sábado, 6 de outubro de 2018

Centro Cultural Fundação Stavros Niarchos


              O Centro Cultural Fundação Stavros Niarchos, situado na região litorânea de Atenas, às margens da Baía de Faliro, é um extraordinário complexo arquitetônico que serve de nova moradia à Biblioteca Nacional e à Ópera Grega. Suas moderníssimas instalações são um presente ao povo helênico da fundação criada por um de seus mais célebres armadores que fizeram fortuna no século vinte.

                 Abaixo, as primeiras sete imagens que mostro, foram disponibilizadas pela própria instituição e veiculadas em diversos outros blogs e sites.



Acima uma vista do complexo com destaque para o longo espelho de água.
Atenção ao enorme parque Niarchos.

O prédio tem sua porção mais alta voltada em direção ao mar e a grande avenida em primeiro plano o liga diretamente com o Centro da Capital Grega.


Duas vistas laterais do grande talude inclinado a partir do lago artificial.



  Acima a cobertura da Ópera 
e abaixo uma vista do início do parque na cota zero.


Uma planta baixa que contempla o teatro e a biblioteca.
Atenção para a Ágora no eixo central.
No topo, o prédio de estacionamentos também coberto por vegetação.


Um corte do teatro da Ópera.



 A partir de agora mostrarei fotografias tiradas por mim. 


Abaixo duas vistas da maquete do complexo.



           O Edifício exibe formas muito simples e puras, abusando das linhas retas e ortogonais. Nenhuma sinuosidade é evidenciada e as linhas orgânicas são raríssimas. Mesmo o paisagismo e tratamento externo como os revestimentos e acabamentos internos são tratados com traços retilíneos, e isso, na minha opinião, criou um efeito maravilhoso que deu muita profundidade às suas perspectivas. 
                
               Do todo resultam grandes superfícies, tanto verticais como horizontais: enormes paredes cegas; enormes paredes envidraçadas, enormes escadarias, enormes vãos livres e enormes campos, tanto secos como verdes. 

               Seus dois volumes principais aparecem com mais clareza na fachada lateral à beira do longilíneo espelho d'àgua. É nessa elevação que está a entrada principal do conjunto, em um recuo chamado de Ágora. Trata-se na verdade de uma praça de distribuição de fluxos que tem a biblioteca na sua direita e a ópera na sua esquerda, com formato quadrangular e seca. Nela é que realmente se alcança a real dimensão  do conjunto arquitetônico. 


A Ágora vista de dentro do prédio.


Tanto acima com abaixo duas vitas da Ágora a partir da laje ajardinada.


Note a cobertura vegetal de baixo porte nas floreiras.


            O complexo tem ainda um enorme parque ajardinado batizado de Parque Stavros Niarchos, projetado em um imenso terreno de onde brota um talude artificial que inicia na cota zero e sobe até alcançar a cobertura de ambos os corpos do edifício. A inclinação é muito suave, dado às enormes medidas do parque. O verde vem subindo e alcança a cobertura da biblioteca, onde de forma também muito suave é substituído por pisos secos ao avançar sobre a  cobertura da ópera. 

              Esse conceito de telhado inclinado com cobertura vegetal que parte da cota zero e avança subindo lentamente, formando uma rampa verde, já foi utilizado anteriormente em outros prédios famosos ao redor do mundo, mas nesse caso é tratado como novidade. Não se trata de nenhum achado, nem mesmo de nenhuma ideia suprema, ainda que seja incrivelmente lindo.    


                Na fotografa acima aparecem os dois volumes dos conjuntos de elevadores panorâmicos do complexo que atendem ao público. Na fotografia de baixo o mais interessante deles que dá acesso à laje mais alta, onde se encontra a sala de leitura e o bar aberto com vistas de toda a região de Atenas em livres 360 graus.


