Fundada no início do século dezenove à beira de uma bela baía do Golfo Pérsico, teve um crescimento populacional lento e uma expansão moderada com sua economia baseada na pesca e no comércio de pérolas naturais. Com o surgimento da cultura artificial de pérolas no Japão a cidade, bem como toda a economia da região, entrou em uma crise que só teve fim com a descoberta das reservas de petróleo no final da década de trinta do século vinte.
De lá para cá tudo mudou e quem agora chega à Doha não pode imaginar que a menos de um século atrás era uma cidade mergulhada na pobreza. Detentora, hoje, de um espetacular conjunto de espigões modernos, muitos dos quais assinados por nomes de peso da arquitetura mundial, muda diariamente sua paisagem em um crescimento desenfreado calcado nos petrodólares que alteraram o destino do país.
E nessa categoria de edifícios extraordinários é que se enquadra o Museu de Arte Islâmica de Doha, projetado pelo nonagenário arquiteto chino-americano Ieoh Ming Pei.
Bem ao gosto do premiado e célebre arquiteto, o prédio não nega sua vertente brutalista e surge da água a partir de uma ilha artificial na margem da linha costeira da cidade. Depois de procurar por inúmeros sítios e prováveis locais para a construção do prédio, Pei decidiu erguê-lo dentro da água a partir de uma ilha artificial tomada inteiramente pelo volume construído. Localizado em frente ao antigo conglomerado histórico, a poucos minutos do charmosíssimo souk e no final da longa área de pedestres conhecida como Corniche, abriga a maior coleção de artefatos islâmicos reunidos sob o mesmo teto, reunida a partir da década de oitenta do século passado.
Monocromático e paupérrimo em aberturas, relêvos e outros detalhes decorativos o museu tem nos jogos de volumes (que criam belíssimos efeitos de luz e sombra) a sua maior virtude. O partido adotado, com inspiração em uma pequena mesquita do Cairo, parte de uma base bastante densa e crua que vai ganhando altura a medida em que perde volume, escalonando em enormes degraus com algumas faces rotacionadas a quarenta e cinco graus e coroado por um cubo também rotacionado em relação ao eixo principal. Não existem avanços ou recuos no volume, bem como nenhuma inscrição o artefato decorativo que mereça destaque.
Não dá para dizer que é um prédio bonito por fora, ainda que não seja feio. Bonito mesmo é o jogo de volumes visto de cima mas, levando em conta que a cidade é totalmente plana e que os edifícios mais altos estão muito distantes, essa bela visão fica totalmente escondida. Avistado do mar a coisa só piora: uma pena.
Paredes listradinhas bem pós-modernas! Um dos poucos elementos decorativos presentes na elevação principal. Já bastante fora de moda! Ainda bem que eram poucas!
O que são aquelas duas janelinhas! Pavorosas! Melhor se não existissem! Tiram a força do interessante arco pleno feito com pedra escura que enlaça o brasão símbolo do museu. Esse brasão se repete no interior em forma de uma belíssima fonte. Em tempo: internamente o museu é bárbaro!
Acima e abaixo algumas vistas da grande esplanada suspensa com a ponte de acesso ao edifício. Essa estrutura serve de estacionamento coberto e tem em sua cobertura uma praça seca com grande chafariz ao centro, dois elevadores públicos, uma larga calçada de pedra esquadrejada que avança sobre o pontilhão e uma rampa que liga o conjunto ao passeio público.
Essa peça metálica oitavada, espelhada no chão decorado, é muito bonita e bastante leve. Cumpre com a função de marcar o acesso principal e dar as boas vindas ao visitante. Apoiada em uma peça triangular engastada na estrutura da porta combina com o todo e sugere movimento. Sua sutil inclinação leva o olhar ao centro e converge para o miolo da estrela de oito pontas, paginada no piso de pedra bicolor que dialoga com as listras da parede: nesse momento o icônico padrão pós-moderno passa a fazer sentido.
Infelizmente nesse ângulo a peça metálica esconde o belo arco que tem por trás. Isso faz com que a relação existente entre o grande portal gravado na parede e a entrada ao museu seja completamente apagada.
Aqui a cobertura metálica parece flutuar: lindo detalhe! Pena a bolinha !!!!!!! (risos)
Segundo seu autor a simplicidade foi a tônica do projeto.
O cubo que encima o prédio guarda em seu núcleo uma esfera. Essa esfera abre-se para o interior em uma magnífica cúpula. Se por fora ela praticamente não é vista, por dentro é onipotente! Uma pena esse detalhe do prédio ficar escondido do observador. E quanto ao volume quadradão rotacionado para obter destaque em relação ao todo, ainda que bonito e bem dimensionado, guarda um toque destoante e bastante feio: os arcos abatidos recortando a base de suas quatro faces não ficaram bons. Por eles não se consegue ver ou sequer perceber que existe uma esfera metálica (talvez dourada) na parte interna e esteticamente ficaram sofríveis e aumentaram o "catálogo" de tipos diferentes de aberturas presentes no projeto. Impressionante como em um prédio tão pouco vazado foi possível juntar vários tipos de aberturas a ponto de causar desconforto visual e ruído estético!
Acima um ângulo do prédio onde pode-se entender como ele reflete a luz solar e ganha diferentes nuances em seus recuos e recortes. A cor bege lembra a cor das paredes dos antigos edifícios da cidade e suas paredes lisas fazem o jogo de luz e sombras que o tornam mais interessante.
