sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Berlim

 Reichstag


               Reichstag é o nome dado a este edifício histórico de Berlim onde tem sede o parlamento federal da Alemanha, conhecido como "Deutscher Bundestag". Desenhado por Paul Wallot em estilo neo-renascentista, levou dez anos para ficar pronto, conquistando de imediato a simpatia do povo que o transformou em símbolo do otimismo nacional. De lá para cá tem acumulado muita história.
              Após a derrota do Reich em 1945 o prédio em ruínas deixou de sediar o parlamento e virou sede de uma exposição permanente sobre a história alemã e durante os anos da guerra fria ficou do lado ocidental da Alemanha dividida. Distante poucos metros do vergonhoso muro que transgrediu todos os limites do aceitável, resistiu em pé durante anos, como bastião da cultura germânica.
              Salvo da demolição em 1956 foi sendo recuperado pouco a pouco, culminando com a maior e definitiva intervenção no ano de 1992, a cargo do arquiteto britânico Norman Foster.      


                Acima uma vista da elevação oeste, voltada para esse grande gramado, que faz parte da Praça da República, remodelada e incorporada ao Tiergarten, maior parque público de Berlim. Aqui é o local tradicionalmente escolhido pela população para protestos de caráter político.
               É nessa simétrica fachada que está a entrada principal, com direito a todos os elementos arquitetônicos estabelecedores de hierarquia: grande escadaria, colunata em número par, frontão triangular e grande abóbada em maciço central. No friso superior ao conjunto de colunas e imediatamente abaixo da base do frontão, está gravada a frase: "Dem Deutschen Volke" que significa "O Povo Alemão". 
               Depois de seriamente danificado pelos bombardeios aliados na segunda guerra mundial, precedido por um incêndio anos antes, foi recuperado por uma restauração que o equipou com o que há de mais moderno na área da engenharia civil. De forma inteligente, criteriosa, ousada e com muito bom gosto, optaram por criar um novo domo, atrelado ao ressurgimento do edifício e retomada política da nação com sua reunificação em 1990, em detrimento da reconstrução da clássica cúpula original.
               Em 1884, o Kaiser Guilherme I, assentou a pedra fundamental e, em 1894 foi terminada a obra com a conclusão da cúpula de aço e vidro, os mesmos materiais da atual. Em ambas as estruturas foi empregada a técnica mais avançada de seu época. A atual, entretanto, tem como maior diferencial da antiga a presença de uma rampa em espiral que permite chegar até seu topo e ter a visão de parte do plenário do parlamento.

               


De dentro da cúpula, bem como de todo o terraço que a rodeia, o visitante tem vistas maravilhosas da cidade.

O subir e descer das rampas proporciona 360 graus de visão sobre a cidade.
 

               Belíssima estrutura central escamoteada com formato de um cone invertido. As diversas folhas de espelhos, fixados com leve variação de seus ângulos, refletem a luminosidade que passa pelos vidros e rebatem a luz em todas as direções. O efeito de se espelhar nesses vários painéis horizontais é motivo de muita diversão.


               O propósito desses espelhos é jogar mais claridade para o interior do edifício, mas mesmo assim, esse recurso deve ser utilizado de maneira criteriosa. Pensando nisso o planejador previu um quebra sol gigante com um formato que se assemelha ao de uma asa de inseto que ao girar por todo o perímetro pode barrar o excesso de luz proveniente do exterior. 


O engenhoso sistema de espelhos conduzem luz até o hemiciclo (sala com formato semicircular) dos deputados.



               Foster desconsiderou o formato abatido da antiga cúpula e propôs esta moderníssima cobertura elíptica de aço e vidro apoiada diretamente sobre a laje totalmente utilizada como terraço. Abaixo desse colosso transparente fica o coração da república unificada.



