sexta-feira, 6 de julho de 2012

Oceanário de Lisboa






Construído para completar o conjunto de prédios da Expo 98, no Parque das Nações em Lisboa, abriga além do aquário público municipal, algumas instituições de pesquisa e extensão universitária nos campos da oceanografia e biologia marinha. Tornou-se rapidamente no mais conhecido e visitado de todos os edifícios erguidos para os festejos da última exposição mundial do século XX e, é hoje, reconhecidamente o maior atrativo turístico do Portugal Moderno.
Idealizado para ser uma das principais peças de todo o complexo e para permanecer ativo após o encerramento do evento, ainda hoje atrai milhares de visitantes e um grande número de pesquisadores e estudantes da vida marinha.




Elemento fundamental na composição do plano arquitetônico e urbanístico da feira, já que seu tema era Os Oceanos, um Patrimônio para o Futuro, foi projetado às margens do estuário do Rio Tejo e implantado dentro da água. Dividido em dois edifícios batizados de Edifício dos Oceanos e Edifício do Mar forma um conjunto inesquecível. Acima a vista do Edifício dos Oceanos com sua ponte de acesso do lado esquerdo o liga ao Edifício do Mar. Os panos de vidro superiores iluminam as partes onde estão expostos alguns mamíferos, aves e répteis que fazem parte dos ecossistemas marinhos nele representados.



Ainda detentor do título de maior oceanário da Europa, ocupa uma posição de destaque no cenário mundial e representa o que há de mais moderno nessa área. Sendo o segundo maior do mundo, perdendo apenas para o gigante oceanário da cidade norte-americana de Atlanta.
Abriga uma quantidade enorme de animais de mais de 450 espécies diferentes, procedentes das mais variadas partes do mundo em tanques que suportam a inacreditável marca de sete milhões de litros d'água. Quatro tanques secundários, bem marcados no volume externo, cada qual em uma das pontas da planta baixa de formato quadrado, abrigam os ecossistemas dos oceanos Atlântico, Ártico, Pacífico e Índico.
 Seu gigantesco tanque central de cerca de cinco milhões de litros d'água é o lar do famoso Peixe Lua e de vários outros representantes dos quatro oceanos e seus diversos mares. Ali dividem espaço com os sempre impressionantes tubarões inúmeras outras espécies como arraias, barracudas, xaréus, moreias, garoupas, atuns e tantos outros.



Projetado pelo arquiteto norte-americano Peter Chermayeff, possui linhas muito modernas que nada tem a ver com a cultura local e que em momento algum faz referência à bela arquitetura ou à riquíssima história portuguesas.
Ainda que a feira tenha sempre um caráter universal e adote um tema de interesse global o que permite a contratação de arquitetos estrangeiros, a opção por um arquiteto local me parece que teria sido mais adequada por reservar o direito à manifestação da cultura local em um edifícios que não tinha a função de pavilhão. 
 Nessa exibição acontecida no ano de 1998 que marcou a troca de milênios, portanto livre para adotar o mais moderno e futurista dos estilos, este prédio já nasceu para ser mantido e não demolido como outros tantos. Este motivo revela-se maior e mais importante do que as tendências estéticas e filosóficas na época da mostra internacional e guarda em si um comprometimento maior com a população local e sua bela cidade. É uma pena que uma obra tão importante como esta não tenha sido feita por um arquiteto português.

Como resultado sua arquitetura abusa das linhas retas e dos acabamentos brutalistas, nada inspiradores e bastante inadequados para um aquário e muito distante do gosto ibérico. Nega veementemente toda a linguagem orgânica e fluída das flora e fauna submarinas e parece ser um brutamontes caído nas águas escuras do rio, ao invés, de poeticamente, sugerir brotar das profundezas marinhas para revelar ao homem os mistérios do mundo aquático.
Há quem diga que se assemelha a um porta-aviões. E de fato lembra mesmo. Isso vem corroborar minhas anteriores ponderações. Nada mais norte-americano (portanto fora de lugar) do que a ideologia bélica traduzida numa estética militar: comporta-se como um estilo que infelizmente parece menos ligado à conservação e estudo dos mares e mais vinculado à uma referência aos arsenais  de guerra humanos. Onde foram parar as Naus e as Caravelas? Se a intenção fôra, por motivos óbvios, vincular a forma do aquário à uma embarcação, que fosse então àquelas lançadas ao desconhecido, financiadas para o desbravamento dos novos mundos. Seria, a despeito do clichê, o belo e correto paralelo a ser adotado. A ponte entre as antigas naves que singraram corajosamente os mares "antes nunca navegados" e a idéia de avanços nos estudos da última fronteira terrestre a ser vencida pelo homem: seria perfeito!





