quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Edifício do Parlamento de Malta

PARLAMENTO DE MALTA 



                      Situado entre o sul da Itália (apenas a noventa e três quilômetros da Sicília) e o norte do litoral africano da Tunísia, esse pequeno país europeu ocupa um arquipélago de somente três ilhas no centro de umas das mais movimentadas rotas marítimas da história.

                Essa localização estratégica foi a razão pela qual seu território foi alvo  de inúmeras invasões. Essa troca sucessiva de domínios (dos mais variados grupos étnicos que por ali passaram e deixaram suas marcas), fez com que o arquipélago se tornasse nos dias de hoje um verdadeiro testemunho histórico que contempla todas as eras desde os primórdios da idade da pedra.

                   Com uma riquíssima uma história inversamente proporcional ao tamanho do seu território, é lar de um povo muito gentil e orgulhoso do legado que guarda.

               Para comemorar o fato de ter sido Valletta, intitulada a Capital da Cultura Européia no ano de 2018, que Malta investiu na limpeza, restauração e modernização dos seus limites históricos intramuros. A reboque disso a administração local refez o acesso principal do casco histórico peninsular, criando uma entrada triunfal com fonte, pontilhão e portão em um dos mais belos conjuntos arquitetônicos e urbanísticos da atualidade. É nesse contexto que foi também edificada a nova casa do Parlamento Maltês, ganhando destaque como a principal dentre todas as renovações sofridas.

             


          
                Conhecer Malta já era um velho desejo, muito em razão de sua incomparável história e muito mais pela beleza barroca de sua principal cidade.
                     A construção desse edifício moderníssimo só deu mais sabor à visita nessa cidade. É muito bom ser testemunha de uma intervenção moderna de sucesso, principalmente em um local tão importante como o centro histórico de Valletta.


                      Famoso no meio arquitetônico, esse original prédio já deu o que falar! Seu arquiteto tem obras espalhadas por diversos países, mas é nessa obra que em minha opinião ele chegou mais perto do ideal. Foi muito feliz, tanto na forma como na relação estabelecida entre o objeto edificado e seu entorno. 



            Construído entre os anos de 2011 e 2015, é a primeira casa edificada especialmente para esse fim. O Parlamento deixou o antigo arsenal do Palácio dos Grão-Mestres onde estava instalado e foi transferido para esse edifício moderníssimo que foi entregue à cidade de Valletta e ao povo de Malta junto com uma reforma significativa  da área ao seu redor. O entorno reformado abrange, parte do calçadão da rua da República, as ruínas da ópera destruída durante a segunda grande guerra e os portões da muralha medieval. Essa grande reforma foi projetada pelo arquiteto Renzo Piano.



Infelizmente não foi possível sua visitação interna! Ficou para próxima!
            

                     Depois de muita polêmica em torno dessa construção, parece que a sociedade  maltesa aceitou e acabou gostando do resultado final. Na verdade o grande medo da maioria da população, de que não fosse ficar integrado e harmônico com o valiosíssimo patrimônio histórico e artístico de sua arquitetura secular, não se confirmou. Levantado com a tradicional rocha sedimentar local e sem grandes volumes brotando do corpo principal, o desenho da arquitetura ficou bem inserida no tecido e no panorama urbano da cidade antiga. Eu particularmente gostei muito do resultado que na minha opinião deu um sopro de modernidade e leveza para o cenário.  


                 Levantado no terreno de uma antiga estação ferroviária, destruída por um bombardeio durante a segunda grande guerra mundial e que desde então servira como área de estacionamento para pequenos veículos, o projeto do arquiteto italiano provocou reações até mesmo da UNESCO, que em virtude dessa moderna intervenção, punha em dúvida a manutenção do casco histórico de Valletta no roll dos patrimônios da humanidade. A própria crítica mundial de arquitetura viu-se polarizada, incluindo o projeto tanto nas listas dos melhores como dos piores edifícios modernos da atualidade.



                   Alternando superfícies lisas com outras porosas, suas fachadas brincam muito com o jogo de luzes durante todo o dia. O grande volume da esquina principal, bem como a elevação frontal, servem de tela de fundo para as sombras produzidas pela luz do poente. Nessas fotografias, a projeção da sombra de parte da muralha, na altura do seu grande portão. Esse portão renovado abre a cidade para o refeito pontilhão de acesso sobre o grande fosso e ostenta um altíssimo mastro que também aparece na sombra. 


