FLATIRON BUILDING
Fletiron
ou
Fuller
Building.
O ano era 1902 e Nova Iorque já
se consolidava como metrópole de influência mundial, quando o Fuller Building
fôra inaugurado. Meca dos multimilionários do aço, do petróleo, dos transportes
e toda a série de indústrias que alavancaram os Estados Unidos da América ao
patamar de liderança mundial, a cidade de forma natural redesenhou seu skyline,
trocando as fabulosas mansões do século dezenove por edifícios tão detalhados e
sofisticados quanto. O crescimento da megalópole se dava tanto horizontal
quanto verticalmente. A medida em que os bairros de luxo foram desbravando as
terras do norte as antigas propriedades dos ricos e famosos foram dando lugar à
torres cada vez mais audaciosas, puxando toda a vizinhança rumo ao
desenvolvimento que faria essa cidade se autoproclamar a mais cosmopolita do
planeta. É nesse contexto que se enquadra esse edifício. Símbolo de um período
de franco sucesso da cidade marca o momento em que esse fenômeno urbano-social
se fixou.
Considerado por muitos o prédio mais
belo do início do século em toda a cidade, foi implantado em um dos cruzamentos
mais célebres da época, numa aguda esquina entre a Broadway e a Quinta Avenida. Na verdade essa volumetria triangular não é e nem nunca foi uma exclusividade dessa esquina, na verdade se repete mundo a fora, inclusive na própria cidade de NYC mas, por alguma razão difícil de ser explicada esse prédio, dentre tantos outros dos mesmo estilo e época, alcançou fama local, regional e por fim mundial. É sem sombra de dúvidas muito bonito e domina com invejável altivez a área onde se encontra já que, por hora, não foi engolido pelos novos arranha-céus que despontam a cada dia em toda a cidade. Ao seu redor ainda é possível ver um pouco de céu.
Se é ou não o mais bonito, isso seria inútil discutir, mas é sem sombra de
dúvidas um dos mais queridos e aclamados. Sua influência é tamanha que desde
sua construção, nomeou toda a região ao seu redor de Flatiron District. Sua
fama iniciou por se tratar de um dos edifícios mais altos da época e por marcar
uma zona de comércio para senhoras. A cidade não parou mais de crescer a largos
passos e na medida em que os anos passaram sua altura foi suplantada, mas não o
bastante para abafá-lo frente ao maciço urbano que se instalou. Bem pelo
contrário, manteve-se graças à ótima perspectiva que tem a partir da Madison
Square Park, que garante, ao observador, uma vista completa do prédio potencializada
pela impressionante perspectiva de sua esquina. Outro fator de muita relevância
reside no fato de se encontrar ilhado no pequeno quarteirão, sem nenhum outro
imóvel a fazer-lhe extrema. Rodeado por largas e movimentadas vias é admirado
de todos os ângulos possíveis, até do alto de outros edifícios.
Desenhado no estilo Beaux-Arts,
seguindo a tendência ainda ditada por Paris, que consistia em criar edificações
muito suntuosas, com inequívoca influência dos clássicos estilos históricos, suas
fachadas passam uma ideia que pende mais para uma cópia do estilo Renascentista
Italiano do que qualquer outra coisa. Entretanto, a liberdade eclética da
ocasião se fez presente e não o poupou de ter incluído em seu corpo, vários
outros detalhes de estilo gótico. Nessa época o gosto pessoal do financiador da
obra era preponderante e isso tornou a cidade uma vitrine de reinterpretações
ora magníficas, ora catastróficas dos mais diversos estilos pertencentes à épocas
e lugares longínquos. A Nação, ainda jovem, não tinha desenvolvido nenhum
estilo arquitetônico próprio e mantinha-se refém dos ideais clássicos do velho
mundo. Dessa forma as fachadas do Fuller Building seguiram a moda, mas, felizmente
o resultado desse prédio foi feliz.
O que chama mesmo a atenção, a
despeito de suas muito bem trabalhadas fachadas, é seu formato. Por ocupar a
totalidade do lote triangular, na convergência das duas famosas vias, ele
ganhou as alturas reproduzindo em seus pisos os exatos formato e tamanho do
lote. Eis que surgiu um prédio triangular com uma esquina muito aguda com
apenas dois metros de largura, marcando seu vértice com cerca de vinte e cinco
graus. Em razão disso, antes mesmo de serem retirados seus tapumes a população
já o conhecia pelo apelido de Fletiron (ferro de passar roupas). Tanto seu
formato, quanto sua privilegiada localização mantiveram-no no topo de todas as
listas dos prédios mais famosos de Nova Iorque desde a sua inauguração.
Com vinte e dois andares, somando
cerca de oitenta metros de altura (praticamente um anão nos dias de hoje),
exibe três fachadas quase idênticas divididas em oito seções horizontais que são
entendidas pela sobreposição de uma alta base, dividida em três partes bem
marcadas, um corpo central bem definido composto por doze de seus andares e um
topo bem detalhado subdividido em quatro outras partes. Há quem veja nessas
fachadas o esquema formal de uma coluna grega, influenciado pela arquitetura de
Chicago, liderada por Sullivan. Para mim é certo exagero ainda que suas fachadas
possam ser divididas em três partes distintas como base, fuste e capitel.
Nenhuma das três fachadas tem a
mesma largura: a maior é a que fica voltada para a Broadway, seguida pela
fachada da Quinta que parece pouca coisa menor. A terceira e última que fica
voltada para a Rua 22, é das três a menor, equivalente a menos da metade das
outras duas.
É um edifício de fachadas em calcário
e terracota vitrificada com alma e estrutura metálicas. Incluído no Patrimônio
Histórico e Cultural Norte Americano no ano de 1989, já era tombado pela cidade
desde a década de 1960. Sofreu uma grande restauração no início do século XXI,
que manteve seus interiores inalterados, ainda que projetos para transformá-lo
em um hotel de luxo estejam sempre na pauta.