quinta-feira, 12 de julho de 2012

San Francisco Plantation

             

             Esta opulenta casa de fazenda do sul dos Estados Unidos da América é um dos melhores representantes da arquitetura da segunda metade do século dezenove em sua região. Considerada um clássico do estilo sulista, foi tombada pelo patrimônio histórico e artístico de seu país e classificada como sendo um importante representante das casas históricas norte-americanas.
              Situada às margens do Rio Mississippi, nos arredores da cidade de Nova Orleans, é passeio obrigatório para aqueles que estudam história ou arquitetura e uma boa opção para entender melhor como viviam os aristocratas latifundiários da era escravagista na America do Norte.
                   Construída por um rico senhor de engenho em 1854, portanto sete anos antes da eclosão da guerra civil americana que durou de 1861 até 1865, a casa é uma fusão de vários estilos e influências que resultou em uma mescla agradável aos olhos e que hoje desfruta, junto com outras sedes de fazendas, de renome mundial. 




                Lançada sua base muito próxima da margem do rio, foi erguida tendo sua fachada principal, com a grande varanda e porta principal, voltada para o importante curso d'água. Na época todos chegavam e saiam da fazenda pelo rio, que era a única via existente. Tudo era transportado fluvialmente desde mercadorias e suprimentos até pessoas e animais. Na época de sua construção a fazenda dominava grandes extensões de terras e não  existiam muitas estradas.  
                 Com estilo claramente Vitoriano, é representante de sua variação conhecida como Estilo Stick, ou ainda Italianate muito comum nos distritos históricos da capital da Luisiania. Este estilo também muito frequente na cidade de São Francisco traz também a denominação de "Painted Ladies", por serem, as fachadas das casas, pintadas com três ou mais cores que embelezam ou melhoram os seus detalhes arquitetônicos e seus muitos ornamentos. O estilo Vitoriano Italianate foi uma fase distinta do século 19 na história da arquitetura de linhas clássicas, impulsionado pelo revival do estilo renascentista, reinterpretado na América e reeditado em madeira. Este estilo historicista foi o preferido entre as classes dominantes sedentas de cultura e tradição em uma época de fartura e abundância.





De todas as grandes casas sede das antigas fazendas da região do estuário do Mississippi, esta pode não ser a maior nem mesmo a mais impressionante, contudo é a mais decorada e cheia de detalhes. É rica em acabamentos e filigranas e não poupa originalidade. Erguida entre 1849 e 1850, guarda ares da arquitetura colonial francesa que domina a área conhecida como french quarter, no centro histórico de New Orleans. Por fora parece um grande e confeitado bolo, mas os moradores locais preferem compará-la a uma embarcação parada na margem do grande e famosos rio. 
A casa retrata tanto em seu exterior como no esplendor de seus aposentos um momento histórico em que New Orleans era a quarta maior cidade do país, muito rica e cosmopolita. Situada em um ponto estratégico e sede de um dos mais importantes portos da América do Norte.  Seu interior, mescla vários estilos e é recheado com tudo o que de mais caro poderia entrar pelas vias comerciais das docas da cidade. Lustres de cristal, sedas, adamascados, bronzes e porcelanas dão acabamento a ambientes cujos tetos, paredes e portas exibem pinturas e relevos de grande valor artístico. Lareiras com frontões em pedra sustentam grandes espelhos que vencem o alto pé-direito da casa.




               Em primeiro plano, na fotografia anterior, vemos a interessante estrutura da cisterna. Na verdade são duas, cada qual em uma das laterais da casa. Respeita e segue o jogo de cores do volume principal mas difere completamente em suas linhas e estilo. Cilíndricas e quase que totalmente vedadas estes reservatórios de água ganham uma cobertura com forte influência oriental. O interessante é que mesmo distante respeita os níveis bem demarcados dos pisos da casa. Seu, arranque pintado de cor de rosa e com a alvenaria de tijolos a mostra marca o primeiro andar da residência ao rés-do-chão; em seguida o revestimento de madeira pintado de azul marca o andar principal e por fim a cúpula coincide com a altura do telhado e suas frisas ventiladas. As cores seguem bem fieis aos acabamentos: cinza para o telhado, rosa para a alvenaria e azul para o madeirame.




