quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Hospital De La Santa Creu I Sant Pau

HOSPITAL DE LA SANTA CREU I SANT PAU
ou
HOSPITAL DA SANTA CRUZ E SÃO PAULO


          A grande maioria das pessoas que visita Barcelona, fica tão entusiasmada com as incomparáveis obras de Gaudí, que acaba indo embora sem desfrutar de outros tesouros arquitetônicos que a riquíssima cidade exibe. Cumprindo a "tabela", inicia a visita em meio às edificações antigas e marcos góticos de seu tortuoso bairro medieval, passando por algumas poucas praças, igrejas, ramblas e mercados, terminando o trajeto entre a linha costeira e as instalações de suas feiras e olimpíada. Em seguida o visitante, que já se dá por satisfeito, destina especial tempo à cata das pontuais obras do mestre catalão e busca por último as belas paisagens oferecidas pelos pontos mais altos do relevo. Mas Barcelona é muito mais que isso! 

        Uma obra em especial é negligenciada pelo turismo, ainda que desfrute de grande reconhecimento e figure no topo das obras modernistas da capital da província. Mas sua importância não acaba aí, sendo de grande expressividade no panorama nacional e internacional. Essa impressionante obra é o conjunto arquitetônico do Hospital da Santa Cruz e São Paulo.

       Financiada pela generosa doação de recursos, feita pelo banqueiro Paul Gil e projetada inicialmente por Lluís Domenèchi I Montaner e concluída por seu filho, também arquiteto, Pere Domenèchi I Roura, foi construída entre os anos de 1902 e 1930, para ser a nova sede do tradicional hospital da Santa Cruz.  


          Essa nova sede se fez necessária pela falta de condições em restaurar e ampliar a antiga. Sua mudança de local era uma questão prática, impulsionada pela abertura de novas fronteiras para os limites urbanos de Barcelona. O terreno escolhido proporcionou uma liberdade projetual que satisfez os ideais dos curadores, mecenas e arquiteto.
          Sua atual configuração física é uma soma de três estágios de construção, que foram feitos para readequar suas instalações às novas necessidades da sociedade local. Esse maravilhosos conjunto de prédios é distribuído de maneira a aproveitar o declive natural do terreno e ocupa uma enorme área que equivale a nove quarteirões da cidade.


         Do portão principal, que se abre para o jardim frontal e fica alinhado com a torre do relógio e seu pináculo, o visitante já deslumbra um prédio espetacular que propositadamente lembra uma igreja. Nesse primeiro momento o edifício informa de maneira bastante clara que ali a arquitetura é bem diferenciada. A escadaria monumental desse jardim domina o cenário e cria uma base bastante ampla e limpa que eleva o prédio e lhe confere a magnitude necessária.
        No jardim, apenas um campo verde de médio porte e duas palmeiras que acentuam a rígida simetria. Na escadaria, uma pequena fonte com escultura que enfeita e dinamiza o acesso e imprime um ar formal. Na fachada, as duas alas laterais que emolduram a torre central e abraçam o grande espaço aberto, orientado para a esquina e para a Sagrada Família, agigantam as proporções e valorizam o conjunto.
        Por se tratar de um hospital católico a linguagem adotada para a frontaria principal é claramente sacra. Parece mesmo uma igreja: portais em arcos com pequenos tímpanos, detalhes com cara de gótico tardio, relógio, torre vazada com carrilhão, pináculo e cruz! Uma fachada perfeita para uma catedral. Apesar de ser Modernista (ou Art Nouveau!) possui elementos que poderiam encaixá-la no estilo Eclético, como os já citados elementos góticos que fazem clara referência ao bairro mais antigo da cidade. 


          Localizado no bairro de El Guinardó, muito próximo à principal atração da cidade, a Igraja da Sagrada Família, é considerado o maior expoente da arquitetura modernista catalã a ponto de ser tratado pela UNESCO como patrimônio cultural e artístico mundial.  

          Desrespeitando, propositadamente, as formas organizacionais do traçado da cidade ao seu redor, a implantação do conjunto hospitalar baseia-se em um eixo disposto a quarenta e cinco graus da malha urbana, inclinando a circulação entre as diversas unidades em uma diagonal que divide o lote em dois triângulos.


