O Aqua Tower é atualmente o mais interessante edifício da área central de Chicago. Com um resultado plástico bem diferente das usuais fachadas da cidade, provoca o observador com uma sensualidade que quase não existe nas construções norte-americanas. Realmente diferencia-se dos demais pela organicidade de suas linhas horizontais. Como para os estadunidenses o mais importante é ser o maior e o melhor, este prédio leva o título de ser o "mais alto edifício do mundo projetado por uma mulher"! Ridículo! Como se a bela obra dessa arquiteta não fosse boa o bastante! É belíssimo, possui linhas atuais, tem muita tecnologia e agrada a todos! Pronto: a boa arquitetura se fez! Sem essa de recordes! Isso é muito chato.
Esse projeto de 2007 foi concluído em 2010 e acabou tendo um uso misto, abrigando nos andares mais altos unidades autônomas unifamiliares e nos mais baixos um estrelado hotel de renome internacional. Tanto as dependências luxuosas do empreendimento comercial como os exclusivos apartamentos possuem vistas espetaculares do entorno. De um lado o Millenium Park, do outro o Rio Chicago. Na frente a cidade e atrás o Lago Michigan. As vistas são realmente privilegiadas e os balcões, que circulam os 1.500 metros quadrados de piso, avançam e recuam, por vezes interrompidos por panos de vidro. Essa ondulação dos pisos, que acabam em balanço (de até 3,50m), aliada com os enormes espaços envidraçados é que produz o efeito de "água" imaginado pela equipe de arquitetos. De fato parece que surgem espelhos de água nas fachadas.
O Aqua, com seus 82 (oitenta e dois) andares e 266 (duzentos e sessenta e seis) metros de altura, desponta como um dos grandes arranha-céus da cidade e a despeito da elevada altura possui em sua cobertura um jardim dotado de piscinas, quiosques e pista de corridas, considerado o maior terraço verde de Chicago na atualidade.
Jeanne Gang, sua arquiteta é natural de Illinois e é formada em arquitetura pela Universidade de Illinois (onde anos mais tarde lecionou) e tem mestrado na mesma área pela Universidade de Harvard. Depois de formada, estudou em Zurique e trabalhou em um estúdio na cidade holandesa de Roterdã.
A imagem agrada e magnetiza. Parece que em determinados momentos os balcões assumem vida e realmente se movem. Quanto mais próximo do edifício maior é a brincadeira com os olhos. É muito divertido caminhar ao redor olhando para cima e vendo as formas assumirem diferentes ângulos. A proximidade revela uma proposital deformação das arestas e completa eliminação da linha reta dos quatro cantos. Essa sensação é bárbara e junto com os balanços de corte orgânico faz com que um edifício de planta baixa retangular perca a relação com o seu real formato e ganhe contornos que "dançam" sob a perspectiva do observador.
Ainda que possam parecer aleatórios os avanços e recuos são mesmo bastante estudados e mantém uma forte relação como os demais posicionados acima e abaixo. As projeções se movem em constante ritmo e relação como verdadeiras ondas. À medida que sobem ou que descem vão modificando suavemente sem perder a relação entre si. Isso é muito bonito. Até mesmo quando somem por trás das grandes paredes de vidro que restam aparentes, as plataformas dos espaços avarandados o fazem com sutileza e correlação.
O grande movimento de suas fachadas o diferencia das típicas torres de vidro e confere um ar escultural que faz referência ao Lago Michigan. O curioso é a opção por um partido com tantas varandas em uma cidade conhecida pelo rigoroso e longo inverno. Como se não fosse o bastante as incrivelmente baixas temperaturas alcançadas durante os meses de frio, Chicago é ainda conhecida pelos fortes e sempre constantes ventos. Fica aqui uma dúvida se este projeto realmente responde às necessidades dos seus moradores frente ao clima da região.
A linha bem marcada dos cantos envidraçados desaparece conforme a mudança da perspectiva, quando há uma deformação proveniente da inclinação visual do prédio. Quanto mais distante fica o observador mais a linha reta aparece e inibe o efeito das plataformas arredondadas. O inverso ocorre com a aproximação do ponto de vista.