                   Essa coluna (na foto acima) de elevadores, parte da base do prédio e alcança o final do circuito do jardim inclinado. Nesse ponto o espaço livre e público já tem a proteção da laje de cobertura que coroa o projeto. Os elevadores chegam à uma passarela envidraçada e solta, com formato muito leve que encaminha o público diretamente aos  espaços de convivência. Antes disso ela serve de mirante ao todo, no lado em que avança sobre o espaço aberto em um escultural e belíssimo balanço.


                A muito limpa fachada envidraçada do volume da biblioteca ganha como detalhe um delgado e altíssimo pilar, que isolado dos demais internos, marca a quina do edifício e orienta o giro de circulação em direção à escadaria que leva à cobertura ajardinada (parte do parque Stavros Niarchos). Simples, eficiente e bonito.


                Já quanto ao volume do par de elevadores panorâmicos não se pode dizer que ficou bonito nem que ajuda a orientar a circulação dos fluxos de pedestres, uma vez que fica distante dos diversos acessos ao interior e que rompe com o ritmo da fachada sem conferir beleza.


                  Existem duas imensas escadarias que ligam a Ágora ao espaço público das coberturas. Uma na fachada da Ópera (fotos acima e abaixo) e outra na fachada da Biblioteca (fotos anteriores). Essas escadarias além de muito escultóricas são muito eficientes quanto à organização física do conjunto. São o maior elo de ligação entre o topo e a base além de servirem como elemento formal de grande peso na concepção do projeto. Lindíssimas equilibram a fachada e trazem o movimento que o prédio precisava.  



                  O pilar isolado da Ópera (que faz par com o outro da Biblioteca e cria uma espécie de "portal" para a Ágora), bem como seus pares internos, transpassa a laje e acaba sustentando a cobertura do prédio. Lindo detalhe arquitetônico e estrutural que envaidece qualquer projetista e calculista!

                 Devido ao ângulo podemos pensar que a torre de elevadores também toca a cobertura, mas isso não acontece. Ela fica solta fazendo uma ligação estética com a outra torre de elevadores mais baixa que serve ao núcleo da biblioteca.


Acima o lobby da biblioteca.
Em seguida, eu posando no mirante com a cidade ao fundo.



Fácil notar nessa vista o coroamento de ambas as torres de elevadores.
uma em cada quina interna da Ágora. A da biblioteca mais baixa que a da Ópera.



Algumas fotos do mirante.
Isso me lembra Taliesin East de Frank Lloyd Wright.



                    Belíssima vista da grande esplanada verde que tem seu início junto ao maciço urbano e sobe em direção ao mar. Esse ângulo está voltado para o Centro de Atenas que dista cerca de seis quilômetros, perto o suficiente para ver a Acrópole.
               No tratamento do jardim fica nítido onde termina o talude artificial e inicia o edifício, pois o conjunto de vegetação de médio e grande porte dá lugar ao revestimento de pequeno porte e forrações verdes.


Tirantes, aço e vidro fazendo uma arquitetura leve e arejada.


                Essa escada de serviços é infame! Se era para ser um detalhe ou uma peça escultural foi na verdade um equívoco! Em um lugar de imenso destaque, ela parece levar as pessoas do nada ao lugar nenhum! Fora de propósito, pois há indícios que é de recolher e fica sempre montada! Sob si foi instalado um bar que parece estar deslocado do todo. Uma pena que num prédio desse porte, esses "ruídos" ainda aconteçam. Certamente poderia ter tido uma solução melhor, bem como a cobertura da sala de leitura que... ainda que bonitinha, não mais que bonitinha é completamente desnecessária! Qual a razão de colocar duas coberturas, uma sobre a outra? Qual a razão de dar tamanha importância para uma escada de serviços com cara de escada de incêndios? Soluções simplórias e pouco atraentes. Atenção ao retorcido cano que brota do teto... não sei se tem alguma função, mas convenhamos: plenamente desnecessário!


Grandes vãos para abrigar um número bem expressivo de pessoas.
Vistas muito abertas que descortinam toda a cidade.
Piso de mármore branco e esquadrejado: nada mais grego!