          Nas duas fotografias aéreas colhidas na internet (acima e abaixo), fica clara a implantação dos diversos edifícios componíveis do conjunto, em um muito forte eixo central que acompanha a inclinação natural do lote e valoriza a esquina. Esse eixo tem início no prédio administrativo que abraça a grande escadaria monumental e recepciona seu visitante. Nele estão o magnífico hall de entrada e algumas salas de uso formal e social. Alinhados a este primeiro prédio e estabelecendo uma clara hierarquia de importância, estão dois outros prédios que marcam o meio do jardim central e o final do eixo monumental, com formas e volumes próprios. Para complementar, os demais blocos, num total de oito quase idênticas construções, são perfilados em duas linhas, frente a frente, emoldurando a grande alameda inclinada.


          O uso quase escultórico das formas construtivas e arquitetônicas levantadas sobre uma implantação estudada a partir de um sistema de fácil circulação e livre comunicação entre um pavilhão e outro, fez desse projeto algo único e inovador para a época. O enorme espaço central, onde abundam árvores frutíferas e canteiros ajardinados, significou grande evolução nos quesitos de higiene e saniamento da arquitetura hospitalar. Não restritos apenas em criar uma ambiente mais convidativo e humano, muito importante para ao reestabelecimento do paciente, os autores e o cliente decidiram ir mais além, imbuídos da intenção de criar um ambiente moderno e de vanguarda, tanto na área da arquitetura como na área da saúde.

          Dito como sendo uma cidade dentro da cidade o complexo não detém mais suas funções originais. Após quatro anos de restauro e renovação, passou a ser utilizado como centro de fomento cultural. Seus cerca de trezentos e cinquenta mil metros quadrados, que foram durante quase oito décadas utilizados como hospital, estão agora a serviço tanto da instituição proprietária como de toda a comunidade.
          Testemunha da expansão da velha Barcelona, protagonizada pelo plano de Idelfonso Cerdá (que levou o tecido urbano além das fronteiras das antigas muralhas e aumentou consideravelmente a capacidade dos bairros adjacentes), traz até nossos dias um conceito de bem estar muito presente entre nós mas, que fôra  em seu tempo, corajosamente inédito.
          As áreas abertas, que ainda hoje, permitem a entrada de muita luz solar e vento e seus pavilhões separados entre si por vários jardins, propiciavam aos pacientes um ambiente agradável com boa umidade, sombras adequadas, ar puro e muito silêncio. Esse espaço que hoje serve para o entretenimento cultural e a contemplação, nada lembra os costumes daquela sociedade que sofrera duramente, quarenta anos antes de sua construção, com uma terrível epidemia de cólera.


          Com o desenho da implantação mostrado acima, fica fácil entender como os prédios foram lançados no terreno e quais pertencem a cada uma das quatro etapas de construção. Em verde, aparecem os prédios mais antigos, com a assinatura do célebre arquiteto Lluís Domènech, erigidos entre os anos de 1902 e 1922; já em verde mais claro e cítrico, a segunda etapa assinada por Pere Domènech, após a morte de seu pai, entre os anos de 1922 e 1926 e em ocre a terceira e última parte dos edifícios modernistas (agora com estilo clássico) também executada por Pere entre os anos de 1922 a 1929. 
          A maior massa, pintada de vermelho (que toma a esquina de cima à direita), corresponde à quarta e última fase de construções, executada recentemente no início desse século. Com linhas muito diferente dos prédios concebidos nos primórdios do século passado, é produto de um grupo de arquitetos que foi chamado para desenvolver um novo edifício compatível com a tecnologia e os atuais avanços da medicina, a exemplo de como ocorreu anos atrás. Ainda que muito moderno e com ares de grande arquitetura, não tem muita graça. O que interessa mesmo são os prédios construídos pelos Domènech, com claro e especial destaque às unidades feitas pelo pai.
          Projetados, portanto, nas primeiras duas décadas do século vinte, exibem o arrojo da época traduzido em um estilo denominado de Modernista, executado basicamente com vermelhos tijolos aparentes em conjunto com magnífica ornamentação. Incontáveis peças escultóricas, intrincado trabalho de cantaria, exemplar uso de vidros coloridos e extraordinárias peças de carpintaria são somados a um número enorme de painéis e detalhes em mosaicos e azulejos policromados, arrematados com baixos e altos relevos.
          Internamente, sua decoração se mostra ainda mais elaborada e multicolorida, explodindo em belíssimos vitrôs que ajudam a tornar seus pisos, tetos e paredes ainda mais belos e originais. Em relação à época em que foi concebido e executado, suas linhas podem também receber a denominação de Art Nouveau, ainda que muito diferentes daquelas imprimidas por seus contemporâneos ao redor da Europa. Na verdade o Art Nouveau na Catalúnha assume linhas bastante próprias carregadas de muita personalidade e grande força.

