segunda-feira, 11 de julho de 2016

Parasol de Sevilha




          A estrutura conhecida como Parasol de Sevilha é uma moderna cobertura com tipologia de grelha que cobre uma praça destinada a um mercado público no núcleo da zona antiga e histórica dessa cidade espanhola.
            Concebido a partir de uma inspiração prosaica (segundo seus idealizadores o formato de toda a estrutura teve como inspiração as cúpulas da igrejas da cidade a as copas de suas árvores), resulta em objeto inesperado e muito original, completamente diferente de tudo que já existe na cidade e no país. Com essa linguagem bem atual e bem característica da segunda década dos anos 2000, preenche um importante espaço público da mais famosa cidade da Andaluzia. 
           Sua maior parte situa-se em um vasto largo, aberto entre os maciços e antiquados edifícios de até seis andares que o rodeiam e serpenteia sobre uma rua de grande circulação e variado comércio. Com muita ousadia rompe os limites estabelecidos pela via de rolamento e avança ao outro lado da Calle Laraña, onde ocupa uma pequena parte aberta do quarteirão conhecida como Plaza de La Encarnación (ao lado da bela Igreja de La Anunciación) ou atualmente Plaza de Las Setas. Dessa forma, rompe com as linhas retas dominantes nos volumes edificados, introduzindo muitas curvas e planos ondulantes, conferindo, portanto, à área um ar mais orgânico e extremamente dinâmico. Com um formato que lembra uma colônia de cogumelos ou árvores estilizadas, dá um toque de modernidade e contemporaneidade ao tecido antigo e irregular desse região de Sevilha. 
        Desenhado pelo arquiteto alemão Jürger Mayer-Hermann em 2005, foi inaugurado em abril de 2011 resultando em uma das mais famosas imagens da arquitetura do início do século na Espanha e arrebatando diversos críticos de arquitetura e urbanismo que lhe deram muita notoriedade. 
         Jürger criou uma estrutura de treliças ortogonais que surgem dos seis troncos que brotam do solo e resultam em uma farta fonte sombra para a antiga praça. Inteiramente pintado de bege claro contrasta com a pátina antiga da cidade e com o céu inacreditavelmente azul do sul da Península Ibérica. Nos escaldantes dias de verão é um oásis de sombra e vento no meio do aglomerado urbano.
             Vencedor de um concurso público no ano de 2004, esse projeto para a revitalização e modernização da Praça Encarnacíon, virou um ícone da cidade e um dos pontos de maior atração turística. Colocou Sevilla novamente à frente da vanguarda arquitetônica em seu país.
        Mesmo que tenha sido construído em concreto, aço, vidro e madeira, exibe o status de ser a maior estrutura de madeira da atualidade, ocupando uma área de cerca de dez mil metros quadrados. Sua maior face atinge os 150m de comprimento, enquanto sua menor fica em torno dos setenta. A altura máxima que alcança leva a marca dos vinte e seis metros.
           Dividido em quatro pisos oferece à cidade uma área subterrânea que abriga um museu arqueológico, uma outra na cota da rua preenchida por estabelecimentos comerciais, uma praça elevada onde é feita diariamente a feira do bairro e por fim o topo da cobertura onde existe um restaurante e uma passarela com belvederes.


          Fico um pouco na dúvida quanto a seu resultado plástico. De baixo mais parece uma trapizonga desajeitada e perdida do que uma obra escultural de relevante valor arquitetônico e artístico. Não se relaciona muito bem com a cidade à sua volta. Nada faz com que o moderno crie vínculos com o antigo. 


          Não resta dúvidas de que seu formato orgânico e fluído produz belas perspectivas e de que seu quadriculado cria uma unidade fenomenal para um espaço público, mas, para por aí. 


          Diferente foi um dia, mas agora, de tanto repetirem estas grelhas nos mais variados objetos, sua tipologia me parece um tanto desgastada. Utilizada por todos os laboratórios e maquetarias de design técnico mundo afora, em incansáveis experimentos e toda a série de produtos, desde mobiliário e brinquedos até envólucros e objetos de decoração, essas grelhas de madeira já encheram o saco! Rsrsrsrsrsrs...  


Grandes cogumelos que mais parecem gigantes cortadores de batata!!!!


Um de seus pontos altos: sua tonalidade de bege claro faz um contraste lindo com o azul intenso do céu.



Em determinado ângulo uma bela imagem de fundo e figura. Uma moldura muito interessante!


          As largas escadas levam as pessoas do nível da rua para o nível da praça do mercado elevado. Essa proposta de suspender a plataforma que abriga a feira, talvez tenha sido o maior benefício para a cidade, pois dá mais segurança e graça à atividade comercial desempenhada nesse local e libera espaço para estabelecimentos comerciais ao nível da rua, como bares e restaurantes. 





          Uma coisa legal do projeto final é o uso de superfícies muito lisas e simples. Opção inteligente para uma estrutura tão dinâmica como essa. Realmente pisos decorados ou paredes muito elaboradas seriam demasiadas para o local. Gosto dessa simplicidade nos acabamento. Gosto também do contraponto escuro do subsolo.
            

O escuro subsolo com ares modernos e seu elevador com aparência futurista.
É pelo nível do primeiro subsolo que o visitante acessa o elevador que o leva até a cobertura.


          Se de baixo a estrutura me causou certo desapontamento e relativo descontentamento, de cima a situação se inverteu e um mundo maravilhoso de perspectivas se abriu bem diante dos meus olhos. O que era para mim uma trapizonga desajeita se tornou uma das coisas mais legais que vi na Espanha. Subir e andar em suas ondulantes passarelas foi o máximo.


Bem na saída do elevador o primeiro contato bem pertinho do trançado de madeira com rebites e peças de conexão em aço.


          Da cobertura se tem várias vistas da cidade em plenos 360 graus, desfrutados em um interessante circuito que tira proveito do desenho orgânico do prédio. Subindo e descendo pelas confortáveis e seguras passarelas que acompanham a forma da cobertura, o visitante vai desfrutando de toda a ousadia do projeto ao mesmo tempo que vê a cidade do alto. 



 

Muita luz e muitos efeitos de sombras...



Os altos e curvados guarda-corpos, em estrutura e tela metálicas, não obstruem em nada a vista.
O largo tabuleiro das passarelas alterna planos, rampas e escadas. Mesmo assim é muito confortável.


Acima, parte do grande mirante do complexo. 


          Abaixo um exemplo de como a cobertura impõe-se no urbano: além de sua massa quase opressora, seu sombreamento é inevitável. Na verdade é proposital. Para a praça não resta dúvidas de que o benefício é de cem por cento. Mas o que pensar em relação aos prédios vizinhos? Em termos plásticos a cobertura cria desenhos lindos e dinâmicos com suas sombras. Mas me causa dúvidas se tais recursos de arquitetura e engenharia são realmente benéficos ao entorno. 



As fortes ondulações da grelha.


Abaixo outra visão do mirante sobre a cobertura do restaurante.