Posando na amarração de um par de tirantes. Sistema de olhais e pinos. 
Ao lado um dos (muito delgados) pilares metálicos.


Os largos degraus, que aqui substituem o plano inclinado liso (rampa), funcionam como uma grande arquibancada destinada ao laser e entretenimento.




                A altura generosa do vão confere um ar magnânimo ao prédio e amplia seus limites. O contraste entre as superfícies bem brancas e lisas com o o piso rugosos e pouco mais escuro é inteligentemente sutil e incrivelmente eficiente. A parede que serve de embasamento para o terraço do bar e sala de leitura, recepciona quem vem do parque e justo por isso ganhou essa floreira. depois de totalmente coberta fará parte do paisagismo e servirá como elo de transição entre o aberto e o fechado: muito bom!
                    Na esquerda da foto vê-se o mirante projetado para fora do "quadrado". 

A seguir uma série de fotografias do interior da Ópera.


                 Não muito grande, o lobby da Ópera é mais alto que amplo. Funciona também como uma espaço de encontro e conversas, uma vez que o edifício é desprovido de foyer. Acompanhando os novos costumes da vida corrida parece que o espaço para convivência entre um ato e outro das peças músico-teatrais tornou-se desnecessário. O que pode compensar essa falta é a cafeteria que fica localizada no meio do complexo, entre os domínios da ópera e os compartimentos da biblioteca. Mas é um lugar tão "mais ou menos" que não transmite ao usuário aquela aura típica de uma noite de gala. Também não existe nesse interior aquela maravilhosa escadaria monumental a que estamos acostumados nesse tipo de prédio. O que não deixa de ser uma pena, visto que a relação formal é quebrada e a mise en scène completamente perdida.


                       É um prédio de aço e vidro, sem sombra de dúvida! Que busca fundir o interior ao exterior. Partido completamente diferente dos edifícios clássicos que atravessaram as épocas, servindo de casa para óperas ao redor do mundo e  que ignoravam sua relação com o exterior e entorno, transportando o indivíduo do mundo real para um mundo particular, exclusivo e mágico de luxo e fantasia. A busca dessa quebra de uma  barreira social que afasta a maioria das pessoas da cultura operística, é que fez desse, um  projeto contemporâneo, radicalmente diferente dos edifícios do passado. Encontramos aqui uma Ópera que começa e termina sua relação na Ágora. Distinta daquele modelo que isola a classe abastada  por trás de fachadas austeras e impenetráveis ao cidadão comum. 
                  Interessante perceber perceber que com esse expediente a Fundação Niarchos, por meio de seu arquiteto, pretendeu popularizar a arte e expandir suas fronteiras. O que não deixa de ser louvável e atual. Pena que para um ganho tão importante nas relações humanas, tenha que haver uma perda significativa de símbolos e hábitos tão pertinentes à arquitetura própria de teatros e casas de espetáculos. A hierarquia é fundida numa mesmice que nivela tudo e quebra certos conceitos inerentes a esse tipo de casa. infelizmente, aqui, a cultura, apesar de ficar "aparentemente" mais acessível, ficou um tanto mais pobre.


                  Os diversos andares formam um belíssimo conjunto de frisas voltadas para sas pardes de vidro com  vistas ao exterior. São elas as protagonistas do show arquitetônico e o palanque para as relações humanas individuais ou coletivas. É por elas que transita o público em dias de festa, portanto, é nelas onde todos se cruzam e se encontram.

                   Seus tirantes de sustentação formam um rendilhado de linhas retas mais leve que o caixilho da pele de vidro, dando a idéia de fragmentação das paredes e de seus obstáculos verticais. esse recurso alivia a estrutura e torna o interior mais convidativo e atraente.


Muito interessante são as luminárias locadas no fim de cada tirante que pende do teto: dão um acabamento inteligente e contribuem para o efeito cenográfico do local.