          Na implantação pode-se perceber, pelos nomes dados aos pavilhões, que havia uma divisão dos prédios destinados aos internos do hospital. Dividia-se em dois lados distintos: um para homens e outro para as mulheres. Ainda que o hospital fosse de uso misto, os gêneros permaneciam separados, como ditava o costume da época. Do lado direito, os pavilhões masculinos ostentam nomes de santos e do lado esquerdo os femininos com a mesma correlação. Isso era levado tão a sério que até o acesso ao prédio principal era feito por duas diferentes alas, cada qual para um sexo específico. Pacientes mulheres para a esquerda, homens para a direita e visitantes ao meio.


Lindíssimas as elevações e demais estruturas arquitetônicas.
Riqueza de detalhes e primor na execução e acabamentos.


Acima, parte da grande alameda central com grandes espaços de circulação e canteiros ajardinados.
A escala dos edifícios é enganadora pois, mesmo que relativamente baixos, assumem um ar de incrível monumentalidade.


Acima o lado de dentro do primeiro e maior prédio do conjunto.

         Esse prédio é conhecido como a sede da administração do hospital. Nele estão os mais belos interiores e o hall de entrada formal com sua bela escadaria. Nele também se encontram diversos gabinetes e salas de reunião e um auditório que serve inclusive como sala para conferências. Hoje em dia encerra o arquivo histórico da instituição, considerado um dos conjuntos documentais mais importantes da área hospitalar em todo o país e referência em toda a Europa. Seu acervo cobre toda a sua história a partir do século XV.
         Desse ângulo o corpo central ganha mais destaque por causa do recuo de suas alas laterais, onde estão os gabinetes e a biblioteca. O volume com as arcadas domina o panorama e se eleva ostentando um vitral com uma enorme cruz latina. Na verdade essa fachada interna é um mero rebatimento da elevação principal voltada para a rua. Excelente recurso para orientar seus usuários marcando de forma contundente a localização do vestíbulo de entrada.


          Virando-se para o Norte, a partir da fachada de trás do prédio da administração, vê-se a primeira parte da grande alameda central, dividida em duas pelo prédio das salas cirúrgicas. Essa alameda sofreu uma modernização depois da grande reforma promovida em 2009.

        O desenho da fachada do edifício das salas de cirurgias repete a receita do seu par maior: exibe frontão triangular coroando seu robusto volume central, dois corpos laterais com telhados mais baixos, andares claramente separados em faixas, aberturas com arcadas, ornamentação com ares góticos e total simetria em corpos de tijolos vermelhos. Sua pouca altura é compensada pelo leve aclive do piso.  


          Acima e abaixo, respectivamente, a fachada anterior (orientada para o sul) e a fachada posterior (orientada para o norte) do edifício das salas de cirurgias. Lembrando mais uma cabana de caça real do que um prédio onde os pacientes eram submetidos à procedimentos cirúrgicos, se eleva magnanimamente no centro de todo o complexo, assumindo clara importância na hierarquia do hospital. Aqui o estilo também ganha notas de arquitetura sacra, reafirmando a vocação e origem religiosa do hospital, formado no ano de 1401 pela junção de seis hospitais locais. Seus adereços e decoração com um toque de neo-gótico se misturam a linhas claramente orgânicas do art nouveau, com destaque para as aletas do alpendre central que também servem como arranque para a escada. Nota-se que a rigidez da composição é amenizada com o revestimento e seus detalhes.