                    O projeto pressupunha a reorganização total da entrada principal de La Valletta, incluindo a alteradíssima ponte sobre o fosso e a ampla região externa colada aos muros. O prédio em si parte da composição de dois blocos que dialogam entre si e se mantém conectados por meio de passarelas abertas. A entrada, completamente envidraçada, fica no mesmo nível do calçadão sem nenhum tipo de barreira horizontal, deixando assim o acesso bastante fluído. Nesse piso térreo o interior se funde ao exterior e o recuo oferece uma proteção ao pedestre do inclemente sol da região. 


                  Nessa perspectiva o compacto e completamente vedado volume que marca a esquina, faz clara referência à muralha ao seu lado e proporciona a sensação de que o prédio dela faz parte. Bastante lindo tem até uma leve inclinação tal qual um muro de defesa e contenção. O resto que se vê do prédio, tem o amplo recuo do piso térreo, que é abraçado pelo calçadão à sua volta e oferece sombra e abrigo ao transeunte.
                 .

                   Uma das características mais notáveis do edifício são suas linhas retas e puras que respondem por inúmeras arestas e ângulos marcantes. Concebido como dois blocos que se unem por meio de passarelas metálicas propiciam áreas abrigadas e protegidas pelos volumes rendilhados que ampliam os espaços públicos, integrando-o de forma muito particular à rua e seus arredores.
                Ainda que ostente enormes paredes de pedra calcária, muito vedadas e sem nenhum jogo de volumes o edifício não pesa na paisagem. Seu trabalho rendilhado se comporta como uma grande treliça extraindo desse recurso arquitetônico a proteção de seu interior das vistas externas e assim mantendo a discrição que a instituição demanda. 




O preciosismo no complexo trabalho de talha.


 Algo raro: 
 pedra lindamente trabalhada como em poucos edifícios modernos.


               Numa das fachadas voltada para os fundos (bem mais permeável) as janelas já não se comportam como vãos por trás de uma grelha e os detalhes de pedra esculpida servem mais como um brise soleil do que como uma capa de proteção visual. Esse recurso de brise não é mero acaso, pois o projeto previa sim o bloqueio parcial dos efeitos do sol que nos meses de verão castiga a cidade.


As janelas das paredes da circulação interna também não são tão vedadas.


               Sua estrutura metálica fica a mostra em suas cobertura, em suas passarelas e no vasto vão do primeiro andar em pilotis. 
                 

Ao fundo a rua principal: o ângulo afunilado serve na verdade para formar um portal entre os dois volumes do prédio, com acentuada hierarquia. Notável a relação estabelecida pelos dois blocos de pedra sobre pilotis de aço.


O contraste que a escultura negra faz contra a parede de pedra é lindo.
Novamente o metal liso e escuro em campo rugoso e claro.


Lindas as passarelas que cruzam o ar.
Passadiços muito modernos.


                Outra função atribuída à porosidade artificial das paredes dessas fachadas é a refrigeração promovida pelo corte dos ventos que nelas batem, o que ajuda a equilibrar a temperatura interna, evitando o uso demasiado de climatização artificial no verão. Muito interessante e inteligente se caso for verdade... O edifício é considerado por essa e outras razões, um representante da "arquitetura verde". Outro exemplo bastante significativo dessa corrente arquitetônica, são seus quase seiscentos metros quadrados de cobertura com painéis fotovoltaicos que respondem por cerca de oitenta por cento da energia consumida em seus interiores nos meses de inverno.



Os dois blocos no ângulo em que mais se aproximam...



              Em minha opinião esse trabalho em relevos nas paredes de calcário (extraído da ilha de Gozo e manufaturados na Itália) são belíssimos! Mas há quem compare com um ralador de queijos, com um radiador ou com um pombal. 


                   O tradicional uso da pedra nos edifícios da cidade tem muito a ver com suas fartas reservas de calcário, mas reside também no fato de ser esse material muito eficiente em evitar uma grande troca de calor com o meio. 




O andar térreo onde a estrutura metálica fica a mostra num recuo em relação ao passeio público.  


Lindos ângulos!
Lindos contrastes entre materiais rugosos e polidos.



