domingo, 14 de agosto de 2011

Casa Dançante - Ginger & Fred

               A Casa Dançante ou Ginger and Fred, como é mais conhecido o prédio sede da Nationale Nederlanden de Praga, é uma obra do arquiteto croata Vlado Milunic em cooperação com arquiteto canadense Frank Gehry. Levantado em um terreno de esquina na margem do  Moldava (Vltava) no centro da capital da República Tcheca, veio preencher em 1996 o espaço de um outro edifício arrasado no bombardeio de Praga em 1945. Seu audacioso e marcante projeto é datado de 1992.


               O grande mérito arquitetônico desse edifício está na singularidade de seu desenho. Único e inconfundível, transformou-se em mais um símbolo de Praga. Dentre todos os prédios dessa cidade, levantados no final do século passado, este é o mais emblemático e o que melhor representa os avanços e ousadias da época: mescla alta tecnologia, vários sistemas construtivos, competente cálculo estrutural e sofisticados materiais de acabamento em um projeto ousado e no mínimo corajoso.
               No plano urbanístico, seu mérito está na potente linguagem iconográfica, capaz de demarcar a área e arredores sob sua influência no contexto da cidade. No tocante ao bairro, confere modernidade e renovação, oxigenando e revitalizando a unidade de vizinhança. Já quanto à própria quadra, organiza o espaço, marca e ao mesmo tempo protege a esquina e sobretudo cria um fantástico ponto focal . É quase como um farol no inconsciente coletivo, que projeta ao longe seu foco de luz: avisa logo ao navegante que chega, que há um porto seguro cheio de história e tradição ao mesmo tempo que oferece à quem dá guarida, a perspectiva de descobrir algo novo ao fim do facho luminoso. Dessa forma assegura seu status de edifício símbolo em uma cidade cheia de ícones e marcadores urbanos.
               Quem o avista do meio do rio ou de sua outra margem, imediatamente faz conexão com o paralelo do farol. A forma fortemente cilíndrica no corpo que marca a esquina, encimada pela cúpula aramada e a alongada fachada texturizada com ondas, não nos deixam dúvidas. Interessante interpretação, de cunho meramente filosófico, visto que a República Tcheca é um país da Europa Central sem saída para o mar, portanto, sem tradição alguma na arquitetura de faróis. (risos). 


               Para mim o prédio é medonho. Muito feio mesmo. Mas não posso negar que o alcance geográfico dessa imagem é universal. Gosto é uma questão de repertório e formação, portanto, muito pessoal. Embora me agrade muito a idéia e o conceito por trás de todo o projeto, me perturba a finalização estética. A cúpula "descabelada" é na minha opinião o golpe mortal! O prédio tem um desenho grosseiro que destoa de toda cidade, salvo o leve "vestido de vidro". Deveria ser mais a cara de Praga que é quase perfeita. A cidade é um mostruário do que há de melhor, mais fino e sofisticado em todos os estilos que marcaram época. Nesse caso há uma ruptura na paisagem onde a sutileza cede lugar ao pretensioso Fred e à exibicionista Ginger.
                Em relação com seu entorno, responde muito bem volumetricamente, mas seu diálogo com o patrimônio histórico e artístico não é dos melhores. É posto que respeita as alturas dos imóveis ao lado (talvez uma imposição legal do plano diretor), mas para por aí. Desconsidera solenemente as linhas ecléticas do prédio rosado com o qual faz estrema. Dessa forma volta-se para o rio e dá as costas para o patrimônio mais antigo.


               O fato que comprova já ser um ícone de Praga é o número de pessoas que tiram seus retratos esmurrando o ar, como se estivessem golpeando a "cintura" da parede de vidro. Assim como muitos empurram ou escoram a torre de Pisa ou tentam segurar a Torre Eiffel pela pontinha, aqui a brincadeira gira em torno da silhueta da Ginger.


A bem humorada brincadeira da fotografia com o murro.


               É inegável que os arquitetos souberam transpor sinais do feminino e do masculino para a volumetria. Enquanto um corpo se expande e flui para baixo, o outro levemente se alarga para o alto. É o famoso positivo e negativo. O Fred suportado por um único e grosso pilar central assume contornos fálicos. Em contrapartida Ginger, que de forma muito feminina escorrega seus pilares ao limite do passeio público, é laçada e protegida pelo áspero e rígido volume protuberante.
               Inegável também é que captaram o momento exato de um passo de dança: o corpo de vidro parece reclinar-se sobre o ereto corpo cilíndrico num imaginário rodopio. "Rodopiar em uma esquina": nada mais poderoso que esta interpretação para um tecido urbano onde a rua vira pista de dança e os carros fazem a curva de forma sutil e compassada. A própria curvatura da rua que beira o rio acentua a idéia do giro.
               Por todos esses motivos o prédio é super interessante e deve mesmo fazer parte das obras a serem sempre estudadas, fotografadas e muito comentadas.
             A propósito: o apelido se refere ao famoso par de atores e dançarinos de Hollywood, Giger Rogers e Fred Astaire.

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