quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Mario Botta

Ransila 1 Building

               Na criação do partido para o projeto do Edifício Ransila no centro comercial da cidade de Lugano, Mario Botta ficou frente a frente com um dilema urbanístico: reformar um imóvel com uma proposta nova e diferente, tendo a obrigatoriedade de recompor o prédio sem interferir na circulação de uma esquina movimentada. Assim, o edifício deveria manter fluída essa articulação do bairro e ao mesmo tempo virar um marco bastante forte para a rua.
               Com a idéia de costurar o tecido urbano por meio da arquitetura  o arquiteto ligou as duas fachadas principais e criou uma marcação muito forte no canto, dando a idéia de uma torre. Esse volume bem marcado é criado pelo parcial esvaziamento dos planos verticais que resulta na formação de uma espécie de grade com a borda interna em diagonal. Essa diagonal, além de soltar o pilar, marca a entrada sob o vão que cria. Em outras palavras, o arquiteto parece esculpir um bloco, talhando fendas e baixos relevos ao criar as aberturas e os vãos de entrada por entre a coluna e as paredes que o emolduram. Cria ainda um pequeno pórtico na esquina.
              O que surpreende é a técnica e o requinte na disposição dos tijolos aparentes. Com total amadurecimento do estilo e refinamento do gosto, Botta é caprichoso e detalhista ao máximo. Concede ao projeto uma linguagem atemporal e uma atmosfera mais humana, onde o artesão ganha mais força que a máquina. Dessa forma humaniza ainda mais a obra e distancia a execução da arquitetura dos ditames modernos de gigantismo e complexidade dominados por computadores e guindastes. Dá-nos a certeza de que a boa arquitetura pode sobreviver ao exagero e às cifras faraônicas.
               O uso do tijolo cria uma textura maravilhosa e as superfícies exibem inteligentes desenhos que alternam peças na horizontal com peças na vertical. Sábios motivos decorativos são repetidos com ritmo e critério. O afundamento das janelas, em virtude do trabalho de escalonamento das linhas de assentamento, produz o efeito mais
belo: tira partido da luz e suas variações para acentuar ainda mais o quadriculado da fachada.


               Mantendo o edifício dentro de um cubo imaginário, a presença do maciço vertical na esquina, proporcionou a esse volume, sem aberturas e com a aresta de encontro de ambas as fachadas bem marcada, sua aparência de solidez . Interessante a inclinação do caixilho que solta ainda mais a torre e orienta a entrada por entre os dois vãos da fachada. Essa inclinação acentua ainda mais a poderosa marcação da esquina.
              O prédio tem sete andares, e sua planta baixa em "L" está organizada a partir das escadas escondidas no núcleo central. Sua altura é compatível com os edifícios ao lado e seus andares quase coincidem com os dos vizinhos. O coroamento do border superior formado por uma fileira de óculos, não compete, não destoa e dá graça e movimento ao mesmo tempo que quebra a rigidez das linhas retas.       
               Mario imprimiu sua personalidade como criador sem ferir a paisagem e sem ficar refém do que existia antes. Fez somar ao quarteirão uma obra de bom gosto na escala ideal e da forma adequada: suave relação entre arquiteturas que se somam para desenhas a cidade. 
               


               O encontro bem marcado das fachadas, nessa sólida torre, é reforçado ainda mais pela presença inquietante e até mesmo desnecessária da árvore no topo. Espero que um dia, seja removida de lá! Nem no natal deve ficar bonitinha (lá neva!). É realmente o que estraga a bela composição tão estudada e tão bem executada. Cafoninha e sem nenhum propósito, faz parte dos desenhos e croquis do atelier, portanto, foi bolação do arquiteto! Mas, certamente há quem goste. Eu realmente não gosto.
 
Abaixo a ficha técnica da obra localizada na Rua Pretoriana, Lugano, Suiça.
  1. Cliente: Empresa Ransina SA.
  2. Projeto: Mario Botta.
  3. Data do projeto: 1981.
  4. Período da obra: 1981-1985.
  5. Área construída: 4.000 m².
  6. Área do terreno: 850 m².
  7. Área da projeção: 750 m².
  8. Altura máxima: 22,5 m.
  9. Volume total: 20.000 metros cúbicos.
  10. Estrutura portante: concreto armado.
  11. Revestimento externo: tijolo vermelho a vista.
  12. Cobertura: laje plana impermeabilizada.
  13. Lajes: concreto armado.
  14. Tetos: rebaixo em gesso.
  15. Paredes internas: gesso acartonado.
  16. Revestimento de pisos: carpete (escritórios) pedra (público)
  17. Esquadrias: perfil metálico termoisolante e vidro.

               Uma vista do lago que faz fronteira com a Itália. Essa proteção de ferro acompanha toda a extensão do calçadão que beira a água. Lugano é uma das cidades mais encantadoras da Suíça e é um balneário badaladíssimo. Sua faixa junto ao lago está repleta de bons restaurantes e a vida cultural não é das piores. É uma curtição só! Possui uma arquitetura eclética, mas quase nada de muito interesse e valor (exceto as obras de Botta que reside na cidade). Suas paisagens são maravilhosas: um belo lago que serpenteia por entre montanhas escarpadas, qualhadas por pequeninas vilas. Um passeio de barco entre tais localidades ou uma subida a um dos vários mirantes é obrigatório.

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