Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia
MUBE
Memória da minha juventude e da minha época de estudante, esse volume baixo, longo e aparentemente sem janelas, de uma impressionantemente proposta "avant-garde", sempre me causou curiosidade quando passava pela Avenida Europa! O tempo passou e o edifício se mantém muito atraente desfrutando de suas originalidade e qualidade arquitetônica. Para ele o passar dos anos só contribui com sua majestade.
Exibindo a assinatura de Paulo Mendes da Rocha, o prédio do MUBE é sem sombra de dúvidas um dos mais belos edifícios que abrigam museus em todo o mundo. É também a melhor síntese da arquitetura modernista paulistana do século passado. Eu diria que é a "cara de São Paulo" da segunda metade do século vinte. Sim, com suas indefectíveis paredes e demais estruturas em concreto aparente, seus fechamentos em grandes panos de vidro, sua extensa pavimentação externa em petit pavé (pedra portuguesa) nas áreas abertas em contraposição com o cimento alisado que domina os interiores e principalmente seu enorme vão livre! Vãos livres são mesmo a tônica desse audacioso e impressionante projeto.
Andando por ele vemos a razão pela qual o arquiteto foi orgulhosamente laureado com o Prêmio Pritzker de Arquitetura em 2006: mais que merecido!
Localizado em uma das principais esquinas da área mais valorizada da Capital Paulista, em meio à mansões dos mais variados estilos, faz lembrar ao eclético conjunto arquitetônico (de modelos importados) qual a verdadeira essência da arquitetura brasileira. Faz isso com maestria e de forma sutil e educada. Não se impõem à nada e ergue-se discretamente como uma poesia concreta rodeado de esculturas e refletido num magnífico espelho d'água.
Segundo seu autor o museu deveria ser visto e entendido como um amplo e aberto jardim dotado de uma generosa sombra sobre um anfiteatro ao ar livre. Partindo desse pressuposto assim se dá todo o desenvolvimento formal do projeto que resulta numa estrutura baixa e longilínea determinada por uma enorme cobertura retangular apoiada em apenas duas grandes paredes em suas extremidades. Essa espécie de "mesa" abriga, portanto, um grande espaço aberto em cujo meio se destaca um anfiteatro de linhas modernas com vista para o jardim de esculturas. É um espaço generoso e de uma beleza sem par.
Dividido em dois pisos (aproveitando o declive natural do terreno que resulta numa diferença de cotas entre a avenida Europa e rua Alemanha que chega à 4m (quatro metros), o projeto dota a instituição de dois espaços completamente distintos e muito bem aproveitados pelo acervo exposto. Trata-se de um parcialmente enterrado no lote em contraposição à outro inteiramente livre, alinhado pela cota mais alta das curvas de nível. Assim o piso inferior, fechado e introspectivo, contrapõe-se ao piso superior que assume uma identidade completamente distinta comportando-se tal qual uma grande praça aberta para a cidade. Essa praça ganha ainda maior flexibilidade de opções ao incorporar a grande laje de cobertura e o espelho d'água. Com esses dois planos de linguagem bem contrapostas, a curadoria amplia suas possibilidades e pode tanto exibir esculturas em seu interior como em seu exterior. A versatilidade que o projeto oferece pode também fazer com que as mostras de arte ganhem outras proporções aproveitando o espaço aberto ao céu, explorando as manifestações e fenômenos naturais, pelos artistas convidados exibindo obras estáticas, cinéticas ou instalações de qualquer natureza. Um local onde pode-se por exemplo brincar com o fogo e a água, com o vento e o sol, com grupos dos mais diversos tamanhos ou apenas com um único indivíduo.
Temos então, um edifício que nos oferece duas formas distintas de interagir com a arte e com a cidade com um roteiro que mesmo passando do aberto para o fechado não nos causa nenhuma ruptura visual ou impacto sentimental. A circulação se dá de forma agradável, confortável e amistosa.
Grandioso e ao mesmo tempo acolhedor, tira de suas linhas rigidamente retilíneas seu maior trunfo: a leveza! Como um material tão áspero e bruto, que é o betão armado aparente, pode compor uma estrutura tão elegante e fluída? A resposta para essa pergunta está na corajosa estrutura protendida que vence inacreditáveis sessenta metros de pura liberdade!
Sua arquitetura, que segue a Escola Paulista, tira proveito dos materiais aparentes para introduzir uma ideia de simplicidade, onde não cabem muitos detalhes ou qualquer tipo de ornamentação, resultando numa linguagem muito apropriada para um espaço de exposição.
Concebido e erguido nos finais da década de oitenta insiste na linguagem áspera e crua que bebe na escola brutalista europeia, muito ao gosto dos arquitetos dessa época, solidificando a linha projetual de um grupo paulistano de vasta cultura e muito elitizado. Essa opção pelo estilo limpo de qualquer afetação ou exageros, no qual a estrutura torna-se protagonista e as formas arquitetônicas atingem seu ápice, mostrou-se fundamental para o sucesso do projeto. Aqui, onde a forma tem seu valor explicitado, a maneira como funciona e se comporta é também ressaltada. O cálculo estrutural sofisticado e as técnicas construtivas adotadas tornam-se parceiros da arquitetura na admiração do observador: o prédio por si só já é uma escultura.