Kaiser Wilhelm Gedächtnis Kirche

Duas vistas da Kaiser-Wilhelm-Gedächtnis-Kirche



               A Kaiser-Wilhelm-Gedächtnis-Kirche é talvez a imagem mais famosa da Alemanha pós-guerra. É também um dos marcos mais famosos de Berlim e serve de memorial eterno para os horrores dos anos de conflito. Ao lado dessa igreja monumento, em estilo neo-românico, projetada por Franz Schwechten foi levantada a horrorosa igreja octogonal, com paredes de elementos vazados e vidros azuis, assinada por Egon Eiermann. O projeto de 1963 plantou dois volumes ao lado do que sobrou da bela KWG-Kirche depois que todos os seus destroços e sinais da guerra foram removidos. O problema maior é que o impessoal, pobre e frio campanário moderno, tão feio ou mais que a igreja baixa, atrapalha a visão da torre antiga e esmorece a dramaticidade da cena. A região também não é dotada de um belo paisagismo e os edifícios modernos mais próximos são construções infelizes das décadas de setenta e oitenta.


               A princípio o arquiteto queria demolir por completo o que havia restado da antiga igreja, bombardeada a 23 de novembro de 1943 ficando irremediavelmente danificada. Mas, por sábia pressão popular, a parte da torre, que origalmente tinha 113 metros de altura, e do hall que restaram foram mantidos. O novo projeto, bem menor que o original cercou o sítio com quatro novos monstrengos  independentes entre si. De um lado da ruína fica a nova igreja e de outro o campanário. Os outros dois volumes ficam mais espalhados e são mais baixos, mas seguem a temática de favos de mel. Por causa do formato, as novas estruturas foram apelidadas de "o baton e o pó de arroz". Mas o passeio se torna imperdível por conta dos mosaicos restaurados na base da velha torre do sino que ficou de pé. Totalmente limpos e refeitos, retratam partes da vida de todos os imperadores alemães e dão uma amostra do quão bela foi a igreja nos seus tempos de glória.


               Acima: obra de arte erguida no canteiro central da avenida Tauentzienstrasse na região comercial conhecida como Ku' Damm. Corriqueira nos catálogos de agência de turismo essa escultura é uma das imagens mais veiculadas de Berlim e consequentemente muito conhecida pelos turistas, assim como acontece com a igreja implantada ao lado das ruínas mantidas a poucos metros de distância. Em minha opinião são muito feias, tanto a escultura como a igreja modernista ao lado da KWG-Kirche.
               A área a leste de Charlottemburg em volta da avenida Kurfürstendamm é repleta de casas luxuosas, hotéis, lojas de departamentos, grandes magazines, bares e restaurantes. Aqui, depois da II Grande Guerra, foi o centro comercial e financeiro da Berlim Ocidental pois o antigo centro da cidade (Mitte) ficou no lado oriental. Mas seu desenvolvimento começou bem antes, perto do final do século dezenove, época que proveu o bairro de boa arquitetura, diferente das últimas décadas do século vinte. Aqui perto fica o Zoológico de Berlim que ganhou notoriedade com o nascimento do ursinho Knut e uma grande estação de trem e metrô. A área ainda é uma das maismovimentadas da cidade.




Sony Center na Potsdamer Platz



               O edifício ao fundo, todo de vidro com formato de meia lua, é a Sony Tower, projetada por Helmut Jahn. É o edifício mais alto da Postdamer Platz e fica em um dos três vértices da quadra triangular marcando a entrada principal de todo o empreendimento. Os modernos edifícios dessa nova versão da tradicional praça que foi arrasada pela guerra, alternam superfícies retas com outras curvas, criando um jogo de perspectivas que mexe com a sensação de aberto e fechado. Provocativa, a praça tem ainda uma cobertura que repete esse efeito. Toda essa variação no ritmo, nos ângulos, nas alturas e nos níveis do piso é equilibrada com diversos materiais de revestimentos que abusam das superfícies lisas e brilhantes.


  Vista interna da cobertura atirantada.




               Esta é uma vista da Sony Tower, agora do lado de fora e a noite. O detalhe de como a face arredondada acaba e encontra o volume interno retangular é muito inteligente e obtém um resultado plástico bem legal. É possível perceber na foto os quatro diferentes estágios na linha do final da fachada curva. Com esse recurso do desenho, escalonando e projetando a parte superior além da inferior, acentua-se a mensagem de pórtico de entrada da praça coberta e orienta o sentido da circulação mais importante. É a arquitetura pensada de acordo com as linhas traçadas pelo urbanismo. É como deve ser para a cidade crescer bonita.


Outra vista noturna, mas agora sob a cobertura atirantada que cobre o centro da praça no Sony Center.