                    Na vista acima, percebe-se como o pátio central, que serve de entrada principal ao prédio, se comporta com o cair da noite, tirando partido da cenografia fornecida pelo projeto luminotécnico. Esse efeito da iluminação artificial enaltece as virtudes do desenho propiciando uma atmosfera lúdica e sensorial. Ao fundo uma vista das paredes de um antigo edifício também executado com pedras: a original e anciã fase da sede dos Cavaleiros de Malta  representada pelas sólidas paredes de peças com acabamento rústico frente à nova e tecnológica etapa da cidade, agora marcada pela mesma pedra com tratamento liso e escultórico e desenho de vanguarda. É a arquitetura ajudando a escrever a história.

Uma última olhada no caminho de volta: uma janela iluminada por trás das rendadas paredes.


                Acima uma perspectiva do lado de dentro das muralhas com o portão da cidade ao fundo. 
Além da beleza plástica do conjunto arquitetônico, o resultado urbanístico e a limpeza do local também impressionam. O rico projeto luminotécnico faz com que o que era lindo durante o dia fique maravilhoso durante a noite. 

Do lado de fora das muralhas foi instalada essa maravilhosa fonte.
(a mesma fonte mostrada na primeira foto desse post)
Lindo modo de recepcionar e se despedir de quem está a passeio. 


sábado, 6 de outubro de 2018

Centro Cultural Fundação Stavros Niarchos


              O Centro Cultural Fundação Stavros Niarchos, situado na região litorânea de Atenas, às margens da Baía de Faliro, é um extraordinário complexo arquitetônico que serve de nova moradia à Biblioteca Nacional e à Ópera Grega. Suas moderníssimas instalações são um presente ao povo helênico da fundação criada por um de seus mais célebres armadores que fizeram fortuna no século vinte.

                 Abaixo, as primeiras sete imagens que mostro, foram disponibilizadas pela própria instituição e veiculadas em diversos outros blogs e sites.



Acima uma vista do complexo com destaque para o longo espelho de água.
Atenção ao enorme parque Niarchos.

O prédio tem sua porção mais alta voltada em direção ao mar e a grande avenida em primeiro plano o liga diretamente com o Centro da Capital Grega.


Duas vistas laterais do grande talude inclinado a partir do lago artificial.



  Acima a cobertura da Ópera 
e abaixo uma vista do início do parque na cota zero.


Uma planta baixa que contempla o teatro e a biblioteca.
Atenção para a Ágora no eixo central.
No topo, o prédio de estacionamentos também coberto por vegetação.


Um corte do teatro da Ópera.



 A partir de agora mostrarei fotografias tiradas por mim. 


Abaixo duas vistas da maquete do complexo.



           O Edifício exibe formas muito simples e puras, abusando das linhas retas e ortogonais. Nenhuma sinuosidade é evidenciada e as linhas orgânicas são raríssimas. Mesmo o paisagismo e tratamento externo como os revestimentos e acabamentos internos são tratados com traços retilíneos, e isso, na minha opinião, criou um efeito maravilhoso que deu muita profundidade às suas perspectivas. 
                
               Do todo resultam grandes superfícies, tanto verticais como horizontais: enormes paredes cegas; enormes paredes envidraçadas, enormes escadarias, enormes vãos livres e enormes campos, tanto secos como verdes. 

               Seus dois volumes principais aparecem com mais clareza na fachada lateral à beira do longilíneo espelho d'àgua. É nessa elevação que está a entrada principal do conjunto, em um recuo chamado de Ágora. Trata-se na verdade de uma praça de distribuição de fluxos que tem a biblioteca na sua direita e a ópera na sua esquerda, com formato quadrangular e seca. Nela é que realmente se alcança a real dimensão  do conjunto arquitetônico. 


A Ágora vista de dentro do prédio.


Tanto acima com abaixo duas vitas da Ágora a partir da laje ajardinada.


Note a cobertura vegetal de baixo porte nas floreiras.


            O complexo tem ainda um enorme parque ajardinado batizado de Parque Stavros Niarchos, projetado em um imenso terreno de onde brota um talude artificial que inicia na cota zero e sobe até alcançar a cobertura de ambos os corpos do edifício. A inclinação é muito suave, dado às enormes medidas do parque. O verde vem subindo e alcança a cobertura da biblioteca, onde de forma também muito suave é substituído por pisos secos ao avançar sobre a  cobertura da ópera. 

