terça-feira, 9 de junho de 2015

Ara Pacis




            Ara Pacis é um altar romano dedicado à deusa Pax (Paz), datado do ano de 9 A/C, localizado às margens do Rio Tibre (Tévere) na cidade de Roma. Mandado erguer pelo Imperador Otávio Augusto, conhecido por reinar durante o período conhecido como Pax Romana para celebrar a relativa paz que manteve durante seu império e em homenagem à uma missão pacificadora de seu exército, em terras da Gália e Hispânia, liderada por si. 
          Considerado uma obra-prima da arquitetura romana, o pequeno prédio e seu altar, completamente feitos de mármore, resistiram ao tempo e permanecem até hoje encantando o mundo e testemunhando o tamanho da façanha romana. O prédio exibe um conjunto de finos painéis esculpidos em mármore que forram uma estrutura de graciosas proporção e simetria, que guarda em seu centro o maravilhoso altar dedicado à deusa.

              Durante centenas de anos permaneceu escondido nos subsolos da cidade, sendo redescoberto durante o século dezesseis sob as estruturas de edifícios posteriores. Roma é uma cidade que sofreu inúmeras destruições que geraram aterros sobrepostos de entulhos e terra, motivo pelo qual teve seu nível tremendamente suspenso, elevando bastante as margens de seu rio. Várias cidades se sobrepõem e escondem grande parte da Roma Imperial.  

          Por ocasião dos festejos de dois mil anos de nascimento de Otávio Augusto, Mussolini, em um ato de propaganda ideológica, restaurou o monumento e o reconstruiu em outro local, inserido-o em um museu de linhas duras e autocráticas ao gosto dos tempos ditatoriais que pairavam sobre a Itália. Era o ano de 1937. Depois disso muitas reformas e restaurações foram feitas no prédio que envolvia o conjunto romano até que definitivamente foi demolido dando lugar ao atual museu de linhas mais modernas e puras. 


Richard Meier: a mente por trás do novo museu.
 Que enorme honra, para o arquiteto, ser chamado para criar um museu ao redor de uma edificação tão importante como o Ara Pacis!


               Concebido pelo arquiteto como um ambiente renovador, com linhas que não competissem com o altar sacrificial e como algo a preservar parte importante da história e cultura da humanidade, esse museu substituiu o antigo que se encontrava em lastimável estado de conservação. A decadência, acelerada pelos anos do pós guerra, teve seu fim com a completa demolição do gabinete com ares do Art Dêco brutalista que dominou as mentes e gostos autoritários. A atual estrutura consiste principalmente de uma enorme galeria que envolve o altar de mármore completamente vedado por vidros transparentes fixados em uma bem elaborada estrutura de metal branco. 
               Por fora as linhas retas e as cores claras contrastam com a cidade de cor tijolo e estilo muito próprio. Essas linhas econômicas em decoração, que podem causar um contraste maior que o desejado no lado de fora se repetem por dentro, mas com outro efeito: elevam ainda mais a importância daquilo que encerram! Internamente o antagonismo das linhas modernas com o rebuscado e esculpido prédio imperial só eleva a importância da Ara Pacis! O prédio cumpre co extrema competência seu objetivo: exibir e enaltecer o altar trazido do Campo de Marte.
               

Esse prédio foi inaugurado em 2006 e de lá pra cá tem sido alvo de muitas controvérsias.


          As inconfundíveis linhas do autor (que tiram o maior proveito possível das superfícies puras em cores neutras com muito uso de cheios e vazios, aliados com grandes campos de texturas que complementam enormes panos opacos alternados por outros vazados ou translúcidos, sempre com formas bem geometrizadas, ora esquadrejadas, ora muito alongadas , mas sempre muito econômicas em termos decorativos), dotam essa obra de uma personalidade ímpar dentro da área central da Capital Romana. São muito raros os prédios de linhas modernas na área histórica de Roma e desde 1930 esse é o único que foi erguido. 


          Há quem diga que a arquitetura contemporânea teima em fazer edifícios "assinatura", preocupados primeiramente em fixar o nome do autor em detrimento do contexto histórico local e da suprema importância da cidade e seus entornos. Não tenho como discordar disso e infelizmente vejo esse problema se repetir aqui. O prédio realmente me encanta! É muito lindo, mas não mostra nenhuma preocupação com o que há ao seu redor. Neutraliza e desconsidera os belos edifícios do outro lado da rua e cria uma eficiente muralha branca entre o rio e essa parte da cidade. Continua tão autoritário como era seu antecessor fascista.  



           As escadarias da praça seca em frente ao museu. É um conjunto maravilhosos de longos e extremamente decorativos degraus de Travertino Romano. Funcionando como arena, é um verdadeiro convite ao descanso e à contemplação. Nesse ponto o céu se abre e a vegetação ribeirinha ainda fica visível.



              Apesar de bela, a arquitetura torna a caminhada inóspita e fria, bem ao contrário do que acontece ao se caminhar pelas ruas de Roma. Mais um fator fora do contexto. 



              A enorme parede de vidro, com cinquenta metros de comprimento por treze de altura, pensada para dar transparência, acaba por ter uma estrutura muito densa que apaga o visual do interior e perturba a visão que deveria ser livre para aparecer o prédio histórico. Sua base de travertino romano é resquício do prédio anterior erguido por Mussoline em 1937.

Na maquete fica fácil ver os volumes e suas diferenças.


               No primeiro estágio o Hall de Entrada fica bem marcado por um volume em formato de "U" invertido, cujo pé direito tem oito metros de altura. No segundo, centralizado e vedado com a pele de vidro está o Salão Principal que encerra o Altar. Nessa área o pé direito se eleva para treze metros e a cobertura independente funciona como uma bandeja. O terceiro e último resgata as proporções do primeiro e abriga outras áreas do museu.
 Abaixo a elevação voltada para o rio. 


As linhas bem puras denunciam o autor.


            Localizado atualmente no ponto escolhido pelo ditador Benito Mussolini, próximo ao mausoléu de Augusto e às margens do rio que corta a cidade, o monumento foi reconstruído a partir de seus fragmentos achados em um sítio onde ficou impossível erguê-lo novamente.


                A cobertura do salão principal é apoiada sobre quatro grandes colunas que sustentam esse conjunto de clarabóias. Essa grelha metálica repete a ideia das duas paredes de vidro laterais, que permitem plena entrada de luz e total relação entre interior e exterior. Segundo as diretrizes do projeto, tais paredes de vidro foram elaboradas para maximizar a iluminação natural e eliminar falsas sombras.






               As paredes de blocos de travertino romano na cor bege oferecem uma textura mais áspera que remete aos tempos do Império Romano e contrastam com a modernidade polida dos vidros e das peças metálicas modernas. Uma ponte entre passado e presente em torno dos dois edifícios que definem tais épocas. Essas paredes de pedra trazem também uma matiz de cores mais naturais e proporciona efeitos maravilhosos que aquecem o ambiente.




O mesmo painel em duas versões:
Acima como se encontra hoje nas paredes do monumento 
Abaixo em um estudo de como seria na época em que exibia suas cores.


Abaixo, hoje, o magnífico altar sepulcral romano.



Com recursos modernos de tecnologia, uma instalação reproduz as cores originais.


Seguindo duas imagens de como deve ter sido o prédio do Altar em seu tempo...

...exibindo sua rica policromia e...


...vendo-o de topo!


Por fim, uma vista aérea e uma planta baixa de situação do moderno museu de Meier, colhidas na internet.




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