fora não dá ideia do belo ambiente oval que incere. Surpreendentemente o partido arquitetônico muda radicalmente no momento em que a porta de entrada é deixada para trás. O observador tem uma surpresa enorme quando se depara com um espaço cilíndrico totalmente oposto ao corpo que dialoga com o exterior.             


               Exibindo detalhes arquitetônicos e estruturais pintados com o mais límpido dos brancos (que emoldura suas paredes pintadas com um açucarado tom de verde), recepciona o visitante com um ambiente extremamente acolhedor e pacífico sem uma hierarquia espacial muito marcante. O verde não poderia ser mais adequado e faz acreditar que nenhum outro tom ficaria tão belo. Suas talhas e pinturas tem por base o mesmo alvo e iluminado branco e por fim recebe acabamentos em filetes e detalhes dourados que complementam e arrematam a rica policromia. 


              Projetada por Dominic Zimmermann em 1741, mesmo ano do início de sua construção, só teve seu término em 1762, ainda que tenha sido consagrada em 1754. Suas oito colunas internas formam o mais forte conjunto decorativo e o mais eficiente elemento organizador do espaço. Essas colunas dispostas em pares são muito típicas do estilo arquitetônico predominante na era barroca. Sua grande cimalha ressalta os detalhes e evidencia o formato do salão interno convertendo-se no mais marcantes elemento decorativo. Seus afrescos (atribuídos à mais de um pintor alemão) retratam passagens da vida de São Francisco.

10- Augsburg
          
         Augsburg é hoje a terceira maior cidade da Baviera logo após de Munique e Nuremberg. Fundada pelo imperador romano Augusto cresceu e prosperou durante a Guerra dos Trinta Anos. Possui atualmente um extraordinário conjunto arquitetônico e um patrimônio artístico de causar inveja. 
               A cidade é muito interessante e exige uma visão mais criteriosa e atenta, capaz de destrinchar suas enormes séries de fachadas que margeiam suas enormes avenidas e largos e que guardam exemplares de várias épocas e estilos. 
               Tida como uma das cidades mais antigas do país e berço de importantes famílias ligadas ao mundo das artes, Augsburg transborda em cultura e tradição. Dentre tantas personalidades e nomes de peso desponta o escultor Hans Reichle que é autor do conjunto de esculturas mais belo da cidade no qual representa o Arcanjo São Miguel em luta contra Satanás.
           Essa obra-prima, da escultara em bronze, domina a fachada do Augsburger Zeughaus, colocada de maneira teatral sobre seu principal portal.
             

               Projetado pelo arquiteto bávaro Elias Holl a partir de esboços de uma fachada barroca de autoria de Joseph Heintz, esse edifício foi construído entre os anos de 1602 e 1607 na área antiga da já importantíssima cidade de Augsburgo. Apesar de ser classificado como um bom exemplo do barroco, exibe uma alta ligação com a arquitetura renascentista italiana, onde é possível reconhecer em poucas linhas a influência dos traços da romana Gesú. Por isso alguns falam em Renascimento Tardio Alemão.  


Eu posando na frente desse magnífico prédio que foi, desde o início, sede do arsenal da cidade.


            Essas esculturas, fundidas à perfeição, são dignas representantes do estilo barroco, tanto em sua onipotência como em sua onipresença: o prédio, ao vivo, praticamente some por detrás, em razão do forte apelo e das gigantes proporções dessas peças de bronze. O observador de tão maravilhado com os querubins, santo e besta, perde a noção de que existe algo em segundo plano. 

              Colocadas sobre o portal em uma bem demarcada linha reta, que lhes serve de embasamento, elevam a visão para o o ponto mais alto e central da construção em um claro recurso de composição barroca, que exprime movimento e dramaticidade. Durante todo o período desse estilo a arquitetura serviu-se de muita ornamentação e decoração tridimensional, que na maioria das vezes brotava de seus planos e invadia o espaço a seu redor. Nesse caso, entretanto, vejo a única falha nessa conexão: as estátuas parecem muito independentes do prédio a que decoram. Digo que poderiam estar em qualquer lugar pois dialogam pouco com seu pano de fundo, a despeito da maravilhosa simetria arquitetônica a que respeitam e obedecem. Aqui se destinam mais a ornamentar do que a complementar a arquitetura.   

              O movimento é a característica mais marcante da escultura barroca que não permanece mais estática e assume uma atitude de maior personalidade e expressão.


               Vai aí um comentário maldoso: acredito que a cara de sofrimento de satanás deve-se ao fato do santo estar "pisando em ovos"... (risos)


Um artístico desenho perspectivado da majestosa fachada.
Lembra muito uma igreja.


Acima um desenho do grupo escultórico alemão em posse do Museu Britânico.
E abaixo uma imagem um pouco mais nítida retirada da internet.





11- Bad Tölz
          
         Cidadezinha ao sul de Munique às margens do Rio Isar, muito famosa por ser um local de peregrinação e um balneário de águas termais. Preserva seu traçado medieval ainda que a maioria de seus edifícios dessa época tenham ardido em um violento incêndio em 1453. 
                      O que se vê hoje são muitas fachadas do século dezoito decoradas com a famosa e encantadora pintura típica das casas da alta Baviera conhecida como Lüftlmalerei. Essa técnica é a versão do tromp-lóeil alemão. Várias casas daqui, assim como em outras tantas cidades, a exemplo de Garmisch-Partenkirchen e Mittenwald, exibem afrescos maravilhosos com motivos sacros ou laicos, sempre com uma vertente mais rebuscada, lembrando muito as linhas e cores do Barroco.  