              Esse conceito de telhado inclinado com cobertura vegetal que parte da cota zero e avança subindo lentamente, formando uma rampa verde, já foi utilizado anteriormente em outros prédios famosos ao redor do mundo, mas nesse caso é tratado como novidade. Não se trata de nenhum achado, nem mesmo de nenhuma ideia suprema, ainda que seja incrivelmente lindo.    


                Na fotografa acima aparecem os dois volumes dos conjuntos de elevadores panorâmicos do complexo que atendem ao público. Na fotografia de baixo o mais interessante deles que dá acesso à laje mais alta, onde se encontra a sala de leitura e o bar aberto com vistas de toda a região de Atenas em livres 360 graus.


                   Essa coluna (na foto acima) de elevadores, parte da base do prédio e alcança o final do circuito do jardim inclinado. Nesse ponto o espaço livre e público já tem a proteção da laje de cobertura que coroa o projeto. Os elevadores chegam à uma passarela envidraçada e solta, com formato muito leve que encaminha o público diretamente aos  espaços de convivência. Antes disso ela serve de mirante ao todo, no lado em que avança sobre o espaço aberto em um escultural e belíssimo balanço.


                A muito limpa fachada envidraçada do volume da biblioteca ganha como detalhe um delgado e altíssimo pilar, que isolado dos demais internos, marca a quina do edifício e orienta o giro de circulação em direção à escadaria que leva à cobertura ajardinada (parte do parque Stavros Niarchos). Simples, eficiente e bonito.


                Já quanto ao volume do par de elevadores panorâmicos não se pode dizer que ficou bonito nem que ajuda a orientar a circulação dos fluxos de pedestres, uma vez que fica distante dos diversos acessos ao interior e que rompe com o ritmo da fachada sem conferir beleza.


                  Existem duas imensas escadarias que ligam a Ágora ao espaço público das coberturas. Uma na fachada da Ópera (fotos acima e abaixo) e outra na fachada da Biblioteca (fotos anteriores). Essas escadarias além de muito escultóricas são muito eficientes quanto à organização física do conjunto. São o maior elo de ligação entre o topo e a base além de servirem como elemento formal de grande peso na concepção do projeto. Lindíssimas equilibram a fachada e trazem o movimento que o prédio precisava.  



                  O pilar isolado da Ópera (que faz par com o outro da Biblioteca e cria uma espécie de "portal" para a Ágora), bem como seus pares internos, transpassa a laje e acaba sustentando a cobertura do prédio. Lindo detalhe arquitetônico e estrutural que envaidece qualquer projetista e calculista!

                 Devido ao ângulo podemos pensar que a torre de elevadores também toca a cobertura, mas isso não acontece. Ela fica solta fazendo uma ligação estética com a outra torre de elevadores mais baixa que serve ao núcleo da biblioteca.


Acima o lobby da biblioteca.
Em seguida, eu posando no mirante com a cidade ao fundo.



Fácil notar nessa vista o coroamento de ambas as torres de elevadores.
uma em cada quina interna da Ágora. A da biblioteca mais baixa que a da Ópera.



Algumas fotos do mirante.
Isso me lembra Taliesin East de Frank Lloyd Wright.



                    Belíssima vista da grande esplanada verde que tem seu início junto ao maciço urbano e sobe em direção ao mar. Esse ângulo está voltado para o Centro de Atenas que dista cerca de seis quilômetros, perto o suficiente para ver a Acrópole.
               No tratamento do jardim fica nítido onde termina o talude artificial e inicia o edifício, pois o conjunto de vegetação de médio e grande porte dá lugar ao revestimento de pequeno porte e forrações verdes.


Tirantes, aço e vidro fazendo uma arquitetura leve e arejada.


                Essa escada de serviços é infame! Se era para ser um detalhe ou uma peça escultural foi na verdade um equívoco! Em um lugar de imenso destaque, ela parece levar as pessoas do nada ao lugar nenhum! Fora de propósito, pois há indícios que é de recolher e fica sempre montada! Sob si foi instalado um bar que parece estar deslocado do todo. Uma pena que num prédio desse porte, esses "ruídos" ainda aconteçam. Certamente poderia ter tido uma solução melhor, bem como a cobertura da sala de leitura que... ainda que bonitinha, não mais que bonitinha é completamente desnecessária! Qual a razão de colocar duas coberturas, uma sobre a outra? Qual a razão de dar tamanha importância para uma escada de serviços com cara de escada de incêndios? Soluções simplórias e pouco atraentes. Atenção ao retorcido cano que brota do teto... não sei se tem alguma função, mas convenhamos: plenamente desnecessário!


