quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Bibliotecas

Biblioteca Pública Central de Amsterdam.

               Reinaugurado no ano de 2007, o edifício principal da rede de bibliotecas públicas de Amsterdam, projetado pelo arquiteto alemão Jo Coenen, se converteu, à data, no maior prédio com esta finalidade do continente europeu. Com uma área construída que atinge quase trinta mil metros quadrados é recheada com interessantes detalhes arquitetônicos e moderna tecnologia de automação. Sede do conjunto de vinte e sete bibliotecas da rede pública, conhecida como OBA (Openhbare Bobliotheek Amsterdam), recebe em média a visita de 6.000 pessoas por dia, em todos os dias da semana, das 7:00 às 22:00 horas.


               O prédio tem uma volumetria bem rígida, circunscrita em um cubo com pouca variação de planos, o que poderia resultar em uma obra sem graça e pouco interessante, não fosse a correta escolha de materiais de acabamento e fechamento dos componentes da fachada. A que vemos na foto é a elevação principal, voltada para o interior da cidade. Esta fachada ganha uma marquise alta em balanço parcialmente vazada por uma pérgula que permite a entrada de sol no terraço da cafeteria. Esta marquise em composição com a parede inclinada, revestida com pedra, cria uma moldura para a face amadeirada com grandes janelas de vidro e aresta resultante do pequeno recuo à direita.


               Nessa vista a bela marcação da laje da marquise em balanço. A linha inclinada do rasgo da pérgula, em sintonia com a inclinação da parede cega (da esquerda), aliada à dobra da folha de madeira e vidro dão o detalhe mais bonito de todo o exterior. O recuo criado por todos esses elementos acentuam  o sentido da entrada principal. A fachada é de fato muito bonina, contudo, me parece estranha toda essa composição formal, visto que o edifício "aponta" para a "simplesinha" caixa de vidro ao lado. Seria lógico esperar que essa fachada fosse orientada para um imóvel histórico de destaque, ou ainda, bem  melhor, para um espaço aberto ou logradouro de significativa importância, o que não é o caso da pequena praça aberta em sua frente. De qualquer maneira a fachada alinhava um ciclo de novas intervenções arquitetônicas em uma região de características modernas. O grande mérito dessa solução urbanística é que mantém a cidade em sintonia com a atualidade sem interferir na malha antiga.


               Alguns bonitos detalhes da fachada que podem passar despercebidos por um olhar menos atento: o cubinho de vidro ao lado da entrada principal dá mais força à base do prédio e equilibra o jogo de volumes evidenciando ainda mais o vão livre abaixo da marquise triangular. Nessa foto essa marquise ganha ainda mais força projetada no ar.
               Atenção aos dois pilares de seção redonda que transpassam a laje aparente do térreo com pé-direito duplo e "seguram" o volume recuado de cinco faixas de janelas: detalhe simples, sem nenhuma novidade, mas que dá um efeito tremendo. Nesse caso servem de moldura para o letreiro da instituição. A propósito, bicicletas!  Muitas!


Sua construção teve um custo aproximado de 80 milhões de Euros


               Com uma localização privilegiada, junto à água e com grande fluxo de pedestres, é hoje em dia um dos passeios obrigatórios para quem está na capital holandesa. Levantada em um braço de terra na região portuária da cidade, fica próxima ao moderno pier de desembarque de passageiros em uma área de constante desenvolvimento e recuperação, fomentada principalmente pela construção de novos e modernos prédios. A biblioteca é um dos três edifícios que fazem parte do plano de desenvolvimento da região da Estação Central (ferroviária). Nessa mesma área encontramos outras edificações de peso como o Nemo de autoria de Renzo Piano.
               Com auxílio dessa aerofotografia vemos que a implantação poderia ser melhor: a linha artificial do aterro que beira o rio faz uma curva bem pronunciada totalmente ignorada pelo conjunto arquitetônico ali instalado. O famoso restaurante chinês que flutua paralelo à linha reta do mesmo aterro (telhadinho verde) também não teve um tratamento adequado e o bloco de edifícios me parece exagerado para área que poderia contar com mais verde.


Essa fenda no meio da biblioteca traz a luz  do dia para todos os andares e funciona como um "respiro" natural.



               Lindos esses óculos para iluminação zenital. Por todos os lados vemos materiais modernos em perfeita harmonia na confecção de peças com acabamentos primorosos. Por dentro e por fora o prédio dessa biblioteca é um exemplo de boa execução de um bem público. Esmero, competência e responsabilidade. 


               Os jogos de planos com seus cheios e vazios, fechados e abertos, recuos e projeções fazem a diferença. Os olhares cruzados e a intercomunicação dos diversos ambientes causam uma sensação de unidade e dão dinamismo ao conjunto. A grelha da fachada se repete em vários momentos também do lado de dentro.
               Lindas as superfícies amadeiradas em contraposição das brancas. A madeira e a farta iluminação natural são muito importantes para uma cidade com temperaturas tão baixas durante o inverno.


               O mobiliário totalmente branco parece fazer parte da estrutura e muitas vezes, funciona como elemento organizador do espaço interno assumindo a função de parede. Estas estantes são incríveis e brincam com os vazados. Com o formato circular e variando nas alturas dão outra versão da idéia da grelha.



                O piso mais baixo chamado de cave é exclusivamente dedicado às crianças que brincam e se divertem no local mais protegido e acolhedor de toda a biblioteca. As paredes curvas, como pequenas torres são um show a parte. Andar por entre essas paredes vazadas é um prazer.


Essas luminárias são o máximo! Isso é que é legal: soluções simples e de efeito.

     


           

               Como diz a máxima: "se não pode contra o inimigo, junte-se a ele". É isso aí, se tem que existir pilares que sejam lindos, ou pelo menos harmônicos. Cadenciados, alinhados e por vezes iluminados não interferem na leitura dos vários planos em efeito cascata e acentuam a idéia de profundidade na perspectiva interna bem aberta dos primeiros andares e subsolo.


               Circulando pelo interior os espaços revelam todo seu significado lúdico e iconográfico como nessa foto das barras de luz que brotam do chão em diversas alturas. Luz indireta para proporcionar aconchego em uma área destinada para brincadeira, jogos e intercâmbio pelas redes sociais da internet.



               As barras de luz e as cadeiras "bambas" divertem e decoram. A biblioteca abusa de iluminação artificial que pode vir das paredes, chão, pilares, escadas, móveis e luminárias.




               O mobiliário é prova de que o conforto e a tecnologia fazem parte das diretrizes desse projeto que foi concebido como um centro cultural e de encontro social. Tendo como foco a promoção da educação em todas as suas vertentes e para todos os setores da população, o arquiteto teve um grande desafio a cumprir. Sob pedido da administração pública, a nova sede da biblioteca central teria não só que atrair a população, mas, teria a difícil tarefa de mantê-la o maior tempo possível dentro de suas instalações, usufruindo de todo o seu acervo e equipamentos. Um edifício bonito era secundário; prioritária era a intenção de criar um centro cultural forte para a aprendizagem, intercâmbio e criação cultural.


                No corte transversal do edifício vemos detalhes interessantes do seu interior, como a integração dos três primeiros pisos com seus mezaninos, abrindo espaço para um pé-direito triplo, rampas e escadas rolantes. Os andares de base destinados à consulta rápida de periódicos e acesso à rede mundial de computadores recebe um tratamento mais lúdico e cenográfico em amplos e abertos espaços.
               A biblioteca é munida ainda de teatro para 270 pessoas, sala de exposições, cafeteria e um grande restaurante no último piso, aberto para um terraço, de onde se pode ter uma ampla vista do sítio histórico da cidade. 



Biblioteca Pública de Nova Iorque

                A muito festejada biblioteca de Nova Iorque tem que ser pensada de maneira distinta das demais quando o assunto são seus números. O gigantismo do seu acervo e serviços não se reflete diretamente em seu mais famoso prédio por uma única razão: a instituição é dividida em várias sedes espalhadas por toda a cidade. Mas isso não ofusca de maneira nenhuma sua sede de mármore branco de Vermont, localizado no coração de Manhattan, em plena Quinta Avenida.
                Onipotente em seu estilo Beaux-Arts com seu majestoso pórtico que exibe três enormes arcos plenos sustentados por quatro pares de colunas coríntias, que praticamente engolem a escadaria formal de entrada, segue como um elo urbano de enorme força e significado espacial. De fácil memorização, vira ponto referencial imediato para quem quer que seja. Localizada a meio caminho da mais afamada avenida estadunidense abre espaço para que as pessoas vejam o céu em meio aquela enormidade de arranha-céus que se "acotovelam" nessa parte da cidade.


                O edifício exibe uma simetria perfeita. Sem nenhum contraponto, contrabalanço, desequilíbrio, nada! Todas as suas fachadas são rebatidas em torno de um eixo central. Sua principal sala de leitura e consulta ganha a porção superior do projeto, onde são exibidas nove enormes janelas em arcos, voltadas para a o Briant Park. Dessa forma a entrada fica na afamada avenida das compras enquanto sua sala de leitura volta-se para trás e compõem a paisagem do enorme jardim público. Já o acervo fica abaixo dessa enorme sala, em nada menos que sete andares com mais de 140 (cento e quarenta) quilômetros de estantes. Nessa babilônia são guardados parte do acervo que gira em torno de 7 (sete) milhões de volumes.