          Os curvos panos de vidro e caixilhos escuros, sinalizam os locais das salas de operação desse belo pavilhão. Os recuos e avanços formados pela volumetria do prédio permitem a entrada de luz solar em todos os recintos, de acordo com a filosofia de bem estar presente no projeto. Suas grandes paredes de tijolos avermelhados fazem belo contraste com as superfícies de vidro e as "saias" de telhas cerâmicas. Dele, em virtude do uso, exige-se maior austeridade formal, tanto que seus elementos alegóricos não são tão eloquentes como os exibidos nos edifícios a sua volta. A forte simetria e o jogo de maciços são os elementos mais importantes da arquitetura nesse pavilhão, que a despeito dos demais (extremamente decorados), exibe um aspecto de maior importância, muito em razão do seu ar mais contido e elegante.

             A primeira vista pode parecer estranho um hospital ser concebido com pavilhões isolados, mantendo sua sala cirúrgica, seus laboratórios, almoxarifados, cozinha, farmácia e demais dependências, separados fisicamente. Mas isso não acontece aqui, pois todos os corpos edificados são interligados por uma vasta rede de túneis subterrâneos. Esse engenhoso recurso, que constitui para mim, na mais interessante característica arquitetônica do projeto, permite que os volumes fiquem soltos no lote (comportando como unidades autônomas) e ao mesmo tempo unidos entre si por circulações confortáveis, práticas e muito seguras. Assim a sala cirúrgica, que ganha posição estratégica na implantação físico-espacial, fica bem ao centro e quase equidistante de todas as alas de tratamento, correspondendo extraordinariamente às expectativas estabelecidas pelo fluxograma e respondendo de forma positiva ao exercício e a implementação de uma medicina hospitalar de vanguarda. Outra grande vantagem desse partido é a eliminação de muitas circulações cruzadas, uma vez que pode-se acessar aos prédios tanto por cima como por baixo, o que facilita muito no momento do abastecimento, limpeza e manutenção.

Na foto abaixo um ângulo de um dos diversos túneis.


          Na sequencia: voltando ao interior do prédio principal, antes de continuar a percorrer os espaços externos. Na verdade a visita começa por aqui, nesse incrivelmente belo foyer


          São muitos os detalhes decorativos com inspiração no estilo neogótico, muito popular na Europa do século XIX, como as nervuras do teto abobadado da grande escadaria formal. As linhas góticas se repetem na em algumas talhas, pinturas e estampas por todos os ambientes, bem como linhas que poderiam pertencer à outros estilos históricos. Por isso, acho muito difícil reconhecer um estilo em especial a ponto de encaixar esta arquitetura no art nouveau. Para mim é eclético, mas para a crítica especializada é Modernista. Mas o que importa é que é muito original e extremamente lindo.


          Muito lindas as mísulas que seguram os pilares soltos. Essas peças que brotam das paredes dão muito movimento e um caráter bastante cenográfico, que culmina com o teto em meia abóbada decorado com liernes e seu vitrô em cúpula. Percebe-se aqui, nos campos decorados dos tetos, a presença do nouveau, ainda que muito da decoração tenha linhas do estilo mouro, absorvido séculos antes, pelo gótico ibérico. A cúpula de vidro é muito Art Nouveau, mas o desenho do teto lembra uma abadia neogótica.



          Essas enormes mísulas, com formato e tamanhos fora do comum, muito orgânicas e com uma decoração floral, leve e fluída, introduzem novidade e modernidade ao conjunto, a medida em que respondem pelo estilo do início do século vinte... lindíssimo detalhe!



O extraordinário poste no patamar: testemunho do maravilhoso trabalho em ferro.
Lindo, lindo, lindo, brotando de uma base com mosaico cerâmico: bem Barcelona!


Paredes em listras, pedra rendilhada, ferro trabalhado, mosaicos, vidros coloridos, talha em gesso...
Materiais nobres muito bem aplicados, proporções muito harmônicas, palheta de cores muito agradável...
Luz, sombras, reflexos...
Falta algo?
Não!



          Esse teto em azulejos cor-de-rosa me conquistou! É a prova suprema de que não existe algo feio e sim mal ou bem empregado! O trabalho de revestir essas pequenas abóbadas com essas peças vitrificadas, num padrão de espinha de peixe e exibindo uma cor tão suave foi arrebatador! 


No teto, brasões e a data da obra. 
Esse teto é a parte interna que mais me remete ao estilo Modernista ao qual a obra está vinculada.


          No portal em linhas neogóticas uma cena bíblica ladeada por duas figuras de religiosos homenageados.
Do lado direito um padre e do esquerdo uma freira, repetindo a divisão entre feminino e masculino utilizada na distribuição dos pavilhões. Decoração com cogulhos, cúspides e balaustrada rendilhada ao redor de um quase arco conopial... No alto janelinhas com arcos trifoliados... muito neogótico!!!!! 


Ricos detalhes em mosaicos cerâmicos decoram muitas das paredes internas desse prédio.


Peças com relevos em conjunto com mosaicos e azulejos sextavados...


                Acima um exemplo dos motivos florais de rica ornamentação e variedade, entremeados com as inequívocas curvas sinuosamente provocativas que nos transportam diretamente para uma abordagem naturalista, sempre uma constante em qualquer versão do Art Nouveau. Essa dita "abordagem artística" poderia ser até uma contradição de época, visto que este estilo desenvolveu-se justamente no período em que a Europa experimentava os avanços da revolução industrial. Seria, portanto, um contraponto da época, logo quebrado pelo posterior Art Deco, que iria embrenhar-se pelos mundos da aerodinâmica, grid, repetições, ordenamento e demais simbolismos dos avanços tecnológicos. Digamos que o Modernismo Catalão, como foi conhecido o Art Nouveau Espanhol e sua clientela abastada, composta pela burguesia e encabeçada por Josep Batlló, Eusebi Güell e Pere Mila, produziram em Barcelona o que há de melhor no estilo em toda a Península Ibérica e não pouparam recursos nem tempo para explorar ao máximo as linhas soltas e suas interpretações fantasiosas com total liberdade criativa.



         

          Acima: ainda nos interiores do prédio da administração, num belo corredor da ala da esquerda, com sua galeria envidraçada e voltada para o pátio frontal. Seu teto trabalhado com decoração rebuscada que lembra imediatamente uma abóbada de leques, suas vigas em formato arcado que brotam de mísulas, suas portas com decoração flamejante e seus brasões vítreos, remetem, sem embargos, ao estilo gótico (uma característica do final do período do Art Nouveau local que assumiu um ar mais classicista). Já o colorido border  decorativo de suas janelas, a cor pastel de suas paredes e o próprio desenho orgânico e floral do teto se valem da origem do estilo fazendo a ponte para o Art Nouveau  tradicional.


A iluminação indireta e pontual pelas paredes oferece um detalhe bem moderno.


Ala da direita: um rebatimento da outra, com o mesmo teto desenhado e vidros coloridos.
Pelas janelas, a visão da outra ala à sua frente, favorecida pelo ângulo de noventa graus entre elas.
O piso completamente liso busca a praticidade e imprime um ar de severidade.


Abaixo o teto de uma das salas convertida em auditório.



Duas visões do grande pano de vidro contendo a cruz latina: acima uma vista interna e abaixo outra externa.
No interior, atenção ao belo teto em arcos que acompanham o modelo do grande vitreau triplo.


          Esse prédio, a despeito dos restantes, me parece ainda preso ao Historicismo. À medida em que saímos deste primeiro pavilhão e vamos andando pelo restante do complexo, vamos vendo as linhas ficarem mais livres e mais desconectadas dos estilos históricos e arquitetônicos precedentes, assumindo grande personalidade e encantando cada vez mais.


Na foto anterior vemos vários modelos de arcos e uma bela composição de janelinhas trilobadas na fachada.
Lindas as figuras de anjos que encimam os pilares duplicados entre os arcos das entradas.


Abaixo várias fotos dos pavilhões destinados ao tratamento dos pacientes.




Acima a fachada de um dos menores pavilhões e abaixo o detalhe de sua cúpula.



          Em número de oito, possuem volumes quase idênticos, excetuando o fato de serem posicionados em dois conjuntos de quatro de cada lado, espelhados em relação ao eixo central. Já quanto à arquitetura em si, são bem parecidos, ainda que exibam muitas diferenças nos detalhes e nas formas dos elementos das diversas composições. Todos os volumes da "esquina" são arredondados e encimados por uma cúpula esmaltada com desenhos alaranjados em campo amarelo que responde pela metade da fachada principal e menor. As cúpulas, ainda que exibam proporções muito semelhantes, diferem em seus desenhos.
          Alongados para as laterais do terreno, ganham corpo e  invadem a propriedade que ainda possui uma igreja de considerável tamanho voltada para uma das ruas limítrofes, um prédio para laboratórios de análises clínicas e outras construções mais recentes, como a moderna estrutura locada na parte mais alta e de fundos, aberta para a rua de trás.
          Há, na verdade, uma diferença na base de cada edifício para compensar ou tirar proveito da inclinação natural do terreno que foi mantida.