Grandes vãos para abrigar um número bem expressivo de pessoas.
Vistas muito abertas que descortinam toda a cidade.
Piso de mármore branco e esquadrejado: nada mais grego!


Posando na amarração de um par de tirantes. Sistema de olhais e pinos. 
Ao lado um dos (muito delgados) pilares metálicos.


Os largos degraus, que aqui substituem o plano inclinado liso (rampa), funcionam como uma grande arquibancada destinada ao laser e entretenimento.




                A altura generosa do vão confere um ar magnânimo ao prédio e amplia seus limites. O contraste entre as superfícies bem brancas e lisas com o o piso rugosos e pouco mais escuro é inteligentemente sutil e incrivelmente eficiente. A parede que serve de embasamento para o terraço do bar e sala de leitura, recepciona quem vem do parque e justo por isso ganhou essa floreira. depois de totalmente coberta fará parte do paisagismo e servirá como elo de transição entre o aberto e o fechado: muito bom!
                    Na esquerda da foto vê-se o mirante projetado para fora do "quadrado". 

A seguir uma série de fotografias do interior da Ópera.


                 Não muito grande, o lobby da Ópera é mais alto que amplo. Funciona também como uma espaço de encontro e conversas, uma vez que o edifício é desprovido de foyer. Acompanhando os novos costumes da vida corrida parece que o espaço para convivência entre um ato e outro das peças músico-teatrais tornou-se desnecessário. O que pode compensar essa falta é a cafeteria que fica localizada no meio do complexo, entre os domínios da ópera e os compartimentos da biblioteca. Mas é um lugar tão "mais ou menos" que não transmite ao usuário aquela aura típica de uma noite de gala. Também não existe nesse interior aquela maravilhosa escadaria monumental a que estamos acostumados nesse tipo de prédio. O que não deixa de ser uma pena, visto que a relação formal é quebrada e a mise en scène completamente perdida.


                       É um prédio de aço e vidro, sem sombra de dúvida! Que busca fundir o interior ao exterior. Partido completamente diferente dos edifícios clássicos que atravessaram as épocas, servindo de casa para óperas ao redor do mundo e  que ignoravam sua relação com o exterior e entorno, transportando o indivíduo do mundo real para um mundo particular, exclusivo e mágico de luxo e fantasia. A busca dessa quebra de uma  barreira social que afasta a maioria das pessoas da cultura operística, é que fez desse, um  projeto contemporâneo, radicalmente diferente dos edifícios do passado. Encontramos aqui uma Ópera que começa e termina sua relação na Ágora. Distinta daquele modelo que isola a classe abastada  por trás de fachadas austeras e impenetráveis ao cidadão comum. 
                  Interessante perceber perceber que com esse expediente a Fundação Niarchos, por meio de seu arquiteto, pretendeu popularizar a arte e expandir suas fronteiras. O que não deixa de ser louvável e atual. Pena que para um ganho tão importante nas relações humanas, tenha que haver uma perda significativa de símbolos e hábitos tão pertinentes à arquitetura própria de teatros e casas de espetáculos. A hierarquia é fundida numa mesmice que nivela tudo e quebra certos conceitos inerentes a esse tipo de casa. infelizmente, aqui, a cultura, apesar de ficar "aparentemente" mais acessível, ficou um tanto mais pobre.


                  Os diversos andares formam um belíssimo conjunto de frisas voltadas para sas pardes de vidro com  vistas ao exterior. São elas as protagonistas do show arquitetônico e o palanque para as relações humanas individuais ou coletivas. É por elas que transita o público em dias de festa, portanto, é nelas onde todos se cruzam e se encontram.

                   Seus tirantes de sustentação formam um rendilhado de linhas retas mais leve que o caixilho da pele de vidro, dando a idéia de fragmentação das paredes e de seus obstáculos verticais. esse recurso alivia a estrutura e torna o interior mais convidativo e atraente.