Se, em minha opinião, externamente o edifício arranca opiniões tanto positivas como negativas, internamente ele se apresenta de forma impecável. É lindíssimo em todos os seus detalhes!
A formidável cúpula com entrada de feixe de luz é perfeita! Seu trabalho escalonado formando o desenho estrelado bem típico da cultura local é mesmo digno de nota. Não muito grande e monocromática, possui, tanto em seu tamanho como na aparência metalizada de sua cor seus pontos fortes: são exatos para o local. Infelizmente esse elemento arquitetônico tão simbólico e importante não é visível do lado de fora, pois fica escondido por trás do cubo no topo do prédio.
Internamente o prédio não tem defeitos...
Acima o fantástico lustre pendente dos quatro grades pilares centrais.
Esse anel rendado é mesmo muito bonito.
Abaixo um detalhe do desenho vazado por onde passa a luz.
Muito decorativo, vive permanentemente aceso e funciona mais como balizador e orientador espacial do que como um lustre, já que sua fonte de luz não é suficiente para iluminar o amplo recinto.
A escada certamente é o elemento de maior destaque na planta baixa do primeiro piso. Seus arranques partem tanto do eixo marcado em direção à porta de entrada como do centro da grande mandala, paginada em mármore tricolor, bem abaixo da cúpula do prédio, marcada divinamente pelo gigantesco aro iluminado do pendente rendado. O primeiro patamar, portanto, tem quatro faces de contato com planos inclinados, dos quais dois descem e dois sobem. A escada serve tanto para quem entra no edifício como para quem está no grande átrio central. Solução bastante difundida, mas sempre muito prática.
Essa escada de dois lances completamente revestida do mesmo mármore que cobre quase todo o interior, abre-se em dois braços a partir do primeiro patamar formando um círculo das mesmas medidas do lustre e possivelmente da base da cúpula. O mais interessante é o deslocamento sofrido que a afasta levemente do eixo do conjunto.
No piso novamente a estrela de oito pontas. Dela partem es linhas que formarão o desenho oitavado bem no centro de todo vão. De todos os andares é possível ver este belo desenho.
Lindos detalhes:
1) O recuo da escada faz com que o desenho do piso fique quase todo a mostra.
2) O acesso principal é também marcado pelos dois pilares menores e cilíndricos locados na margem da mandala, no único intervalo das linhas do desenho de piso que forma uma passarela.
3) Quem chega ao interior do prédio vê a escada por trás e tem seu olhar atraído pelo arranque à sua frente.
4) Em um espaço rigidamente esquadrejado essa escada arredondada assume uma força descomunal evidenciada pelo aro iluminado.
Mais dois ângulos da bela escadaria de pedra, aço e vidro.
As três pontes que ligam os andares superiores e fecham a circulação dos andares. Delas é possível descortinas belas perspectivas internas. Executadas em aço e vidros leitosos ou transparentes, são muito interessantes e modernas.
A ponte do quinto e último andar é reservada à um restaurante estrelado e decorado por um badalado designer francês arroz de festa. Aberto também para o vão central, tem sua estrutura ampliada (ainda que não cole na parede de vidro da altíssima janela) e executada em concreto armado como as outras lajes, em vez do metal e vidro das passarelas abaixo. No topo dessa bay window o fechamento em vidro forma uma pequena cúpula facetada.
A luz invade o ambiente por entre os vidros da parede aberta ao mar. Enormes persianas foram instaladas para controlar a entrada de claridade no ambiente.
O desenho do teto é lindíssimo! Essas pequenas cúpulas pré-moldadas colocadas lado à lado formam um padrão sensacional. Muito bem colocadas as luminárias também contribuem para o efeito de "bordado" impresso ao projeto: tudo bem ao gosto local.
Abaixo uma vista da facetada cúpula octogonal da parede de viro junto ao mar.
A magnífica fonte de cubos de pedra negra formando uma estrela. Linda, simples e soberana: muito chique.
Depois vem alguém e coloca as mesinhas em cada ponta amarela da estrela: Pronto! F...
Vistas...
...vistas...
...e mais vistas!
Abaixo uma foto onde se pode notar a transição de um dos pilares centrais para uma parede portante que dá base à cúpula. Linda essa transição entre um elemento delgado e um corpo maciço. A parede por sua vez desdobra-se em outro triângulo invertido e se conecta à uma série de paredes dobradas em outros pequenos triângulos.
Nessa foto é possível ver também que as paredes listradas ressurgem discretamente, marcando a circulação vertical vencida pelas escadas secundárias que interligam os diversos andares. essas escadas ficam discretamente inseridas em nichos das paredes laterais. Muito bonitas e confortáveis não competem com a escadaria cerimonial do primeiro piso.
Por fora a bay window não é tão bonita assim, bem como sua estranha cúpula!
Mas sua localização é perfeita!
Muitos jogos de volumes...
Muita simetria...
Todas as portas e arcos recebem uma moldura de pedra escura. Detalhe por vezes muito pesado.
Esse museu possui uma das mais belas vistas da cidade. Os arcos emolduram o novíssimo e badalado bairro do Centro Financeiro no outro lado da baía. Nesse bairro estão alguns dos mais modernos prédios da cidade com desenho de famosos arquitetos mundiais como o francês Jean Nouvel.
Fontes sempre agradam!
Ainda mais em uma país desértico onde toda água doce é proveniente de usinas de dessalinização.
Belo gradil presente em algumas portas e janelas.
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