segunda-feira, 25 de março de 2019

FLATIRON BUILDING


FLATIRON BUILDING

Fletiron 
ou
Fuller Building.



         O ano era 1902 e Nova Iorque já se consolidava como metrópole de influência mundial, quando o Fuller Building fôra inaugurado. Meca dos multimilionários do aço, do petróleo, dos transportes e toda a série de indústrias que alavancaram os Estados Unidos da América ao patamar de liderança mundial, a cidade de forma natural redesenhou seu skyline, trocando as fabulosas mansões do século dezenove por edifícios tão detalhados e sofisticados quanto. O crescimento da megalópole se dava tanto horizontal quanto verticalmente. A medida em que os bairros de luxo foram desbravando as terras do norte as antigas propriedades dos ricos e famosos foram dando lugar à torres cada vez mais audaciosas, puxando toda a vizinhança rumo ao desenvolvimento que faria essa cidade se autoproclamar a mais cosmopolita do planeta. É nesse contexto que se enquadra esse edifício. Símbolo de um período de franco sucesso da cidade marca o momento em que esse fenômeno urbano-social se fixou.


          Considerado por muitos o prédio mais belo do início do século em toda a cidade, foi implantado em um dos cruzamentos mais célebres da época, numa aguda esquina entre a Broadway e a Quinta Avenida. Na verdade essa volumetria triangular não é e nem nunca foi uma exclusividade dessa esquina, na verdade se repete mundo a fora, inclusive na própria cidade de NYC mas, por alguma razão difícil de ser explicada esse prédio, dentre tantos outros dos mesmo estilo e época, alcançou fama local, regional e por fim mundial. É sem sombra de dúvidas muito bonito e domina com invejável altivez a área onde se encontra já que, por hora, não foi engolido pelos novos arranha-céus que despontam a cada dia em toda a cidade. Ao seu redor ainda é possível ver um pouco de céu.


           Se é ou não o mais bonito, isso seria inútil discutir, mas é sem sombra de dúvidas um dos mais queridos e aclamados. Sua influência é tamanha que desde sua construção, nomeou toda a região ao seu redor de Flatiron District. Sua fama iniciou por se tratar de um dos edifícios mais altos da época e por marcar uma zona de comércio para senhoras. A cidade não parou mais de crescer a largos passos e na medida em que os anos passaram sua altura foi suplantada, mas não o bastante para abafá-lo frente ao maciço urbano que se instalou. Bem pelo contrário, manteve-se graças à ótima perspectiva que tem a partir da Madison Square Park, que garante, ao observador, uma vista completa do prédio potencializada pela impressionante perspectiva de sua esquina. Outro fator de muita relevância reside no fato de se encontrar ilhado no pequeno quarteirão, sem nenhum outro imóvel a fazer-lhe extrema. Rodeado por largas e movimentadas vias é admirado de todos os ângulos possíveis, até do alto de outros edifícios.  


          Desenhado no estilo Beaux-Arts, seguindo a tendência ainda ditada por Paris, que consistia em criar edificações muito suntuosas, com inequívoca influência dos clássicos estilos históricos, suas fachadas passam uma ideia que pende mais para uma cópia do estilo Renascentista Italiano do que qualquer outra coisa. Entretanto, a liberdade eclética da ocasião se fez presente e não o poupou de ter incluído em seu corpo, vários outros detalhes de estilo gótico. Nessa época o gosto pessoal do financiador da obra era preponderante e isso tornou a cidade uma vitrine de reinterpretações ora magníficas, ora catastróficas dos mais diversos estilos pertencentes à épocas e lugares longínquos. A Nação, ainda jovem, não tinha desenvolvido nenhum estilo arquitetônico próprio e mantinha-se refém dos ideais clássicos do velho mundo. Dessa forma as fachadas do Fuller Building seguiram a moda, mas, felizmente o resultado desse prédio foi feliz.


         O que chama mesmo a atenção, a despeito de suas muito bem trabalhadas fachadas, é seu formato. Por ocupar a totalidade do lote triangular, na convergência das duas famosas vias, ele ganhou as alturas reproduzindo em seus pisos os exatos formato e tamanho do lote. Eis que surgiu um prédio triangular com uma esquina muito aguda com apenas dois metros de largura, marcando seu vértice com cerca de vinte e cinco graus. Em razão disso, antes mesmo de serem retirados seus tapumes a população já o conhecia pelo apelido de Fletiron (ferro de passar roupas). Tanto seu formato, quanto sua privilegiada localização mantiveram-no no topo de todas as listas dos prédios mais famosos de Nova Iorque desde a sua inauguração.

            Com vinte e dois andares, somando cerca de oitenta metros de altura (praticamente um anão nos dias de hoje), exibe três fachadas quase idênticas divididas em oito seções horizontais que são entendidas pela sobreposição de uma alta base, dividida em três partes bem marcadas, um corpo central bem definido composto por doze de seus andares e um topo bem detalhado subdividido em quatro outras partes. Há quem veja nessas fachadas o esquema formal de uma coluna grega, influenciado pela arquitetura de Chicago, liderada por Sullivan. Para mim é certo exagero ainda que suas fachadas possam ser divididas em três partes distintas como base, fuste e capitel.


            Nenhuma das três fachadas tem a mesma largura: a maior é a que fica voltada para a Broadway, seguida pela fachada da Quinta que parece pouca coisa menor. A terceira e última que fica voltada para a Rua 22, é das três a menor, equivalente a menos da metade das outras duas.


           É um edifício de fachadas em calcário e terracota vitrificada com alma e estrutura metálicas. Incluído no Patrimônio Histórico e Cultural Norte Americano no ano de 1989, já era tombado pela cidade desde a década de 1960. Sofreu uma grande restauração no início do século XXI, que manteve seus interiores inalterados, ainda que projetos para transformá-lo em um hotel de luxo estejam sempre na pauta.