terça-feira, 5 de agosto de 2014

Centro de Ciências de Connecticut

            Além de Capital do Estado, Hartford é a sede do moderno e atuante Centro de Ciências de Connecticut, criado para levar a diante a tradição do Estado na vanguarda da pesquisa, da invenção e do estudo de novas tecnologias, dando suporte ao ensino da ciência e na elaboração de novas formas e caminhos pedagógicos. 

                 Foi fundada em 1637, sendo dessa forma, uma das cidades mais antigas dos estados Unidos da América que atingiu grande importância logo após a guerra civil, época em que se tornou um centro muito rico e influente. Com o desenvolvimento sentido nesse período de ouro, alcançou um patamar de excelência cultural e social que legou para tempos futuros um patrimônio de inestimável valor urbanístico e arquitetônico, como por exemplo o mais antigo parque público existente no país. 

                 Hoje não muito grande, possui cerca de cento e cinquenta mil habitantes e é famosa por concentrar em seu centro financeiro o segundo maior número de empresas de seguro do mundo. Seu centro histórico é muito bonitinho e possui muitas coisas interessantes, inclusive uma obra de Alexander Calder no jardim do Wadsworth Atheneum Museum of Art, também o mais antigo museu de artes fundado em todo o país.


O vermelho Stegosaurus de Calder.


Abaixo o belo edifício sede do Centro de Ciências objeto desse post.


                Projetado pelo renomado arquiteto de origem argentina César Pelli, totaliza 13.000 m2 (treze mil metros quadrados) de área útil, divididos em quinze andares. A maior parte fica acima da plataforma que serve de cobertura para os andares inferiores, bem mais largos. É considerado uma obra "verde" que levou em conta a ideia de sustentabilidade e preservação desde seu projeto e construção até sua manutenção. Por exemplo: mais de duas mil toneladas de aço (equivalentes a quase noventa por cento desse material que foram empregadas em sua estrutura) são provenientes da reciclagem de automóveis.


               Com linhas bem modernas foi inaugurado em 2009 nas margens do Rio Connecticut e desde então diferencia-se de maneira notável dos outros edifícios da cidade. Sua leveza o destaca tanto dos prédios mais antigos como dos novos empreendimentos. Nenhuma outra estrutura da cidade é capaz de fazer frente à este suave projeto de Pelli.


                 Essa fachada é voltada para o rio Connecticut e é aquela que chama a maior atenção. É mesmo a mais bonita. Só não entendo esse terrível conjunto de janelinhas redondas. Horrorosas e totalmente dispensáveis! Perdidas! Sem propósito algum! Tapem esses óculos! (risos). Inversamente, o volume quadradinho que surge ao alto do plano inclinado já é interessante, mesmo que seja de beleza duvidosa. Ele já bastava!


               A cobertura arredondada é linda e por baixo não perde seu encanto. Sua parte interna com duas águas invertidas e uma linha bem marcada no meio é bem forte! E quando alcança o exterior e forma as três facetas triangulares fica ainda mais bonita. O encontro do caixilho com o teto formando um outro vê é bem legal. Gostei demais dessa parte. Outro belo efeito visual é o paralelismo quebrado entre a linha reta do topo acima das letras com a curvatura do teto em balanço. 


A pequena laje quadrada que se projeta ao alto é internamente um mirante com vista de 180 graus. 
É o primeiro prédio com nariz que conheço! (mais risos)


                Novamente aqueles pilares sem relação com o caixilho. Um erro recorrente que passa batido pelos grandes projetistas. Um projeto desse porte não deveria tratar esse problema de maneira tão displicente. A estrutura não deveria competir com os materiais de vedação. Nunca! Nesse ponto tenho admiração pelos projetos modernistas que tratavam os pilares com muito mais consideração obtendo resultados plásticos maravilhosos.


               O Centro de Ciências aberto para a plataforma superior ajardinada. Essa plataforma se comunica com a cidade por meio de um jardim suspenso e pelo nível mais alto do passadiço lateral, entretanto o prédio continua para baixo e tem suas entradas principal e de serviços nas ruas inferiores.



A ponta convexa da onda. Abaixo do robozinho ainda existem alguns andares de prédio.


              Essa fachada definitivamente não foi feita para ser vista de frente. Deve-se entendê-la sempre de um ângulo diferente e de preferência em movimento. Isso acontece por causa das inclinações de suas superfícies. Ainda bem que a parede interna amarela é visível do exterior porque todo esse cinza cansa um pouco.


               A obra é muito monocromática e seus vidros nada reflexivos. Suas paredes absorvem muito a luz solar e o jogo de sombras que poderia ser muito maior pouco aparece. É um prédio que ganha vida a noite! Quando iluminado fica extraordinário. Em tempo: o robô é uma instalação provisória; não faz parte do prédio.