De repente um andar com pé direito-duplo! Lindo! Assim fica fácil ver a forma plena de uma das varandas e entender como brincam. Um sutil detalhe que não nos escapa e que torna o prédio ainda mais interessante. Mais um efeito que foge do comum e do óbvio.
A cor dos vidros fragmenta o prédio e dá a ideia de que ele está derretendo. É muito legal. As alvas varandas são dotadas de guarda-corpos metálicos pretos com desenho bem leve que praticamente desaparecem.
O belo efeito visuais consoante com o jogo de formas.
O Aqua pertence àquela categoria de edifícios inesquecíveis que conquistam imediatamente uns e cativam sem demora todos os outros. Isso se dá, por causa de suas linhas suavemente poéticas e pelo apelo ao elemento natural mais abundante no planeta. Toda essa conquista traduziu-se em vários prêmios de arquitetura. Todos, certamente muito merecidos.
Mas todo o auê em torno dessa obra, não deixa que passe despercebido ao olhar técnico do profissional de arquitetura uma referência bem clara a outro prédio muito famoso. Assim a inevitável comparação se estabelece. Falo do Edifício Niemeyer de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Impossível olhar para um e não lembrar do outro. Em ambos os casos lembramos também do desenho animado da década de 60, The Jetsons, de Hannah-Barbera. Não temos ainda aqueles encantadores veículos voadores da série, que aterrizavam nas varandas dos apartamentos dos seus prédios flutuantes, mas certamente a estética futurista continua a mesma. O que buscamos então como ideal de arquitetura moderna e eficiente é a leveza da estrutura e a eliminação dos obstáculos. Nisso o desenho anteviu com perfeição uma realidade que aos poucos estamos conquistando. Essa comparação é bastante pertinente pois nos três casos as lages muito delgadas que avançam livremente rompendo as fronteiras do próprio prédio se repetem.
O delicioso e mais que simpático desenho dos Jetsons.
Onde vão parar os pilares? (risos)
Muito legal o desenho. Inspirador!
Depois de estabelecida a similitude é bom traçar também a diferença. Essas características inerentes aos projetos devem ser levantadas para tentar diferenciar e enquadrar cada qual no seu contexto. Em primeiro lugar é bom traçar a linha do tempo e perceber, portanto, que várias décadas separam Niemeyer de Jeanne Gang. O projeto do arquiteto brasileiro é de 1955 (o desenho de HB é de 1962) e o projeto do escritório de Gang é de 2007. Cinquenta e dois anos separam o prédio brasileiro desse de Chicago! E podemos considerar nesse caso que o tempo tem mais peso quando pensado nos enormes avanços tecnológicos experimentados pelo homem do século vinte. O Edifício Niemeyer é fruto da prancheta e do grafite enquanto que o Aqua é fruto do computador:
Cada prédio reflete o conjunto de técnicas e a estética predominantes em suas respectivas épocas e países e responde pelos instrumentos viabilizados aos projetistas para transferir suas idéias para a terceira dimensão.
Como bom brasileiro que sou, fico especialmente tocado pela inventividade precursora do nosso mestre, que abriu um novo e "belo horizonte" para a arquitetura mundial com o prédio da esquina da Praça da Liberdade, coração político da projetada capital mineira.
Gosto muito das paredes de vidro que surgem mais abertas nas altas fachadas do Aqua com suas linhas profundamente escultóricas, mas me delicio com as marcantes, fortes e musculosas curvas do Niemeyer e penso que, um nada mais é, que a atualização do outro.
Infelizmente o atual estado de conservação do Edifício Niemeyer depõe contra sua beleza e importância, enquanto que o Aqua resplandece com todo seu vigor de edifício que estala de tão novo.
É muito provável que a autora Jeanne Gang, renomada arquiteta, pós graduada também em arquitetura e professora universitária, tenha conhecimento histórico das obras do famoso brasileiro e tenha, mesmo que inconscientemente, se inspirado nas linhas da fase pré Brasília de Oscar ao liderar o projeto que agora comento.
Uma vista da localização do Aqua a partir do Millenium Park. O edifício fica muito próximo ao gigante e monolítico Aon Center de 1973, que com seus 83 (oitenta e três) andares, ainda se mantém como o segundo mais alto prédio de Chicago, quinto dos E.U.A. e vigésimo primeiro do mundo. Muito próximo está também o Two Prudential Plaza de 1990, com 64 (sessenta e quatro) andares e topo piramidal, na posição de sexto mais alto edifício na cidade, décimo terceiro no país e o quadragésimo quarto no planeta. Temos nessa foto bons representantes de várias décadas de boa arquitetura.