Muito interessante são as luminárias locadas no fim de cada tirante que pende do teto: dão um acabamento inteligente e contribuem para o efeito cenográfico do local.


                  Dos tetos, em momento algum pendem lustres. Não existe um chandelier sequer! Em nenhum ambiente, por mais formal e importante que seja, não foi pendurado nenhum tipo de luminária em consonância com o estilo ultra moderno adotado. Para o fim de marcação hierárquica, na qual pendentes são muito eficientes, foi optado pela instalação de móbiles nos dois lobbys do complexo. Assim como no maior espaço livre da biblioteca, a ópera também ganhou uma obra de arte pendurada no seu espaço de entrada. Apesar de não ser o ideal cumpre com a função de diferenciar o espaço dos demais. Sendo a única peça artística e decorativa, compensa em parte a ausência de um belo e marcante lustre, tão comum nos ambientes de circulação conhecidos como "passos perdidos".

                     Foram escolhidos dois móbiles praticamente iguais, o que para mim foi um erro, pois perdeu-se a oportunidade de serem completamente diferentes com o intuito de dar mais personalidade e identidade a cada canto. Vejo que era necessário objetos muito diferentes entre si, já que os dois lados do prédio assumem funções muito diferentes. Mas não! Tanto o lobby da biblioteca como esse das fotos acima, receberam peças muito parecidas em forma, composição e cores.


                 O teto com tratamento cru, as paredes nuas, as pilastras metálicas, o piso monocromático e os vidros completamente incolores e transparentes, tornaram o ambiente muito estéril. Falta algo na arquitetura e na ambientação para dialogar com a função do prédio e para diferenciá-lo de outro meramente corporativo. Essa pobreza decorativa pode reverberar em uma pobreza conceitual, impedindo que a arquitetura avance para um patamar de excelência trazendo a pretensão do autor à tona, desconsiderando o desejo do inconsciente coletivo, acostumado à leituras mais ricas e rebuscadas. Pode que a ruptura entre conceitos tenha sido propositadamente muito brusca e radical, mas será que teria side realmente necessária? Pode que a certa altura, pareça que estamos sempre nas coxias.


A parede voltada para a fachada lateral com a inclinação marcada pela enorme escadaria externa. O móbile (único pontinho de cor) visto de todos os andares.


             Essa parede dividida em duas é muito linda, com suas partes distintas completamente diferentes e mesmo assim muito bem integradas. Na sua primeira porção, salientando a base a partir do solo, é completamente compacta e lisa, cuja única abertura insere o balcão das bilheterias e informações. Já sua parte superior é completamente vazada em uma estrutura de aço e vidro por onde entram a paisagem e a luz natural. Belo jogo de formas.
                 A escadaria  em si (externa e paralela ao espelho d'água), funciona como elemento escultural vivo, com seu enorme plissado que assume diferentes nuances dependendo do tempo, aliado ao movimento de pessoas que por ela sobem e descem. Sua inclinação dirige o olhar diretamente para a esquina da Ágora.   


Abaixo o confortável teatro de arena


Lindo com seu panejamento em vermelho e suas madeiras claras.
Altíssima tecnologia para um espaço multifacetado.
Seu piso sobe e desce assumindo inúmeras composições.


Abaixo a boca de cena do teatro da ópera.
Lindíssima a iluminação ao redor da grande abertura!
Vermelho ainda é a melhor cor!
De grande impacto.




Linhas moderníssimas, assim como suas instalações e equipamentos.
Conforto total em generosas dimensões e perfeita ergonomia.


Outro móbile no principal teto.


Visão privilegiada e pleno conforto de qualquer poltrona.


Seguindo com a sala de ensaios do coral
Outro espaço maravilhoso!


Paredes com tratamento acústico de ponta.
Textura e cor dadas pela madeira natural.


Ambiente onde são permitidas janelas externas.


Abaixo a grande sala de ensaios da orquestra com sua suíte.
O preto em vez do vermelho.



Abaixo o exterior do Centro Cultural Fundação Stavros Niarcho a noite.

A Biblioteca Nacional


A entrada aos dois lados vista da Ágora


Outra imagem da Biblioteca Nacional


A Ópera Grega. 
Essa escadaria leva ao mirante com vista para o mar.


O todo a partir da ponta do espelho d'água.