Os  detalhes metálicos amenizam as duras linhas do prédio, mas ainda assim se mostram muito fracos para quebrar a rigidez e o peso do volume edificado. Até mesmo a enorme passarela aérea de acesso ao prédio principal é muito vedada e bastante abrutalhada. A passarela passa por cima da grande esplanada pavimentada com as tradicionais pedras portuguesas e evidencia a grande simetria do projeto.





             
 Os  detalhes metálicos agora vistos de dentro da passarela. Sua inclinação é vencida suavemente em virtude de seu grande comprimento. De tempos em tempos a passarela sofre um pequeno declive mais acentuado, mas mantém um ritmo e uma inclinação bastante confortáveis. Essa grande passarela liga os dois pavilhões que formam o conjunto: um sobre a terra e outro (o aquário propriamente dito) sobre a água. Existe outra passarela junto ao nível da água para acesso de serviço, manutenção e abastecimento. Essa segunda e plana passarela é descoberta e liga a plataforma do prédio ao molhe que o protege assumindo a ideia de píer de atracação.



              Acima uma vista, a partir da grande passarela, do grande espaço de circulação do edifício de entrada que está implantado sobre a terra. Este espaçoso ambiente é o local de um enorme e belíssimo painel de azulejos azuis e brancos. A alta parede é totalmente revestida com peças quadradas dos mais variados desenhos, sempre geométricos e bicolores, alternados com outros lisos que formam este magnífico  desenho de peixes e criaturas marinhas. Criado a partir de programas de computação o monumental painel possui nove tonalidades diferentes de azul dispostos a formar figuras ampliadas de estudos fotográficos correspondendo cada um dos seus 55.000 azulejos a um pixel das imagens.
             A obra de arte valoriza o prédio, atualiza uma grande tradição lusitana que remonta o século XVII, particulariza o espaço e disfarça o setor administrativo. Ninguém perde tempo olhando para as janelas abertas para o grande átrio pois ficam absortas com tanta beleza.
                Abaixo uma das escadas de acesso e o início do painel sobre a fachada oeste aberto para o exterior.






              A seguir duas fotografias tiradas de catálogos turísticos que mostram o aquário iluminado durante a noite. Realmente fica muito mais bonito do que durante o dia, quando não tem todo este brilho e transparências. Apesar de mais bonito, assume ainda mais uma áura de algo predatório, ruim ou perigoso à natureza, parecendo mais uma fábrica ou ainda uma plataforma de petróleo e nunca, nunca mesmo, um aquário. Definitivamente, por acreditar que não traduz o sentimento nem tão pouco a intenção da instituição e seu equipamento, que visam promover o conhecimento dos oceanos, sua conservação e correta forma de exploração, realmente não me agrada seu volume.



               E convenhamos: essas anteninhas e os tirantes são terríveis! Quando focamos nas escadas metálicas parece que voltamos aos anos 1970 com uma cópia em miniatura do Centre Georges Pompidou e seu estilo high tech. Na época Renzo Piano e Richard Rogers traçavam as primeiras linhas do que seria entendido anos mais tarde como o estilo pós-moderno. Atualmente essa linguagem já está mais que desgastada.