Abaixo mais uma vista do prédio a partir do Millenium Park. Ao longe, com a "despenteada" concha acústica de Gehry em primeiro plano. A propósito: você já brincou de rasgar copinho plástico em tirinhas mantendo-as unidas por sua base? Veja se há alguma semelhança com essa estrutura metálica que serve como teatro... (risos) Pelo menos é lúdica!
Outra versão sobre o mesmo tema que encontrei em Golden Beach na grande Miami.
Na quadra junto ao mar, de um exclusivo bairro endinheirado de frente para a Collins Avenue - Sunny Isles Beach - este edifício (fotografado ainda na fase de acabamentos) desponta e se destaca entre outros arra-céus de notável requinte. De frente para o Atlântico no litoral do sul da Florida, esse prédio me parece mais adequado às características locais do que o Aqua de Chicago. Com apartamentos que podem alcançar preços estratosféricos ilude quem pensa que há muita variação em suas plantas baixas. Negativo! O pavimento tipo permanece inalterado em todos os andares, variando apenas na forma dos seus balcões. É nessa variação dos eixos e consequente ondulação da fachada, que procura evitar as justaposições, que está o "segredo" do projeto.
Abaixo mais uma vista do prédio a partir do Millenium Park. Ao longe, com a "despenteada" concha acústica de Gehry em primeiro plano. A propósito: você já brincou de rasgar copinho plástico em tirinhas mantendo-as unidas por sua base? Veja se há alguma semelhança com essa estrutura metálica que serve como teatro... (risos) Pelo menos é lúdica!
Outra versão sobre o mesmo tema que encontrei em Golden Beach na grande Miami.
Na quadra junto ao mar, de um exclusivo bairro endinheirado de frente para a Collins Avenue - Sunny Isles Beach - este edifício (fotografado ainda na fase de acabamentos) desponta e se destaca entre outros arra-céus de notável requinte. De frente para o Atlântico no litoral do sul da Florida, esse prédio me parece mais adequado às características locais do que o Aqua de Chicago. Com apartamentos que podem alcançar preços estratosféricos ilude quem pensa que há muita variação em suas plantas baixas. Negativo! O pavimento tipo permanece inalterado em todos os andares, variando apenas na forma dos seus balcões. É nessa variação dos eixos e consequente ondulação da fachada, que procura evitar as justaposições, que está o "segredo" do projeto.
Ainda que siga a mesma ideia dos prédios citados anteriormente, este adota um padrão que sugere uma ondulação (quase uma torção) em seu eixo central e não um jogo mais livre como no caso do Aqua e muito menos a rígida sobreposição do Niemeyer. Esse leve giro do Regalia Miami lhe confere movimento e dinamismo e chama a atenção para seus trezentos e sessenta graus de vista circundados por uma sacada que faz menção às ondas do mar à sua frente.
Por se tratar de uma construção muito alta ele ganha uma textura bem coesa que pode ser vista de uma distância bastante grande. Como no caso do prédio mineiro e no de Chicago a uniforme alternância de linhas claras com escuras se repete mas, a presença de guarda-corpos de vidro faz com que a espessura de suas lajes pareça maior.
A grande beleza do prédio, de autoria do arquiteto Bernardo Fort Brescia, encontra par na luxuriante vegetação presente em seu caprichado projeto paisagístico e no céu aberto livre de obstáculos.
Atenção para o detalhe dos penúltimo e anti-penúltimo andares na face voltada para a praia: parece um duplex pois a linha da laje some e dá lugar a um pano maior de vidro. Detalhe de muito bom gosto que revela e acentua o destaque hierárquico da respectiva unidade.
As varandas abertas com vista para o mar do Caribe me parecem bem adequadas e as grandes portas de vidro não barram a vista da paisagem. Essa arquitetura tem tudo a ver com os ares praianos de Miami e suas superfícies brancas refletem a abundante luz natural da região, equilibrando um possível excesso com as áreas envidraçadas.
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