              Na fotografia de época, um registro da Potsdamer Platz antes de ser cruelmente bombardeada na II Guerra. Muito movimentada, já era na época um ponto de encontro dos berlinenses.


Mies van der Rohe
Neue Nationalgalerie



               Projetado por Ludwig Mies van der Rohe, o aclamado arquiteto alemão naturalizado norte-americano, esse prédio de 1968 que hospeda a galeria nacional de arte moderna é a materialização de sua frase mais famosa: "less is more".
               O prédio quadrado, monocromático, de linhas retas, com as quatro faces quase idênticas e cobertura metálica sustentada por apenas oito pilares externos, tem tudo o que se espera de uma obra de Mies van der Rohe: prima pelo racionalismo, tem uma geometria limpa, abusa das transparências, é elegante e transborda de sofisticação.
               A Neue Nationalgalerie é o último grande trabalho de sua incrível trajetória como arquiteto. Nesse projeto ele se esmerou em criar um pavilhão com uma estrutura de aço dotada de um ritmo e um equilíbrio perfeitos sem nenhuma variante que possa causar ruído. Encontra na geometria e na racionalidade duas aliadas. Sem nenhum tipo de desvio estético, mantém-se imune ao exagero, livre do supérfluo e coerente com sua linha minimalista. Toda essa simplicidade se traduz em uma obra de imenso impacto visual.
               Totalmente vedado por enormes painéis de vidro e sem nenhuma coluna interna, o pavilhão conecta visualmente seu interior à praça que o rodeia e fomenta a interligação do espaço interno com o aberto por meio das esculturas colocadas ao longo da plataforma externa. As obras mais sensíveis encontram abrigo numa estrutura interna rebaixada e parcialmente coberta pela praça.
               No seu interior estão expostas obras de pintores como Picasso, Miró e Kandinsky. Há também um importante acervo de obras do cubismo, surrealismo e da escola alemã Bauhaus.



               A escada externa que liga a praça ao nível inferior. O prédio absorve o desnível natural do terreno e cria um solário sobre a laje do museu.



               Seguem as duas plantas baixas. A menor é do pavilhão de vidro e a seguinte do andar inferior. As três paredes cegas do andar maior são as que ficam em contato com o solo da praça e a única com aberturas é voltada para o lado que possui a cota que acompanha o desnível do terreno.




Galeries Lafayette

               Para as Galeries Lafayette de Berlin Jean Nouvel bolou um edifício maciço todo revestido de vidro com 56.442 meros quadrados divididos em doze andares, dos quais cinco ficam abaixo do nível da rua. Por fora a grande parede faz uma suave curva que marca a esquina e ganha um grande portal, da altura de quatro andares, na rua principal e endereço oficial do magazine francês na cidade alemã.
               Luminosos finos e compridos acompanham toda a extenção das duas elevações dividindo os andares. Nessas finas linhas brilhantes, textos publicitários e informativos são veiculados.  Os dois andares superiores assumem uma forma mais solta e ganham uma inclinação e quatro gomos.


              Vários fossos de luz revestidos com vidros, transpassam os andares, divididos em cilíndricos ou cônicos. Nas fotografias aparecem os dois principais cones de luz. O maior e mais importante deles tem seu formato invertido em relação aos demais, com a ponta virada para cima. Esse grande funil invertido vai da cobertura do edifício até o teto da galeria no primeiro andar, de onde parte um menor, com a ponta virada para baixo, que vai até o andar de base. O recurso cria um efeito visual inusitado e permite uma boa troca de luz entre o exterior e interior e de andar para andar. Os vidros laminados perdem muito de sua transparência e refletem as imagens de forma desigual. Isso dá um brilho que enfeita e sofistica a loja.


               Acima o cone central, que vai do térreo ao subsolo, com a ponta voltada para baixo. Abaixo o grande cone central, com a ponta voltada para cima, que vai do térreo até a cobertura.


Nesse espaço que fura sete dos oito andares superiores a loja pendura publicidade e decoração variada.


               Tomando como referência o "banner" pendurado, fica mais fácil entender como os cones interagem: aqui uma vista do cone de baixo a partir do cone de cima. As paredes de vidro são altas e impedem que as pessoas fiquem debruçadas sobre o vão livre e que objetos sejam lançados.

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