                   As alvas fachadas bem trabalhadas, com suas linhas clássicas, nos levam diretamente para a sociedade do início do século vinte e suas predileções estéticas. Um tempo em que a escolha por elementos neoclássicos agregava valor e compunha um cenário de fausto; por isso sempre escolhido para ditar as normas estilísticas de edifícios públicos por todo o país. Interessante que nada mudou: ninguém fica imune à importância transmitida pelos estilos que buscam na Grécia Clássica e na Roma Antiga suas linhas, diagramas de composição, simetrias e ornamentação.  A nobreza do mármore muito branco, puro e brilhante não poderia ser mais adequado para elevar esse efeito à máxima potência. 
                    Soma-se, à isso tudo já falado, a enorme escadaria que vence o desnível entre a calçada e seu interior. Por uma entrada tripla com frontões triangulares protegidos pelos três altíssimos arcos o cidadão transpassa a fronteira entre o mundo ordinário e o mundo da completa sabedoria e aperfeiçoamento cultural. Muito simbólico para uma cidade movida pelo dinheiro e relações rápidas e um tanto superficial da modernidade contemporânea.
                    E é verdade! Assim como em outras sedes de bibliotecas clássicas esse feito é nitidamente sentido. Ao entrar nesse espaço algo acontece. O respeito é naturalmente imposto tal qual numa catedral. Muito óbvio pois não deixa de ser uma catedral: a catedral da cultura. Assim a voz imediatamente se cala, o ritmo dos pés se acalma, a temperatura abaixa levemente para um clima mais ameno e a cabeça se ergue em busca das belezas arquitetônicas. Cá estamos num templo! E vamos através de seus espaços em busca do ainda desconhecido, do novo e do valioso mundo das letras. 
                  Os grandes vãos, suas escadarias, pórticos e demais elementos arquitetônicos revestidos de mármore oferecem aquela temperatura que nos protege da cidade lá fora e o silêncio nos separa da pressa urbana e  impulsiona à  momentos de reflexão, estudo, pesquisa e leitura.


                    Eu posando ao lado de um dos dois indefectíveis leões de mármore na fachada principal. Símbolos máximos da Biblioteca, pode-se dizer que são as esculturas mais queridas da cidade. Perdem em notoriedade apenas para a Miss Liberty. Ambos ganharam ao longo dos anos vários apelidos e foram incorporados tanto pelo inconsciente coletivo como pela própria curadoria da biblioteca que os transformou em seu mascote e logomarca. São verdadeiramente adoráveis! 


                    Entrando na prédio somos recebidos num grande espaço completamente revestido com um extraordinário mármore rajado. Estamos no Astor Hall. Ambiente que leva o nome da família novaiorquina mais influente do século XIX e que muitas vezes é cenário de formais e sofisticadas recepções. Pode não estar elencado na lista dos mais belo recintos da cidade mas certamente encabeça a lista dos mais tradicionais. Seu nome já tem um peso bastante grande em virtude da tradição centenária da família de beneméritos.
                       Muito espaçoso e com circulação completamente livre dele parte-se para as principais salas abertas ao público. No mesmo piso temos interessantes pontos de visita tanto para a direita como para a esquerda mas, é subindo as escadas que verdadeiro show acontece. 








                        A sala principal de leitura ocupa todo o último andar aberto ao público e é subdividida em duas alas, mantendo a visão do seu trabalhado teto completamente livre. Isso graças ao enorme pé-direito do cômodo que ultrapassa os onze metros de altura. O rico trabalho de teto, que contrasta com as desnudas paredes de pedra, também subdivide-se em partes, entretanto, diferentemente do assoalho, é dividido em três seções, cada qual com um retângulo central pintado com um céu nublado e emoldurado por rica talha escura, valorizada ainda mais por douração nos seus altos e baixos relevos. 


                        As duas partes do salão são separadas por uma estrutura de carvalho composta por duas paredes arqueadas que insere a parte de consulta, retirada e devolução dos títulos. Essa barreira física permite o acesso pelas laterais do grande quadrilátero através de dois portais simétricos. É nesse local que o usuário pede por seu livro que vai ser buscado nos subsolos abaixo da praça (Briant Park) onde, junto com mais de cinquenta milhões, fica disponível para consulta. 
                        Completamente computadorizada e mecanizada com um sistema de trilhos importado da Alemanha a instituição é capaz de trazer do subsolo ao The Rose Main Reading Room qualquer livro em menos de dez minutos. 





                        A Rose Room tem farta iluminação natural que entra por quinze grandes janelões arcados, distribuídos nas duas maiores paredes da sala, em dois conjuntos, um de nove e outro de seis, dispostos frente à frente em rígida simetria. A parede com seis janelões mantém os nove arcos, entretanto três deles não possuem contato com o exterior por estarem na área de conexão do edifício com suas outras alas. Já a parede das nove janelas é voltada para o parque público e compõe sua fachada oeste


                                Simétrica também é a disposição dos seus doze grandes lustres de bronze. Presentes também, em duas fileiras periféricas, cada qual com seis unidades pendentes e brilhantes.
                                Quanto aos pisos, são em sua maioria de ladrilho esquadrejado na cor terracota ou do mesmo mármore aplicado em suas paredes, variando muito pouco nas áreas de acesso público e semipúblico. Buscando a mesma uniformidade e conceito de austeridade que as tais paredes exibem, restam em sua maioria muito simples e bastante limpos, quase sempre desprovidos de desenhos ou forrações estampadas. Por isso podem não ter muito destaque e não serem atraentes, salvo as belíssimas escadarias de pedra com seus rajados magmáticos.


                                Na verdade todo o interior, ainda que rico, é bastante contido, elegendo por vezes apenas uma de suas superfícies para ganhar destaque. Muitas delas apoiam uma espessa capa de madeira com estilo clássico, outras são cobertas por afrescos ou mosaicos de cunho historicista e por fim outras recebem enfeites trabalhados na mesma pedra da cantaria. Todas essas variações são muito apropriadas à função do prédio e bem ao gosto das elites cultural, política e financeira da época em que foram elaboradas.



                             

Os estilos e materiais variam muito pouco, bem como suas peças de decoração. Não é um interior com vasto acervo de obras de arte e mobiliário. Seu grande acervo é mesmo a recordista coleção de títulos.



Um dos diversos lustres de bronze e cúpulas em bolas de opalina.
As paredes em sua maioria são limpas e espartanas. 
Poucas obras de arte e pouca estatuaria.


Pela janela, a vista do Empire State Building, faz lembrar que se está em Midtown


           Infelizmente nem todos os ambientes são possíveis de serem fotografados mas, essas imagens são capazes de mostrar o quão interessante e bonito é o Edifício Stephen A. Schwartzman.



Biblioteca da Columbia University, Nova Iorque  







Biblioteca Morgan (Morgan Library & Museum) em Nova Iorque  
       
         Localizada em área nobre de Manhattan, no número 225 da Avenida Madison, esta belíssima biblioteca é o maior exemplo do que acontece quando o bom gosto encontra um orçamento ilimitado e produz uma obra rara de arquitetura e decoração.
            Construída entre os anos de 1902 e 1907, tem uma fachada neoclássica pouco vazada, revestida inteiramente de mármore branco proveniente do Tennessee, dotada de dois nichos e duas janelas retangulares que, duas à duas, ladeiam uma entrada marcada por um enorme arco paladiano. Extremamente austera, essa fachada representa bem claramente a vontade de seu proprietário: criar um templo para sua coleção. Com ares de ser inexpugnável, passa uma indúbia mensagem de poder.
             Hoje transformada em museu e centro de pesquisas acadêmicas sofreu no ano de 2006 uma intervenção que modernizou e ampliou suas instalações. Uma nova ala criada por Renzo Piano, sobre parte do antigo jardim, ligou o prédio da antiga biblioteca com a casa da família e alterou a entrada principal da biblioteca (que antes se dava pelo arco da foto abaixo). Essa nova parte, com linhas puras e modernas revestida de vidro, não modificou quase nada os prédios originais e foi o primeiro projeto do arquiteto italiano em Nova Iorque. 


             Especialmente projetado para receber o enorme acervo de livros, manuscritos, pergaminhos, desenhos, gravuras, encadernações antiquíssimas e impressos raros do banqueiro John Pierpont Morgan, este prédio leva a assinatura do arquiteto Charles Follen McKim, o mesmo que projetou a Biblioteca Pública de Boston.
                 Conhecido pelos projetos de linhas Beaux-Arts, tornou-se um dos mais respeitados profissionais do ramo nos finais do século dezenove, época em que a  arquitetura norte-americana despontava no cenário mundial como a meca das grandes obras, ancorada pelo surgimento de suas imensas fortunas e avanços tecnológicos. 
                Desse modo, ainda que não desenvolvesse ainda um estilo próprio, adotando como os demais países ricos desse período as linhas clássicas aceitas universalmente, a "América" era palco de grandes feitos arquitetônicos que ilustravam de maneira ambígua a vontade de atingir um estágio definitivo de refino cultural e intelectual com a necessidade da alto afirmação do dinheiro novo que carregava a assinatura de nomes como Astor, Vanderbilt, Frick e Carnegie. 


                Contudo, essa biblioteca destoa um pouco da mania de grandeza desses novos barões. É sim, ricamente decorada e impressiona pelo alto custo e pelo acervo que guarda, mas é tão bela que seus ambientes nos fazem esquecer do fausto e da pretensão predominantes no circuito político-social que ditava os destinos do jovem país. Seus cômodos possuem uma proporção que encanta em vez de oprimir e seus belos elementos decorativos causam uma sensação de acolhimento que antevém à sensação de deslumbre.


               O Salão Leste tem suas paredes forradas de estantes, repletas de ricas encadernações que tomam por completo as três frisas abertas para o vão central. Estes três finos balcões, balaustrados com ferro, são Interrompidos pela porta de entrada, algumas janelas e a grande lareira de pedra.  


               As belas estantes conferem ao ambiente uma masculina cor escura assegurada pela suave iluminação e pelo piso de madeira. Altíssimas, servem de base para o complexo teto ilustrado com referências às artes e ciências.


               Pierpont Morgan conseguiu nessa sala um efeito inspirador, digno de suas obras raras. É para mim o interior mais belo que conheço em Nova Iorque. Acima e abaixo praticamente a mesma foto: gostei mesmo (risos)!


Acima e abaixo praticamente a mesma foto: gostei mesmo (risos)!


               A bela lareira contornada por uma tapeçaria é o ponto focal de quem entra no recinto. No eixo da porta, domina a perspectiva com suas superfícies brilhantes e claras, fazendo um contraponto com todo o ambiente.



Acima Michelangelo e abaixo Galileu retratados em medalhões no teto ladeados por imagens do zodíaco.



Detalhe da representação do signo de Libra.




               Morgan foi um típico magnata de seu tempo e como a maioria de seus pares adquiriu mundo afora itens de rara qualidade e extrema importância. Reuniu em suas prateleiras peças notáveis da cultura mundial e legou aos Estados Unidos da América um patrimônio invejável. Para se ter uma noção dessa importância, basta saber que das onze cópias da Bíblia de Gutemberg existentes no planeta três fazem parte deste acervo, assim como partituras originais de clássicos alemães, escritos de próprio punho de Balzac e Lord Byron e gravuras de Michelângelo, Leonardo Da Vince, Dürer, Raphael, Rubens e Rembrandt.
                 Tornou-se um dos maiores colecionadores de sua época e levou a cabo sua paixão por livros raros e similares orbitando algumas vezes por outros tesouros da expressão artística humana como vê-se nos dois vitrais abaixo comprados de alguma igreja européia.




               O majestoso gabinete de JP Morgan também era dotado de estantes para alguns de seus livros. Agora menos altas que as do ambiente principal, serviam para o armazenamento de suas peças de consulta e trabalho, diferentemente do cofre (mostrado acima) que guardava aqueles títulos e objetos mais importantes e valiosos. Impressionante: um cofre para livros!
                    Exibindo uma decoração com inspiração italiana, servia como gabinete do próprio bibliotecário. Suas paredes do mais encarnado dos vermelhos em um clássico tecido adamascado faz fundo para obras dos ateliês de alguns mestres italianos, somados à importantes artefatos das mais distintas épocas e procedências exibidos ao longo de toda a bancada superior dos móveis de madeira. Seu aspecto é mais severo que os dos demais ambientes. 


Para contrapor de forma eficiente ao patrimônio histórico a obra de Piano é levíssima!


               A estrutura metálica muito delgada, formando almofadas de vidro bem finas e altas em três bem demarcadas linhas, fazem lembrar imediatamente os três planos da biblioteca principal. Sua transparência transforma o ambiente interno num agradabilíssimo espaço de convivência. Nele se encontra a cafeteria e todos os acessos aos diversos ambientes do museu.  


               O maravilhoso efeito plástico obtido com a colocação de simples películas coloridas sobre os vidros incolores é inegável! Como um recurso tão barato e prosaico pode transformar um ambiente com tanta força! Adorei! Baixíssimo custo com altíssimo retorno plástico na valorização do espaço interno. Coisa de artista.


Ele está lá: o Empire State Building (ou pelo menos sua ponteira) por entre os painéis coloridos.



               Mas esta intervenção multicolorida no átrio translúcido do museu tem um nome por trás: Spencer Finch. Este artista plástico colou 365 retângulos coloridos sobre os vidros da estrutura de Piano. Não deve nem pode ser definitiva, pois alteraria de forma muito drástica a ideia da obra arquitetônica. Mas como instalação é bárbara! Finch , que atualmente vive no Brooklyn, trabalha com efeitos de luz e cores e já produziu outras obras bastante interessantes.

             Na sequência quatro desenhos representativos de alguns cortes do projeto arquitetônico extraídos da internet.


Neste primeiro corte fica fácil perceber a escala da reforma e como o átrio ( D) se comporta no conjunto.

Abaixo as duas casas antigas (também com subsolos novos) e o prédio moderno no meio.


Nesses  outros cortes é possível ver como Piano aproveitou o subsolo para criar novos espaços.



O átrio agora na esquerda e o livre acesso até o exterior na mesma cota da rua.



Abaixo uma maquete do conjunto 

Por último a fachada de Piano voltada para a Madison em vista noturna.


               Piano adotou um partido bastante simples e muito aceito em Manhattan com linhas retas e bastante ortogonais. Simplificando o projeto deu o devido destaque aos prédios já existentes e de diferentes datas. O da direita e na esquina do terreno com linhas bem neoclássicas é o prédio da biblioteca encomendado por Morgan e o da direita é a casa de seu filho JP Morgan Jr. que mandou construir em estilo italiano. Renzo evita os desníveis e mantém o hall do museu no plano da rua. 

             
Biblioteca Pública de Boston


             Orgulho municipal e orgulho nacional, esse prédio guarda o terceiro maior acervo do país, que é superado em números, apenas pelo patrimônio da Biblioteca do Congresso e pela imensidade de títulos da Biblioteca da Universidade de Harvard. 
                              

               Desde sua inauguração a sede da biblioteca teve vários endereços diferentes. A última mudança deu-se no ano de 1880 e o terreno na esquina da Boylston com a Copley Square ganhou este esplêndido exemplar do estilo Beaux Arts com linhas neo-renascentistas. Sua inconfundível série de janelas em arco que domina o andar superior, em três de suas quatros fachadas, é de uma beleza e harmonia insuperáveis. Sem a menor dúvida trata-se do mais belo edifício de pedra da cidade.



               Projetado pelo arquiteto novaiorquino Charles Follen McKim, esse prédio foi inaugurado, quinze anos depois, em 1895 trazendo para a paisagem de Boston linhas inspiradas em um palácio italiano de paredes de travertino branco: Palazzo de La Cancelleria, em Roma. Essa influência é mais sentida em seu pátio interno. 


Detalhe da fachada com escultura em primeiro plano e as magníficas lanternas de bronze da entrada principal.

Abaixo o largo da biblioteca com a Old South Church ao fundo.


As belas lanternas.


A frisa que se abre do corredor superior ao grande vão da escadaria monumental.


Pinturas de Pierre Puvis de Chavannes  sob o tema de "Musas" decoram todo o ambiente.


Os arcos que coroam a frisa se repetem na loggia do claustro interno. Muitos arcos se repetem nesse projeto.


               A entrada ganha um largo corredor com teto abobadado como no salão principal de leitura mas que de forma distinta  termina em um grande arco pleno voltado para a escada... um portal às avessas: um portal de saída!


               O desenho luxuriante do mármore, em seus tons terrosos com predomínio do amarelo, que reveste todas as paredes é mágico. Os leões em mármore branco e o formato com que a escada se estende entre um andar e outro formam um cenário teatral e suntuoso. Muito lindo!




                A porta dupla no patamar central, abre-se para um pequeno balcão sobre o espelho d'água que abriga o chafariz e a estátua do claustro. A janela à esquerda se repete no patamar menor da direita e ambas possuem bancos dos quais pode-se contemplar o espaço central abeto e ajardinado.

             
               O grande lustre pende, alinhado com a janela do meio (do conjunto de três) voltada para o claustro central é idêntico aos que vi na Biblioteca de NYC! Mesma composição, mesmas lâmpadas bola e mesmo material. Ainda bem que é muito bonito. Mas as semelhanças não acabam por aí: arcos, divisórias em madeira nobre e decoração clássica além das estátuas de leão! Mesma época! Finais do século dezenove e início do vinte! Era de ouro por lá!

               Nas paredes da escadaria principal, preenchendo os nichos que repetem o desenho das fachadas, várias pinturas de Pierre Puvis Chavannes. A soma desses arcos decorativos, enriquecidos pelo suntuoso efeito do revestimento de mármore (e preenchidos com as obras de arte), com as estátuas de leão resulta em um dos mais célebres interiores da cidade e um dos mais belos em que já estive. Arrisco a dizer que é muito mais bonita que a Biblioteca Municipal de Nova Iorque e que pode fazer frente à mais famosa e rica Biblioteca do Senado. Mas toda essa comparação é pura besteira! Todas são muito interessantes.


Do lado direito da escada, visto na foto anterior, Pierre pintou em ordem, alegorias sobre a poesia:
  1. Poesia Pastoral;
  2. Poesia Dramática;
  3. Poesia Épica: Homero com a Ilíada e a Odisséia.

Do lado esquerdo da escada Pierre pintou em ordem, alegorias sobre a história, astronomia e filosofia:
  1. História: com o passado segurando um tocheiro;
  2. Astronomia: observação das estrelas e conhecimento dos números;
  3. Filosofia: Platão em seus ensinamentos.
               A Bates Hall é considerada uma das maiores salas de leitura dos Estados Unidos da América. Bem ao gosto renascentista seu teto em abóbada de berço, tem bem marcado os arcos de volta perfeita que partem dos pilares entre as enormes janelas de arco pleno e ganha uma decoração bem clássica com pintura clara, sem nenhuma variação de cores. Suas duas extremidades são idênticas, terminando em abside e dando limite ao salão bem longo e retilíneo. A generosa altura das paredes e da cota final do teto, confere muita claridade ao ambiente que ganha farta luz natural das enormes janelas com vidro incolor. As duas partes com a semi-cúpula são divididas com estantes e servem como ambientes separados do grande salão.
                   Seus móveis de madeira bem pesada e linhas bem simples são enriquecidos pelas luminárias de latão e pasta de vidro verde. O efeito é bem legal e o ambiente é muito confortável.
                     


               O pátio interno serve de respiro ao enorme edifício e é muito procurado nos meses de calor. O chafariz central oferece um ponto focal de alto poder de atração. Sua estátua de bronze fica ao centro do espelho dágua que por sua vez marca o centro do espaço rodeado por uma belíssima loggia térrea.





Os três janelões em arco iluminam a escadaria principal.


               Abaixo uma amostra dos magníficos murais de John Singer Sargent, pintados nos tetos e paredes do corredor que serve de hall de distribuição ao terceiro andar. Essas grandes pinturas são tidas como as maiores de Sargent, famoso pelos retratos feitos para a classe endinheirada da época, e que deslumbram quem tem a oportunidade de delas desfrutar. Nada no prédio indica sua existência e nem sua localização. Para quem tem a sorte de arriscar e subir uma imensa escada secundária, vencida em um intimidador único lance, para tentar descobrir o que há no final daquele duvidoso ambiente, a exaustiva subida se revela premiada! Os desenhos são belíssimos! Os traços, o jogo cromático, os detalhes dourados, tudo! Infelizmente a mensagem da obra não é muito clara e os desenhos não são tão explicativos como deveriam. Aqui novamente a falta de informação lesa o visitante e deprecia todo o esforço do autor. Quem não gostaria de ter tal conjunto de obras raras! E eles não dão o devido valor! Pelo menos também não cobram nada para visitar! (risos).  


O tema dessa obra de Sargent é "O Triunfo da Religião".

               O Cristo Crucificado até faz lembrar um altar de uma igreja, o que é um pouco estranho porque coroa um corredor que mistura a chegada de uma escada com o acesso à diversos outros ambientes. Depois que o tema vem à mente, fica fácil compreender o porquê daquele crucifixo latino circundado por familiares imagens sacras. Mas até então a confusão permanece latente! 

                 Do lado oposto ao crucifixo está na verdade o início dos murais. Eles devem ser lidos do fundo pra a frente, terminando, assim com a morte de cristo. No primeiro capítulo dessa narrativa temos o início com o salmo 106. O faraó egípcio aparece ao lado do rei assírio atacando os filhos de Israel que oram por libertação. A figura desnuda do homem com os braços erguidos em súplica é muito simbólica.  


Abaixo, sob o Sol, o Deus Pagão Moloch: deus das coisas materiais.


A seguir a Deusa Astarte: deusa da sensualidade, sobre a Lua e subjugando o feminino.


               Tanto os murais de Sargent como os murais de Chavannes são extraordinários, mas aqueles que achei mais bonitos, infelizmente não consegui fotografar por causa da pouca luminosidade do recinto e pela proibição em fazer uso do flash. Me refiro aos murais que contam a lenda do Santo Gral executados pelo artista Edwin Austin Abbey. Abaixo uma única imagem, do enorme conjunto de telas, disponibilizada e colhida na internet.




A belíssima vista noturna do prédio. Os efeitos luminosos sempre valorizando a arquitetura.


               Nestas três fotografias restantes aparece o Edifício Johnson. Apêndice modernista que ampliou as instalações da biblioteca e que foi erguido atrás do Edifício McKim (ambos levam o nome de seus arquitetos). Amplamente criticada por ter um ar muito bruto em virtude de suas enormes testadas e grossos pilares de mármore rosa (o mesmo material empregado nas fachadas do edifício mais antigo), que emolduram seus poucos arcos, essa nova ala da Biblioteca de Boston até hoje causa diferentes manifestações acerca de sua aparência. Não raramente é comparada a um mausoléu ou até mesmo a um bunker. O que é uma pena, pois ambas as referências são ingratas a um edifício que alberga o conhecimento e a história e que tem por natureza fomentar o desenvolvimento cultural. Não é de maneira nenhuma um túmulo do saber nem mesmo um esconderijo para ser mantido em segredo um patrimônio do quilate dessa biblioteca.
                       Isso acontece quando o arquiteto impõe seu estilo pessoal a tal modo que desconsidera o uso ou a função do edifício. Muito comum acontecer com a arquitetura modernista e pós-modernista. Aqui Philip Johnson criou um belo prédio que acabou perdendo valor por não dialogar com a história, a vocação e o sentido da atividade para qual foi projetado. Impossível a comparação com o edifício mais velho e mais rebuscado. 


               Eu particularmente gosto desse prédio, quando o analiso de forma isolada. Gosto de suas proporções, de suas paredes lisas, gosto de seus arcos inseridos em planos inclinados, de sua coloração, gosto de sua relação com o Edifício McKim e penso que  é infinitamente melhor que uma caixa de vidro: partido geralmente adotado pela arquitetura moderna para anexos à edifícios perigosamente datados! É muito fácil colar uma pele espelhada à um outro prédio de linhas intrincadas e valor histórico e artístico com elevados importância e destaque cultural. Difícil é propor algo diferente e inovador para combinar e não competir com um prédio de época.
              Mas para a maioria, Johnson infelizmente pecou ao não interpretar e entender tal relação a ponto de executar uma obra imune aos comentários que ainda hoje sofre. Sou fã de seus arranha-céus, dos quais vários são considerados marcos da arquitetura mundial mas, no caso da Biblioteca Municipal de Boston, penso que fez o prédio certo para o cliente errado.


               A fachada da rua Boylston bem perto de onde aconteceu o atentado à bomba da maratona de 2013. 

              A mureta de placas de concreto é medonha. A parte central com portas de vidro dá mais profundidade e alivia o impacto do prédio sobre a rua e o passeio público. Pena que nos outros vãos foi optado por vedar  e separar o prédio do pedestre por meio dessas horrendas cercas. O edifício já não tem nenhuma janela e as poucas superfícies de contato entre o interior e exterior foram quase que completamente tapadas por um elemento inóspito sem a menor maciez e sem a menor consideração para com o ambiente da cidade. Não é a toa que parte da população tenha se ressentido com essa brutalidade e por conseqüência negado o prédio. 


Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de Zurique

               Essa biblioteca projetada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava (Santiago Pevsner Calatrava Vall) para a Rechtswissenschaftlichen é um dos seus poucos trabalhos que recuperam um edifício antigo e mesclam arquitetura moderna com arquitetura histórica. Por fora o estilo de Calatrava não aparece, entretanto, por dentro é um acontecimento! Tudo é novo e moderno e as linhas orgânicas quase esculturais estão por toda parte. Iluminado, claro e limpo, como toda sua obra, o interior dessa biblioteca é um deslumbre. Quase monocromática encontra no branco o tom ideal para fundo de uma estrutura toda forrada com madeira clara, predominante nos ricos filetes fixados paralelos entre si como se fossem lambris.


               As colunas dos elevadores marcam bem os vértices do ambiente e acabam sendo seu ponto focal. Bom resultado para evidenciar a circulação vertical. A entrada de cada andar se dá pelos elevadores posicionados, frente a frente, um em cada ponta e por uma ou duas portas imediatamente ao lado.



                O brilho do mármore bem polido é quebrado pela solitária escultura no canto esquerdo. A iluminação dos tetos também evidencia as linhas da arquitetura, evocando "esqueletos de animais".


               Bom notar no ângulo das paredes da borda dos andares: existe uma diferença na cota entre a linha da base e a linha do guarda-corpo; a base possui uma "ponta" projetada que  contrasta com o recuo na altura do guarda-corpo. Esse detalhe do interior faz abrir a visão do andar superior e dá movimento ao que parece uma garganta. Essa inclinação busca refletir a luz que entra pelo vidro da cobertura e muda definitivamente a cor da madeira. Tons sobre tons: mais um recurso requintado.


               Em cada ponta uma escultura semelhante. Tudo para não quebrar o ritmo nem a simetria. Uma pena a presença das portas que se abrem diretamente ao vão. Em uma estrutura tão estudada e requintada isso é uma falta indesculpável. Será que não havia nenhuma maneira de camuflar estas aberturas?


               Nesse detalhe o projeto deixa bem claro até onde vai o edifício antigo e onde começa o moderno. A estrutura nova não encosta na velha e cria um pequeno e sutil vão (com extremo requinte) acentuado pela forma arredondada em paralelo à parede plana. Muito interessante. Só não sei qual o efeito do som canalizando e reverberando por esse "funil". Mas como eu estava na Suíça e a biblioteca era de um silêncio fúnebre acredito que esse não era um problema a ser levado e conta. (risos)


               Eis as divinas peças de madeira com que muitas das superfícies dessa estrutura são revestidas. O acabamento é perfeito e a qualidade do material empregado é maravilhoso. O tom um pouco desmaiado, bem na moda dos anos 2000, faz da madeira empregada o elemento que aquece o interior enriquecido pela claridade ou pela incandescente iluminação de efeito.


                As curvas criam um resultado plástico magnífico e a colocação milimetricamente calculada e executada com maestria das ripas de madeira, causam admiração e uma pitada de inveja.


               A nova cobertura de vidro possui um sistema de brises que se fecham  total ou parcialmente, divididos em dois lados independentes entre si. Acima o teto parcialmente fechado. Essa foto é muito ilustrativa, pois permite ao observador reparar como pode ficar o teto aberto (direita) ou fechado (esquerda).  As hastes totalmente recolhidas ficam como mostra a fotografia abaixo.


              A claridade invade o vão central da estrutura ovalada e chega até o chão de mármore no térreo. Como todos os livros estão nas estantes mais distantes da borda, ficam mais protegidos dos efeitos negativos do sol, enquanto que as mesas de estudos ficam todas voltadas para o vão livre e de costas para a circulação aproveitando assim o máximo da luz natural.


               Na fotografia anterior pode-se notar o lindo efeito das sombras (do esqueleto metálico que sustenta os vidros) projetadas sobre as linhas orgânicas que dominam o interior. Não é do desconhecimento de ninguém, mas vale ressaltar que com o movimento do sol esse desenho se modifica e dá vida e dinamismo ao interior. Em qualquer edificação o recurso da iluminação zenital  é dos mais agradáveis e sem sombras de dúvidas o mais teatral! Já na fotografia posterior a iluminação artificial se faz presente de forma eficiente e bem dimensionada. Mesmo com a enorme área translúcida do teto, a iluminação natural não é suficiente, principalmente na estação do inverno quando a cidade suíça não é banhada de sol em todos os dias da semana.  


 O mobiliário e o piso também em madeira clara: suavidade e leveza para uma ambiente de leitura e silêncio.

 A aba superior da mureta protege o campo de leitura dos efeitos da iluminação solar evitando também que as sombras antes comentadas distraiam o leitor.

A iluminação artificial cria linhas ininterruptas que emolduram as linhas do prédio criando um efeito maravilhoso. 

Os tetos lisinhos e branquinhos não exibem nenhum equipamento (segurança e monitoramento, som, luz, climatização, etc...) mantendo a atenção direcionada para a estrutura central.



               Acima, a fachada conservada com seu par de altos frontões e abaixo uma vista aérea e distante, na qual se percebe a nova cobertura com o corpo central de vidro exibindo as linhas orgânicas muito próprias das obras do arquiteto Calatrava.


               A pequena fachada lateral do edifício de época também foi mantida de pé e sem nenhuma alteração. Essa fachada com telhado vermelho e linhas afrancesadas exibe um pequeno frontão arcado que contrasta com o aumento moderno e sinaliza que a porção é original. A fachada complementar do anexo respeita o antigo volume, somando-se a ele de forma muito sutil, colando ao prédio original um volume mais recuado e repetindo na esquina de trás as mesma medidas e proporções encontradas no prédio da frente. As linhas e medidas das janelas também repetem a ordenação do edifício antigo, destinando às paredes lisas e de cor mais suave a função de demarcar o que é novo frente ao que já existia. O telhado também evidencia a intervenção moderna fazendo uso de um material de cobrimento azulado totalmente diferente das telhas originais. Tudo isso com a maior competência e bom gosto.




Biblioteca do Congresso em Washington D.C.

               Batizado de Edifício Thomas Jefferson, este que é o mais antigo dos três prédios que sediam, hoje, a Biblioteca Nacional Norte-americana é também o mais bonito e célebre de todos. Situado imediatamente ao lado do edifício da suprema corte e de frente para o Capitólio, forma com estes outros dois um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da América do Norte. Edificado no finalzinho do século dezenove, entre os anos de 1890 e 1897, abriga desde então parte do acervo que sobrou do incêndio que afetou destruiu muitas de suas importantes obras no ano de 1851. Tendo como base a coleção de livros de Thomas Jefferson (por isso o nome da biblioteca) que ofereceu à nação como incentivo à reposição e ampliação dos poucos livros antes acumulados e posteriormente destruídos pelos ingleses na época em que a biblioteca era albergada no prédio do capitólio, representa atualmente o maior conjunto de livros, manuscritos, periódicos e mapas do planeta.







O grande hall de entrada é bastante trabalhado e faz frente a qualquer ópera mundial. 




               A imagem acima mostra o salão principal de leitura dessa que é a maior e mais importante biblioteca dos EUA. Cilíndrico é encimado pelo enorme domo que marca o centro de todo o edifício e confere a este ambiente destaque e domínio hierárquico sobre todos os outros espaços. Seu altíssimo vão, como de costume em espaços dessa natureza, é dominado pelos também enormes arcos vedados com vitrais e suportados por conjuntos de colunas de ordem clássica. Neoclássico é na verdade o estilo predominante, reinterpretando as idéias clássicas de composição e magnitude, trazido para a capital federal como seu estilo original presente nos mais importantes edifícios desta cidade. A biblioteca do Congresso é um edifício de espetacular grandeza, beleza e imponência, que exala toda a força e riqueza do Estado. Os visitantes, que não tem acesso às dependências privadas e de consulta da instituição, podem desfrutar deste ângulo do grande salão central a partir de um pequeno balcão situado na frisa arcada (logo abaixo das esculturas de bronze) e protegido por panos de vidro.




  Biblioteca da Universidade de Heidelberg


              A Biblioteca da Universidade de Heidelberg, também conhecida pelo nome de Biblioteca Palatina, foi a biblioteca mais importante da época renascentista alemã e ainda hoje é muito respeitada principalmente pelo acervo de manuscritos medievais em lingua alemã, que somados formam uma das mais importantes coleções do gênero em todo o mundo.
 









               Essa biblioteca, tem um belo hall de distribuição no pavimento superior, em estilo Art Nouveau, com farta iluminação zenital proveniente da ampla clarabóia em vitrais. O estilo é bastante sentido nas peças curvas de serralheria, nas luminárias e no desenho do piso.


Seu portão em estilo Art Nouveau.


               O marcante prédio de cor tijolo é memorável, principalmente se visto em dias ensolarados. Tirar fotografia de sua torre arredondada, que marca a esquina e sustenta o alto telhado cônico, encimado com a bela lanterna de bronze é ítem obrigatório no roteiro de quem quer ver e registrar o melhor de Hiedelberg. 


               Apesar de seu forte ecletismo, esse edifício é considerado como um dos melhores exemplos do Art Nouveau da cidade. Sua concepção formal foge aos ditames das linhas orgânicas tão características desse estilo, insistindo numa marcante pobreza de linhas curvas a despeito de uma severa composição retilínea sob um ritmo muito rígido. Ao estilo da Arte Nova é dado o direito de decorar as paredes externas, sofisticar as esquadrias e elaborar alguns portais. Poderia ser pouco, se não fosse feito de maneira tão competente. O resultado final abona qualquer possível deslize estilístico.
               Dada a longa história da Biblioteca Palatina, é fácil perceber, que esse patrimônio alemão, atravessou diversos séculos de história. Conseqüentemente, o mesmo deve ter acontecido com sua sede. A fachada ostenta um claro estilo renascentista, testemunho de um período de grande prosperidade nos idos do século dezesseis. Muito comuns nessa época eram as fachadas com empenas e o uso da alvenaria de tijolos ou pedras calcárias que seguiam a mesma tonalidade das peças terrosas. Os ares renascentistas ficam ainda mais fortes com o conjunto de ponteiras e agulhas que decoram os terminais das empenas redecoradas com o novo estilo do século XX.


 Visão do pátio interno.



Biblioteca da Universidade de Chicago





               Inaugurada em 16 de maio de 2011, a nova biblioteca Joe e Rika Mansueto, da Universidade de Chicago, recebe o nome do casal de antigos alunos da instituição que doaram cerca de vinte e cinco milhões de dólares para a sua construção. Tanto dinheiro fez resultar uma edificação que responde pela tradição da cidade em criar edifícios destinados a virarem ícones da arquitetura mundial. Implantada ao lado de outro edifício com a mesma função, funciona como um apêndice da antiga biblioteca. Apêndice de luxo é bom salientar. Contrapondo veementemente o brutalismo estéril da arquitetura vizinha, torna-se potencialmente forte e domina por completo o conjunto e os arredores, ainda que tenha dimensões bastante modestas se confrontada com a importância que assume. O inusitado do volume que fica a mostra é o formato ovalado da cúpula de vidro que brota diretamente do solo. 




               Na fotografia anterior fica claro e contraste entre a cobertura de vidro e o volume de concreto do corpo mais antigo do complexo que forma a biblioteca. Diferem em tudo: forma, estilo, proporção e acabamentos. Enquanto a mais antiga (Joseph Regestein Library) é muito rígida a mais nova é muito leve. O conceito é completamente diferente, entretanto, na parte que toca à conservação e manutenção do acervo a coisa é quase a mesma. Em ambos os edifícios todo o conjunto de obras aqui conservadas e disponibilizadas ao uso acadêmico está perfeitamente protegida dos efeitos negativos da luz solar. É bem verdade que a maioria dos livros agora disponibilizados aos corpos discente e docente está no novo prédio envidraçado enquanto que no antigo uma reformulação e readequação dos espaços abriu mais espaço para abrigar os setores administrativos, salas de leitura, sanitários, cafeteria e salas de consulta informatizada. Ainda assim a biblioteca Regestein abriga ainda hoje cerca de 4,5 milhões de volumes.O novo prédio tem acima do solo apenas a grande sala de consulta com o balcão de atendimento. Todos os livros, mapas, periódicos e demais materiais para a consulta  estão armazenados no subsolo em seis andares abaixo do nível do jardim externo.


               A cúpula surge em uma das esquinas do quarteirão e por ser implantada levemente de forma enviesada no lote acaba parecendo ainda mais longa do que realmente é. Recurso muito inteligente dos projetistas e mais uma característica que a afasta formalmente do prédio ao lado. 


               Enquanto o edifício dos anos sessenta é muito compactado com suas janelas muito tímidas, recuadas da face externa e praticamente disfarçadas em relação ao passeio público, o edifício dos anos 2000 é totalmente  transparente e aberto visualmente ao que acontece do lado de fora. Quarenta e seis anos os separam. Para uma estrutura levantada em 1965 a biblioteca Regenstein é também algo a ser admirado. Com sua arquitetura brutalista, foi em sua época um assombro.


               A fotografia acima mostra a entrada da Biblioteca Joseph Regenstein, cujo projeto de arquitetura leva a assinatura dos arquitetos Skidmore, Owings e Merril de Chicago. Sua estrutura em concreto armado vence sete andares e mescla lajes planas com lajes do tipo nervurada e ostenta paredes externas vedadas com pedra calcária serrada procedente do Estado de Indiana no Centro-Oeste do país. Suas elevações adquirem um desenho modular com forte marcação vertical e exibem pouquíssimas aberturas. Esse ângulo mostra o recuo a partir do passeio público obtido com o movimento na planta baixa que desloca para trás a entrada principal. Esse recurso divide o maciço brutalista em quatro segmentos e reduz a impressão negativa que possa advir do grande tamanho do prédio. O acesso do público é coroado por uma rara pele de vidro que faz conjunto com outras duas, enriquecendo a parte mais importante do conjunto de fachadas do prédio. A intenção de demarcar a porta principal é exitosa e tira proveito do parco paisagismo do local. Vanguardista em sua época tem como maior virtude ter sido um dos principais edifícios de arquitetura brutalista da cidade. Hoje, entretanto, perde para a nova biblioteca edificada ao seu lado.


               O objetivo inicial era aliar duas coisas: abrigar com segurança e disponibilizar com eficiência e rapidez a enorme quantidade de material de pesquisa em um edifício que obstruísse o mínimo a paisagem local, mantendo o mais aberto possível o espaço existente na superfície. Assim, foi criada a sala de leitura com cobertura em forma de concha. 
               A fotografia abaixo é muito interessante porque mostra três estilos bem diferentes que marcam épocas distintas da evolução arquitetônica presente no Campus da Universidade de Chicago. A direita em primeiro plano a visão perspectivada da novíssima cúpula; à esquerda um pouquinho de uma parede de pedra calcária serrada de arquitetura brutalista e ao fundo parte de um dos primeiros edifícios ecléticos com predomínio do neo-gótico dos belíssimos prédios recobertos com heras do Campus.


               Desde que foi inaugurada e aberta ao público em geral, essa biblioteca desperta interesse internacional. Foi elevada quase que imediatamente ao patamar de ícone de arquitetura e tecnologia. Interessante é saber que esta Universidade não possui curso da arquitetura nem de engenharia civil. Mas estamos em Chicago! A cidade mais populosa de Illinois sempre esteve na fronteira da construção civil e detém atualmente um patrimônio invejável com os principais nomes da arquitetura mundial dos últimos tempos. A cidade tem por vocação oferecer e fomentar o melhor quando o assunto é edificio. Berço do que conhecemos hoje como arranha-céu, recebeu craques do design e aproveitou isso ao máximo, tendo atualmente lado a lado nomes como Mies Van der Rohe, Louis Sullivan, Frank lloyd Wright, Helmut Jahn dentre tantos.






               O belíssimo mobiliário foi todo executado em carvalho branco europeu e adota linhas limpas e puras que valorizam o material nobre e de notável resistência. Os acabamentos em metal cromado, ora polido, ora fosco combinam com o estilo moderno do todo. O piso também em madeira clara serve de pano de fundo para o desenho das sombras da estrutura do teto.





               Algumas poucas cabines de consulta e leitura individual em células de vidro ao lado do balcão de atendimento do bibliotecário no lado voltado para a rua.


Acima outra vista do longo e também curvo balcão de atendimento do bibliotecário.



A iluminação bem discreta apoiada nas hastes da cobertura espacial metálica


Mobiliário em madeira e metal, colunas revestidas de placas de alumínio curvo, piso em madeira clara.




               Acima uma fotografia do corredor que liga os dois prédios que fazem o todo da Universidade de Chicago: comprido e com linhas quadradas, tal qual o edifício de meados do século XX e totalmente executado em aço e vidro como o assinado por Helmut Jahn. Essa passarela coberta atravessa por cima de parte do gramado que separa os dois volumes e serve de elemento de transição entre ambos. 





               Por fim duas fotografias da Biblioteca Mansueto durante a noite, quando fica ainda mais bonita.







Biblioteca de Ahmed III em Istambul

               A biblioteca do atual Museu Topkapi, em Istambul, conhecida como Biblioteca Enderûn é uma das jóias do conjunto arquitetônico do antigo palácio dos sultões e por certo um ótimo exemplo da rica arquitetura otomana do século XVIII. Não muito grande ocupa lugar de destaque no meio dos jardins logo atrás do pavilhão que sedia a sala do trono. Terminada no ano de 1719 para servir aos funcionários da casa real, foi amplamente utilizada pelos membros da família do sultão além de servir ao ensino e à alfabetização de suas crianças.


               Com uma planta baixa muito simples o prédio se mostra austero e exibe pouquíssimos volumes. Dotado de apenas um grande salão, antecedido por um alpendre frontal, o edifício tem um formato de cruz grega com duas pontas levemente mais longas que suas pares. Esse formato cruciforme eram frequentes nas implantações das mesquitas o que faz desse pavilhão uma miniatura dos grandes monumentos religiosos da cidade. Seu único salão, distribuído em "T", com três alas que rodeiam um vão central imediatamente abaixo da cúpula principal é dotado de duas fileiras de janelas, rigidamente distribuídas, que obedecem um ritmo que não destoa em nada do todo e que levam luz natural para o espaço interno de pé direito duplo. O corpo principal da biblioteca é embasado por um porão alto, claramente demarcado por um friso em alto relevo e vencido por uma escada dupla, que assegura ao ambiente uma proteção à umidade proveniente do solo.


                Sua cobertura apresenta quatro cúpulas abatidas simetricamente locadas ao redor de uma maior e central. Todas encimadas por um bastonete dourado muito típico dessa arquitetura. A fileira das janelas superiores faz referência ao conjunto de coberturas e adota o arco ogival enquanto que as inferiores obedecem à rígida composição onde as linhas ortogonais prevalecem.


               Completamente revestida com placas de mármore liso, à exceção dos coroamentos dos arcos ogivais que ganham sutis desenhos esculpidos na pedra, a biblioteca reflete monocromaticamente a luz solar que banha o jardim interno onde se encontra. O contraste do exterior muito simples com o rico e caleidoscópico interior é marca registrada do estilo, que nesse período (entre os anos de 1703 e 1730) ganha o nome de Estilo Tulipa. Ainda que nessa fase a arquitetura otomana em território turco sofra direta influência do estilo barroco (visto claramente nas mesquitas da época), importado da Europa Ocidental, parece que o Rococó, já em vigor, não colaborou com nenhum dos seus preceitos para a concepção das formas dessa biblioteca.  


               No único braço da cruz completamente aberto, a varanda retangular tem um conjunto de quatro colunas soltas na face externa e quatro meia-colunas coladas às paredes. Essas colunas (de fuste liso e capitel decorado) espelhadas sustentam o jogo de arcos suavemente ogivais que se rebatem e criam um teto subdividido em três vãos. Cada um dos vãos laterais marca a chegada do respectivo lance de escada enquanto que o central marca a porta de entrada contraposta à fonte de água.   


                 A fonte de água da varanda, cuja função real é de ser um bebedouro, fica bem na frente da porta de entrada e dá a real dimensão de como era importante a água nos ambientes de convívio. Essa posição de destaque na composição arquitetônica guarda em si uma correlação entre o aspecto prático e filosófico da água corrente: para um país cujo clima nos meses de calor beira o insuportável a presença imediata do mineral confere umidade ao ar e mata a sede do corpo, enquanto que o simbolismo da água corrente faz referência  à renovação da vida e continuidade dos ciclos naturais. Ao mesmo tempo que mata a sede, purifica a alma e prepara o espírito para a busca do conhecimento.


               A larga vista de pedra esculpida simula um alto portal que abriga uma série de elementos decorativos sobrepostos um sobre o outro com a clara intenção de disfarçar a real altura da porta marcada pelo arco abatido feito com duas cores de pedra. Como a abertura não vence o alto pé-direito esse recurso foi utilizado para não perder a magnitude e conferir destaque e importância à entrada do edifício. Ainda que desconexos, os relevos e pinturas acabam por conferir ao conjunto um toque de requinte e riqueza pouco presente do lado de fora.


                 A fonte que aparece na fotografia acima, implantada ao rés-do-chão, fica abaixo do arco central do alpendre exatamente atrás da fonte superior. Ricamente decorada, assume especial destaque na fachada monocromática e marca a simetria do conjunto.


               A parte superior das paredes internas seria completamente revestida com cerâmica de Iznik se fossem lisas as testadas dos arcos. Esses famosos azulejos que tem acabamento esmaltado e são decorados com ricos desenhos policromados, tem em sua composição mais de oitenta por cento de quartzo. Os tetos ganham pintura em arabescos coloridos sobre campo branco e os vitrais ganham cores claras em desenhos que barram muito pouco a luz natural. 


               O interior é muito claro e bastante arejado e apesar de suas superfícies muito reflexivas o som reverbera muito pouco. 


                   Ao centro, pende do teto abobadado, uma pesada lanterna de metal e vidros coloridos de formato sextavado. Os desenhos geométricos que podem surgir em objetos decorativos e nos mais diversos utilitários, assim como no padrão floral dos revestimentos das paredes ou mesmo no próprio traço artístico é uma herança bizantina que se soma às influências árabes e persas muito presentes na arquitetura turca. Tanto nos azulejos como nos desenhos e pinturas, tecidos e metais, marchetaria e gradis, entalhes na madeira ou pedra, vidros e estuque, esses estilos convivem harmonicamente e dotam os espaços de uma riqueza estonteante. A profusão de formas e composições é admirável. 



               Todas as folhas que vedam as janelas, exibem um extraordinário trabalho de marchetaria com incrustações de madre-pérola em desenhos geométricos e espelhados. Os sofás como de costume da corte otomana apresentam um lay-out que ocupa toda a parte periférica do ambiente e deixa o espaço central livre para a circulação. Os móveis de apoio como mesas, tripés com bandejas, pufes ou cadeiras de espaldar e pés baixos, que muito provavelmente compunham a decoração, já não existem mais.


               As estantes, onde eram depositadas as obras, permaneciam fechadas por essas levíssimas portas  de estrutura de madeira com vãos preenchidos com uma telinha que lembra em muito as atuais telas de galinheiro. Dessa forma todo o acervo ficava ao alcance dos olhos e protegido do displicente manuseio. Interessante observar a grossura das paredes do edifício que permite a implantação desses nichos para armazenamento do acervo. Nenhum deles toca o chão e ultrapassa a linha dos capitéis das colunas. Belo também é o detalhe em filigrana da balaustrada de mármore ao lado do sofá otomano.   


               Nessa última fotografia um pormenor dos grandes painéis de cerâmica de Iznik, que forram várias paredes de todo o complexo do Topkapi e que na biblioteca não fogem à regra. Riquíssima em detalhes e na sua maioria com desenhos de intricada beleza, com predominância do tom azul, exibe desenhos na sua maioria florais mas que podem também retratar a fauna, compor textos em caligrafia otomana ou ilustrar cenas alegóricas. 


Biblioteca e Museu Presidencial John F Kennedy em Boston

             Mais um museu ao tributo do presidente norte-americano natural de Boston do que uma biblioteca em si. Dizem que há um acervo digno de nota, mas duvido! A biblioteca mesmo não existe, ou se existe é impedido o acesso público aos livros e acervo. Logo é quase uma fraude! (risos) Os visitantes andam pelos jardins e depois entram no amplo hall de entrada com vista para o enorme átrio que é visitado após percorrer todo o museu presidencial.
            O museu é ridículo! O material em exposição só tira um sentimento do turista: raiva pela perda de tempo! Um corredor que serpenteia por entre ambientes que reproduzem o período de poder de JFK com amostras de material de campanha, vestidinhos da primeira dama, cenas do cotidiano dos 60's, fotos da vida do casal número um da "América" e alguns presentinhos de Chefes de Estado! Tudo muito ruim! 
             O que vale mesmo é o prédio que mesmo assim não pode ser visitado por inteiro. 
             Projetado pelo queridinho da família presidencial nos anos setenta o chinês naturalizado americano Ieoh Ming Pei, (o mesmo da pirâmide do Louvre) é uma amostra indefectível do estilo do arquiteto e das linhas adotadas nos finais dos anos setenta.


                Recursos muito comuns na arquitetura moderna de ponta da época aparecem neste projeto, tais como as grandes peles de vidro escuro sustentadas por treliças espaciais metálicas, grandes panos cegos de alvenaria rebocada e alternância de planos e curvos.


               A esplanada principal representa ser maior do que de fato é. Isso muito se deve ao branco intenso das superfícies secas e à ausência quase que total de vegetação, mobiliário e elementos decorativos e escultóricos. O edifício em si já é tratado como uma escultura a ser admirada sem nenhum tipo de interferência ou ruído. 


               O prédio tem na verdade duas fachadas principais que competem entre si pelo domínio hierárquico. Se o  observador, ou mesmo o crítico de arquitetura, se dedicar à tarefa de determinar qual delas é a mais importante pode sair frustrado. Enquanto a primeira tem a porta principal e exibe os letreiros da biblioteca a outra voltada para a água é dotada de uma enorme escadaria que desemboca em uma esplanada rebaixada, possui jardim com o barco da infância do presidente e se volta para a paisagem marítima. Pode-se entender, portanto, que uma é para quem chega por terra e outra para quem chega por mar.



               A escadaria da lateral que liga as duas esplanadas é muito bonita e dramática. Inicia bem estreita e vai ganhando contornos e espaço a medida em que desce para a água. Quase triangular, com um lado reto e outro curvo, a escada serve ao mesmo tempo de palco e platéia. Nele pode-se perfilar por exemplo uma banda marcial em uma celebração cívica fazendo fundo para e esplanada à seus pés ou ainda inverter o ponto focal para servir de arquibancada à um público que observa algo que acontece na plataforma junto à água. Muito interessante e bastante versátil. Basta somente mudar o ponto de vista do observador. Esse recurso cai muito bem em um edifício cujo tema exige tais relações.
               O volume redondo abriga dois teatros e se comunica com o pavilão de vidro que recobre a torre de escritórios cuja altura resulta em 38m (trinta e oito metros). 


               A esplanada de baixo repete o tema seco da esplanada de cima e tem como grande elemento decorativo a enorme parede curva do volume mais baixo do prédio. O verde do bosque ao fundo faz um muro de vegetação que ajuda a delimitar visualmente o campo desse espaço aberto. 



        
               Figuras geométricas aparecem por todos os lados, mas a predominância do triângulo é algo muito forte. Ele está lá no formato da escada, no formato da esplanada, nas treliças metálicas, na vela do barco, nops chanfros do volume escuro, nos bicos da planta baixa, nas sobreposições das linhas de primeiro e segundo plano visíveis pela transparência dos vidros e assim por diante. 



                Exposto como um tributo à cidade em que cresceu, está o barco que JFK ganhou ainda muito jovem. Interessante essa lembrança da formação do ainda jovem e futuro político. A cidade tem uma relação muito íntima com esportes aquáticos e em virtude de suas renomadas instituições de ensino um ar jovial e desportista muito presente. 


Verde, branco e preto: cores sólidas para um prédio sólido! Mesmo sua pouca transparência sugere o sólido do bloco branco da torre habitada. A simplicidade das formas sempre foi a maior característica do arquiteto.


               O projeto peca por delimitar a praça com a cerca de correntes e mourões baixos e atarracados. Além de possuir uma estética muito militar, quebra a forte intenção de comunicar o seco com o molhado. Melhor seria se a escadaria continuasse e acabasse dentro da água. O pier um pouco deslocado é proposital, pois dessa forma nenhum barco interfere com a visão da biblioteca para quem a observa da água.


Mais triângulos nessa visão da caixa de vidro e aço.
Abaixo o barco e o mar vistos do interior do grande átrio.


Detalhe que não podia faltar: a bandeira!



               As superfícies arredondadas não são muitas, mas as poucas que aparecem são muito fortes e ganham um destaque tremendo. Essa parte do prédio é quase uma premunição de muitos projetos que viriam na década seguinte. O redondo mostrado abaixo, escavado em um bloco bem delimitado e as linhas retas que o cortam, foram uma constante nos anos oitenta, principalmente no estilo pós-moderno; o altíssimo pé-direito e o rasgo bem horizontal vazando a enorme parede branca da foto anterior também.


               Gosto muito do rendilhado da estrutura espacial pintada em cor escura. Gosto também dos vidros curvos sem caixilho. Os rasgos das janelas não dialogam com a grande grelha mas também, com ela não competem. 


maquetes eletrônicas do edifício




Biblioteca Piccolomini em Siena

               Outra biblioteca da antiguidade, a famosa Biblioteca Piccolomini situa-se dentro da catedral da cidade italiana de Siena, ocupando apenas um ambiente do lado esquerdo da nave do Duomo. Completamente recheada por afrescos de  Bernardino di Betti, pintor renascentista nascido em Perúgia e conhecido como Pinturicchio, espanta pela beleza.


          De formato retangular, com teto abobadado e um pé direito muito alto, foi criada pelo Papa Pio II para guardar o acervo amealhado por seus antecessores e para servir como sala de aula.



          Suas paredes muito altas, são divididas por colunas falsas que delimitam ao todo, catorze seções, encimadas por arcos plenos, projetadas de forma simétrica e rebatida, sendo cinco painéis nas paredes maiores e dois nas menores. Em doze desses espaços foram pintadas várias cenas da vida papal e acontecimentos históricos da época, além de passagens bíblicas. Nos dois restantes, estão as enormes janelas de vidro incolor.











          O piso em cerâmica branca e azul cobalto com desenho de uma lua crescente no meio, cria um tapete muito bonito que contrasta com os desenhos elaborados do teto e com as obras de arte que forram as paredes. Consta que não é o original.




Biblioteca do Trinity College em Dublin.

                 Celebrada como uma das mais importantes bibliotecas do mundo, possui um acervo de peças históricas que realmente faz sua diferença. Por ela passaram os maiores pensadores britânicos dos últimos tempos e quase a totalidade dos intelectuais do Reino Unido. Tida também como uma das dez mais belas do mundo, ela impressiona mais pelo tamanho do que pelo adjetivo antes mencionado. 



               Com mais de seis milhões de títulos, divide seu acervo em vários edifícios, dos quais o mais famoso e belo é o que abriga a Old Library. Nela, que guarda cerca de duzentos mil livros além do famoso Livro de Kells, é que se encontra a mais antiga e famosa sala de consultas.
                

O Long Room com seus 65 metros de comprimento.



               Dividido em três partes bem distintas o grande cômodo apresenta um longo corredor central, ladeado por dois enormes conjuntos de nichos que marcam cada janela do prédio e abrigam duas altíssimas estantes. Esse linguagem de nichos foi repetida no segundo andar, anexado posteriormente, dotando a sala de uma galeria superior aberta em mezanino para o vão central que é encimado pelo teto arqueado repleto de vigas aparentes que ligam as duas fileiras de colunas. Tudo nessa composição parece ter sido imaginado para dar mais força à grande extensão do recinto. E deu mesmo. A perspectiva e a profundidade provocam uma admiração instantânea. Entrar nessa sala é realmente uma experiência muito agradável.                


               Construída originalmente com um único andar o Long Room precisou ser ampliado para poder armazenar a grande quantidade de livros que a biblioteca logo acumulou em seus primeiros anos de existência. Dessa forma um segundo andar com uma nova galeria de estantes foi erguido sobre o mais antigo, elevando o pé direito ao ponto que está até hoje e dotando o ambiente do teto central abobadado com forro de madeira. O decorado friso em madeira esculpida, abaixo da delgada balaustrada, marca a altura do antigo pé-direito do enorme cômodo. É fácil determinar o que é mais antigo e mais recente, uma vez que a parte de baixo é bem mais decorada que a superior.
                


             Muito austera, a sala apresenta pouca decoração e mantém o encanto pela uniformidade das superfícies e pelo efeito da madeira. Frisos com palavras douradas formando pequenas frases e letras para organizar os títulos são uns dos poucos pontos de brilho em todo o conjunto. Nesse ambiente monocromático e escuro o conjunto de bustos esculpidos em mármore que homenageiam vários pensadores, filósofos, professores e beneméritos da biblioteca assume uma dramaticidade enorme.


               Os bustos de mármore branco, colocados em frente de cada coluna da biblioteca, em ambos os lados do corredor central, criam um efeito cenográfico de enorme força. Pontuam e marcam o ritmo da estrutura e decoram de maneira clássica e tradicional, firmando ainda mais o ar intelectual do maior cartão de visitas da College e o maior símbolo do país.


Detalhe das altíssimas estantes que forram dois lados de cada nicho e ladeiam a grande janela.



               Alardeada como uma das dez mais belas bibliotecas do mundo, é visita obrigatória em Dublin. É de fato muito interessante, mas diria que é exagero alavancar essa biblioteca ao posto que a tornou famosa. Diria que é bonita, severa e introspectiva como deve ser mesmo uma biblioteca de época. Suas superfícies forradas com a madeira escura, suas tímidas talhas, suas janelas de vidro incolor e seus detalhes em letras de um dourado fosco não criam uma decoração muito rica mas, permitem que o tamanho e a profundidade sejam notados imediatamente e se tornem os elementos mais fortes. É esse tamanho e essa perspectiva que a fazem inesquecível.






          Não é possível dizer que Dublin seja uma cidade rica em esculturas modernas, nem mesmo que as poucas que são encontradas em suas ruas sejam de bom gosto. Raras, são geralmente muito pesadas ou carregam uma mensagem política muitas vezes incômoda. Mas, nos jardins da biblioteca se encontra esta maravilhosa esfera dourada de Arnaldo Pomodoro.


          Colocada em uma pequena esplanada entre os prédios da Old Librery e da Biblioteca Berkeley, tornou-se muito famosa e querida. O mais interessante é que ela é giratória e permite que as pessoas entrem em total sintonia com sua forma e seu movimento ao empurrarem seu corpo maciço e polido. 


Tem como título: "A Esfera dentro da Esfera".
É uma das treze espalhadas pelo mundo.


          Arnaldo Pomodoro é um famoso e premiado escultor italiano radicado em Milão. Criou a primeira esfera para a Igreja do Vaticano na década de sessenta. Depois, procurado por várias instituições, repetiu o tema e criou uma série, sempre com as enormes e muito instigantes rachaduras na grande peça polida, que deixam à mostra um interior sempre intrincado e escuro com estruturas que mais parecem engrenagens. Tais rachaduras revelam também, outra esfera igualmente rompida em seu núcleo: "Sfera con Sfera".
            Abaixo uma versão um pouco maior que a de Dublin, encontrada nos jardins do prédio das Nações Unidas, na cidade de Nova Iorque.




Biblioteca Nacional da Grécia.

                 Em Atenas, a Biblioteca Nacional da Grécia, que antes ocupava um edifício neo-grego situado em uma de suas principais avenidas centrais, foi transferida para um dos corpos do novíssimo e moderníssimo edifício do Centro Cultural Fundação Stavros Niarchos. Longe da curiosidade dos milhões de turistas que circulam pelos bairros centrais da capital grega, a nova sede da principal biblioteca do país ficou mais moderna e espaçosa e serve como atrativo para a região litorânea da cidade, renovada recentemente em virtude dos jogos olímpicos que Atenas sediou. Nem o bairro, nem mesmo a região são recentes, mas estão sendo renovados e embelezados nesses últimos anos. Nas margens da baía de Faliro e distante cerca de seis quilômetros da Acrópole a nova sede é mais que uma simples biblioteca, é um polo de atração e um destino certo nos momentos de lazer dos atenienses.


Esse prédio abrigou o acervo principal por mais de 100 anos.
             

E ainda será mantido como a casa de parte do acervo da Biblioteca Nacional.



               Nessas três fotografias acima, sua antiga sede em estilo Neo-Grego que já sofria com a falta de espaço e defasagem de seus equipamentos. Projetada por volta de 1888 e concluída em 1903, recebe a assinatura do arquiteto dinamarquês Theofhil Freiherr Hansen, responsável por este e por outros edifícios clássicos erguidos nessa época. Todo revestido em mármore branco não nega a beleza clássica de seus ancestrais e continua altivo em meio ao caótico urbanismo ateniense.

                     Nas fotografias seguintes a nova sede da instituição, presenteada ao Estado Grego pela fundação criada pelo armador grego Stavros Niarchos e projetada pelo arquiteto italiano Renzo Piano.


              Nesse projeto foram levadas em conta todas as vertentes da arquitetura moderna, conectada à renovação e manutenção dos recursos naturais, ao impacto moderado na natureza, à produção de energia limpa e dotado de todo o conforto proporcionado pelo o que há de melhor em tecnologia e modernidade.


             Leveza dos materiais e pureza das linhas parecem ter sido as principais diretrizes da arquitetura de interiores nessa obra. As grandes superfícies e os enormes campos revestidos com o mesmo material  de acabamento proporcionam uma sensação de amplidão que ultrapassa em muito a realidade física. Os tetos muito altos e as sobreposições de andares à mostra também conferem um efeito de "catedral".


                Madeiras claras, metais muito delgados, vidros completamente transparentes e muita luz natural abrem a visão e refrescam o interior. Os livros compensam os efeitos da reverberação proveniente desses materiais tão reflexivos e criam uma espécie de capa que dá o aconchego e intimidade característicos desse tipo de estabelecimento. 


                      Muito pobre em decoração, o interior conta apenas com as cores fortes da maioria dos estofamentos dos sofás e assentos e de uma ou outra parede acústica também estofada, além de alguns móbiles e adereços pendurados no teto. A atenção recai mesmo para a arquitetura em toda a sua magnitude.




Muitos cabos e tirantes sustentam as estruturas aéreas.
Esta escada sintetiza de forma eficiente o estilo adotado no todo.







                     Apesar de muito amplo e minimalista o interior consegue ser bastante atraente e acolhedor.  






A eficiente claraboia inundando de luz natural o interior do principal vão livre.



                Além da biblioteca o complexo abriga também a Ópera Nacional, sediada na parte mais alta do edifício visto em  primeiro plano. 




Biblioteca Pública Municipal Mário de Andrade de São Paulo.

               Não levando em conta todo o histórico da instituição vou direto à inauguração de sua atual sede na Rua da Consolação, no Centro da Capital paulista. Inaugurado em 1942, bem no meio da segunda guerra mundial, com um projeto inovador e muito original, o edifício ganhou destaque tanto no panorama cultural como na seara arquitetônica do país. Lindíssimo, no auge do Art Decô, foi fundamental para incluir o país no mapa da modernidade com suas linhas rigorosamente retas, jogo de volumetrias escalonadas, composição de corpos horizontais e verticais, rigoroso ritmo das aberturas,  e uma sutil quebra da simetria clássica em sua implantação. Não que a simetria tenha sido abolida, bem pelo contrário: em muitos pontos ela ajuda a organizar o conjunto e desenhar as diversas áreas e detalhes da edificação. 
 



                  Um tributo ao bom gosto e à elegância da arquitetura dos anos trinta erguido na área central da capital do estado mais rico da nação conta com uma torre, de 24 (vinte e quatro) andares, projetada para guardar cerca de meio milhão de títulos, em contraste com o restante do partido distribuído em corpos horizontais. Essa ideia de composição arquitetônica mostrou-se muito adequada para a megalópole em formação, inserindo o edifício num contexto muito verticalizado, porém, sem critérios que estabelecem uma altura ou um escalonamento padronizado e organizado. O volume quase que se comporta como uma escada para os olhos que se elevam, unindo o plano da pessoa aos planos superiores rumo ao céu.  Esse efeito surgiu à medida em que a cidade cresceu ao seu redor. Mas não sem prejuízo pois, assim como se mesclou com o entorno perdeu sua monumentalidade tão característica da época. Em fotografias antigas (do tempo de sua conclusão) quando o céu era uma constante na paisagem paulistana, a biblioteca era soberana e altiva: uma obra de arte sobre um plano azul celeste.  Foi concebida assim por Jacques Pilon, um arquiteto recém formado, importado da França, com formação pela Ecole Supérieure des Beaux-Arts de Paris.

                




















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