          Esse volume redondo, encorpado e dominante, que demarca fortemente cada um dos oito pavilhões gêmeos, ajuda a potencializar o elo existente entre eles. No conjunto e na perspectiva assume um poder tremendo ao estabelecer relações quanto à forma, ordem, repetição, ritmo, hierarquia e escala, aplicando um pouco das teorias urbanísticas e levando (e elevando) a arquitetura ao entendimento da semiótica. Cria, pois, uma cadência bem marcada em busca de uma resposta estética que, utilizada para além de suprir, enriquecer e enaltecer a função primeira, preocupa-se em produzir algo belo, marcante e icônico.  


          E por falar em ícones e símbolos, colocado bem acima acima da porta principal, uma imagem sacra que dá nome ao pavilhão. No conjunto da direita santos e no grupo da esquerda santas. Essa alegoria rebuscada ainda lembra a ornamentação utilizada na arquitetura gótica e neogótica, mas nem por isso impede o uso de linhas mais leves e orgânicas como as que exibe a porta dupla lindamente pintada de verde.   


          Abaixo um pormenor mostrando um detalhe na cobertura escamada: colorido anel desenhado no topo. Cada pequeno detalhe encanta e surpreende


          Na outra extremidade da mesma fachada, uma agulha que lembra uma torre sineira ou uma simples torre de vento. Seria, respectivamente, uma influência cristã ou árabe? Ou ainda uma apologia às chaminés da já bem desenvolvida Barcelona industrial? Seja qual for o uso ou a inspiração, essa estrutura que coroa a "esquina de cima", finaliza a linha e o volume da fachada. Além de conferir equilíbrio à massa edificada, dá "giro" à circulação externa de acesso ao jardim que o separa do prédio seguinte. Todos os elementos, indiferentes ao tamanho ou às proporções que exibem, estão carregados de informações de grande importância no plano estético que conversam muito bem entre si.


Border floral em branco sobre campo azul: detalhe romântico em azulejaria tradicional ibérica;
telhas coloridas formando desenho junto à cumeeira!
Entradas de ar por entre o vão arcado vedada com grandes venezianas verdes;
 muitos detalhes em altos e baixos relevos...


Variação sobre o mesmo tema 




...seqüências de belos detalhes.

No centro uma coluna torcida com um cruzeiro trazida do antigo hospital medieval, onde já desfrutava de destaque, situada também ao centro do então jardim interno.

No balcão uma das inúmeras estátuas espalhadas por todos os cantos.


          Arcos e janelas trilobadas se multiplicam pelas fachada, bem como imagens sacras, apliques, azulejos e muito rendilhado. Graças aos grandes campos de tijolos aparentes toda essa riqueza de detalhes não causa uma superlotação de elementos. Dessa forma a mega-decoração fica leve e aerada, proporcionando ao observador a chance de desfrutar de todas as obras de arte aplicadas às paredes. 




É invejável a maestria no assentamento dos tijolos de barro vermelho.
O contraste com a cerâmica azul e branca com imagem de animais é lindo.
Caixilhos verdes! Muito bonitos...


Por dentro do salão de enfermos de um dos pavilhões


          A estrutura de sustentação dos tetos abobadados, com uma série de vigas arqueadas revestidas com azulejos lisos, fica ressaltada e trabalha como orientadora espacial dividindo as áreas dos leitos. Todas as superfícies recapadas com tijoletas cerâmicas lisas ou estampadas exibem cores suaves e claras com aspecto limpo e higiênico. 
          As janelas também arqueadas são vedadas com venezianas que permitem a circulação cruzada de ar e filtram a incidência de luz natural. 
           

Paredes azulejadas com desenho floral sobre fundo claro.
Janelas com brasão.


Desenho com padrão floral: uma constante em todo o hospital.


Os brasões ou mosaicos, sobre as janelas, continuam também do lado de fora.



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