               A escada de dois braços com patamar intermediário, liga o jardim ao piso principal e quase esconde o piso inferior. É uma peça de grande impacto visual e bastante importante para a composição do todo. Abaixo do seu vão mais alto e bem ao centro do conjunto a entrada foi fechada com um portão de treliças de madeira. Muitos elementos vazados foram utilizados nos fechamentos dos mais variados vãos: treliças, venezianas, gradis foram colocados por toda a casa permitindo uma ventilação cruzada permanente e eficaz. Todos estes detalhes são respostas ao clima quente e úmido predominante nessa região do Golfo do México.







               Sem o belo varandão que a casa ostenta voltado para o rio, a fachada de trás é bem diferente da frontal. Apesar de chapada é muito bonita e tira partido do jogo de cores e dos seus detalhes decorativos (cimalhas, frisos, balaustradas, venezianas, cachorros, beiral, etc...). Totalmente simétrica chama a atenção para o simples volume retangular. Suas janelas de duas folhas de veneziana denotam a importância e hierarquia dos ambientes internos, sendo maiores e mais vistosas no andar superior e principal.
                 A porta ao centro, ainda que voltada para os fundos, sinaliza que não se trata de uma entrada de serviços e sim de uma entrada social menos formal do que aquela que tem acesso pelo alpendre da frente. Sua bandeira arcada (única forma arredondada em todas as fachadas), que toca o friso intermediário entre os dois pavimentos principais, sugere que foi introduzida tardiamente como sinal de status e poder e econômico em uma época, talvez, em que a chegada à casa não se desse mais apenas pelo rio.  




               A visão que se tem hoje da varanda difere daquela que se tinha na época áurea da casa. O talude que se vê gramado em frente é artificial e foi feito para conter as cheias do rio, que ao longo dos anos foi sofrendo com o ininterrupto assoreamento de seu leito e consequente aumento do nível de suas águas. Entre o dique artificial e a casa, passa hoje em dia uma rodovia estadual. As belas colunas em madeira frisada com bases e capitéis pré-moldados de ferro fundido são um espetáculo à parte. Além de sustentarem o belo friso, fixam a bela balaustrada rendilhada também em ferro. Nota-se aqui o uso irrestrito de linhas retas ao invés das curvas.


               


           Essa casa diferencia-se das demais casas das plantations desenvolvidas nas margens do Rio Mississippi no Estado da Luisiania. As demais assumem um ar muito austero e ostentam portentosas colunatas caiadas totalmente de branco. Enquanto nas suas vizinhas a luz solar é refletida de forma monocromática aqui acontece uma explosão de cores enriquecida pelos efeitos e desenhos das sombras desenhadas pelas filigranas de ferro e madeira. Na foto acima o detalhe do fechamento do sótão em venezianas de madeira (atrás da balaustrada que dá acabamento à cobertura suportada pelas delgadas colunas) separadas por cachorros esculpidos que apoiam o friso decorado da base do telhado.

               A porta principal, rodeada por vitrais, também é decorada com um par de colunas e um almofadão em forma de losango deitado ladeado por um par de estrelas de cinco pontas. Outras estrelinhas enfeitam a linha média do guarda-corpo que funciona como platibanda. O conjunto pintado em cores de azul céu e rosa claro, entremeados por um branco pálido, agrada e cria uma visão memorável.




                O telhado simples de quatro águas é dotado de oito mansardas colocadas duas a duas em todos os quatro panos da cobertura. Além disso traz dispostas simetricamente duas altas chaminés retangulares pintadas com o rosa pálido e decoradas com frisos clássicos.
                A linha de cumeeira é trocada por uma plataforma protegida comumente chamada de caminhada de viúva, que funciona muito bem como um mirante sobre o rio. Esse terraço descoberto, muito comum nas casas de época Vitorianas, tem sua base adornada por pequenas janelas com caixilho em losangos, tal qual as janelas das águas-furtadas. Note as cantoneiras decoradas do telhado.




                Mais um ângulo do telhado que mostra a caminhada de viúva. O nome é muito peculiar e bastante sugestivo, o que ajuda na sua memorização. Novamente as linhas retas dominam o cenário e as sutis ondulações que existem nas portas duplas das janelas das mansardas, formando um leve arco de estilo Otomano, bem como nos arcos Góticos Flamejantes das vinte e quatro janelinhas que circundam o maciço retangular do topo, dialogam com a cobertura de influência oriental da cisterna.
                

              Depois de desfrutar a visita guiada por uma jovem vestida a rigor (da época da Guerra da Secessão) e de ficar fascinado com todos os seus detalhes a conclusão é uma só: a casa é deslumbrante!



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