terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Lygia Clark no MoMa

          Se existe uma cidade no mundo que não desaponta e não cansa, essa cidade é Nova Iorque. Imensa e cheia de atrativos é um mundo a ser descoberto. Cada bairro revela segredos maravilhosos e a cada esquina uma novidade. Assim sendo, sua lista de museus parece inesgotável e existem para todos os gostos: dos mais exóticos aos mais tradicionais, daqueles com acervos valiosíssimos àqueles com acervos mais bizarros. Nesse mundo de exibições a Frick Collection, o Solomon R. Guggenheim Museum, o Metropolitan Museum of Art, o Cooper-Hewitt Museum, o Whitney Museum of American Art e o American Museum of Natural History são, juntos com o Moma, os mais famosos. Certamente que dentre tantos sempre haja um predileto. O meu é o Guggenheim (por razões óbvias)! 

          De todos eles o maior e mais completo é o Met, e por isso é o mais cansativo e o que demanda um maior número de visitas. O mais gostoso de ser visitado é sem sombra de dúvidas a Coleção Frick e o imperdível em todas as ocasiões é, com perdão à redundância, o Guggenheim. Já aquele que tem as mostras modernas mais interessantes e controversas é o Whitney (num dos mais interessantes edifícios modernistas da cidade) e aquele que sempre tem uma diferente e original mostra internacional itinerante de peso é o Cooper-Hewitt. Todos esses sediados em maravilhosos edifícios.

       Por querer visitar todos esses citados e outros menos conhecidos da Big Apple, mas não menos interessantes, é que demorei tantos anos para voltar ao seu museu de arte moderna mais famoso e importante: o Museum of Modern Art.

         Minha primeira visita ao Museum of Modern Art, carinhosamente chamado pelo abreviado apelido de MoMa foi em 1994. De lá para cá nunca mais voltei aos seus domínios, quebrando esse jejum somente vinte anos depois. Sofreu nesse intervalo de tempo uma reforma que alterou e aumentou significativamente sua estrutura mas, que infelizmente lhe roubou o antigo charme e o agigantou de forma incômoda. Fico pensando como era mais bonito e mais agradável naquela época em que lá estive pela primeira vez. Sorte que tive a oportunidade de conhecê-lo ainda com a cara de arquitetura modernista, com uma bela seqüência de escadas rolantes perfiladas em efeito cascata. Hoje, depois da ampliação que o remodelou em 2004, me parece mais confuso e com cara de museu qualquer! Claro! Seu acervo, cada vez maior, continua maravilhoso!  

            Feliz da vida e eufórico por retornar (e enfim conhecê-lo depois da reforma), tive a mais que feliz surpresa, depois de me desapontar com a estrutura arquitetônica pasteurizada, de encontrar no sexto e último piso de exposições uma mostra da nossa brasileiríssima Lygia Clark! 



          Muito abrangente e maravilhosamente montada pela curadoria de arte latino-americana da instituição, essa retrospectiva da obra da nossa artista Lygia Clark (1920-1988) foi um deleite. Primeiro porque, depois de vencida a surpresa, o conjunto da obra e a maneira como foi apresentada, transformou o que seria mais uma visita a um museu internacional em uma maravilhosa experiência. E segundo porque com os olhos freneticamente a procura de todos os detalhes, o sentimento patriota encheu o peito de orgulho, naquelas salas que eram naquele momento, território brasileiro. Gastei mais tempo nas salas recheadas com sua obra do que em todo o resto do museu. Gostaria de ter ficado ainda mais...

         O extraordinário conjunto foi exposto com muita clareza e reuniu importantes peças de coleções privadas brasileiras e internacionais (na maioria latino-americanas) que se juntaram ao acervo do próprio museu. Dessa mostra saí ainda mais consciente da importância ímpar dessa artista no panorama histórico das artes. No pouco tempo em que estive nessa mostra pude ver como o público norte-americano (acostumado com a vanguarda das artes) se mostrou receptivo e admirado pelas fases do neo-concretismo e da abstração na arte de Lygia. 

       A interatividade entre as pessoas (que tiveram a oportunidade de brincar com as esculturas mutantes muito características da obra da artista) e grande parte das peças exibidas foi o ponto alto, além é claro, da chance de apresentar ao mundo um pouco da boa arte produzida no Brasil.


Acima o retrato da artista fazendo arte.


Logo na entrada algumas esculturas bem orgânicas




No salão principal formas em eterna reconstrução!
Esculturas com vida!
Reflexos de luz mutantes...
Interatividade e formas efêmeras!

Por tudo isso a arte de Lygia merece nossa admiração e respeito.

          O prazer de rever as obras da artista nesse território de domínio universal, fez dessa mostra algo incomparável e provou mais uma vez que Nova Iorque realmente não desaponta!