              A poesia de Sophia Andresen é uma dentre tantas outras expostas ao longo do circuito de observação ao redor o grande aquário central do Edifício dos Oceanos. A paixão dos portugueses pelas letras não é nenhuma novidade e a inclusão destas obras no percurso dos visitantes é algo admirável. Vale também ressaltar  a bela forma como foram introduzidas no ambiente. Gravadas sobre placas transparentes de acrílico e fixadas sobre as paredes negras, parecem com o efeito da iluminação que suas palavras flutuam no mais profundo e escuro dos mares. Poesia no texto e na forma como apresentam! Bárbaro! Obras de arte podem e devem sempre enriquecer o espaço de convívio e a arquitetura como um todo. Desde grandes murais de azulejos como o presente no Edifício do Mar até pequenos textos mais intimistas como este.





               Sophia Andresen, natural da cidade do Porto, foi uma das mais importantes poetizas portuguesas do século XX e é homenageada no aquário desde 2005, um ano após sua morte aos 84 anos de idade. Primeira mulher a receber o Premio Camões, tem hoje sua poesia enriquecendo as paredes das áreas de descanso e contemplação, oferecendo ao  observador mais que informação sobre o mundo animal: oferecendo cultura das boas! A oportunidade de dar ao povo português, principalmente às suas crianças (a maioria dos seus visitantes), a noção de que a literatura é algo importante, além da oferta gratuita e sutil dessa forma de expressão, só não são mais notáveis que a grande homenagem feita à escritora.

               Abaixo a nova parte acabada depois da Expo 98 acrescida ao volume da administração e chamado agora de Edifício do Mar. Nele estão a bilheteria, cafeteria, auditório e um pequeno aquário com exposição temporárias. Ao contrário do prédio principal e mais famoso este é magnífico. Sem muita pirotecnia, e sem a pretensão do outro, acaba por fazer melhor figura. Aqui os elementos decorativos fazem perfeitas alusões ao mar.



               O Edifício do Mar veio ampliar os serviços e opções de lazer do Oceanário de Lisboa já bastante completo. Dessa forma abre novas frentes de serviços de apoio ao turista e visitante e estende sua função educativa. A primeira exposição temporária alcançou um tremendo sucesso ao mostrar de forma original um grupo de tartarugas marinhas que podiam ser vistas de muito perto. A experiência de visitar este aquário e observar estes répteis marinhos em um ambiente de belo desenho e concepção bastante moderna se revelou no mais prazeroso dos passeios.




              Revestido externamente por uma grande parede com sete mil blocos cerâmicos brancos com um desenho que lembra as escamas de um peixe, o Edifício do Mar alcança um resultado surpreendentemente belo, elegante e discreto. As peças componentes dessa parede foram executadas em três tons de branco sendo algumas em forma de leque e outras em forma de arco, que juntas formam os cheios e vazios. A linha vazada marca a altura do restaurante e veda um espaço concebido como um jardim de inverno. Esta faixa quebra a forma de monobloco do volume conferindo ao todo, em conjunto com o efeito de escamas, um ar mais leve e orgânico.



               Acima uma vista da bela cachoeira que brota da linha superior da platibanda da marquise de acesso à bilheteria e cai diretamente sobre o solo, criando um corredor sob o arco formado pela linha d'água. Essa cortina de água é mais que bonita: é super interessante e divertida. 










              Nestas duas fotografias o detalhe da belíssima parede externa. A fachada é uma peça artística criada  pelo artista catalão Toni Cumella. Toni Cumella responde pela restauração, entre outras, do Parque Güell em Barcelona. A parede além de muito bonita é funcional pois assegura um equilíbrio de temperatura, cuja eficácia térmica é assegurada pelo fato de permitir uma dupla ventilação e uma abundante iluminação, o que redunda em economia no uso de energia elétrica tanto para sua iluminação como para os equipamentos de ajustes térmico forçados. 













               Lindo o desenho dos elementos vazados repetido no piso. O efeito provocado pela sombra na superfície lisa e também branca do chão é a forma mais interessante e barata de aumentar a área decorada, criando jogos de luz e sombra, cheios e vazios, brancos e pretos. O partido tirado pelos ocos da parede aproveitando a luz solar aquece e dinamiza o lugar.




              Tudo branco! Piso, paredes, teto e mobiliário. Aqui o show é dado pela luz natural que invade o interior e desenha por todos os lados as sombras das escamas da fachada. 









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