               Na fotografia anterior uma perspectiva da Marktstrasse, que marca o centro da cidade e se comporta como pólo de atração sócio cultural. Nela estão a mais encantadora fonte da cidade e os mais gostosos cafés. Suas casas com frontarias altas e telhados de duas águas, coladas umas nas outras, formam seu mais difundido cartão postal.


               A cidade é bem bacana e preparada para o turismo que explora suas águas termais ricas em iodo. Sua pequena área antiga, cobre uma ladeira, fazendo com que algumas de suas ruas tenham um plano inclinado responsável por belas perspectivas. Nesse contexto, tem-se a rua do mercado, bem famosa e movimentada (na foto acima o museu da cidade com seu belo relógio) que desce rumo ao rio. 

            Mas seu expoente máximo do estilo seiscentista é a igreja de Kalvarienberg erguida no topo de uma colina a uma hora de caminhada e setecentos e oito metros acima da cidade.

              Por fora esta igreja não apresenta nada de muito impactante, mesmo que tenha alguns elementos bem interessantes como suas janelas em forma de quadrifólio e a pintura imitando mármores nobres. Como o mármore sempre foi um material de alto custo a pintura reproduzindo suas texturas e cores acabou sendo muito difundida em diversos estilos arquitetônicos. Aqui, como já citado anteriormente, o estilo recai sobre os ditames do tromp-loéil (literalmente significa "engana a vista"). O mais engraçado disso tudo é que com o aperfeiçoamento da técnica (que acabou exigindo uma mão-de-obra extremamente qualificada) esse recurso que visava o barateamento na construção acabou por se tornar tão caro quanto o uso de pedras verdadeiras. Sua manutenção também resultou mais cara,  restaurando os desenhos e acendendo as cores sempre que as tintas esmoreciam em razão do tempo.

               A fachada da igreja não é lá um primor do estilo, sendo na verdade sua face menos bonita. Suas portas são laterais e imediatamente abaixo das torres gêmeas antecedidas por um arco, orientadas para os peregrinos que sobem o morro. Essas torres sineiras também não são das mais belas e suas cúpulas são bem tímidas, mesmo que exibam os típicos telhados de bronze em forma de cebola ou Zwiebelturm


               Sua fachada é voltada para o despenhadeiro e aberta para o vale do rio. Vista de longe suas paredes predominantemente claras ganham bastante atenção em meio à paisagem. Com poucos detalhes as janelas assumem um papel de destaque e a pintura dota a edificação de grandes panos texturizados.


Abaixo um exemplo de pintura  Lüftlmalerei


Abaixo mais dois exemplos de pintura Lüftlmalerei: um chalé na localidade de Oberau e outro na cidade de Mittenwald.



 Outro em Mittenwald...




11- Füssen

               Uma fachada tão pequena e tão rica certamente se torna inesquecível.Isso acontece com a mais interessante de todas as igrejas de Füssen, ao sul da Alemanha. 


                 Essa belíssima fachada em estilo Rococó pertence à pequenina igreja do Hospital do Espírito Santo da cidade de Füssen (Heilig-Geist-Spitalkirche). Ostenta uma pintura muito elaborada com predomínio dos tons avermelhados que acompanha suas linhas e torna ainda mais clara sua subdivisão em cinco estágios: a base com pintura imitando alvenaria de pedras e dando suporte às maiores figuras do fresco seguida pela maior das quatro partes com sua enorme janela central que por sua vez precede o frontão que é sutilmente subdividido em três. 
                A parte de baixo do frontão exibe a Santíssima Trindade, com a imagem do Divino no óculo central enquanto sua parte mais alta se transforma em uma tímida torre sineira de dois estágios.
              Na parte maior e mais baixa das alegorias aparecem seus santos padroeiros ao ladeando o grande vitrau. Esses santos são Saint Florian e São Cristóvão que emolduram o elemento mais peculiar dessa fachada que é justamente essa grande janela em forma de shell. A concha é o mais eloquente símbolo do Barroco.
                  Outro recurso basilar do Barroco aparece nessa fachada: a voluta! Aqui, como na maioria das vezes em que aparece, atua com maestria a articulação entre as diferentes proporções dos estágios da fachada que se sobrepõem. Resolvem o rápido estreitamento da elevação com suas linhas orgânicas e suaves criando uma moldura potente que conecta tudo e cria um perfil uno. 



Seu interior claramente (perdão pelo trocadilho) barroco, exibe belos afrescos no teto e paredes. A imagem do teto em particular abusa da famosa perspectiva do estilo e traz as expressivas cariátides, outro forte símbolo, para o interior.


               Em seguida uma das fachadas do pátio interno do Kloster St. Mang, que teve suas instalações consideravelmente aumentadas (a partir de sua estrutura original da era medieval) e paulatinamente reformadas, até obterem a aparência atual. Ainda persistem algumas partes e detalhes arquitetônicos de outros estilos, como a torre da Abadia, com seu telhado pontiagudo, que aparece ao fundo. O conjunto da Abadia e seus prédios contíguos que antes formavam uma estrutura irregular, ganhou simetrias, eixos, volumes e hierarquias, suplantando a falta de detalhes e organização espacial que resistiram até a maior e mais significativa reforma iniciada em 1696 que adotou o Barroco como estilo. 


Volume central com linhas do Barroco Italiano, mas que me fez lembrar as edificações portuguesas.

Muito legal o efeito da pintura ilusionista que simula um balcão com balaustrada.