A casa, uma legítima representante do modus vivendi da alta burguesia londrina da era georgiana, data de 1788 e foi desenhada no estilo setecentista com uma típica frontaria de tijolos vermelhos sobre uma base de cantaria clara. Com forte simetria, exibe seu imponente pórtico centralizado na fachada; fachada essa que ostenta um ritmo severo e uma uniformidade na distribuição de suas aberturas de caixilho branco e pouco trabalhado. Como de costume à época, sua composição externa é severa e pouco ornamentada, o que lhe dá um aspecto mais refinado cuja discrição é quebrada apenas pelas grandes proporções do prédio e pela luxuosa presença de um jardim frontal. O volume envidraçado ao centro do segundo pavimento (que na minha opinião destoa um pouco da fachada) e imediatamente acima do portal de entrada é posterior e encobre o que antes era uma enorme janela palladiana. Possivelmente a antiga forma dessa elevação era mais bonita que a exibida atualmente.
No período Georgiano, compreendido entre os anos de 1700 e 1800 e conhecido como a época de ouro da arquitetura clássica no Reino Unido, muitos de sues ilustres projetistas, como Sir Christopher Wren e Robert Adam, foram estudar arquitetura e belas artes na Europa continental e de lá voltaram com fortes influências francesas e principalmente italianas. Com o imaginário enriquecido pelas linhas do Palladianismo e do Classicismo Greco-Romano, alavancados ao topo da moda pelas recentes descobertas das ruínas de Herculano e Pompéia, traduziram em solo Inglês um estilo que somado à fleuma e austeridade britânicas deu origem à uma forma menos robusta e um tanto despretensiosa de compor a simetria e os planos ao projetar.
Por dentro a coisa muda um pouco. A tão propalada austeridade dá lugar ao extremo requinte com rara riqueza de detalhes e sobreposição de elementos. Uma sucessão de grandes cômodos forrados com os inevitáveis adamascados de cores fortes e vibrantes, com acabamentos em madeira ou estuque brancos, embasando uma leve talha dourada e repletos do mais requintado mobiliário, deixa o visitante perplexo. A soberba coleção de obras de arte e a exibição de um conjunto de peças decorativas de alto valor e raridade completam o cenário.
De cara, logo na entrada, o enorme Hall de distribuição que encerra a grande escadaria. Dele parte-se para todos os ambientes do núcleo original da casa, tanto no andar de baixo como no superior, dos quais tem-se acesso às partes anexadas em ambas as laterais, para exibirem a grande coleção, que se unem no fundo do terreno na parte reservada à grande pinacoteca.
Doado para a cidade de Londres no final do século dezenove e aberto ao público em 1900, mantém seus cômodos exatamente como deixou sua última proprietária e viúva do magnata Sir Richard Wallace. Legado à comunidade sob a condição de ser mantido exatamente como era na época em que servia de residência para a família, mostra como viviam os muito ricos da época. Todos os ambientes foram conservados com sua elaborada e sofisticada decoração clássica.
É muito bom quando nos libertamos da necessidade de visitar os imensos e cansativos museus detentores de todos os recordes e passamos a nos dedicar a achar verdadeiras pérolas escondidas no emaranhado das cidades. Esses pequenos notáveis é que me conquistam. Essa coleção representa o que há de melhor nessa categoria. É certamente um museu para ser visitado diversas vezes e nunca ser esquecido. Nele podemos desfrutar a calma de apreciar como se deve uma boa peça de arte. Ir e vir, repetir os ambientes e escolher verdadeiras obras-primas como suas peças favoritas. Aqui temos essa oportunidade, o que não significa ser uma tarefa fácil, pois temos à nossa frente o melhor de Velásquez, Frans Hals (e muito do barroco holandês),Watteau, Fragonard, Delacroix, Peter Paul Rubens dentre outros tantos.
Em meio aos diversos quadros de Rembrandt (seis ao todo) esse auto-retrato é o mais significativo, ainda que não seja o mais importante. As obras primas se somam aos tantos tesouros da propriedade. Porcelanas francesas de Sèvres (uma das maiores coleções do mundo, dentro e fora da França) e da alemã Meissen ficam parcialmente expostas em notáveis móveis franceses dos séculos XVIII e XIX. A mobília também apresenta peças de origem italiana, alemã, holandesa e inglesa.
Abaixo outro Rembrandt pendurado na grande pinacoteca, construída especialmente para abrigar a grande coleção trazida da França pelo mecenas. Antes de ser comprada por Sir Wallace, a casa serviu de embaixada para a Espanha e França e era significativamente menor. Sua área teve que ser bastante aumentada para acomodar o imenso acervo do colecionador que transferiu de um país para o outro.
Algumas galerias onde são mostrados os artefatos bélicos com destaque ao conjunto de armaduras.
O enorme acervo de armaduras e artefatos de guerra medievais, se iguala (ou até supera) à outros muito importantes como o do Museu Britânico e o do Metropolitan de Nova Iorque. Parece que era a verdadeira paixão do Sir Wallace, tamanha a importância dessa ala. A galeria de arte, edificada nos fundos da mansão, especialmente para receber a imensa coleção de pinturas, também impressiona.
Armaduras góticas! Um espetáculo!
Por fim, abaixo, uma imagem da longa pinacoteca.
É isso! vale a dica!
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