                  Dos tetos, em momento algum pendem lustres. Não existe um chandelier sequer! Em nenhum ambiente, por mais formal e importante que seja, não foi pendurado nenhum tipo de luminária em consonância com o estilo ultra moderno adotado. Para o fim de marcação hierárquica, na qual pendentes são muito eficientes, foi optado pela instalação de móbiles nos dois lobbys do complexo. Assim como no maior espaço livre da biblioteca, a ópera também ganhou uma obra de arte pendurada no seu espaço de entrada. Apesar de não ser o ideal cumpre com a função de diferenciar o espaço dos demais. Sendo a única peça artística e decorativa, compensa em parte a ausência de um belo e marcante lustre, tão comum nos ambientes de circulação conhecidos como "passos perdidos".

                     Foram escolhidos dois móbiles praticamente iguais, o que para mim foi um erro, pois perdeu-se a oportunidade de serem completamente diferentes com o intuito de dar mais personalidade e identidade a cada canto. Vejo que era necessário objetos muito diferentes entre si, já que os dois lados do prédio assumem funções muito diferentes. Mas não! Tanto o lobby da biblioteca como esse das fotos acima, receberam peças muito parecidas em forma, composição e cores.


                 O teto com tratamento cru, as paredes nuas, as pilastras metálicas, o piso monocromático e os vidros completamente incolores e transparentes, tornaram o ambiente muito estéril. Falta algo na arquitetura e na ambientação para dialogar com a função do prédio e para diferenciá-lo de outro meramente corporativo. Essa pobreza decorativa pode reverberar em uma pobreza conceitual, impedindo que a arquitetura avance para um patamar de excelência trazendo a pretensão do autor à tona, desconsiderando o desejo do inconsciente coletivo, acostumado à leituras mais ricas e rebuscadas. Pode que a ruptura entre conceitos tenha sido propositadamente muito brusca e radical, mas será que teria side realmente necessária? Pode que a certa altura, pareça que estamos sempre nas coxias.


A parede voltada para a fachada lateral com a inclinação marcada pela enorme escadaria externa. O móbile (único pontinho de cor) visto de todos os andares.


             Essa parede dividida em duas é muito linda, com suas partes distintas completamente diferentes e mesmo assim muito bem integradas. Na sua primeira porção, salientando a base a partir do solo, é completamente compacta e lisa, cuja única abertura insere o balcão das bilheterias e informações. Já sua parte superior é completamente vazada em uma estrutura de aço e vidro por onde entram a paisagem e a luz natural. Belo jogo de formas.
                 A escadaria  em si (externa e paralela ao espelho d'água), funciona como elemento escultural vivo, com seu enorme plissado que assume diferentes nuances dependendo do tempo, aliado ao movimento de pessoas que por ela sobem e descem. Sua inclinação dirige o olhar diretamente para a esquina da Ágora.   


Abaixo o confortável teatro de arena


Lindo com seu panejamento em vermelho e suas madeiras claras.
Altíssima tecnologia para um espaço multifacetado.
Seu piso sobe e desce assumindo inúmeras composições.


Abaixo a boca de cena do teatro da ópera.
Lindíssima a iluminação ao redor da grande abertura!
Vermelho ainda é a melhor cor!
De grande impacto.




Linhas moderníssimas, assim como suas instalações e equipamentos.
Conforto total em generosas dimensões e perfeita ergonomia.


Outro móbile no principal teto.


Visão privilegiada e pleno conforto de qualquer poltrona.


Seguindo com a sala de ensaios do coral
Outro espaço maravilhoso!


Paredes com tratamento acústico de ponta.
Textura e cor dadas pela madeira natural.


Ambiente onde são permitidas janelas externas.


Abaixo a grande sala de ensaios da orquestra com sua suíte.
O preto em vez do vermelho.



Abaixo o exterior do Centro Cultural Fundação Stavros Niarcho a noite.

A Biblioteca Nacional


A entrada aos dois lados vista da Ágora


Outra imagem da Biblioteca Nacional


A Ópera Grega. 
Essa escadaria leva ao mirante com vista para o mar.


O todo a partir da ponta do espelho d'água. 




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