               A fotografia dessa fachada (voltada para a cidade) não mostra o quanto o prédio é bonito. Na verdade essa elevação é um pouco pobre, apesar de ter sofisticadas inclinações de seus panos de vidro. A parede da esquerda não é vazada como deveria, e sim vedada ao interior, funcionando como tela ao exterior onde são projetadas imagens luminescentes e multicoloridas. Recurso cabível para um museu e centro de ciências. Essa telona high tech  deixa o prédio lindo durante a noite e, voltada para a cidade e para a praça em primeiro plano cria um ponto focal bem poderoso. 
               Mas... e aquelas duas janelonas horizontais... são medonhas! (risos) O que houve? E os pilares aparentes nas pontas? Faltou refino. 


Nas duas fotos anteriores aparece a praça rebaixada (de lazer e alimentação) que respeita a cota das ruas. Acima dela a grande plataforma com seus jardins.

Abaixo algumas imagens disponibilizadas na rede.

             A seguir, uma visão aérea que melhora o entendimento do edifício. A grande onda que domina o projeto é de fato muito linda. Sua cobertura marca o vão central que une o prédio e ao mesmo tempo o reparte formalmente em três partes distintas. Tais partes se comportam de maneira própria e autônoma não deixando lugar para a simetria inicial da planta baixa. O arquiteto abusa da inclinação de suas superfícies, tanto no sentido horizontal quanto no vertical. O mesmo tratamento que dá ao volume da direita, repete no da esquerda alterando apenas seu eixo.
            Aqui como na maioria dos projetos atuais a pele de vidro é o maior elemento de ligação. Pode-se abusar das formar e criar os mais diferentes volumes em um mesmo prédio, desde que todos ganhem o mesmo revestimento vítreo, para que o resultado seja unitário. Assim fica fácil projetar... Nossas fachadas, a partir desse entendimento, caminham para uma pobreza atroz, subjugadas ao volume. Não existe mais a relação do todo ao particular! A minúcia, o detalhe, a filigrana, o diferente, a surpresa, nada disso existe mais! Vidro, vidro e mais vidro, revestindo corpos em curvas, torções, balanços e piruetas mil! Belos, sem dúvida! Mas sinto falta do detalhe, do mais perto, do próprio e do único, ou seja: do particular. Só vejo o todo!
           É verdade que com toda essa riqueza dos volumes um detalhamento muito rebuscado ficaria exagerado e inapropriado, mas a crítica anterior vale para uma reflexão, pois visto do alto e bem distante o prédio ganha contornos e belezas que se perdem quando mais perto.

          Antigamente projetava-se para uma escala mais próxima, depois para uma escala um pouco maior e mais aberta. Hoje parece que se projeta para ser visto de bem longe. Mas a convivência se faz de bem perto. Como trabalhar essa contradição? Essa obra de Pelli, tem garantida várias vistas abertas, distantes do prédio que se ergue praticamente isolado sobre uma plataforma (primeiros pisos) mais alta que a rua. Ao seu redor grandes espaços públicos mantém distantes os demais prédios do centro da cidade, o que lhe garante autonomia e domínio no espaço urbano. legal! Foi criado para ser um marco da arquitetura moderna dessa cidade que já foi uma das mais importantes e ricas do país e que hoje amarga um posto nada confortável, figurando entre as cidades norte-americanas mais pobres. Isso já justifica um trabalho maior de seus volumes do que de suas fachadas. Mas que é uma tendência, não há como negar.


Uma interessante fotografia da estrutura metálica de parte do edifício.


            Na próxima imagem aparece, fotografado de baixo para cima o grande vão central. Este espaço, que conecta as duas partes do prédio, permite a entrada de muita luz natural e abre o interior para a vista da cidade. Recintos de conexão, com vãos muito altos como este, dotados de muita dinâmica entre seus andares e cheios de perspectivas, sempre encantam. Projetos que adotam este partido inevitavelmente agradam à todos. Aqui a receita de sucesso é garantida e a exceção à regra não existe. Mesmo que suas escadas não sejam das mais bonitas e que se choquem com os pilares em "V" e que a estrutura metálica vermelha acabe repentinamente sem se preocupar em fazer uma ligação harmônica com o seu interior o conjunto é bonito. 


               A confusão obtida pela visão de quem está em baixo desaparece totalmente quando o observador muda de lugar e passa a desfrutar da vista dos andares mais altos. Essa transparência dos enormes panos de vidro que trazem a rua para dentro do prédio é muito bem explorada. Não é nenhuma grande "sacada" mas é aqui muito bem aplicada. Ao fundo, em segundo plano, a cidade com suas linhas mais clássicas, por trás da plataforma de circulação que vence as grandes vias de rolamento de contorno e permitem um acesso seguro ao Centro de Ciências. Ao centro dessa laje elevada uma praça na cota zero.   



               O desenho abaixo é muito lindo e mostra a relação entre a cobertura orgânica com o todo. Poucas vezes se vê um elemento ondulado tão bem colocado como este. A inclinação das duas arestas laterais, causando um deslocamento das superfícies de base e topo, da maior parede (aquela que possui as janelas redondinhas) é o verdadeiro elo de ligação entre as linhas retas do conjunto com a onda de cobertura. As paredes de vidro, também muito bem colocadas, fazem a ligação entre os diversos corpos sem causar nenhum tipo de conflito ou ruído. Os vãos projetados também funcionam muito bem e fecham os limites determinados pelos balanços. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário