quinta-feira, 28 de julho de 2022

Place du Petit Sablon


PLACE DU PETIT SABLON

Bruxelas



                Localizada no centro antigo da capital da Bélgica, essa adorável pracinha cercada, é um dos mais agradáveis recantos da cidade. Um oásis de tranquilidade em meio ao movimentado  vai e vem da sede da União Europeia. Localizada numa região levemente inclinada conta, tão somente, com cerca de três mil metros quadrados de área mas, o que lhe falta de tamanho lhe sobra de charme e beleza.

                Ligando duas ruas, uma das quais de intenso tráfego de veículos e pedestres, apresenta uma solução muito inteligente privilegiando a fácil circulação dos pedestres que por ela cortam caminho. Tem o nível da rua de trás bem mais alto que o da rua da frente, fazendo com que sua porção traseira se eleve e crie uma espécie de fundo decorado, já que teve seu campo quase todo nivelado à cota da avenida principal do lado oposto. Composta basicamente por grandes canteiros decorados com vegetação de pequeno e médio portes, circundados por caminhos de terra que convergem para um lago circular, mantém-se francamente aberta ao céu, o que faz dela uma paisagem maravilhosa nos dia ensolarados. Seu maior destaque é um pedestal que suporta uma escultura de bronze de dois importantes personagens da história belga de onde jorram filetes de água para o lago à que margeia.

                A entrada se dá por três portões que fazem uma triangulação entre si; um praticamente escondido atrás da escultura principal na calçada da rua secundária e um em cada esquina da frente situados na avenida principal. Ao entrar pelo isolado portão atrás da fonte, descortina-se uma perspectiva da praça abaixo, vislumbrando seus canteiros precisamente podados (com seus miolos lindamente coloridos pelas flores de época) tendo em segundo plano a movimentada avenida e a Igreja neogótica de Notre Dame du Sablon. Já ao entrar por qualquer um dos dois portões frontais a paisagem muda completamente, pois o que se vê é o grande pedestal com a escultura de bronze sobre a fonte, tendo como pano de fundo uma parede verde circular   que tapa quase que completamente os edifícios da redondeza. Parece que não se está na cidade. Duas maneiras distintas de ver a mesma praça.

                Tais portões vazam uma bela cerca de grade forjada, entremeada por quarenta e oito pilares de desenho neogótico. Cada pilar sustenta uma escultura de bronze de um homem simbolizando cada qual uma das diversas históricas corporações de ofício medievais da cidade. Ali estão presentes o relojoeiro, o pedreiro, o armeiro, o chapeleiro, o sapateiro, o açougueiro, o estucador, o peixeiro, o talhador de ardósia, o cesteiro e assim por diante. Todos de costas para o interior ajardinado montando guarda de frente para a cidade. Seus pilares não são iguais entre si, exibindo diferentes desenhos que combinam com o estilo da igreja do outro lado da avenida. As grades, por sua vez, também alternam diferentes padrões entre um pilar e outro, mantendo a harmonia pelo cuidadoso trabalho de proporção e equilíbrio entre seus desenhos. 

     


Acima a planta baixa da praça com seus sete canteiros e fonte desaguando no lago circular.
 O traçado é claramente renascentista francês. (ilustração colhida na internet)



O portão solitário da rua de cima
 com a vista da parte de trás da escultura principal


Acima um dos dois braços curvos de acesso entre a parte alta e parte baixa da pracinha
 com suas 5 esculturas de personalidades do humanismo belga.



                Na alta e côncava parede de cerca viva, que veda a rua de trás, estão simetricamente colocadas dez esculturas de personagens do humanismo belga. Cinco para cada lado do portão central, envoltas pelo primoroso trabalho de poda, margeando duas, também simétricas rampas circulares de piso arenoso (sablon), que por sua vez também margeiam duas escadas que acompanham o desenho radial. Essa composição cria duas "asas" de circulação que partem de um ponto central e contornam a meia esfera do espelho d'água, voltando a se encontrar a medida que fecham a circunferência.
               As escadas e suas pequenas balaustradas são trabalhadas em  arenito claro, combinando com o grande pedestal mas, os caminhos de pedestres são todos de areia onde estão dispostos alguns bancos de ferro e madeira. 
                    Os corrimãos, de ambas as escadas, combinam com as grades externas, postes, luminárias e portões, sendo dessa forma, executados em robusto gradil decorado e pintado de preto. 
                    As árvores de grande porte (dentre elas alguns Plátanos) foram todas plantadas na linha periférica, proporcionando farta luz natural em toda a praça e agradáveis sombras em seus limites, dando guarida às esculturas da cerca. Esse recurso ajuda em muito a dar para o local aquele ar de isolamento em relação ao tecido urbano e permite o desenho formal de canteiros à moda francesa do início do século XV.



                Acima uma imagem colhida na internet tirada com uma grande ocular que mostra o espelho d'água abaixo do monumento principal da praça, cujo pedestal também funciona como fonte. Esse conjunto escultórico faz referência ao turbulento período em que a cidade ficou sob o domínio do ramo espanhol da da família dos Habsburgos. Nesse tempo a Bélgica fazia parte (junto com Luxemburgo, parte da França e parte da Holanda) dos Países Baixos Espanhóis, dominados e tiranizados pelo rei Espanhol Phillipe II, filho do Sacro Imperador Romano-Germânico Carlos V.



 Em destaque a figura de dois condes locais, mártires e símbolos da luta contra a repressão, por terem sido decapitados pelos espanhóis em 05 de junho de 1568 (primeiro ano da Guerra dos 80 Anos).


Sobre o pedestal com linhas neogóticas figuram Egmont e Hornes.




Na placa dourada os nomes dos mártires da pátria homenageados
na fonte ao centro do paisagismo:
Conde Hegmont e Conde Hornes.


Atrás de mim algumas das esculturas dos 45 homenzinhos 
que representam as Guildas Medievais.




Nessa foto é possível ver a diferença nos desenhos dos pilares. 


 
Eu com a vista da Igreja de Notre Dame du Sablon.


                Essa igreja em estilo Gótico Tardio, que na Bélgica ganha o nome de Gótico Brabantino, é a mais notória edificação da área conhecida como Sablon (o nome deriva de um antigo mangue que dominava a área). Ela separa física e visualmente as duas e bem diferentes praças conhecidas como A Place Du Petit Sablon e a Place Du Grand Sablon. A pequena, reservada e cercada pracinha, de que tratamos nesse post fica do seu lado direito, na parte alta da topografia do local, enquanto a grande área do Grand Sablon, completamente aberta e rodeada por estabelecimentos comerciais, fica do lado esquerdo e na porção mais baixa do relevo.  
                


Acima uma amostra dos belíssimos vitrais da igreja.
Abaixo o púlpito em madeira em estilo barroco que data de 1697.


                
                Bruxelas é uma capital surpreendentemente encantadora que vai muito além de sua Grand Place (considerada a mais bela praça do planeta). Vale muito a pena gastar mais tempo andando pela cidade que, além de muito segura, é muito animada e cosmopolita. Rica em história e patrimônio, guarda um acervo art nouveau de causar inveja e conta com muitos painéis de street art espalhados pelos diversos bairros. Terra natal de Tin Tin, do Atomium, dos mariscos com fritas, da melhor Cambraia de Linho, do Manneken Pis e de René Magritte, a cidade tem muito mais a oferecer. Perca-se nos parques, museus, igrejas, bairro da luz vermelha (sim, lá também tem!), palácios, museus e igrejas para depois descansar na Place Du Petit Sablon deliciando-se com um chocolate belga! Depois me conte!


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